Rockastru’s 2004! Começo a escrever sem saber muito bem o que contar, tal foi a longevidade da noite em Esposende! O Kastru’s Bar é um dos lugares míticos do Norte, para qualquer banda de garagem… E o Rockastru’s (esta foi a 8ª Edição) foi gradualmente adquirindo um “estatuto” com lançamento de bandas como “Fat Freddy”, “Plasma” ou “The FingerTrips”.
O evento abriu com a actuação dos Plasma, vencedores da edição do ano passado, e com um rol de canções familiares a uma fracção considerável do público… Música em português, para todos! E num aparte permitam-me confidenciar que, apesar de considerar que nas rádios a música em inglês consegue captar mais público, parece-me que este “pressuposto” nos “ao vivo” se inverte! A música em português é mais inteligível (?) e a participação do público torna-se mais fácil.
O concurso foi uma mescla de sonoridades combinadas, que nem sempre resultaram em arquitecturas convincentes, mas que proporcionaram à assistência um serão animado e único. Se os Paranoid (de Vigo) ofereceram um rock acelerado salteado de hip-hop electronizado, os Nutty Pea (de Lisboa) dedicaram um ska-funk-pop “à la” “let’s have fun!”. Os Daguida (de Stª. Mª. Feira), por sua vez, trouxeram experimentalismo geométrico, imprimido de tons cénicos, os Fluid (da Trofa) um jazz rock lavado e despido de artifícios e, os Hyubris (de Abrantes), sons celtas rasgados, a acolchoar uma voz melódica que irrompia nos corpos atentos. Um pacto de sons no mínimo atrevido, e acusador do sortido de sonoridades que se distribuem no nosso país (e no vizinho)!
As cinco formações apresentaram argumentos para estar ali! À medida que as horas passavam e os sons se substituíam uns por outros, questionava-me sobre quem mereceria vencer… A balança pendia hesitante ora para um ora para outro… Venceram os Paranoid!! Fiquei a saber por terceiros, porque o cansaço derrotou-me às 5 e 20 da manhã, a hora a que arranquei dali com três quartos de hora de estrada à minha frente... Ainda vi os Bizarra Locomotiva e o início da actuação dos Dealema, as bandas convidadas a encerrar a noite e a abrir o dia…
Podia dissertar sobre a idoneidade do resultado mas, não ia conseguir uma resposta satisfatória! Se a diversidade das influências se reflectiu num espectáculo multifacetado, os intervalos que separavam as formações dificultavam a avaliação… Do mesmo lugar observavam-se as linhas, desniveladas, personalistas, indiferentes… Qualquer uma era só ela mesma… Por isso rendi-me (como todos!) a um resultado imprevisto mas admissível (como qualquer outro o seria!)…
Os Festivais, Mostras de Música Moderna ou Concursos (whatever!) despoletam pelo país fora! Não dão resposta aos reais incentivos que as bandas carecem, mas são um ímpeto a tantas formações, empurrando-as garagem fora até a um palco… grande, pequeno, com ou sem aparatos… dão a provar o sortilégio inebriante de um lugar, que existe em dimensões indecifráveis à linguagem da matéria… A experiência de fracções que são apenas um momento, na efémera pobreza de umas tábuas, embala a vontade no sentido do sonho. A primeira linha de tantas histórias… mais ou menos desconhecidas…
Mas estas iniciativas não são apenas uma mais valia para as “bandas de garagem”! São o descerrar de “fronteiras” de lugares escondidos, que oferecem lugar para a textura ingénua dos sons enclausurados em paredes apertadas… o ponto de encontro de povoações que se ignoravam, o óbice derrubado da distância… entre quem fala igual mas diferente… a hora de visita de forasteiros rendidos à sua aventura… uma aventura compartilhada com tanta gente… É a expansão de uma forma de vida ou de cultura (o que lhe quiserem chamar!)…
No Kastru’s Bar, as bandas deram de si! O público colaborou! A festa foi só uma!... A de todos!
Walkgirl (o walkman fica em casa!)
28.5.04
26.5.04
Sangue, suor e ideias
I
Não escrevo neste blogue para ser simpático, nem para agradar a grupinhos e, ainda menos, para ser politicamente correcto. Essa do tipo premeditadamente certinho, educado e preocupado com a polidez das afirmações que expressa, numa perspectiva de dividendos para daqui a 10 ou 20 anos, não se enquadra muito bem no perfil deste vosso escriba.
Confesso apreciar muitos dos comentários que tenho lido e, igualmente, assumo que me estou - literalmente - nas tintas para algumas linhas retorcidas que, também, leio. Ainda bem que existem essas vozes discordantes porque é sinal que a coisa mexe.
Na mesma medida em que o povo português tem falta de confiança em si próprio e é pouco dado a patriotismos, recuso-me a vestir o fato do politicamente correcto e não pretendo agradar a nenhuma facção. Prefiro ser um pacato enfant terrible do que um irrequieto yesman.
Não sou sócio de nenhum clube do meio musical: nem de rádios, nem de editoras, nem dos músicos, nem de ninguém. Gosto de música, sou simpatizante de todos e convosco partilho ideias e visões (alucinações?) mesmo que o status quo não goste. Que se lixem! Vai um Jack?
II
Puxando pela cabeça, recordo-me da possibilidade de um concerto numa comunidade portuguesa nas Antilhas Holandesas. A Sociedade de Autores de lá exigiu artistas locais, nesse espectáculo, e foi-se essa oportunidade...
Seriam patriotas perigosos ou nativos preocupados com a preservação da sua cultura?
Muito se tem falado, neste blogue, da necessidade das novas bandas actuarem ao vivo e com condições financeiras e sonoras.
No meio da indiferença da maioria, algumas bandas conceituadas têm dado uma mão a novos grupos, mas o apoio tem sido manifestamente escasso e insignificante. Não espero, nem penso que alguém acredite, que os grupos já estabelecidos vão patrocinar os novos projectos libertando uma parte (mesmo pequena) dos seus lucros.
Por outro lado, as Organizações, sejam elas Comissões de Festas ou Autarquias, movidas por sensibilidades financeiras e/ou políticas, raramente descobrem alguma mais valia no gasto de uns trocados em bandas para primeiras partes. Apesar das vistas curtas, estão no seu direito.
O boom do rock luso ocorreu há 24 anos e a falta de oportunidades para tocar ao vivo permanece.
Ou um grupo tem a sorte e/ou o talento de “rebentar” popularmente, ou nada feito. E os projectos com um ou dois discos (por muito promissores e talentosos que sejam) continuam a “vegetar” (e muitos a morrer) no mesmo circuito dos bares, onde já circulavam antes de gravarem os discos. Tudo numa de “gira o disco e toca o mesmo” durante anos a fio.
Para inverter esta tendência que estrangula e aniquila os projectos (quantos grupos de dimensão surgiram nos últimos 20 anos?), defendo uma medida mais “radical”: nos concertos cujo cabeça de cartaz cobre cachet superior a 1.500 contos, que as Organizações sejam obrigadas a contratar um novo grupo para a primeira parte (com um ou dois discos no mercado), pagando-lhes um valor mínimo de 10% sobre o cachet do grupo principal.
Parece mais do que provado que as boas intenções não nos levam muito longe, tendo chegado o momento de se assumir isso mesmo e de buscar soluções práticas e reais para que a nova música portuguesa possa ser conhecida, apreciada e divulgada.
E como se faz para que esta ideia seja concretizada?
Sejamos ambiciosos e pense-se numa Lei global para a música portuguesa.
Para as Organizações seria quase irrelevante… Pagar 1.500 contos ou 1.650 contos é praticamente o mesmo, quando se esquematizam os custos, e não são 10% que alteram o pensamento de uma Comissão de Festas ou de uma Câmara Municipal… Para as bandas seria muito importante porque teriam possibilidade de mostrar os trabalhos a públicos maiores e em muito melhores condições. Teriam hipóteses reais de crescimento.
Infelizmente, as mentalidade não podem ser modificadas por decreto, mas, a implementação de coisas como esta pode ser feita através de Leis! Parecido às quotas das rádios? Talvez.
Pessoalmente, posso não concordar com uma Lei de quotas, que preveja a passagem de música portuguesa nas rádios. Contudo, dado o actual quadro, parece-me inevitável que a Assembleia da República decida aquilo que o mercado não conseguiu auto-regular, nem os respectivos interessados acordar, parecendo esquecer que “um mau acordo é melhor do que uma boa demanda”!
Quando falta diálogo e bom senso só resta a solução legislativa.
Se assim querem, assim seja!
Mas que venha depressa, antes que a asfixia aniquile o futuro.
Não é com braços cruzados que se dobra o Cabo das Tormentas.
É com sangue, suor e ideias.
Luís Silva do Ó
Não escrevo neste blogue para ser simpático, nem para agradar a grupinhos e, ainda menos, para ser politicamente correcto. Essa do tipo premeditadamente certinho, educado e preocupado com a polidez das afirmações que expressa, numa perspectiva de dividendos para daqui a 10 ou 20 anos, não se enquadra muito bem no perfil deste vosso escriba.
Confesso apreciar muitos dos comentários que tenho lido e, igualmente, assumo que me estou - literalmente - nas tintas para algumas linhas retorcidas que, também, leio. Ainda bem que existem essas vozes discordantes porque é sinal que a coisa mexe.
Na mesma medida em que o povo português tem falta de confiança em si próprio e é pouco dado a patriotismos, recuso-me a vestir o fato do politicamente correcto e não pretendo agradar a nenhuma facção. Prefiro ser um pacato enfant terrible do que um irrequieto yesman.
Não sou sócio de nenhum clube do meio musical: nem de rádios, nem de editoras, nem dos músicos, nem de ninguém. Gosto de música, sou simpatizante de todos e convosco partilho ideias e visões (alucinações?) mesmo que o status quo não goste. Que se lixem! Vai um Jack?
II
Puxando pela cabeça, recordo-me da possibilidade de um concerto numa comunidade portuguesa nas Antilhas Holandesas. A Sociedade de Autores de lá exigiu artistas locais, nesse espectáculo, e foi-se essa oportunidade...
Seriam patriotas perigosos ou nativos preocupados com a preservação da sua cultura?
Muito se tem falado, neste blogue, da necessidade das novas bandas actuarem ao vivo e com condições financeiras e sonoras.
No meio da indiferença da maioria, algumas bandas conceituadas têm dado uma mão a novos grupos, mas o apoio tem sido manifestamente escasso e insignificante. Não espero, nem penso que alguém acredite, que os grupos já estabelecidos vão patrocinar os novos projectos libertando uma parte (mesmo pequena) dos seus lucros.
Por outro lado, as Organizações, sejam elas Comissões de Festas ou Autarquias, movidas por sensibilidades financeiras e/ou políticas, raramente descobrem alguma mais valia no gasto de uns trocados em bandas para primeiras partes. Apesar das vistas curtas, estão no seu direito.
O boom do rock luso ocorreu há 24 anos e a falta de oportunidades para tocar ao vivo permanece.
Ou um grupo tem a sorte e/ou o talento de “rebentar” popularmente, ou nada feito. E os projectos com um ou dois discos (por muito promissores e talentosos que sejam) continuam a “vegetar” (e muitos a morrer) no mesmo circuito dos bares, onde já circulavam antes de gravarem os discos. Tudo numa de “gira o disco e toca o mesmo” durante anos a fio.
Para inverter esta tendência que estrangula e aniquila os projectos (quantos grupos de dimensão surgiram nos últimos 20 anos?), defendo uma medida mais “radical”: nos concertos cujo cabeça de cartaz cobre cachet superior a 1.500 contos, que as Organizações sejam obrigadas a contratar um novo grupo para a primeira parte (com um ou dois discos no mercado), pagando-lhes um valor mínimo de 10% sobre o cachet do grupo principal.
Parece mais do que provado que as boas intenções não nos levam muito longe, tendo chegado o momento de se assumir isso mesmo e de buscar soluções práticas e reais para que a nova música portuguesa possa ser conhecida, apreciada e divulgada.
E como se faz para que esta ideia seja concretizada?
Sejamos ambiciosos e pense-se numa Lei global para a música portuguesa.
Para as Organizações seria quase irrelevante… Pagar 1.500 contos ou 1.650 contos é praticamente o mesmo, quando se esquematizam os custos, e não são 10% que alteram o pensamento de uma Comissão de Festas ou de uma Câmara Municipal… Para as bandas seria muito importante porque teriam possibilidade de mostrar os trabalhos a públicos maiores e em muito melhores condições. Teriam hipóteses reais de crescimento.
Infelizmente, as mentalidade não podem ser modificadas por decreto, mas, a implementação de coisas como esta pode ser feita através de Leis! Parecido às quotas das rádios? Talvez.
Pessoalmente, posso não concordar com uma Lei de quotas, que preveja a passagem de música portuguesa nas rádios. Contudo, dado o actual quadro, parece-me inevitável que a Assembleia da República decida aquilo que o mercado não conseguiu auto-regular, nem os respectivos interessados acordar, parecendo esquecer que “um mau acordo é melhor do que uma boa demanda”!
Quando falta diálogo e bom senso só resta a solução legislativa.
Se assim querem, assim seja!
Mas que venha depressa, antes que a asfixia aniquile o futuro.
Não é com braços cruzados que se dobra o Cabo das Tormentas.
É com sangue, suor e ideias.
Luís Silva do Ó
25.5.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 21/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 8 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros, destacando-se a entrada directa para o primeiro lugar do novo trabalho dos Madredeus.
1º UM AMOR INFINITO - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
11º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
12º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
14º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
22º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
25º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
28º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
30º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
1º UM AMOR INFINITO - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
11º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
12º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
14º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
22º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
25º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
28º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
30º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
24.5.04
Disco: Grace – High on You
(Selfmademan /Lemon/Universal 2004)
Um dos melhores discos de 2004, é o que os Grace nos oferecem neste espectacular “High on You”. Preenchem este EP 3 canções: “High on You (got my)”, “To all the Stars”, “Real Love (love is real)” e 2 videos: “You & I” e “High on You (got my)”.
Não consigo destacar qualquer uma das canções, mesmo depois de repetidas audições continuo a gostar das três por igual! Para quando um longa duração desta banda do Porto?
Compõem os Grace: Paulo Praça e Renato Dias (2 ex- turbo Junkie), Elisio Donas e Kinorm (2 ex- Ornatos Violeta) e ainda Miguel Barros (ex- Zen). Rapazes habituados a estas andanças que, no passado tocaram em 3 bandas com provas dadas, e agora se juntam neste disco onde dão o melhor de cada um em prol do novo projecto.
Espero vê-los ao vivo em breve pois a curiosidade ficou-me “atrás da orelha” e aproveito para dizer que este projecto é um dos que me parece “mais exportáveis”, dentro da nova cena musical portuguesa.
E pensam vocês: “Lá está ele com a conversa do costume!” e eu respondo: “Pois estou!”
E então? Nós (Portugueses) não somos bons??? Porque não acreditar que podemos triunfar fora de portas? Se os Espanhóis, Franceses, Alemães, Suíços, Dinamarqueses, Finlandeses, etc conseguem, porque é que nós não podemos conseguir? Respondem vocês: “Porque não defendemos o que é nosso!” e digo-lhes eu: “Então passemos a defender!”
Se temos Madredeus, Monspell, Dulce Pontes, Carlos Paredes, etc, lá fora; se a caminho estão os Fonzie, Aside, Easyway, entre outros… algo está a mudar…
Mude-se o sistema, oiçam o que o mestre David Ferreira tem a dizer sobre o assunto, aprendam. Eu quero mudar e espero estar a aprender…
Podem ir às lojas Fnac e ouvir este disco, se vos agradar, não façam download, comprem-no! O preço é bastante acessível e vale bem a pena!
Força!
António Côrte-Real, músico dos UHF
Contactos:
Site: http://www.gracetheband.com
Banda: gracetheband@hotmail.com
Concertos: União Lisboa – 214 827 176
Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade
Não consigo destacar qualquer uma das canções, mesmo depois de repetidas audições continuo a gostar das três por igual! Para quando um longa duração desta banda do Porto?
Compõem os Grace: Paulo Praça e Renato Dias (2 ex- turbo Junkie), Elisio Donas e Kinorm (2 ex- Ornatos Violeta) e ainda Miguel Barros (ex- Zen). Rapazes habituados a estas andanças que, no passado tocaram em 3 bandas com provas dadas, e agora se juntam neste disco onde dão o melhor de cada um em prol do novo projecto.
Espero vê-los ao vivo em breve pois a curiosidade ficou-me “atrás da orelha” e aproveito para dizer que este projecto é um dos que me parece “mais exportáveis”, dentro da nova cena musical portuguesa.
E pensam vocês: “Lá está ele com a conversa do costume!” e eu respondo: “Pois estou!”
E então? Nós (Portugueses) não somos bons??? Porque não acreditar que podemos triunfar fora de portas? Se os Espanhóis, Franceses, Alemães, Suíços, Dinamarqueses, Finlandeses, etc conseguem, porque é que nós não podemos conseguir? Respondem vocês: “Porque não defendemos o que é nosso!” e digo-lhes eu: “Então passemos a defender!”
Se temos Madredeus, Monspell, Dulce Pontes, Carlos Paredes, etc, lá fora; se a caminho estão os Fonzie, Aside, Easyway, entre outros… algo está a mudar…
Mude-se o sistema, oiçam o que o mestre David Ferreira tem a dizer sobre o assunto, aprendam. Eu quero mudar e espero estar a aprender…
Podem ir às lojas Fnac e ouvir este disco, se vos agradar, não façam download, comprem-no! O preço é bastante acessível e vale bem a pena!
Força!
António Côrte-Real, músico dos UHF
Contactos:
Site: http://www.gracetheband.com
Banda: gracetheband@hotmail.com
Concertos: União Lisboa – 214 827 176
Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade
21.5.04
In Vivo: Plaza
Quando se gosta mesmo de música está-se permanentemente em busca de revelações! Ora, isto subentende muitas vezes expectativas, mais ou menos inflacionadas (dependendo de diferentes factores!), que normalmente vão diluir o efeito surpresa.
Estava indecisa. Hoje, começa a haver oferta (exige estar-se atento!) de bons programas de concertos, e acontece-me frequentemente querer estar em mais que um lugar ao mesmo tempo. 6ª Feira, 30 de Abril, véspera de Feriado. Ao contrário da noite do dia seguinte, que me oferecia vários cartazes apetecíveis (!), na 6ª não estava particularmente decidida a ir ver música. Mas fui!... E ainda bem!
FNAC de Santa Catarina, Porto, quase meia-noite. Um ambiente intelecto-cultural, que a arte, a tecnologia, a informação e o lazer partilham, recebe Plaza!... Fluts de espumante, servido à descrição… um toque de “glamour” a combinar com um concerto, breve, mas envolvente...
Temas criativos, a revisitar diversos pormenores de “époque”. Plumas negras na roupa branca, o chique no casual, um aroma do passado num futuro de outrora… Contrastes que evidenciam as duas partes de um todo... Os refrões em sorriso, com vozes melódicas, corpos dançantes, as guitarras, o baixo, a orgânica de tempos áureos… Sintetizadores, ritmos e sons etéreos, distorções robóticas, moléculas de um futuro que é agora presente… numa miscelânea indissociável… Os Plaza!
O concerto foi familiar, coerente, inesperadamente humano e real… A impressão de uma maior brevidade do que a que aconteceu deixa adivinhar: gostei!! Sim! Gostei! Um projecto novo, vestido por pessoas com a experiência acumulada de outras formações (Simão Praça, Paulo Praça, e Quico Serrano). Um projecto que oferece a frescura da Primavera e o calor de Verão! Uma nova face no dinâmico sólido geométrico da música portuguesa!
A electrónica está aí. Goste-se ou não, está aí, e tem público! Esta onda, veio permitir explorar novas possibilidades, nomeadamente pela concretização das potencialidades de um elemento… que pode “acontecer” quase isoladamente (o exemplo de Slimmy), ou em formações mais reduzidas (de três, talvez sejam as mais incidentes!), como o caso de X-Wife, de U-Clic, dos Plaza! (Alguns destes nomes podem não ser conhecidos pela maioria, mas o meu conselho é: atentem!...)
O pano de fundo que o sintetizador oferece é uma infinidade de texturas, padrões e cores. As combinações são o segredo do cenário final. Não acredito que seja menor o mérito! Não há escalas para percorrer, mas há um lugar para cada ritmo, para cada som, para cada órgão do corpo final que é um tema! No caso dos Plaza, a identidade está bem vincada, numa formação que pinta o electro de pop, que usa a canção (sim! A canção! Se lhe tirássemos os acessórios podiam ser temas de concurso ao Euro Festival!... Fica a ideia!) para imprimir ritmos clandestinos que exercem aquele poder de nos fazer bater o pé sem termos dado consentimento.
A música é uma história interminável… nasce da criatividade do Homem… o limite é a infinidade de sons possíveis, em combinações inesgotáveis. E é com muita satisfação que descubro que cá, neste cantinho da Europa esquecido junto ao mar, gosta-se de música, procura-se… encontra-se!!... E este “Meeting Point” é mais um exemplo! O título do álbum de estreia dos Plaza parece-me, aliás, uma excelente definição da música “viva”. Um “lugar de encontro”, um espaço que é um bocadinho de todos, que nunca acontece igual, mas onde a identidade da formação, sob a forma de “je ne sais quoi”, se reconhece que nem as paredes de um quarto…
Walkgirl (o walkman fica em casa!)
Estava indecisa. Hoje, começa a haver oferta (exige estar-se atento!) de bons programas de concertos, e acontece-me frequentemente querer estar em mais que um lugar ao mesmo tempo. 6ª Feira, 30 de Abril, véspera de Feriado. Ao contrário da noite do dia seguinte, que me oferecia vários cartazes apetecíveis (!), na 6ª não estava particularmente decidida a ir ver música. Mas fui!... E ainda bem!
FNAC de Santa Catarina, Porto, quase meia-noite. Um ambiente intelecto-cultural, que a arte, a tecnologia, a informação e o lazer partilham, recebe Plaza!... Fluts de espumante, servido à descrição… um toque de “glamour” a combinar com um concerto, breve, mas envolvente...
Temas criativos, a revisitar diversos pormenores de “époque”. Plumas negras na roupa branca, o chique no casual, um aroma do passado num futuro de outrora… Contrastes que evidenciam as duas partes de um todo... Os refrões em sorriso, com vozes melódicas, corpos dançantes, as guitarras, o baixo, a orgânica de tempos áureos… Sintetizadores, ritmos e sons etéreos, distorções robóticas, moléculas de um futuro que é agora presente… numa miscelânea indissociável… Os Plaza!
O concerto foi familiar, coerente, inesperadamente humano e real… A impressão de uma maior brevidade do que a que aconteceu deixa adivinhar: gostei!! Sim! Gostei! Um projecto novo, vestido por pessoas com a experiência acumulada de outras formações (Simão Praça, Paulo Praça, e Quico Serrano). Um projecto que oferece a frescura da Primavera e o calor de Verão! Uma nova face no dinâmico sólido geométrico da música portuguesa!
A electrónica está aí. Goste-se ou não, está aí, e tem público! Esta onda, veio permitir explorar novas possibilidades, nomeadamente pela concretização das potencialidades de um elemento… que pode “acontecer” quase isoladamente (o exemplo de Slimmy), ou em formações mais reduzidas (de três, talvez sejam as mais incidentes!), como o caso de X-Wife, de U-Clic, dos Plaza! (Alguns destes nomes podem não ser conhecidos pela maioria, mas o meu conselho é: atentem!...)
O pano de fundo que o sintetizador oferece é uma infinidade de texturas, padrões e cores. As combinações são o segredo do cenário final. Não acredito que seja menor o mérito! Não há escalas para percorrer, mas há um lugar para cada ritmo, para cada som, para cada órgão do corpo final que é um tema! No caso dos Plaza, a identidade está bem vincada, numa formação que pinta o electro de pop, que usa a canção (sim! A canção! Se lhe tirássemos os acessórios podiam ser temas de concurso ao Euro Festival!... Fica a ideia!) para imprimir ritmos clandestinos que exercem aquele poder de nos fazer bater o pé sem termos dado consentimento.
A música é uma história interminável… nasce da criatividade do Homem… o limite é a infinidade de sons possíveis, em combinações inesgotáveis. E é com muita satisfação que descubro que cá, neste cantinho da Europa esquecido junto ao mar, gosta-se de música, procura-se… encontra-se!!... E este “Meeting Point” é mais um exemplo! O título do álbum de estreia dos Plaza parece-me, aliás, uma excelente definição da música “viva”. Um “lugar de encontro”, um espaço que é um bocadinho de todos, que nunca acontece igual, mas onde a identidade da formação, sob a forma de “je ne sais quoi”, se reconhece que nem as paredes de um quarto…
Walkgirl (o walkman fica em casa!)
19.5.04
Mocidade portuguesa
Quer-me parecer que boa parte de nós vive em plena dualidade, que me perdoem uma generalidade que é injusta.
A atitude da nossa banda tem de ser radical em palco, mas certinha antes de algum concurso ou festival onde temos hipótese de ir tocar de borla. Eles são maus, mas às vezes até podem ser bons...
Requisitos fundamentais para a nossa banda, radicalismo à força, de preferência de extrema esquerda, anti-editoras quando nos convém, sempre anti-rádio (ainda se está para saber a verdadeira motivação), não se fala de televisão, não nos havemos de dar bem com a maior parte das outras bandas - não haveria de ser assim, como disse e muito bem o Ulisses na sua crónica “A minha banda é maior que a tua” – há um sindroma de inferioridade latente entre bandas e é essa, entre outras, uma das razões que leva ao marasmo relativo, cenário padrão de muitos dos palcos e nuvem não passageira que ensombra a nossa música.
A este propósito e não sendo esta reflexão um carregar nas bandas – apenas uma certa revolta pela inércia e o tradicional apontar de caminhos - refiro um caso em tudo idêntico ao que se passa na nossa música, mas desta feita nas diferenças entre as grandezas rádios locais / nacionais. Tenho conhecimento de que em muito boa rádio local existe o chamado corredor da frustração, onde só se diz mal do que as nacionais fazem e quanto à equipa destas últimas, se for algum animador que apareça regularmente na imprensa e televisão, é o topo – o supra-sumo, se for ao contrário, independentemente de se gostar mais deste ou daquele timbre, a tipa ou tipo nem tem voz para estar numa rádio nacional! Como deve ser do vosso conhecimento, quem profere tais afirmações não tem qualquer conhecimento técnico sobre o que diz e por vezes, nem para uma rádio local tem voz, ainda mais não esquecendo que uma local não merece menos do que uma nacional... Estas semelhanças entre os dois mundos não devem ser apenas coincidências, acho que têm a ver com uma certa pequenês de pensamento e inveja dissimulada que cá no burgo vai dando mostras de si para lá do desejável. Acho que nos devemos elevar, não há quem o faça por nós.
Parece um cenário dantesco, mas a dualidade segue com a preguiça. As bandas fazem um caminho que julgam ser o mais acertado, mas não é. E quem sou eu para dizer isto? O mesmo tipo que pediu para enviarem demos para tocarem na rádio, num mês, apareceram quatro, ena... imaginei que as bandas com tantas críticas à rádio recebessem a notícia de uma maior aproximação como algo demonstrativo de evolução. Mas o problema deve ser o mesmo do que aquele que existiu com o slogan deste ano das comemorações dos trinta anos do 25 de Abril. Tirar um “R” é o fim do mundo, o erro foi daqui, peço desculpa, não se devia ter apresentado este convite como uma evolução, mas dever-se-ia ter anunciado este projecto como o revolucionar das rádios, ui... devia ter recebido muitas mais demos e biografias. Aqui se vê, não são teorias, é o que está a acontecer, as bandas queixam-se que não tocam na rádio, mas no entanto são incapazes de enviar um cd, um e-mail com um mp3, o que seja.
Temos meia dúzia de rádios nacionais e aproximadamente duzentas e cinquenta locais, como um cd custa quarenta cêntimos, acho que levar uma banda a todo o país das rádios fica em 104 € , mais uns selos – outro tanto - uma fortuna incomportável, portanto...
Recordo-me dos últimos anos da década de oitenta e dos primeiros da de noventa, o Luís Silva do Ó, recebia dezenas de cassetes semanalmente para tocar num programa de uma rádio local do sul – a Antena Miróbriga - menos densamente povoado que o norte. Também recebi registos e tive duas bandas a tocar ao vivo nos estúdios da mesma rádio, não sendo um programa vocacionado especialmente para a música portuguesa. Onde está toda essa actividade das bandas que existia na altura, para onde foi alguma humildade e perseverança sobretudo?
Como costuma dizer a minha avó “no meu tempo de gaiata, a mocidade era mais aguerrida”.
As colaborações que pedi a quem já divulga especificamente a música portuguesa nem mereceram um e-mail ou uma resposta ao que enviei, sou levado a concluir que a atitude é proporcional ao interesse.
Tenho optado por quase não fazer aqui no blog comentários às crónicas dos outros colaboradores e de quem nos visita, apesar de não concordar com uma parte do que se escreve, prefiro enviar um e-mail a discutir esta ou aquela questão ao autor, por uma questão de respeito pela respectiva profissão ou área de interesse – excepção feita aos reptos públicos. Agradeço a compreensão por esta atitude, que é uma forma de estar.
Quanto às bandas...espero que não continuem de braços cruzados em relação à divulgação que importa... não é só a tocar em bares para os amigos, ou em concertos ainda que com centenas de pessoas que a vossa banda vai a algum lado, ao fim deste tempo já o sabem, com certeza. Se não se enveredar por um processo virado a todas as frentes, concertos, editoras, rádios, televisão, imprensa da especialidade e internet, não estou a ver para lá deste nevoeiro através do qual se continua a esperar sentado por um D. Sebastião que chegue, nos dê a mão, pegue no nosso disco, o leve a tocar em todas as rádios (mesmo as que nada têm a ver com o nosso estilo), ponha o vídeo que não fizemos a passar nas televisões e a encher uma série de pavilhões do tamanho do Atlântico, chamando todos os amigos árabes para comprar também o disco que jamais poderá estar à venda em superfícies comerciais de grande dimensão, só em lojas de culto que teriam filas intermináveis para adquirir a nossa obra.
Reparei também que não foi dada a devida atenção à ideia “Exportação - uma utopia?” do Orlando Angelino. As boas ideias devem ser tidas em conta e esta é uma delas, lembrem-se, todas as possibilidades, nem uma de fora. E mais digo, em jeito de acrescento, que se a exportação da nossa música for uma utopia, tal só se deve a parte das bandas, na vertente da inércia e falta de coragem ou espírito empreendedor e à respectiva editora, a existir. Se nem cá existe interesse na divulgação ou, pelo menos, pouco se faz, quanto mais no estrangeiro...
A dualidade continua a avançar, desta vez com a questão capitalismo / atitude, senão vejamos, tive ocasião de ler no Canal Maldito uma acusação das mais infantis e desprovidas de sentido, em relação ao “Projecto global” do Luís Silva do Ó. Recorde-se que se defendia uma forte identidade nacional, gosto pelo que é nosso e um certo retorno à grandiosidade portuguesa, aplicado à música, que – vamos lá – ainda há-de existir. Surgiram logo rótulos de “visão fascista”, etc. Então em que ficamos? As bandas querem ver o seu trabalho reconhecido, em português, ou pelo menos sendo projectos portugueses, mas depois quando aparece quem os defenda e queira mais orgulho no que é nosso e sobretudo gosto e trabalho já não interessa e é logo um estado novo? Estamos perante uma contradição e provavelmente assistimos à demonstração de preconceitos que não levam a lado algum.
Incontornável o Rock in Rio (Lisboa) – há quem vá, há quem não vá – eu não sei se vou... temos de encarar o certame não como um festival de rock, mas antes como ele é, uma acção de marketing, uma conquista do mercado europeu, onde vão estar uma série de músicos consagrados, como motor. Junta-se uma causa social e faz-se a coisa. Não é o altar da música, mas não faz mal, continuo a pensar que tudo o que vem e não dá prejuizo já dá lucro. A publicidade nunca fez mal a ninguém. Só não compreendo assim tão bem é porque é que algumas bandas portuguesas se esfolam por lá ir tocar e desferem ataques aos nossos músicos que já confirmaram ida.
Às vezes é uma tristeza entrar na onda de pessimismo e de ter de dar opinião que era melhor ficar guardada, mas francamente, este país inspira-me.
Ainda bem que há boas notícias, a Walkgirl (não só, mas também) porque o Walkman ficou em casa, fez um directo para o Atlântico no passado Sábado, na sua estreia radiofónica, falou de música portuguesa, das novas sonoridades, de fusão, de emoções ao vivo, do que é o nosso mundo. E querem saber uma coisa?
Ainda há esperança na mocidade portuguesa...
Bruno Gonçalves Pereira
A atitude da nossa banda tem de ser radical em palco, mas certinha antes de algum concurso ou festival onde temos hipótese de ir tocar de borla. Eles são maus, mas às vezes até podem ser bons...
Requisitos fundamentais para a nossa banda, radicalismo à força, de preferência de extrema esquerda, anti-editoras quando nos convém, sempre anti-rádio (ainda se está para saber a verdadeira motivação), não se fala de televisão, não nos havemos de dar bem com a maior parte das outras bandas - não haveria de ser assim, como disse e muito bem o Ulisses na sua crónica “A minha banda é maior que a tua” – há um sindroma de inferioridade latente entre bandas e é essa, entre outras, uma das razões que leva ao marasmo relativo, cenário padrão de muitos dos palcos e nuvem não passageira que ensombra a nossa música.
A este propósito e não sendo esta reflexão um carregar nas bandas – apenas uma certa revolta pela inércia e o tradicional apontar de caminhos - refiro um caso em tudo idêntico ao que se passa na nossa música, mas desta feita nas diferenças entre as grandezas rádios locais / nacionais. Tenho conhecimento de que em muito boa rádio local existe o chamado corredor da frustração, onde só se diz mal do que as nacionais fazem e quanto à equipa destas últimas, se for algum animador que apareça regularmente na imprensa e televisão, é o topo – o supra-sumo, se for ao contrário, independentemente de se gostar mais deste ou daquele timbre, a tipa ou tipo nem tem voz para estar numa rádio nacional! Como deve ser do vosso conhecimento, quem profere tais afirmações não tem qualquer conhecimento técnico sobre o que diz e por vezes, nem para uma rádio local tem voz, ainda mais não esquecendo que uma local não merece menos do que uma nacional... Estas semelhanças entre os dois mundos não devem ser apenas coincidências, acho que têm a ver com uma certa pequenês de pensamento e inveja dissimulada que cá no burgo vai dando mostras de si para lá do desejável. Acho que nos devemos elevar, não há quem o faça por nós.
Parece um cenário dantesco, mas a dualidade segue com a preguiça. As bandas fazem um caminho que julgam ser o mais acertado, mas não é. E quem sou eu para dizer isto? O mesmo tipo que pediu para enviarem demos para tocarem na rádio, num mês, apareceram quatro, ena... imaginei que as bandas com tantas críticas à rádio recebessem a notícia de uma maior aproximação como algo demonstrativo de evolução. Mas o problema deve ser o mesmo do que aquele que existiu com o slogan deste ano das comemorações dos trinta anos do 25 de Abril. Tirar um “R” é o fim do mundo, o erro foi daqui, peço desculpa, não se devia ter apresentado este convite como uma evolução, mas dever-se-ia ter anunciado este projecto como o revolucionar das rádios, ui... devia ter recebido muitas mais demos e biografias. Aqui se vê, não são teorias, é o que está a acontecer, as bandas queixam-se que não tocam na rádio, mas no entanto são incapazes de enviar um cd, um e-mail com um mp3, o que seja.
Temos meia dúzia de rádios nacionais e aproximadamente duzentas e cinquenta locais, como um cd custa quarenta cêntimos, acho que levar uma banda a todo o país das rádios fica em 104 € , mais uns selos – outro tanto - uma fortuna incomportável, portanto...
Recordo-me dos últimos anos da década de oitenta e dos primeiros da de noventa, o Luís Silva do Ó, recebia dezenas de cassetes semanalmente para tocar num programa de uma rádio local do sul – a Antena Miróbriga - menos densamente povoado que o norte. Também recebi registos e tive duas bandas a tocar ao vivo nos estúdios da mesma rádio, não sendo um programa vocacionado especialmente para a música portuguesa. Onde está toda essa actividade das bandas que existia na altura, para onde foi alguma humildade e perseverança sobretudo?
Como costuma dizer a minha avó “no meu tempo de gaiata, a mocidade era mais aguerrida”.
As colaborações que pedi a quem já divulga especificamente a música portuguesa nem mereceram um e-mail ou uma resposta ao que enviei, sou levado a concluir que a atitude é proporcional ao interesse.
Tenho optado por quase não fazer aqui no blog comentários às crónicas dos outros colaboradores e de quem nos visita, apesar de não concordar com uma parte do que se escreve, prefiro enviar um e-mail a discutir esta ou aquela questão ao autor, por uma questão de respeito pela respectiva profissão ou área de interesse – excepção feita aos reptos públicos. Agradeço a compreensão por esta atitude, que é uma forma de estar.
Quanto às bandas...espero que não continuem de braços cruzados em relação à divulgação que importa... não é só a tocar em bares para os amigos, ou em concertos ainda que com centenas de pessoas que a vossa banda vai a algum lado, ao fim deste tempo já o sabem, com certeza. Se não se enveredar por um processo virado a todas as frentes, concertos, editoras, rádios, televisão, imprensa da especialidade e internet, não estou a ver para lá deste nevoeiro através do qual se continua a esperar sentado por um D. Sebastião que chegue, nos dê a mão, pegue no nosso disco, o leve a tocar em todas as rádios (mesmo as que nada têm a ver com o nosso estilo), ponha o vídeo que não fizemos a passar nas televisões e a encher uma série de pavilhões do tamanho do Atlântico, chamando todos os amigos árabes para comprar também o disco que jamais poderá estar à venda em superfícies comerciais de grande dimensão, só em lojas de culto que teriam filas intermináveis para adquirir a nossa obra.
Reparei também que não foi dada a devida atenção à ideia “Exportação - uma utopia?” do Orlando Angelino. As boas ideias devem ser tidas em conta e esta é uma delas, lembrem-se, todas as possibilidades, nem uma de fora. E mais digo, em jeito de acrescento, que se a exportação da nossa música for uma utopia, tal só se deve a parte das bandas, na vertente da inércia e falta de coragem ou espírito empreendedor e à respectiva editora, a existir. Se nem cá existe interesse na divulgação ou, pelo menos, pouco se faz, quanto mais no estrangeiro...
A dualidade continua a avançar, desta vez com a questão capitalismo / atitude, senão vejamos, tive ocasião de ler no Canal Maldito uma acusação das mais infantis e desprovidas de sentido, em relação ao “Projecto global” do Luís Silva do Ó. Recorde-se que se defendia uma forte identidade nacional, gosto pelo que é nosso e um certo retorno à grandiosidade portuguesa, aplicado à música, que – vamos lá – ainda há-de existir. Surgiram logo rótulos de “visão fascista”, etc. Então em que ficamos? As bandas querem ver o seu trabalho reconhecido, em português, ou pelo menos sendo projectos portugueses, mas depois quando aparece quem os defenda e queira mais orgulho no que é nosso e sobretudo gosto e trabalho já não interessa e é logo um estado novo? Estamos perante uma contradição e provavelmente assistimos à demonstração de preconceitos que não levam a lado algum.
Incontornável o Rock in Rio (Lisboa) – há quem vá, há quem não vá – eu não sei se vou... temos de encarar o certame não como um festival de rock, mas antes como ele é, uma acção de marketing, uma conquista do mercado europeu, onde vão estar uma série de músicos consagrados, como motor. Junta-se uma causa social e faz-se a coisa. Não é o altar da música, mas não faz mal, continuo a pensar que tudo o que vem e não dá prejuizo já dá lucro. A publicidade nunca fez mal a ninguém. Só não compreendo assim tão bem é porque é que algumas bandas portuguesas se esfolam por lá ir tocar e desferem ataques aos nossos músicos que já confirmaram ida.
Às vezes é uma tristeza entrar na onda de pessimismo e de ter de dar opinião que era melhor ficar guardada, mas francamente, este país inspira-me.
Ainda bem que há boas notícias, a Walkgirl (não só, mas também) porque o Walkman ficou em casa, fez um directo para o Atlântico no passado Sábado, na sua estreia radiofónica, falou de música portuguesa, das novas sonoridades, de fusão, de emoções ao vivo, do que é o nosso mundo. E querem saber uma coisa?
Ainda há esperança na mocidade portuguesa...
Bruno Gonçalves Pereira
18.5.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 20/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 8 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.
8º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
12º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
15º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
16º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
17º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
18º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
24º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
25º A CABRITINHA - QUIM BARREIROS (ESPACIAL)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
8º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
12º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
15º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
16º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
17º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
18º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
24º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
25º A CABRITINHA - QUIM BARREIROS (ESPACIAL)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
14.5.04
In Vivo: Mão Morta
Abril de 2004, Braga. Mão Morta apresentam o seu “Nus” para um auditório cheio… A ansiedade é visível nos rostos! André Leite acabara de deixar o palco, depois de apresentar um repertório menos atendido pela curiosidade que aquecia no sangue. Definitivamente um discípulo de Jeff Buckley!
No palco, telas esperam os elementos que todos aguardam. Na sala o breu cobre a massa humana que quer ver música e nela despertar de sentidos adormecidos… Um espaço, duas dimensões. O plano invisível que separa o público do palco desfaz-se quando tudo começa. Nenhuma das partes faria sentido sem a outra. Flagrante!!
As sombras surgem. As telas brancas estáticas, abandonadas, sugerem os movimentos de “Nus”, enquanto são projectadas luzes camaleónicas que brincam em formas geométricas dançantes. A voz grave de Adolfo Luxúria Canibal surge no silêncio interrompido pelo instrumental avassalador dos outros sete elementos. A voz do terror, familiar, que segreda o prazer do medo… afagado no conforto das cadeiras.
Mão Morta. Os mesmos. Disfarçados de outros?... O agora, acontece com um impacto brutal! Acontece com a violência de uma revelação… Mão Morta?... Curiosamente, ninguém suspeita da identidade! Ninguém surge desconfiado… O autêntico é estranhamente indubitável … São os Mão Morta. Numa roupagem vanguardista de si mesmos!
As escalas são percorridas pelas guitarras, em solos desencontrados que se entrançam em harmonias imprevisíveis… os pratos que soam aqui e ali, teclas que soltam o mar onde todos navegam, a voz sussurrante que declama os versos infindáveis de uma epopeia… interrompida por um passeio mais popular de Marta Ren dos Sloppy Joe (convidada que começa a ser “habituèe”), que não oferece a prestação que esperava, mas que consegue não agredir o cenário, com a sua subtileza, natural ou profissional (?).
Depois, a visita de Miguel Guedes. Aquém das expectativas (fico desconfiada do som!), consegue chegar mais perto, e nalguns momentos satisfazê-las. O tempo dilui-se…
Os temas, sempre criativos, exploram sons mais electrónicos que o habitual, tecem-se em melopeias divergentes, procuram ritmos inovadores… sem esbater as impressões digitais da formação. Quem está presente percebe a ausência que se vive ali. Um espectáculo em que o único senão é o nervoso que cresce com o decorrer do percurso dos ponteiros do relógio, e com as imóveis telas que permanecem… O povo quer ver os artistas!
A satisfação deste desejo só chega no “encore”, que marca a separação do que é o presente e o passado! Revisitam-se tempos antigos... Os sons mais crus e dilacerantes, os ritmos mais acelerados, os movimentos distorcidos das coreografias de Luxúria Canibal, invadem o palco e põem muitos aos saltos… os Mão Morta despem-se de “Nus” e regressam para satisfazer as dúvidas de algum céptico! Continuam os mesmos… São diferentes… Como qualquer um de nós…
O tempo passa. Os sons evoluem. As exigências aumentam. A crítica exige!... Um estatuto é difícil de conseguir. Mas, e preservá-lo??... Uma banda se não explora “novos caminhos”, deixa-se dormir na sombra de uma árvore qualquer, à custa de um “hit” feliz que é lançado em todas as versões que lembram o diabo… Se surge com um trabalho muito diferente, perdeu a identidade e traiu os seus mais fiéis seguidores… A avaliação faz-se em resposta a uma expectativa! Eu não esperava muito de Mão Morta, confesso! Nunca fui fã!... Mas, depois deste concerto, fiquei!
Walkgirl (o walkman fica em casa!)
No palco, telas esperam os elementos que todos aguardam. Na sala o breu cobre a massa humana que quer ver música e nela despertar de sentidos adormecidos… Um espaço, duas dimensões. O plano invisível que separa o público do palco desfaz-se quando tudo começa. Nenhuma das partes faria sentido sem a outra. Flagrante!!
As sombras surgem. As telas brancas estáticas, abandonadas, sugerem os movimentos de “Nus”, enquanto são projectadas luzes camaleónicas que brincam em formas geométricas dançantes. A voz grave de Adolfo Luxúria Canibal surge no silêncio interrompido pelo instrumental avassalador dos outros sete elementos. A voz do terror, familiar, que segreda o prazer do medo… afagado no conforto das cadeiras.
Mão Morta. Os mesmos. Disfarçados de outros?... O agora, acontece com um impacto brutal! Acontece com a violência de uma revelação… Mão Morta?... Curiosamente, ninguém suspeita da identidade! Ninguém surge desconfiado… O autêntico é estranhamente indubitável … São os Mão Morta. Numa roupagem vanguardista de si mesmos!
As escalas são percorridas pelas guitarras, em solos desencontrados que se entrançam em harmonias imprevisíveis… os pratos que soam aqui e ali, teclas que soltam o mar onde todos navegam, a voz sussurrante que declama os versos infindáveis de uma epopeia… interrompida por um passeio mais popular de Marta Ren dos Sloppy Joe (convidada que começa a ser “habituèe”), que não oferece a prestação que esperava, mas que consegue não agredir o cenário, com a sua subtileza, natural ou profissional (?).
Depois, a visita de Miguel Guedes. Aquém das expectativas (fico desconfiada do som!), consegue chegar mais perto, e nalguns momentos satisfazê-las. O tempo dilui-se…
Os temas, sempre criativos, exploram sons mais electrónicos que o habitual, tecem-se em melopeias divergentes, procuram ritmos inovadores… sem esbater as impressões digitais da formação. Quem está presente percebe a ausência que se vive ali. Um espectáculo em que o único senão é o nervoso que cresce com o decorrer do percurso dos ponteiros do relógio, e com as imóveis telas que permanecem… O povo quer ver os artistas!
A satisfação deste desejo só chega no “encore”, que marca a separação do que é o presente e o passado! Revisitam-se tempos antigos... Os sons mais crus e dilacerantes, os ritmos mais acelerados, os movimentos distorcidos das coreografias de Luxúria Canibal, invadem o palco e põem muitos aos saltos… os Mão Morta despem-se de “Nus” e regressam para satisfazer as dúvidas de algum céptico! Continuam os mesmos… São diferentes… Como qualquer um de nós…
O tempo passa. Os sons evoluem. As exigências aumentam. A crítica exige!... Um estatuto é difícil de conseguir. Mas, e preservá-lo??... Uma banda se não explora “novos caminhos”, deixa-se dormir na sombra de uma árvore qualquer, à custa de um “hit” feliz que é lançado em todas as versões que lembram o diabo… Se surge com um trabalho muito diferente, perdeu a identidade e traiu os seus mais fiéis seguidores… A avaliação faz-se em resposta a uma expectativa! Eu não esperava muito de Mão Morta, confesso! Nunca fui fã!... Mas, depois deste concerto, fiquei!
Walkgirl (o walkman fica em casa!)
MP3: 3 temas dos Zoë
Os Zoë são um grupo sonoramente sólido e sabem conjugar ambientes acústicos com electrónicos. Ao pop e à bossa, juntam uma tonalidade muito relevante e que faz a diferença no seu som. Refiro-me ao agradável perfume de jazz que se respira em todos os temas da banda.
A história dos Zoë, apesar de ser ainda curta, é já interessante e com certo peso.
2000 foi um ano marcante: surgem na colectânea "Outros Sons" (promovida pela Câmara Municipal de Penafiel) com "Wandering" e actuam no Palco Secundário nas míticas Noites Ritual Rock. A participação no Termómetro Unpluged desse ano rende-lhes um 2º lugar e um certo destaque.
No ano seguinte, entram em estúdio e editam o EP "Songs from the borderline" que inclui 4 temas. Este trabalho é promovido ao vivo na "Borderline Tour" e passa em diversas estações de rádio, de onde sobressaem a Antena 3, Rádio Comercial e TSF.
O CD "Synth-o-matic" é lançado em 2002, sendo bem aceite pelo meio musical, e abre novas portas ao projecto. Viajam até ao Festival Sudoeste e conquistam o Palco Principal nas Noites Ritual Rock. O single "Underground" mantém-se 3 semanas em nº1, no top de airplay da Antena3, e permanece no primeiro lugar, no top do programa Curto Circuito da Sic Radical, durante outras 3 semanas.
Já em 2004, é apresentado um novo tema, que abre o som dos Zoë a um público maior. "Carry on" pode ser escutado na Antena 3 e encontra-se disponivel na nossa secção de MP3. Uma canção que nos faz aumentar a expectativa para o próximo trabalho dos Zoë.
Dada a saída de Rui Coutinho (voz), a banda é, agora, constituída por João Cunha (bateria), Eduardo Peixoto (contrabaixo e baixo) e Rui Pintado (guitarra e programações) e procura um(a) novo(a) vocalista.
Luís Silva do Ó
Por cortesia dos Zoë, encontram-se, na nossa secção de MP3, os temas "Wandering", "Underground" e "Carry on".
A história dos Zoë, apesar de ser ainda curta, é já interessante e com certo peso.
2000 foi um ano marcante: surgem na colectânea "Outros Sons" (promovida pela Câmara Municipal de Penafiel) com "Wandering" e actuam no Palco Secundário nas míticas Noites Ritual Rock. A participação no Termómetro Unpluged desse ano rende-lhes um 2º lugar e um certo destaque.
No ano seguinte, entram em estúdio e editam o EP "Songs from the borderline" que inclui 4 temas. Este trabalho é promovido ao vivo na "Borderline Tour" e passa em diversas estações de rádio, de onde sobressaem a Antena 3, Rádio Comercial e TSF.
O CD "Synth-o-matic" é lançado em 2002, sendo bem aceite pelo meio musical, e abre novas portas ao projecto. Viajam até ao Festival Sudoeste e conquistam o Palco Principal nas Noites Ritual Rock. O single "Underground" mantém-se 3 semanas em nº1, no top de airplay da Antena3, e permanece no primeiro lugar, no top do programa Curto Circuito da Sic Radical, durante outras 3 semanas.
Já em 2004, é apresentado um novo tema, que abre o som dos Zoë a um público maior. "Carry on" pode ser escutado na Antena 3 e encontra-se disponivel na nossa secção de MP3. Uma canção que nos faz aumentar a expectativa para o próximo trabalho dos Zoë.
Dada a saída de Rui Coutinho (voz), a banda é, agora, constituída por João Cunha (bateria), Eduardo Peixoto (contrabaixo e baixo) e Rui Pintado (guitarra e programações) e procura um(a) novo(a) vocalista.
Luís Silva do Ó
Por cortesia dos Zoë, encontram-se, na nossa secção de MP3, os temas "Wandering", "Underground" e "Carry on".
13.5.04
Rock in Rio: Eu não vou!
E vocês respondem: problema teu. E mais nada.
O há muito aguardado Rock in Rio está finalmente aí a bater à nossa porta mas eu ainda não sei se a vou abrir, por várias razões.
Mas já lá vamos. Foi de facto com alguma curiosidade que fomos sabendo a conta gotas quais os artistas que nos iriam presentear com as suas magníficas actuações. Mas para surpresa de alguns, minha também, pude verificar que afinal iremos ter apenas dois dias dedicados ao rock, porque os restantes são pop a roçar nalguns casos a música ligeira foleira.
Quanto a estilos, cada um gosta do que gosta e ninguém tem nada a ver com isso.
Mas por favor, mudem o nome do Festival para algo mais adequado.
Dado os preços exorbitantes que temos que pagar, pensaria que teríamos só mesmo artistas de topo, alguns deles que até nunca tivessem tocado no nosso país, ou pelo menos tivessem actuado poucas vezes. Mas isso pelos vistos não acontece.
Temos os Placebo que todos os anos vêm a Portugal 1 ou 2 vezes desde há 4 anos para cá, os Evanescence já cá estiveram este ano no Coliseu, Charlie Brown Jr. também tem vindo aos festivais de verão assim como muitos outros.
Os nossos representantes "Tugas" são aqueles que tocam em todos os cantos deste nosso pequeno país não sendo por isso novidade para ninguém.
Agora eu pergunto: acham que 53 euros por dia são bem empregues neste Rock in Rio?
Eu não pago. Mas como se isso não bastasse ainda nos dão alguns bónus como Britney Spears, Sugababes, Daniela Mercury, João Pedro Pais, Alicia Keys, Alejandro Sanz, Ivete Sangalo, Luís Represas ou o novíssimo e promissor Nuno Norte.
Só falta mesmo o Justino Madeira Lago a ensinar-nos a dançar à Michael jackson. E tudo isto no palco principal. Vale mesmo a pena.
De facto há artistas que eu gostaria imenso de ver ou rever como Foo Fighters, Metallica, Slipknot e Sting mas para isso teria que gastar 159 euros.
Como já os vi a todos prefiro muito mais guardar-me para os festivais de verão que para além de serem mais acessíveis e terem melhor cartaz, sempre dá para respirar um ar menos poluído do que o de Lisboa.
Ulisses, músico dos k2o3
O há muito aguardado Rock in Rio está finalmente aí a bater à nossa porta mas eu ainda não sei se a vou abrir, por várias razões.
Mas já lá vamos. Foi de facto com alguma curiosidade que fomos sabendo a conta gotas quais os artistas que nos iriam presentear com as suas magníficas actuações. Mas para surpresa de alguns, minha também, pude verificar que afinal iremos ter apenas dois dias dedicados ao rock, porque os restantes são pop a roçar nalguns casos a música ligeira foleira.
Quanto a estilos, cada um gosta do que gosta e ninguém tem nada a ver com isso.
Mas por favor, mudem o nome do Festival para algo mais adequado.
Dado os preços exorbitantes que temos que pagar, pensaria que teríamos só mesmo artistas de topo, alguns deles que até nunca tivessem tocado no nosso país, ou pelo menos tivessem actuado poucas vezes. Mas isso pelos vistos não acontece.
Temos os Placebo que todos os anos vêm a Portugal 1 ou 2 vezes desde há 4 anos para cá, os Evanescence já cá estiveram este ano no Coliseu, Charlie Brown Jr. também tem vindo aos festivais de verão assim como muitos outros.
Os nossos representantes "Tugas" são aqueles que tocam em todos os cantos deste nosso pequeno país não sendo por isso novidade para ninguém.
Agora eu pergunto: acham que 53 euros por dia são bem empregues neste Rock in Rio?
Eu não pago. Mas como se isso não bastasse ainda nos dão alguns bónus como Britney Spears, Sugababes, Daniela Mercury, João Pedro Pais, Alicia Keys, Alejandro Sanz, Ivete Sangalo, Luís Represas ou o novíssimo e promissor Nuno Norte.
Só falta mesmo o Justino Madeira Lago a ensinar-nos a dançar à Michael jackson. E tudo isto no palco principal. Vale mesmo a pena.
De facto há artistas que eu gostaria imenso de ver ou rever como Foo Fighters, Metallica, Slipknot e Sting mas para isso teria que gastar 159 euros.
Como já os vi a todos prefiro muito mais guardar-me para os festivais de verão que para além de serem mais acessíveis e terem melhor cartaz, sempre dá para respirar um ar menos poluído do que o de Lisboa.
Ulisses, músico dos k2o3
12.5.04
BLOGUE-SE À FORÇA – Seis
UHF – o melhor grupo de baile do país
Uma história com contrato
Numa manhã do final da primavera de 80, os UHF corriam a quatro para o pequeno escritório da editora Vadeca, em Benfica, e eram recebidos pelo dinâmico Ilídio Viana. Connosco estava o recente amigo brasileiro e jornalista Luís Vitta, arma secreta e aliada para uma maratona contratual – cabe-lhe a ele o título “UHF – O Canal Maldito” nas páginas do semanário de música Rock Week, o Blitz de 80.
A oferta do senhor Viana foi clara – 4% de royalties para um contrato de 3 anos – mais a promessa de acreditar piamente que viríamos a ser o primeiro single de prata do rock português. É bom referir que a Vadeca era uma subsidiária da EMI-Valentim de Carvalho, daí o atrevimento do “rapaz” Viana, a querer mostrar trabalho à casa-mãe, que saboreava o imprevisível sucesso do Rui Veloso com “Chico Fininho”.
Dissemos “nim”, o Vitta sabia-a toda, e fomos almoçar para a Baixa (os concertos já davam dinheiro para o “Quintal” no Largo do Carmo).
Perto das três descemos à Rua Garrett, virámos para a Nova do Almada e entrámos na velha porta ao lado da magnífica loja de discos Valentim de Carvalho – íamos nós, o Vitta e uma dor de estômago muito pessoal a subir as escadas daquele Império da Música chamado EMI-Valentim de Carvalho.
As negociações foram conduzidas pelo Nuno Rodrigues, A&R nacional (aqui no Blogue adoram este termo) da editora. Por nós estava o Vitta, o meu nervosismo latente e uma mão cheia de indecisões atávicas.
Mexendo-se bem naqueles corredores, farto do palrar difícil do Nuno, Luís Vitta acabou por aparecer com o patrão Francisco Vasconcelos. Num ápice, de pé à porta do gabinete do mentor da Banda do Casaco, aquele puto com a minha idade disse: “Assina-os, 5 anos, 6 por cento!”, e saiu a sorrir.
Nessa tarde ainda conhecemos o David Ferreira, actual administrador da EMI, ao tempo director de promoção – bolas, até havia um departamento de promoção!
Foi assim que tudo começou, um ano depois do “Jorge Morreu”.
Durante anos o Viana evitou-me, desdizendo da sua sorte, mas o rapaz tinha visão – os nossos “Cavalos de Corrida” não só foram prata (30.000 exemplares vendidos), como chegaram muito mais longe.
Porque fiz mais solos de guitarra em “À Flor da Pele”...
...que no resto da discografia dos UHF, podia ser uma pergunta inteligente para a malta que se serve do “jornalismo” para comer, mas essa gente não ouve (o Tê diz que “a gente não lê” e tem razão) os discos que as editoras lhes oferecem.
Para a história conta o facto que, no nosso primeiro álbum, ultrapasso o génio Renato Gomes nos solitos que definiriam a matriz do rock UHF. A saber: “Rapaz Caleidoscópio”, “Anjo Feiticeiro”, “Rola Roleta”, “Geraldine”, “Ébrios (pela vida)” e “(Vivo) na Fronteira” – esta última como inédito no lado b do single “Rua do Carmo”, são as canções onde me aventurei. E porquê, seria já o líder a impor-se aos outros, com birras, mau feitio e etc?
Não, meus caros, acontecia que o guitar hero da tribo estava na tropa, aquela que levava 18 meses a cumprir, longa e lixada, e a recruta durava semanas infindáveis. Por isso, porque o disco tinha de ser concluído, ataquei as seis cordas à minha maneira, amiúde pressionado pelo produtor Nuno Rodrigues que, ao cair da tarde, ia ver o andamento das gravações do nosso primeiro LP.
Qualquer história se faz de soluções iguais, acasos (se houvesse acasos) que definirão a idiossincrasia de uma estética. Nos anos seguintes o Renato afirmar-se-ia no som eléctrico deste país, trocando a pesada G3 por uma colecção de Gibsons.
Anos depois voltei a solar: “Toca-me” em (1995) e o futuro “Há rock no cais” (2004). Na primeira, decorriam as sessões de “Cheio” no Convento dos Capuchos, não havia guitarrista; na segunda apeteceu-me, pedi uma pista ao Samuel Henriques e o Côrte-Real ficou a olhar o meu atrevimento.
O formato das digressões
Nós e os outros já usámos todos os termos que buscámos lá fora para definir uma “simples temporada de espectáculos”: digressão, tour, tournée, on the road, na estrada. Só que por cá é diferente: quem quiser viver da música sem mendicidade ou desculpas (há uma enorme distância entre o defeito e o feitio), precisa de atacar o palco que o país lhe propõe.
Pragmaticamente chama-se a isso gerir uma agenda de pedidos e aceitar que hoje se vai tocar em Viana do Castelo e amanhã em Tavira, como exemplo, e pelo caminho perder datas que já estão ocupadas porque, como diz um agente amigo: “Eh pá, o santinho só faz anos naquele dia”.
Acreditem que vale a pena o esforço e o gozo cúmplice desta “estrada”, o frenesim desses quilómetros galgados sem sacrifício. Acrescento também o salário regular pago aos músicos, técnicos, roadies, condutores, montadores de palco, electricistas, coladores de cartazes, agentes e o resto que vem nas páginas amarelas.
O melhor grupo de baile
Começámos primeiro por entrar timidamente pelas festas de finalistas – dos Liceus – que a malta universitária ainda não tinha recuperado do PREC. Tocávamos nós e, por exemplo, uma orquestra, ou então nós e um grupo de baile.
Com os últimos travávamos olhares de superioridade – éramos de Lisboa e já graváramos um disco, “Jorge Morreu”, que ninguém conhecia.
À tarde, na fase dos ensaios, batiam-nos: tinham mais som que nós, aliás traziam com eles carradas de som e pessoal técnico com batas cinzentas, simbiose de electricista e empregado de balcão, para ligarem paulatinamente cabos.
Começámos por correr assim o país, ganhando aos pontos, por vezes obrigados a tocar duas horas seguidas, ou divididas ao meio, pressionados pela ameaça do cachet não ser pago: tínhamos então de repetir o repertório duas vezes e meia, o Renato desfazia-se em solos, o Zé Carvalho também fazia o seu, e eu, crooner da Caparica, falava aos olhos das miúdas vestidas para dia de festa na pausa entre as canções – o Jim em “Absolutely Live” ensinara-me como.
Se uma canção pegava, repetíamo-la três ou quatro vezes e a malta gostava. Depois, de regresso a casa, achávamos que o nosso quinhão de Woodstock acontecera ali, naquela noite no pavilhão de uma escola perdida no interior do país.
Tomámos assim o terreno que pertencia à tradição das pequenas orquestras e dos grupos de baile. Construímos uma reputação, moldámos um repertório, ganhámos confiança ao pisar as tábuas do palco. O resto vocês conhecem.
Continuo assim a partilhar convosco as estórias de uma história com vinte e cinco anos de carreira.
11 de Maio de 2004
António Manuel Ribeiro, músico e produtor dos UHF
Numa manhã do final da primavera de 80, os UHF corriam a quatro para o pequeno escritório da editora Vadeca, em Benfica, e eram recebidos pelo dinâmico Ilídio Viana. Connosco estava o recente amigo brasileiro e jornalista Luís Vitta, arma secreta e aliada para uma maratona contratual – cabe-lhe a ele o título “UHF – O Canal Maldito” nas páginas do semanário de música Rock Week, o Blitz de 80.
A oferta do senhor Viana foi clara – 4% de royalties para um contrato de 3 anos – mais a promessa de acreditar piamente que viríamos a ser o primeiro single de prata do rock português. É bom referir que a Vadeca era uma subsidiária da EMI-Valentim de Carvalho, daí o atrevimento do “rapaz” Viana, a querer mostrar trabalho à casa-mãe, que saboreava o imprevisível sucesso do Rui Veloso com “Chico Fininho”.
Dissemos “nim”, o Vitta sabia-a toda, e fomos almoçar para a Baixa (os concertos já davam dinheiro para o “Quintal” no Largo do Carmo).
Perto das três descemos à Rua Garrett, virámos para a Nova do Almada e entrámos na velha porta ao lado da magnífica loja de discos Valentim de Carvalho – íamos nós, o Vitta e uma dor de estômago muito pessoal a subir as escadas daquele Império da Música chamado EMI-Valentim de Carvalho.
As negociações foram conduzidas pelo Nuno Rodrigues, A&R nacional (aqui no Blogue adoram este termo) da editora. Por nós estava o Vitta, o meu nervosismo latente e uma mão cheia de indecisões atávicas.
Mexendo-se bem naqueles corredores, farto do palrar difícil do Nuno, Luís Vitta acabou por aparecer com o patrão Francisco Vasconcelos. Num ápice, de pé à porta do gabinete do mentor da Banda do Casaco, aquele puto com a minha idade disse: “Assina-os, 5 anos, 6 por cento!”, e saiu a sorrir.
Nessa tarde ainda conhecemos o David Ferreira, actual administrador da EMI, ao tempo director de promoção – bolas, até havia um departamento de promoção!
Foi assim que tudo começou, um ano depois do “Jorge Morreu”.
Durante anos o Viana evitou-me, desdizendo da sua sorte, mas o rapaz tinha visão – os nossos “Cavalos de Corrida” não só foram prata (30.000 exemplares vendidos), como chegaram muito mais longe.
Porque fiz mais solos de guitarra em “À Flor da Pele”...
...que no resto da discografia dos UHF, podia ser uma pergunta inteligente para a malta que se serve do “jornalismo” para comer, mas essa gente não ouve (o Tê diz que “a gente não lê” e tem razão) os discos que as editoras lhes oferecem.
Para a história conta o facto que, no nosso primeiro álbum, ultrapasso o génio Renato Gomes nos solitos que definiriam a matriz do rock UHF. A saber: “Rapaz Caleidoscópio”, “Anjo Feiticeiro”, “Rola Roleta”, “Geraldine”, “Ébrios (pela vida)” e “(Vivo) na Fronteira” – esta última como inédito no lado b do single “Rua do Carmo”, são as canções onde me aventurei. E porquê, seria já o líder a impor-se aos outros, com birras, mau feitio e etc?
Não, meus caros, acontecia que o guitar hero da tribo estava na tropa, aquela que levava 18 meses a cumprir, longa e lixada, e a recruta durava semanas infindáveis. Por isso, porque o disco tinha de ser concluído, ataquei as seis cordas à minha maneira, amiúde pressionado pelo produtor Nuno Rodrigues que, ao cair da tarde, ia ver o andamento das gravações do nosso primeiro LP.
Qualquer história se faz de soluções iguais, acasos (se houvesse acasos) que definirão a idiossincrasia de uma estética. Nos anos seguintes o Renato afirmar-se-ia no som eléctrico deste país, trocando a pesada G3 por uma colecção de Gibsons.
Anos depois voltei a solar: “Toca-me” em (1995) e o futuro “Há rock no cais” (2004). Na primeira, decorriam as sessões de “Cheio” no Convento dos Capuchos, não havia guitarrista; na segunda apeteceu-me, pedi uma pista ao Samuel Henriques e o Côrte-Real ficou a olhar o meu atrevimento.
O formato das digressões
Nós e os outros já usámos todos os termos que buscámos lá fora para definir uma “simples temporada de espectáculos”: digressão, tour, tournée, on the road, na estrada. Só que por cá é diferente: quem quiser viver da música sem mendicidade ou desculpas (há uma enorme distância entre o defeito e o feitio), precisa de atacar o palco que o país lhe propõe.
Pragmaticamente chama-se a isso gerir uma agenda de pedidos e aceitar que hoje se vai tocar em Viana do Castelo e amanhã em Tavira, como exemplo, e pelo caminho perder datas que já estão ocupadas porque, como diz um agente amigo: “Eh pá, o santinho só faz anos naquele dia”.
Acreditem que vale a pena o esforço e o gozo cúmplice desta “estrada”, o frenesim desses quilómetros galgados sem sacrifício. Acrescento também o salário regular pago aos músicos, técnicos, roadies, condutores, montadores de palco, electricistas, coladores de cartazes, agentes e o resto que vem nas páginas amarelas.
O melhor grupo de baile
Começámos primeiro por entrar timidamente pelas festas de finalistas – dos Liceus – que a malta universitária ainda não tinha recuperado do PREC. Tocávamos nós e, por exemplo, uma orquestra, ou então nós e um grupo de baile.
Com os últimos travávamos olhares de superioridade – éramos de Lisboa e já graváramos um disco, “Jorge Morreu”, que ninguém conhecia.
À tarde, na fase dos ensaios, batiam-nos: tinham mais som que nós, aliás traziam com eles carradas de som e pessoal técnico com batas cinzentas, simbiose de electricista e empregado de balcão, para ligarem paulatinamente cabos.
Começámos por correr assim o país, ganhando aos pontos, por vezes obrigados a tocar duas horas seguidas, ou divididas ao meio, pressionados pela ameaça do cachet não ser pago: tínhamos então de repetir o repertório duas vezes e meia, o Renato desfazia-se em solos, o Zé Carvalho também fazia o seu, e eu, crooner da Caparica, falava aos olhos das miúdas vestidas para dia de festa na pausa entre as canções – o Jim em “Absolutely Live” ensinara-me como.
Se uma canção pegava, repetíamo-la três ou quatro vezes e a malta gostava. Depois, de regresso a casa, achávamos que o nosso quinhão de Woodstock acontecera ali, naquela noite no pavilhão de uma escola perdida no interior do país.
Tomámos assim o terreno que pertencia à tradição das pequenas orquestras e dos grupos de baile. Construímos uma reputação, moldámos um repertório, ganhámos confiança ao pisar as tábuas do palco. O resto vocês conhecem.
Continuo assim a partilhar convosco as estórias de uma história com vinte e cinco anos de carreira.
11 de Maio de 2004
António Manuel Ribeiro, músico e produtor dos UHF
11.5.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 19/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 7 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros, destacando-se a entrada directa dos Clã para a 6ª posição.
6º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
9º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
13º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
17º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
18º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
19º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
23º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
6º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
9º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
13º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
17º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
18º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
19º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
23º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
Exportação - uma utopia??
De tudo um pouco se tem falado aqui no blog: rádios, editoras, divulgação, MP3, preço dos cds`s, locais para tocar, cantar em português ou não, percentagens, até do 25 de Abril (oops... sorry Ulisses)...
Na música electrónica, no rock e mesmo no hip-hop surgiram nos últimos 3 anos projectos com qualidade suficiente para fazer "corar" muitas bandas que vêm lá de fora e que vendem milhares de discos.
Em Portugal continua sempre a existir aquele velho problema: é português? Não presta... ou mais frequentemente: é imitação desta ou daquela banda…etc... etc... Mas também é verdade que o nosso mercado é pequeno para que todos vivam da música. Este é o ponto fulcral, e devido a isso é preciso arriscar, mesmo sem a ajuda das editoras, até porque estas na maioria das vezes falham da divulgação internacional e não são suficientemente persistentes para promoverem os artistas a nível de outros países.
Madredeus, Moonspell, Fonzie, X-wife, Legendary Tiger Man, Rafael Toral, são apenas alguns exemplos de como se pode ter algum impacto e até vender em terras não lusitanas. E há sempre a hipótese de arriscar e ir para fora (apesar de ser preciso algum dinheiro e coragem), veja-se o caso dos já desmembrados Tédio Boys (Estados Unidos), Parkinsons (Londres) ou os Les Baton Rouge (Berlim).
Conselhos??
Não acho que seja necessário dar, apenas vou dar algumas dicas para aqueles que querem fazer algo mais do que ficaram a tocar na garagem e à espera que uma oportunidade caia do céu...
Coloquem MP3`s na net, encontrem distribuidores independentes e estações de rádio por esse mundo fora e enviem-lhes cds. Se não há locais próprios para tocar, inventem-se.
Muitos músicos começam logo a exigir determinada PA e condições técnicas só por terem tocado em determinado sítio... toquem... mesmo que seja com má qualidade de som...
Enviem as vossas demos para fanzines, jornais, revistas...
A verdade é que a maioria das bandas nacionais faz as coisas para dentro, sem se auto-promoverem e depois ficam à espera que aconteçam milagres. Se querem chegar a algum lado têm que se mexer. É preciso mais empenho e dividir tarefas de maneira a fazer as coisas evoluírem. Mas há um pormenor que não é preciso esquecer... leva tempo...
Não basta gravar um disco e esperar que a editora o distribua e promova, ou que as rádios passem vezes sem conta as músicas, ou que alguém se lembre a contratar a banda para um festival qualquer (ao que parece muitos se queixam disso)...
Exemplos??
Obviamente as rádios também têm um papel fundamental na divulgação de novos grupos, veja-se o caso de Steve Lamaq, na BBC, que com uma demo dos Parkinsons levou a banda a ser conhecida por toda a Inglaterra e a tocar perante milhares de pessoas nos dois maiores festivais ingleses (Reading e Glastonbury). Dá que pensar, não é??
A colectânea "Indiegente" misturava músicas inéditas de bandas internacionais com portuguesas e foi um bom exemplo em como as coisas às vezes podem ser feitas de outra maneira.
Outro exemplo notável foi o de Darin Pappas, vocalista dos Ithaka, que enviou vários cds portugueses para a rádio de Los Angeles KCRW e eles tocaram quase todos. Diariamente esta estação tem 1 milhão de ouvintes...
Deixo por último aqui alguns links úteis para descobrirem moradas de rádios por esse mundo fora... e arriscarem...
http://www.radio-locator.com/
http://www.surfmusic.de/dslrock.htm
http://www.comfm.com/live/radio/
Orlando Angelino, Animador Radiofónico
Na música electrónica, no rock e mesmo no hip-hop surgiram nos últimos 3 anos projectos com qualidade suficiente para fazer "corar" muitas bandas que vêm lá de fora e que vendem milhares de discos.
Em Portugal continua sempre a existir aquele velho problema: é português? Não presta... ou mais frequentemente: é imitação desta ou daquela banda…etc... etc... Mas também é verdade que o nosso mercado é pequeno para que todos vivam da música. Este é o ponto fulcral, e devido a isso é preciso arriscar, mesmo sem a ajuda das editoras, até porque estas na maioria das vezes falham da divulgação internacional e não são suficientemente persistentes para promoverem os artistas a nível de outros países.
Madredeus, Moonspell, Fonzie, X-wife, Legendary Tiger Man, Rafael Toral, são apenas alguns exemplos de como se pode ter algum impacto e até vender em terras não lusitanas. E há sempre a hipótese de arriscar e ir para fora (apesar de ser preciso algum dinheiro e coragem), veja-se o caso dos já desmembrados Tédio Boys (Estados Unidos), Parkinsons (Londres) ou os Les Baton Rouge (Berlim).
Conselhos??
Não acho que seja necessário dar, apenas vou dar algumas dicas para aqueles que querem fazer algo mais do que ficaram a tocar na garagem e à espera que uma oportunidade caia do céu...
Coloquem MP3`s na net, encontrem distribuidores independentes e estações de rádio por esse mundo fora e enviem-lhes cds. Se não há locais próprios para tocar, inventem-se.
Muitos músicos começam logo a exigir determinada PA e condições técnicas só por terem tocado em determinado sítio... toquem... mesmo que seja com má qualidade de som...
Enviem as vossas demos para fanzines, jornais, revistas...
A verdade é que a maioria das bandas nacionais faz as coisas para dentro, sem se auto-promoverem e depois ficam à espera que aconteçam milagres. Se querem chegar a algum lado têm que se mexer. É preciso mais empenho e dividir tarefas de maneira a fazer as coisas evoluírem. Mas há um pormenor que não é preciso esquecer... leva tempo...
Não basta gravar um disco e esperar que a editora o distribua e promova, ou que as rádios passem vezes sem conta as músicas, ou que alguém se lembre a contratar a banda para um festival qualquer (ao que parece muitos se queixam disso)...
Exemplos??
Obviamente as rádios também têm um papel fundamental na divulgação de novos grupos, veja-se o caso de Steve Lamaq, na BBC, que com uma demo dos Parkinsons levou a banda a ser conhecida por toda a Inglaterra e a tocar perante milhares de pessoas nos dois maiores festivais ingleses (Reading e Glastonbury). Dá que pensar, não é??
A colectânea "Indiegente" misturava músicas inéditas de bandas internacionais com portuguesas e foi um bom exemplo em como as coisas às vezes podem ser feitas de outra maneira.
Outro exemplo notável foi o de Darin Pappas, vocalista dos Ithaka, que enviou vários cds portugueses para a rádio de Los Angeles KCRW e eles tocaram quase todos. Diariamente esta estação tem 1 milhão de ouvintes...
Deixo por último aqui alguns links úteis para descobrirem moradas de rádios por esse mundo fora... e arriscarem...
http://www.radio-locator.com/
http://www.surfmusic.de/dslrock.htm
http://www.comfm.com/live/radio/
Orlando Angelino, Animador Radiofónico
10.5.04
Disco: EasyWay - Forever in a Day (Promo single)
Todos os textos de António Côrte-Real estão disponiveis no Fora da Garagem
EasyWay (Lisboa)
Tiago Afonso - Voz/Guitarra
Miguel Marques - Guitarra
Miguel P. Marques - Baixo
Danilo Warick - Bateria
Os EasyWay fazem parte da vaga de bandas a que me referi no texto anterior "Aside - Good Enough For Someone Else". Eles querem viver da música, querem viver para a música. O talento destes rapazes é enorme e personifica-se totalmente na atitude e personalidade do Tiago. O Tiago é um puto muito fixe, que tem um talento inato. Aquele talento que todos queremos ter? o talento que nasce, ou não, connosco. Com ele, nasceu. A única maneira de o Tiago ser feliz é a fazer canções, gravá-las para disco e tocá-las em todos os palcos e mais alguns! Devo dizer que tal como os Aside, os EasyWay também participam no disco de tributo aos UHF. Foi bom ver o Tiago pegar na minha guitarra (a minha querida Gibson Les Paul) e sacar um tema novo quase à primeira, uma malha de guitarra incrível que de certeza por esta hora já deve ter letra e que a banda já deve estar a preparar para tocar ao vivo!
O Miguel é o "Boss" que trabalha os destinos sonoros da banda, o Miguel P. (recentemente chegado dos Fonzie) e o Danilo completam a secção rítmica. Um quarteto Punk Rock, puro e duro de roer, que por esta hora deve estar de regresso a casa depois de 11 concertos espalhados por Espanha, França. Alemanha, Bélgica e Holanda.
Com o disco já editado na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Brasil, Chile, Argentina e muito brevemente em Portugal, os Easyway estão ai para ficar. A promo que a banda me ofereceu diz tudo. Quatro grandes canções que são a cara dos EasyWay: "Forever in a day", "Model RockStar" (com Joey Capel dos LAGWAGON com quem a banda tocou em Portugal recentemente), "That´s not the right way" e "Fake a Smile". Este adiantamento dá-me uma imensa vontade que o disco saia para ir a correr a uma loja comprá-lo. "Model RockStar" e "Fake a Smile" são canções que me fariam comprar o disco de qualquer banda Americana. Estão ao nível do que de melhor se faz neste género musical a nível mundial. Se gostas de Rock, se gostas da nova vaga de bandas punk que aparecem todos os dias na MTV, então compra o disco dos EasyWay pois estes três putos Portugueses e um Brasileiro gravaram um dos melhores discos do género. Espero que a nível mundial esta banda tenha o destaque que merece.
Porque é que nenhuma multinacional representada em Portugal pegou nesta banda e fez a distribuição do disco pelas suas congéneres nos países atrás referidos???
Podes assistir a um concerto dos EasyWay, já no próximo dia 15, no Paradise Garage em Lisboa onde a banda estará a tocar com os BackYard Babies. São duas bandas de que gosto, por isso, a não ser que também esteja a tocar nesse dia, lá estarei!!!
Força!
António Côrte-Real, músico dos UHF
Contactos:
Banda: choosetheeasyway@hotmail.com
Site: http://www.choosetheeasyway.com
Management e concertos : Rafaela Dias - 91-7847261
Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade
EasyWay (Lisboa)
Tiago Afonso - Voz/Guitarra
Miguel Marques - Guitarra
Miguel P. Marques - Baixo
Danilo Warick - Bateria
Os EasyWay fazem parte da vaga de bandas a que me referi no texto anterior "Aside - Good Enough For Someone Else". Eles querem viver da música, querem viver para a música. O talento destes rapazes é enorme e personifica-se totalmente na atitude e personalidade do Tiago. O Tiago é um puto muito fixe, que tem um talento inato. Aquele talento que todos queremos ter? o talento que nasce, ou não, connosco. Com ele, nasceu. A única maneira de o Tiago ser feliz é a fazer canções, gravá-las para disco e tocá-las em todos os palcos e mais alguns! Devo dizer que tal como os Aside, os EasyWay também participam no disco de tributo aos UHF. Foi bom ver o Tiago pegar na minha guitarra (a minha querida Gibson Les Paul) e sacar um tema novo quase à primeira, uma malha de guitarra incrível que de certeza por esta hora já deve ter letra e que a banda já deve estar a preparar para tocar ao vivo!
O Miguel é o "Boss" que trabalha os destinos sonoros da banda, o Miguel P. (recentemente chegado dos Fonzie) e o Danilo completam a secção rítmica. Um quarteto Punk Rock, puro e duro de roer, que por esta hora deve estar de regresso a casa depois de 11 concertos espalhados por Espanha, França. Alemanha, Bélgica e Holanda.
Com o disco já editado na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Brasil, Chile, Argentina e muito brevemente em Portugal, os Easyway estão ai para ficar. A promo que a banda me ofereceu diz tudo. Quatro grandes canções que são a cara dos EasyWay: "Forever in a day", "Model RockStar" (com Joey Capel dos LAGWAGON com quem a banda tocou em Portugal recentemente), "That´s not the right way" e "Fake a Smile". Este adiantamento dá-me uma imensa vontade que o disco saia para ir a correr a uma loja comprá-lo. "Model RockStar" e "Fake a Smile" são canções que me fariam comprar o disco de qualquer banda Americana. Estão ao nível do que de melhor se faz neste género musical a nível mundial. Se gostas de Rock, se gostas da nova vaga de bandas punk que aparecem todos os dias na MTV, então compra o disco dos EasyWay pois estes três putos Portugueses e um Brasileiro gravaram um dos melhores discos do género. Espero que a nível mundial esta banda tenha o destaque que merece.
Porque é que nenhuma multinacional representada em Portugal pegou nesta banda e fez a distribuição do disco pelas suas congéneres nos países atrás referidos???
Podes assistir a um concerto dos EasyWay, já no próximo dia 15, no Paradise Garage em Lisboa onde a banda estará a tocar com os BackYard Babies. São duas bandas de que gosto, por isso, a não ser que também esteja a tocar nesse dia, lá estarei!!!
Força!
António Côrte-Real, músico dos UHF
Contactos:
Banda: choosetheeasyway@hotmail.com
Site: http://www.choosetheeasyway.com
Management e concertos : Rafaela Dias - 91-7847261
Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade
7.5.04
In Vivo: The FingerTrips
Escrever sobre um concerto, quando se conhece o trabalho que este implica, aquele trabalho que está escondido atrás das colunas das guitarras, por baixo do estrado da bateria, e que pende transparente no som que uma banda produz... o trabalho que as luzes e o fumo não deixam ver, porque o objectivo do espectáculo é produzir uma visão estética, capaz de desprender o espírito, do dia que ficou para trás do lugar que os ponteiros marcam... Dizia eu, escrever consciente de toda essa panóplia de actividades subjacentes ao "show"! é complexo. As palavras hesitam... Não querem ser injustas, mas é importante serem críticas! Quem escreve não pretende derrubar uma estrutura, mas indicar pontos que podem tornar a estrutura mais sólida. Por isso decidi finalmente partilhar a minha impressão...
Fui ver os "The Fingertrips"... E é curioso que mal pensei no nome, a primeira ideia que me ocorreu foi desde logo ressalvar (tornou-se quase uma "obrigatoriedade"!!) que The Fingertrips e Fingertips são duas bandas distintas. Conheço bem o som das duas formações e tenho a certeza que não são (ao contrário dos nomes) confundíveis! Aliás, considero-os incomparáveis!
Não foi a primeira vez que os vi actuar... e geralmente repete-se quando se gosta... (Às vezes não!!) Os The Fingertrips são uma banda que se tivesse de descrever em duas palavras dizia, competente e simpática! Mas posso também que são show de música colorida, tocam para velhos e novos, pobres e ricos, e criam um cenário de fantasia capaz de despertar a criança que se esconde por detrás de um olhar cansado, de uns cabelos grisalhos, de uma expressão severa... É uma peça de teatro, um circo ambulante, um Carnaval...
A música é uma amálgama de sons de diversos instrumentos, que se confundem e distinguem em breaks estudados, e melodias que as teclas conseguem produzir num papel de parede! Os ritmos são coerentes sem serem demasiado repetitivos...
Não é o meu género de música, confesso. Aliás, é do género capaz de me irritar no pensamento! Mas, as qualidades do colectivo são demasiado flagrantes para descartar a banda... Os The Fingertrips e os Sloppy Joe são possivelmente duas das formações nacionais que menos aprecio e que mais reconheço. O "curtir" música que não combina nem com o meu corte ou cor de cabelo, nem com as meias ou a tatuagem que não tenho, tornou-se um flagrante menos surpreendente.
Podia tentar comparar os temas com esta ou aquela banda. Recorrer para isso a nomes nacionais, europeus ou internacionais... Ou podia referenciar estilos como pop, blues ou ska... Sim! Os The Fingertrips percorrem estruturas definidas construindo pontes flexíveis que permitem as notas suster o equilíbrio. São iguais a si. No palco os instrumentos separam-nos, mas a música une-os... Os sorrisos e as expressões vincadas são a indumentária que combina com os chapéus (à cowboy, ou à gangster!), com as gravatas sortidas, com as flores ou as meias coloridas... As coreografias fazem parte do "filme"... uma comédia de mafiosos trapalhões, que insistem em permanentes desencontros e trocas de galhardetes maliciosos, unidos pela cumplicidade do "crime"... E a banda sonora... The Fingertrips!
Esta é a história que eu consegui perceber... Mas, um filme tem muitas...
A moral é talvez a mesma... a música portuguesa além da qualidade, tem encontrado cada vez maior diversidade, coleccionando estilos e combinações inexploradas e, reunindo por isso um número crescente de aficionados. A ambivalência do "ouvido" é a tendência numa sociedade que tende naturalmente para a cultura global... Com mais ou menos entusiasmo...
Walkgirl (o "walkman" fica em casa!)
Fui ver os "The Fingertrips"... E é curioso que mal pensei no nome, a primeira ideia que me ocorreu foi desde logo ressalvar (tornou-se quase uma "obrigatoriedade"!!) que The Fingertrips e Fingertips são duas bandas distintas. Conheço bem o som das duas formações e tenho a certeza que não são (ao contrário dos nomes) confundíveis! Aliás, considero-os incomparáveis!
Não foi a primeira vez que os vi actuar... e geralmente repete-se quando se gosta... (Às vezes não!!) Os The Fingertrips são uma banda que se tivesse de descrever em duas palavras dizia, competente e simpática! Mas posso também que são show de música colorida, tocam para velhos e novos, pobres e ricos, e criam um cenário de fantasia capaz de despertar a criança que se esconde por detrás de um olhar cansado, de uns cabelos grisalhos, de uma expressão severa... É uma peça de teatro, um circo ambulante, um Carnaval...
A música é uma amálgama de sons de diversos instrumentos, que se confundem e distinguem em breaks estudados, e melodias que as teclas conseguem produzir num papel de parede! Os ritmos são coerentes sem serem demasiado repetitivos...
Não é o meu género de música, confesso. Aliás, é do género capaz de me irritar no pensamento! Mas, as qualidades do colectivo são demasiado flagrantes para descartar a banda... Os The Fingertrips e os Sloppy Joe são possivelmente duas das formações nacionais que menos aprecio e que mais reconheço. O "curtir" música que não combina nem com o meu corte ou cor de cabelo, nem com as meias ou a tatuagem que não tenho, tornou-se um flagrante menos surpreendente.
Podia tentar comparar os temas com esta ou aquela banda. Recorrer para isso a nomes nacionais, europeus ou internacionais... Ou podia referenciar estilos como pop, blues ou ska... Sim! Os The Fingertrips percorrem estruturas definidas construindo pontes flexíveis que permitem as notas suster o equilíbrio. São iguais a si. No palco os instrumentos separam-nos, mas a música une-os... Os sorrisos e as expressões vincadas são a indumentária que combina com os chapéus (à cowboy, ou à gangster!), com as gravatas sortidas, com as flores ou as meias coloridas... As coreografias fazem parte do "filme"... uma comédia de mafiosos trapalhões, que insistem em permanentes desencontros e trocas de galhardetes maliciosos, unidos pela cumplicidade do "crime"... E a banda sonora... The Fingertrips!
Esta é a história que eu consegui perceber... Mas, um filme tem muitas...
A moral é talvez a mesma... a música portuguesa além da qualidade, tem encontrado cada vez maior diversidade, coleccionando estilos e combinações inexploradas e, reunindo por isso um número crescente de aficionados. A ambivalência do "ouvido" é a tendência numa sociedade que tende naturalmente para a cultura global... Com mais ou menos entusiasmo...
Walkgirl (o "walkman" fica em casa!)
6.5.04
Bandas na Web? Hoje NÃO!
Não me apetece, não quero, não vou falar sobre isso...
Hoje queria falar de música! Mas quem sou eu para falar de música? Ninguém... Não sou músico, não sei fazer rádio, apenas ouvir...
Sou daqueles comuns mortais que liga o rádio a ir para o trabalho e a voltar para casa, que ouve um CD de quando em vez, e muito MP3...
Este blog aniversariante (20000 visitas) começa no momento da famosa bronca "RFM/UHF", com a discussão veio-se a descobrir que isso não era nada...
Dos músicos descontentes, mal pagos e apoiados, até à industria que pela crise só aposta no óbvio, passando pelas rádios cada vez mais formatadas e sem sal...
Os animadores... Essa é a nova mania das rádios, chamarem animadores aos responsáveis pela continuidade e que devem dizer umas frases enquanto a computador não passa para a música programada a seguir - pelo tal consultor alemão ou americano que me diz o que devo ouvir! Era tão giro agarrar num animador e dizer-lhe "É pá, temos uma avaria! Faz aí 2 horas de emissão e escolhe a música!!!"
Era só rir... Eles nem de música necessitam saber! Mas também convém dizer que deve ser chato estar a olhar para um PC durante 4 horas com música pré-programada e dizer coisas do género "Mais 7 músicas seguidas com o patrocínio das Cuecas Baiona... E se não souberes a música que está a passar manda um SMS que o Computador responde!"
Claro que estou a chover no molhado e apenas a deitar desabafos cá para fora, mas irritam-me estas coisas, tal como me irrita ver o João Pedro Pais no Rock in Rio... Não pelo João Pedro Pais, mas pelo Rock (Onde está?). Como me irrita querer ver 2 dias e não ir a nenhum porque 53€ é de doidos (e 2 dias 2 pessoas: 212€)!
Claro que é tipicamente português dizermos estas coisas. Se temos está mal feito, se não temos é porque só se faz lá fora... Mas em dia de desabafos acho que tenho perdão!
Ouvi uma entrevista ao Adolfo Luxúria Canibal na Antena 3 (Por acaso surpreendido por ver tanta entrevista, talk-show, comunicadores - e não animadores - a apresentarem as músicas como gente e até o 'The Forest' dos Cure deu ontem) que me surpreendeu imenso pelas opiniões e maneira de estar perante a música tão semelhante e tão em sintonia com este CanalMaldito!
Enfim, melhores dias virão...
João Pedro Rei, anónimo na música
Hoje queria falar de música! Mas quem sou eu para falar de música? Ninguém... Não sou músico, não sei fazer rádio, apenas ouvir...
Sou daqueles comuns mortais que liga o rádio a ir para o trabalho e a voltar para casa, que ouve um CD de quando em vez, e muito MP3...
Este blog aniversariante (20000 visitas) começa no momento da famosa bronca "RFM/UHF", com a discussão veio-se a descobrir que isso não era nada...
Dos músicos descontentes, mal pagos e apoiados, até à industria que pela crise só aposta no óbvio, passando pelas rádios cada vez mais formatadas e sem sal...
Os animadores... Essa é a nova mania das rádios, chamarem animadores aos responsáveis pela continuidade e que devem dizer umas frases enquanto a computador não passa para a música programada a seguir - pelo tal consultor alemão ou americano que me diz o que devo ouvir! Era tão giro agarrar num animador e dizer-lhe "É pá, temos uma avaria! Faz aí 2 horas de emissão e escolhe a música!!!"
Era só rir... Eles nem de música necessitam saber! Mas também convém dizer que deve ser chato estar a olhar para um PC durante 4 horas com música pré-programada e dizer coisas do género "Mais 7 músicas seguidas com o patrocínio das Cuecas Baiona... E se não souberes a música que está a passar manda um SMS que o Computador responde!"
Claro que estou a chover no molhado e apenas a deitar desabafos cá para fora, mas irritam-me estas coisas, tal como me irrita ver o João Pedro Pais no Rock in Rio... Não pelo João Pedro Pais, mas pelo Rock (Onde está?). Como me irrita querer ver 2 dias e não ir a nenhum porque 53€ é de doidos (e 2 dias 2 pessoas: 212€)!
Claro que é tipicamente português dizermos estas coisas. Se temos está mal feito, se não temos é porque só se faz lá fora... Mas em dia de desabafos acho que tenho perdão!
Ouvi uma entrevista ao Adolfo Luxúria Canibal na Antena 3 (Por acaso surpreendido por ver tanta entrevista, talk-show, comunicadores - e não animadores - a apresentarem as músicas como gente e até o 'The Forest' dos Cure deu ontem) que me surpreendeu imenso pelas opiniões e maneira de estar perante a música tão semelhante e tão em sintonia com este CanalMaldito!
Enfim, melhores dias virão...
João Pedro Rei, anónimo na música
5.5.04
Eles comem tudo e não deixam nada
"A professora primária pergunta aos alunos, um a um, o que é que eles tinham comido ao jantar no dia anterior. Toda a gente tinha refeições diferentes mas o ciganito comia sempre sopa. A pergunta repetia-se todos os dias até que o ciganito, envergonhado de responder sempre o mesmo, resolve dar outra resposta. A professora pergunta-lhe: 'então Lelito o que é que comeste ontem ao jantar?' 'Frango assado senhora professora' 'Então e comeste muito?' pergunta a professora 'Bem era cada tigelada!' responde o Lelito."
O 25 de Abril está bem presente na memória de muita gente e ainda bem. Foi de facto um período muito importante na história de Portugal e deve ser recordado e ensinado não com saudosismo militarista ou partidário mas sim como um movimento de libertação humana e dos direitos fundamentais. Mas infelizmente isso não acontece na realidade e isso percebe-se quando abordamos o lado cultural e musical que é o que nos interessa falar aqui.
No fim de semana que comemorou os 30 anos do 25 de Abril tive a oportunidade de me deslocar ao Alentejo por questões pessoais e constatei de que os artistas contratados para actuar nas diversas localidades da região eram praticamente os mesmos de há uns bons anos para cá.
Mas porque é que isto acontece?
Será que os vereadores ou presidentes de Câmara têm uma visão assim tão reduzida dos músicos que existem no nosso país?
A cor da vergonha instala-se e passa despercebia, optando-se por pagar cachets de milhares de contos a bandas ou músicos que no ano passado estiveram lá a fazer exactamente o mesmo. O povo não se queixa e aparece.
Para além disso continua-se a não apostar nas bandas locais ou em início de carreira.
Nunca vi um grupo da terra abrir um concerto de um artista conceituado.
Porquê?
Porque a grande maioria dos artistas de topo quando raramente confrontados com essa hipótese pedem mais uns "trocos" para disponibilizar umas míseras vias na mesa de mistura e as autarquias não estão dispostas a pagar mais 100 contos.
Mas 4, 5 ou 6 mil contos arranjam, sem problemas.
Para além disso os músicos com evidentes tendências esquerditas traduzidas em músicas que misturam intervenção com melodia popular marcam sempre presença nos festejos do 25 de Abril, por vezes 2 anos seguidos na mesma localidade.
Sem ter nada contra esse género musical gostaria de não comer sempre o mesmo, de mastigar e regurgitar ano após ano.
Começa a enjoar.
Sugiro que se faça do 25 de Abril uma festa para todos, actual, diferente, inovadora, alegre sem saudosismos gratuitos e de acordo com os tempos modernos.
Senão daqui a uns anos teremos apenas velhotes de bengala a ver o fogo de artifício e a cantarolar a "Grândola Vila Morena" até à exaustão.
Espero que para o ano possa comer no mínimo um frango assado, com picante.
Ulisses, músico dos k2o3
O 25 de Abril está bem presente na memória de muita gente e ainda bem. Foi de facto um período muito importante na história de Portugal e deve ser recordado e ensinado não com saudosismo militarista ou partidário mas sim como um movimento de libertação humana e dos direitos fundamentais. Mas infelizmente isso não acontece na realidade e isso percebe-se quando abordamos o lado cultural e musical que é o que nos interessa falar aqui.
No fim de semana que comemorou os 30 anos do 25 de Abril tive a oportunidade de me deslocar ao Alentejo por questões pessoais e constatei de que os artistas contratados para actuar nas diversas localidades da região eram praticamente os mesmos de há uns bons anos para cá.
Mas porque é que isto acontece?
Será que os vereadores ou presidentes de Câmara têm uma visão assim tão reduzida dos músicos que existem no nosso país?
A cor da vergonha instala-se e passa despercebia, optando-se por pagar cachets de milhares de contos a bandas ou músicos que no ano passado estiveram lá a fazer exactamente o mesmo. O povo não se queixa e aparece.
Para além disso continua-se a não apostar nas bandas locais ou em início de carreira.
Nunca vi um grupo da terra abrir um concerto de um artista conceituado.
Porquê?
Porque a grande maioria dos artistas de topo quando raramente confrontados com essa hipótese pedem mais uns "trocos" para disponibilizar umas míseras vias na mesa de mistura e as autarquias não estão dispostas a pagar mais 100 contos.
Mas 4, 5 ou 6 mil contos arranjam, sem problemas.
Para além disso os músicos com evidentes tendências esquerditas traduzidas em músicas que misturam intervenção com melodia popular marcam sempre presença nos festejos do 25 de Abril, por vezes 2 anos seguidos na mesma localidade.
Sem ter nada contra esse género musical gostaria de não comer sempre o mesmo, de mastigar e regurgitar ano após ano.
Começa a enjoar.
Sugiro que se faça do 25 de Abril uma festa para todos, actual, diferente, inovadora, alegre sem saudosismos gratuitos e de acordo com os tempos modernos.
Senão daqui a uns anos teremos apenas velhotes de bengala a ver o fogo de artifício e a cantarolar a "Grândola Vila Morena" até à exaustão.
Espero que para o ano possa comer no mínimo um frango assado, com picante.
Ulisses, músico dos k2o3
4.5.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 18/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 9 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.
9º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
13º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
14º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
19º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
20º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
21º UTOPIA - VITORINO & JANITA SALOMÉ (CAPITOL/EMI-VC)
24º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
26º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
29º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
9º RESISTIR É VENCER - JOSÉ MÁRIO BRANCO (CAPITOL/EMI-VC)
13º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
14º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
19º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
20º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
21º UTOPIA - VITORINO & JANITA SALOMÉ (CAPITOL/EMI-VC)
24º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
26º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
29º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
Os Zombies
Os The FingerTrips, e tenho-o dito algumas vezes, atravessam aquela que será talvez a parte mais difícil da carreira de uma banda, pelo menos da experiência que vou tendo.
Por um lado, acumulam-se oportunidades, bolos doces com cerejas em cima a enfeitar, críticas positivas (outras nem tanto, mas se eu quisesse agradar a todos virava político), ofertas, publicidade, concertos, espectáculos, aquilo que faz mover uma banda.
Por outro, acotovelam-se violentamente as dificuldades que vão surgindo para uma banda amadora que começa a sair da casca mas que continua a ser, ainda, um pintainho num galinheiro cheio de galos de crista eriçada.
É esta posição intermédia, de equilíbrio precário, que pode lançar ou destruir a carreira de uma banda, têm-me dito. E eu tenho-o sentido na pele.
Nunca fui de fazer planos. A minha vida foi-me ensinando que fazer planos é o primeiro passo para a infelicidade. Porquê? A razão mais óbvia será a desilusão de quem não consegue atingir algo que vinha acalentando durante uns tempos. De quem sonhava acordado e imaginara passo a passo até àquele dia que afinal nunca chegou. A razão menos óbvia prende-se com a natureza humana. De tanto se planear, de tanto se prever, antever e premeditar, as coisas deixam de ser surpresas, deixam de ser espontâneas, genuínas e com aquela rapidez surreal para caírem num guião em que tudo foi descrito ao pormenor. E a mente humana gosta de coisas novas, de ser surpreendida, de estímulos.
Coloca-se-me agora a quase obrigatoriedade de fazer planos. Que fazer? Para onde ir? O que fazer no dia x?
É que começamos a sair daquilo que podemos (ou podíamos) controlar até à data… Começa a ser demais para um grupo de 7 rebarbados aguentar sem vacilar. O barco é frágil, não fosse a amizade que nos une e o facto de adorarmos aquilo que fazemos, na companhia uns dos outros. Até agora, a aparente falta de interesse e preocupação com que encarávamos as coisas era apenas desmentida pela nossa própria exigência de sermos o mais profissionais possível. Chegar, fazer o nosso trabalho, fazê-lo bem, sair, um cumprimento, um até breve.
Essa aparente falta de preocupação ajudava-nos também a combater as dificuldades. Tudo está controlado dentro do descontrolo em que as coisas estão.
Somos 7. Amigos. Temos namoradas, família, filhos (os dos outros são nossos também), empregos. Ser músico é um passatempo, é a dura realidade.
Chegamos a uma altura em que, felizmente, vamos tendo bastante trabalho. Temos um calendário recheado e agradável. Este ano iremos tocar a 6 Queimas das Fitas. De permeio temos concertos em bares, em vários pontos do país. Fazemo-lo porque gostamos e fazemo-lo para angariar dinheiro para o lançamento do já planeado "Tringle". Três músicas apenas, mas é o que se pode arranjar, e para isso já nos é exigido este esforço, de tocar 2, 3, 4 vezes por semana. Uns porque nos garantem visibilidade, exposição, público para o futuro, outros porque nos enchem o porquinho mealheiro e nos permitem pagar as dívidas. Não temos papás ricos com carrinhas para emprestar.
Tivemos agora uma série de datas - 23, 24, 27 e 29 de Abril, 1 e 2 de Maio - E parecemos uns zombies. A malta trabalha. Acordo às 7h30 para trabalhar, chego a casa por volta das 20h. O Necko (o guitarrista cabeludo) faz o mesmo. Os outros dividem-se pelos seus empregos, a entrar e a sair mais tarde ou mais cedo. O Gustuba saiu da Queima das Fitas do Porto e foi para Lisboa apanhar um avião que o leve de volta para Inglaterra, onde estuda. Veio cá tocar para o concurso que nos pode levar ao Rock in Rio e para fazer umas Queimas. Puto valente! O resto ficou, dormiu umas horas e acordou no mesmo dia para atrafulhar a mesma carga, as mesmas roupas amassadas e os mesmos corpos na parte de trás de uma carrinha. 4 horas de viagem - Idanha a Nova. Mais uma Queima, mais uma voltinha! O Fighas pareceu piorar, desde a noite anterior... Gripe, talvez. Teve dificuldades em fazer o concerto no Porto e mal se aguentou para fazer o de Idanha a Nova. Tocamos. Saímos à 1h. Viagem. Chegar a casa às 4h.
O Xamax e o Fighas estão de cama hoje... O resto dormiu umas 3h, com sorte e anda, feito zombie, a tentar fazer aquilo que lhes garante o sustento: trabalhar.
Porque é nesta fase, aquela que, até ver, considero a mais difícil, que trabalhamos como quase-profissionais e somos pagos como amadores. Tocamos, tocamos, tocamos, mas não nos dá para (sobre)viver da música.
É este escalão intermédio entre banda de terceira divisão e segunda divisão b que nos força a fazer planos, ou a adiá-los. Já não seremos apenas "banda de garagem", mas ainda não somos "Banda". Temos o trabalho, mas não recolhemos os frutos. Não podemos por em risco os empregos, mas temos responsabilidades a cumprir. Um nome a manter e a cultivar. Uma cultura nossa. De terminar um espectáculo, estender a mão e atirar um sorriso, por baixo das olheiras e febre, sabendo que no dia seguinte é dia de pica boi e que não há grandes complacências se chegarmos meia hora ou uma hora atrasados. O Gustuba tem exames. Não lhe adianta de muito dizer "oh, but I was in Portugal for a burning of the straps" (tradução propositadamente ridícula mas particularmente dentro do contexto: eles não fazem a mínima do que isso seja e estão-se pouco importando com isso… Estuda Gustuba!!).
Os planos? Os planos começam a impor-se, sozinhos. Planear de modo a contornar os obstáculos impostos por concertos, trabalho e vida familiar, planear de modo a antever futuras situações que poderão ser proveitosas para nós como banda, mas desastrosas a nível de carreira extra-musical.
E nós? Zombies. Cadáveres adiados com um sorriso nos lábios e 40 graus de febre. Mas não trocaríamos isto por nada deste mundo! Chamem-lhe música, se quiserem. Nós chamamos-lhe vida.
Purple, músico dos The FingerTrips
Por um lado, acumulam-se oportunidades, bolos doces com cerejas em cima a enfeitar, críticas positivas (outras nem tanto, mas se eu quisesse agradar a todos virava político), ofertas, publicidade, concertos, espectáculos, aquilo que faz mover uma banda.
Por outro, acotovelam-se violentamente as dificuldades que vão surgindo para uma banda amadora que começa a sair da casca mas que continua a ser, ainda, um pintainho num galinheiro cheio de galos de crista eriçada.
É esta posição intermédia, de equilíbrio precário, que pode lançar ou destruir a carreira de uma banda, têm-me dito. E eu tenho-o sentido na pele.
Nunca fui de fazer planos. A minha vida foi-me ensinando que fazer planos é o primeiro passo para a infelicidade. Porquê? A razão mais óbvia será a desilusão de quem não consegue atingir algo que vinha acalentando durante uns tempos. De quem sonhava acordado e imaginara passo a passo até àquele dia que afinal nunca chegou. A razão menos óbvia prende-se com a natureza humana. De tanto se planear, de tanto se prever, antever e premeditar, as coisas deixam de ser surpresas, deixam de ser espontâneas, genuínas e com aquela rapidez surreal para caírem num guião em que tudo foi descrito ao pormenor. E a mente humana gosta de coisas novas, de ser surpreendida, de estímulos.
Coloca-se-me agora a quase obrigatoriedade de fazer planos. Que fazer? Para onde ir? O que fazer no dia x?
É que começamos a sair daquilo que podemos (ou podíamos) controlar até à data… Começa a ser demais para um grupo de 7 rebarbados aguentar sem vacilar. O barco é frágil, não fosse a amizade que nos une e o facto de adorarmos aquilo que fazemos, na companhia uns dos outros. Até agora, a aparente falta de interesse e preocupação com que encarávamos as coisas era apenas desmentida pela nossa própria exigência de sermos o mais profissionais possível. Chegar, fazer o nosso trabalho, fazê-lo bem, sair, um cumprimento, um até breve.
Essa aparente falta de preocupação ajudava-nos também a combater as dificuldades. Tudo está controlado dentro do descontrolo em que as coisas estão.
Somos 7. Amigos. Temos namoradas, família, filhos (os dos outros são nossos também), empregos. Ser músico é um passatempo, é a dura realidade.
Chegamos a uma altura em que, felizmente, vamos tendo bastante trabalho. Temos um calendário recheado e agradável. Este ano iremos tocar a 6 Queimas das Fitas. De permeio temos concertos em bares, em vários pontos do país. Fazemo-lo porque gostamos e fazemo-lo para angariar dinheiro para o lançamento do já planeado "Tringle". Três músicas apenas, mas é o que se pode arranjar, e para isso já nos é exigido este esforço, de tocar 2, 3, 4 vezes por semana. Uns porque nos garantem visibilidade, exposição, público para o futuro, outros porque nos enchem o porquinho mealheiro e nos permitem pagar as dívidas. Não temos papás ricos com carrinhas para emprestar.
Tivemos agora uma série de datas - 23, 24, 27 e 29 de Abril, 1 e 2 de Maio - E parecemos uns zombies. A malta trabalha. Acordo às 7h30 para trabalhar, chego a casa por volta das 20h. O Necko (o guitarrista cabeludo) faz o mesmo. Os outros dividem-se pelos seus empregos, a entrar e a sair mais tarde ou mais cedo. O Gustuba saiu da Queima das Fitas do Porto e foi para Lisboa apanhar um avião que o leve de volta para Inglaterra, onde estuda. Veio cá tocar para o concurso que nos pode levar ao Rock in Rio e para fazer umas Queimas. Puto valente! O resto ficou, dormiu umas horas e acordou no mesmo dia para atrafulhar a mesma carga, as mesmas roupas amassadas e os mesmos corpos na parte de trás de uma carrinha. 4 horas de viagem - Idanha a Nova. Mais uma Queima, mais uma voltinha! O Fighas pareceu piorar, desde a noite anterior... Gripe, talvez. Teve dificuldades em fazer o concerto no Porto e mal se aguentou para fazer o de Idanha a Nova. Tocamos. Saímos à 1h. Viagem. Chegar a casa às 4h.
O Xamax e o Fighas estão de cama hoje... O resto dormiu umas 3h, com sorte e anda, feito zombie, a tentar fazer aquilo que lhes garante o sustento: trabalhar.
Porque é nesta fase, aquela que, até ver, considero a mais difícil, que trabalhamos como quase-profissionais e somos pagos como amadores. Tocamos, tocamos, tocamos, mas não nos dá para (sobre)viver da música.
É este escalão intermédio entre banda de terceira divisão e segunda divisão b que nos força a fazer planos, ou a adiá-los. Já não seremos apenas "banda de garagem", mas ainda não somos "Banda". Temos o trabalho, mas não recolhemos os frutos. Não podemos por em risco os empregos, mas temos responsabilidades a cumprir. Um nome a manter e a cultivar. Uma cultura nossa. De terminar um espectáculo, estender a mão e atirar um sorriso, por baixo das olheiras e febre, sabendo que no dia seguinte é dia de pica boi e que não há grandes complacências se chegarmos meia hora ou uma hora atrasados. O Gustuba tem exames. Não lhe adianta de muito dizer "oh, but I was in Portugal for a burning of the straps" (tradução propositadamente ridícula mas particularmente dentro do contexto: eles não fazem a mínima do que isso seja e estão-se pouco importando com isso… Estuda Gustuba!!).
Os planos? Os planos começam a impor-se, sozinhos. Planear de modo a contornar os obstáculos impostos por concertos, trabalho e vida familiar, planear de modo a antever futuras situações que poderão ser proveitosas para nós como banda, mas desastrosas a nível de carreira extra-musical.
E nós? Zombies. Cadáveres adiados com um sorriso nos lábios e 40 graus de febre. Mas não trocaríamos isto por nada deste mundo! Chamem-lhe música, se quiserem. Nós chamamos-lhe vida.
Purple, músico dos The FingerTrips
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