26.4.06

Um mergulho no saque 2

Só os burros não têm capacidade para mudar. Refiro-me, claro, aos bípedes porque os outros – os autênticos e verdadeiros – estão demasiado preocupados em lutar pela sobrevivência para se preocuparem com questões filosóficas.
Porém, quando alguém ousa evoluir, o seu pensamento é apelidado, pela maioria barulhenta que se escuta em surdina, com saborosos e quentes elogios:
“Incoerente”, “interesseiro”, “vira-casacas” ou “vendido” são alguns dos epítetos com que são brindados, como se as nossas convicções fossem imutáveis, à semelhança do clube de futebol da nossa eleição. Aprecio quem tem capacidade de evoluir, pois, sem evolução, tudo isto seria uma monotonia e passaríamos os dias a lutar por “mais do mesmo”.

Vem esta lenga-lenga a despropósito de “O outro lado”, crónica honesta e emotiva de Orlando Angelino, meu antigo colega de rádio e que sempre se manteve na linha da frente das novas tendências musicais. Sentir-me-ei tentado a afirmar que “o outro lado existe”, como diriam os Delfins em 1988, numa época em que tínhamos uma maior quantidade de bares com música ao vivo e em que o defunto Blitz (vai renascer enquanto revista mensal) divulgava o dobro da agenda dos dias de hoje.

Como aqui escrevi na minha crónica anterior, o tema da “pirataria” é apaixonante porque mexe com vários aspectos essenciais da nossa indústria e porque é, em si mesmo, fracturante. Defender o direito dos autores e detentores de uma obra (seja ela musical ou outra qualquer) pode coincidir com o interesse das editoras, mas, ultrapassa em muito essa classe. É um direito que todos os criadores têm e que merece ser respeitado. Creio que, ao longo dos tempos, as editoras têm feito boas e más apostas e não ousei “defender” quem não precisa de advogado.

Quando o grupo nuclear em toda a música moderna (Beatles) é recusado por uma editora (Decca) compreende-se o quão aleatória e polémica pode ser a decisão de contratar e de rejeitar.
Quando os responsáveis das editoras recusam apostar em projectos nos quais acredito, alguém estará equivocado. Normalmente, tenho acertado nos “palpites” e recordo-me de ter previsto o fiasco da maioria das apostas de um catálogo, feito à pressa, por um fugaz A&R português. Em períodos temporais diferentes, o grupo k2o3 foi aposta de Xutos & Pontapés e de UHF para as suas primeiras partes. Na saudosa Super FM do Barreiro, o tema “Vaquinha” tornou-se um clássico. De entre concertos fantásticos, enquanto “cabeças de cartaz”, e cheios de público, recordo um, verdadeiramente assombroso, que rebentou o Lótus Bar pelas costuras. Jamais vi um “olheiro”, de alguma multinacional, presente em espectáculos dos k2o3. Mas, ao contrário de muitos, eu admito estar enganado, demasiado envolvido pessoalmente ou do meu ouvido me atraiçoar. Tenho de reconhecer que a minha avaliação será sempre menos consubstanciada do que a realizada pelas editoras. Afinal, são empresas que visam o lucro e, certamente, terão estudos de mercado que eu desconheço. Todavia, mesmo tendo o lucro como perspectiva, algumas das multinacionais presentes no nosso País não fizeram questão de agarrar o fenómeno pimba. Pelo contrário, esse sucesso de vendas foi aproveitado, principalmente, por pequenas editoras independentes que cresceram, como cogumelos, durante esse período. Apesar de ser sempre popular “bater” nas editoras, sobretudo nas multinacionais, afigura-se como justo reconhecer que, em matéria pimba, os principais responsáveis estarão noutro lado.

O que está em causa é perceber se a presença das editoras em Portugal é vital para o futuro da música portuguesa ou se basta ter por cá um escritório de representação.

Ainda se lembram do vasto catálogo nacional que a BMG construiu no início dos anos 90 e que sumiu subitamente? Com a crise actual corremos o risco, real, das restantes multinacionais fazerem o mesmo e passarem a ter somente escritórios de representação em terras lusitanas - o que, na minha perspectiva, teria sempre péssimas consequências para a nossa música.
O que constato não deve ser confundido com uma defesa das editoras. Mais do que isso, a causa é bem superior e chama-se música portuguesa.

Claro que o ideal seria que todas as músicas estivessem gratuitamente ao alcance de todos. Era o sonho de todos os criadores e de todos os apreciadores de música. Contudo quem financiaria uma situação destas?

Seria o Estado, à semelhança do que faz com o teatro e o cinema? (ver crónica “Um projecto global”).
Passaríamos a ter uma taxa de direitos de autor incluída nos pagamentos aos ISP's?
As editoras ampliariam a sua área de negócio e passariam a controlar o management e o agenciamento dos seus novos artistas?

Obviamente que os tempos actuais exigem maior imaginação por parte dos responsáveis das editoras, porquanto, não basta combater a pirataria. A Internet possui inúmeras vantagens e oportunidades, algumas das quais já começam a ser exploradas.

Mas, as editoras não poderiam ir um pouco mais longe e promover a venda directa de CD’s?
É sabido que as margens de lucro utilizadas por armazenistas e revendedores são parte significativa no bolo que constitui o preço final a pagar pelo consumidor. Claro que isto afectaria os intermediários. Todavia, a realidade da Indústria mudou de tal forma, nos últimos anos, que creio pertinente implementar um portal de venda directa. Por outro lado, não podemos esquecer que existe cada vez mais gente que realiza as suas encomendas pela Internet, sobretudo em sites estrangeiros. Naturalmente, estas compras de música não entram na facturação das nossas editoras.

E que tal fomentar o espírito coleccionador?
O prazer de adquirir e de ter “o disco verdadeiro” devia ser estimulado. A minha geração (e muitas outras) tiveram e têm este espírito de coleccionador na sua relação com a música e com os discos religiosamente comprados. E, recordo-me que eu gravava as emissões do top inglês, escutado na onda curta da BBC, não inviabilizando, antes pelo contrário, a aquisição do single e/ou do álbum.

A potencialidade de divulgação que a Internet possui deve ser uma aposta crescente. Com o surgimento de rádios “feitas à medida” (só no blogue temos disponíveis 3 emissões diferentes utilizando o serviço cotonete), a alternativa às rádios tradicionais existe e pode ser um aliado das editoras. As editoras não poderiam disponibilizar um serviço de rádio via Internet com exclusivos e lançamento antecipado de novidades? O custo seria muito baixo quando comparado com o previsível beneficio.

No seguimento da crónica de regresso de António Manuel Ribeiro (que saúdo pela corrosão habitual e respectivo conteúdo), permitam-me que sublinhe a questão financeira. E porque não experimentar lançar os novos CD’s de música portuguesa a um preço máximo de 10 ou 12 euros (venda ao público)?
Com um preço de lançamento mais acessível não teríamos mais gente a comprar e a adquirir o gosto (perdido) de coleccionar o “original” em detrimento do “virtual”? Até acharia interessante que o preço de lançamento, nas primeiras semanas, fosse inferior ao dos meses seguintes. Ajudaria, efectivamente, à promoção dos novos trabalhos, à sua entrada nos diversos tops e minimizaria o “interesse” pelo saque na net. Porque não uma experiência neste sentido por parte das nossas multinacionais?

Estas são ideias que se juntam a tantas outras que têm ficado guardadas no baú do nosso arquivo. Em jeito de conclusão, direi que seria certamente mais simpático para a maioria dos nossos visitantes e leitores condenar as editoras e lançar-lhes fortes críticas por não terem sabido prevenir esta crise e pelo que poderiam ter feito pela música portuguesa ao longo das últimas décadas. Chorar sobre o leite derramado e falar sobre cenários alternativos pode ser muito motivante para debates e discussões, mas não irá solucionar o problema do presente.
Porém, mesmo sem perder um mililitro do meu sentido critico, não posso permanecer impávido e sereno, a reivindicar mais e melhores edições de música portuguesa, quando toda a indústria musical se encontra a viver um terramoto de grau 8 na escala de Richter.
Uma coisa é certa, do meio dos escombros deste violento sismo, uma nova realidade irá emergir. Resta saber qual.

Mudam-se os tempos, mudam-se as (minhas) prioridades…


Luís Silva do Ó

19.4.06

Assim me inscrevo

Pré-aviso de escrita
Estou de regresso depois de algum tempo no limbo das tarefas. É bom saber que este blogue se agita e há gente responsável a emprestar-lhe oxigénio.
Amiúde, nesta viagem musical, comprei agitações e leviandades trôpegas só por ter dito o que pensava: não se esqueçam que estamos no país do pântano costumeiro, o país dos que marram de lado e desviam os olhos.
Se puder e souber continuar a escrever neste espaço – afinal os UHF eram designados em 1980, pelo semanário de música ROCKWEEK, O Canal Maldito –, irei falar de alguns desses episódios que apimentam a vida e desfazem ilusões: assim se fez e faz a história da música.
Neste primeiro texto vou aflorar (estamos na Primavera) alguns assuntos que estão na ordem e na melodia.

Política financeira
Valerá a pena comprar um novo CD por 18/19 Euros e quatro meses depois vê-lo à venda com um desconto de 10 (!) Euros? O que levará as editoras a não nivelarem, baixando, o preço inicial de venda?
Esta política é má, é saloia, mas é nossa. Os artistas não ganham, iludem-se. Ganhará alguém dentro da indústria?
Esta habilidade comercial conduz o mercado a retardar a aquisição dos novos discos, que deixou de ser imperiosa, esperando-se pelos “saldos”. Perde-se assim o fenómeno da novidade/sucesso.

É sabido que são os miúdos que agitam a indústria, ou eram, miúdos como eu fui, a juntar dinheiro para comprar um disco que se começava a saborear pelo toque da capa na discoteca, semanas antes de o poder adquirir. Mas agora os miúdos usam Ipod, os novos carros já o trazem, anulando a magia do disco novo. Os miúdos de hoje trocam músicas copiadas que vão continuar a copiar, porque a política financeira das grandes editoras (com as pequenas atrás) tem sido errática, apostada no imediato, perante o sufoco dos tempos que tudo mudaram.
O CD é um produto caro para o nosso nível de vida. Na indústria discográfica o efeito Titanic está à vista.

EMI
Um exemplo e um selo: visitem a Worten e abasteçam-se do catálogo nacional da EMI. Muitos foram discos de ouro e platina. Mas ainda estão à venda, ou só agora, a baixo preço. A Universal e a Sony/BMG correm no mesmo sentido.

Nesta mais recente passagem dos UHF pela EMI, acabei por compreender o significado do copy control. Toda a gente sabe, a começar pelas trutas britânicas, que o famigerado software não passa de um disfarce, uma cerca antes do pulinho. Os entendidos da informática riem-se; as cópias mantêm-se.
Então porque se persiste na colocação do copy control que onera o valor do CD? Diria que o resto do mundo anda a pagar um tributo fixo à casa inglesa, o que sempre ajuda nas vendas em queda. Num país como Portugal, as vendas ressentem-se.
Um dia o David Ferreira (patrão da EMI) disse: andamos todos a lutar pela maior fatia de um bolo cada vez mais pequeno. Maior lucidez não ouvi. Repensar é preciso, sem maquilhagem.

O IVA
Por duas vezes, enquanto director da música ligeira da SPA, insisti com a questão do IVA, primeiro nos 17% e depois a 19. Agora que está a 21%, ou seja, mais de um quinto do preço final de um CD, que vamos fazer para colocar esta taxa ao nível da aplicada no livro?
É uma questão entre o camarão, de um lado, e o saber, do outro, uma questão de inteligência, uma questão política e cultural, mais útil do que prender os passadores de cópias pirata. A doença deve ser compreendida pela sua génese. Cuidar apenas dos sintomas é prolongar a causa.

Mas a música é feita por marginais que gostam de tocar guitarra e fumar charros por aí, incapazes de fazer uma greve, incapazes de serem uma classe, pouco respeitados e pouco respeitáveis, dirão os ilustres eleitos da nação que se baldam à Assembleia desta República das bananas a que tragicamente chegámos – maioria oblige.

A rádio que temos
Quando há mais de um ano aqui escrevi que a rádio estava a perder ouvintes de uma forma assustadora, houve quem se risse e houve quem se agitasse. Estes meses depois, com uma nova lei de protecção à música portuguesa aprovada no Parlamento, quais são os resultados práticos? Alguém se rala com este país opado por desconhecidos de renome?
Quase todas as rádios têm consultores externos – americanos, alemães, ingleses ou irlandeses – e eu não percebo porquê. Será uma forma de alijar, ou esvaziar, a responsabilidade de dirigir o conteúdo de uma estação radiofónica? Além da música que nós lhes importamos, conhecerão esses consultores a nossa? Qual será o benefício da programação estar entregue a um tipo lá longe? Quem vai ter a coragem de dar o primeiro passo e desfazer a mania e o medo? Ou será que esta rádio em Portugal já não é nossa, como não é a Avenida Fontes Pereira de Melo, a Praça do Saldanha, a Avenida da República, quase todo o bairro que tem o nome de Parque das Nações? Será que antes havia rádio em Portugal? 1640, da janela do Paço, poderá repetir-se?

Quanto à falsa questão da produção nacional ser curta: se a continuarem a estrangular, vai definhar. Um CD não pode apenas valer uma, talvez duas canções. É curto, é redutor, é cinismo puro, não define a obra. Estarei a sonhar?
Gostaria de dizer que a rádio se fez para servir a divulgação da música de cada tempo – podem-se rir deste quixotismo. Hoje a rádio programa resmas de anúncios com música envelhecida a fazer de separador e tudo acaba antes de começar.
Que tal os noticiários repetirem as notícias de há 15, 20 ou trinta anos atrás? Há canções repetidas que me lembram as minhas namoradas que já envelheceram ou casaram ou as duas coisas. Que porra faz esta canção dos Doors de 71 nos meus ouvidos? Tenho que subir as escadas para o Céu com os Led Zeppelin às nove da manhã e logo a seguir às onze e meia?
Devolvam-me a puberdade, por favor. Esta rádio a isso obriga.

A lei e o filtro
Pessoalmente estou-me borrifando para a nova lei, e a velha, também. A primeira, ufanamente erguida pela esquerda de 82, nunca foi aplicada – não foram criados mecanismos de controlo. Logo, um belíssimo trabalho para-lamentar. A nova, perdoem-me os colegas recentemente despertos para a causa, está-lhe na peugada. Mas o que custa, sinceramente, é saber que neste país é preciso ameaçar com leis para podermos ouvir o que por cá fazemos. Eu pensava que, num país que se quer europeu, civilizado e fã do choque tecnológico, passar na rádio música portuguesa para os portugueses era banal. Mas não. Há um filtro.

25 Anos de Febre
Saudades não tenho, de nada, nem do futuro. Mas estivemos lá, na Febre de Lisboa, e foi engraçado rever os meus companheiros da década de 80. Não vi por lá os Roquivários e ainda bem. Porque, é preciso dizê-lo, havia muito lixo musical naqueles tempos, muita fraude, como também hoje há.
Uma coisa ou outra retenho das duas Febres: cantávamos todos em português, falávamos da vida, das personagens e da sociedade envolvente – curiosamente, algumas daquelas canções estão actuais. Naquele tempo ninguém soprava aulas de inglês com ideias de Peniche.
Tocámos todos ao vivo, ou quase todos. Teria sido bom que a RTP tivesse a seriedade de ter referido, quer em Lisboa quer no Porto, quem o não fez. É uma questão de verdade em televisão: pelos colegas e para o público.
Quanto ao Mestre-de-cerimónias Júlio Isidro: muito lhe devemos, músicos e indústria. Já se fala que ele vai recomeçar e ainda bem. Precisamos de mais tempo naquela janela.

Uma questão de alterno
Ou uma questão alternativa. Estamos num tempo em que tudo – e a música ops! – tem de ser alternativo, valha isso o que valer: se entendermos por alternativos aqueles discos com capas onde nada se consegue ler – títulos das canções, letras, autores, músicos, estúdios e o resto.
Não que eu tenha algo contra o que é alternativo. Só não me apetece ser um fundamentalista de uma nova religião que exclui tudo o resto. As mentes pequenas criam demasiados campos de concentração para a diferença, quando é nessa quantidade diferente que está a manta feita de retalhos que é a música popular.
Este nicho, a que damos muita importância porque nós adoramos nichos e projectos, faz-me lembrar o teatro que o 25 de Abril de 74 nos trouxe e as suas companhias cogumelos: ficaram os actores e os críticos a aplaudir outros actores. O público, fugiu.
Os projectos, quase sempre, usam o martelo da indignação para se imporem. Mas é giro ser-se alternativo. Na FNAC está à venda, por exemplo, The Alternative Álbum, onde entram os Coldplay. E o avião privado que os transporta, também lá cabe?

Humanamente
Tenho tido uma imensa vontade de falar do disco póstumo sobre o António Variações, designado por “Humanos”, e sei que algumas capelinhas vão acender as luzinhas como se fosse Natal em Abril: a velha questão da vaca sagrada, aquilo que o homem de Amares não foi.
É um facto que a indústria pulou com o sucesso deste disco, os resultados foram excelentes, o que é bom para todos os que defendem a canção portuguesa. E para o autor que está na outra dimensão, que nível de continuidade?
Penso em mim, que fui seu contemporâneo, ligado ao seu aparecimento ao vivo, com quem privei na noite de Lisboa. Recordo a sua inaptidão para tudo isto, a sua timidez, e a procura pessoal de um formato musical novo, uma canção popular e ligeira que trouxesse o fado no ventre e o acaso da vida vestido. Lembro-me desse Variações, o artista kitsch que conheci, ignorado pelos seus contemporâneos que depois correram a chorar sobre o caixão a sua genialidade, esquecendo a solidão e a dúvida em que os criativos sempre naufragam.
Lembro-me do diamante que a “Canção de Engate” (enorme a versão dos Delfins) encerra e não consigo digerir a coerência na recolha destas canções proibidas. Onde é que ficou “Toma o comprimido (que isso passa)” e as maquetas que o grupo de Odivelas gravou com ele e nós ouvíamos no parque dos Estúdios da Valentim de Carvalho em 1980, enquanto ele aguardava que o deixassem gravar – o contrato era anterior ao dos UHF?
Um dia escrevi: O bom poeta / é um homem morto / Tudo lhe presta / E dói-lhe pouco (*). A evidência continua.
Não me confundam. Por ter estado calado não significa que não tenha estado lá. Uma cassete que guardo, desse dia 27 de Maio de 82 na Feira Popular, diz mais do que estas palavras e do que outras escritas por quem, de fraldas, ouviu falar de um tempo. A Manuela Gonzaga, que escreveu a sua biografia a editar brevemente, vai repor alguma verdade na estória.
António Variações mal teve tempo para iniciar uma carreira, ficou a meio de quase tudo, não lhe conheci fãs e aficionados. Enfim, em “Humanos”, salvam-se as vozes excelentes e o mérito da EMI.

(Guardo um dossier de temas aleijadinhos a que chamei Baú de Canções. Vou queimá-lo.)

(* “Um Tiro na Solidão”, in Santa Loucura, 1993)


António Manuel Ribeiro

18.4.06

UHF: Democracia participativa

Na próxima sexta-feira, dia 21 de Abril, em Padim da Graça (Braga), os UHF regressam à estrada. É o arranque da digressão 2006, que conduzirá a banda aos concertos dos Coliseus de Lisboa (23/09) e Porto (5/10).
Os UHF prometem muitas surpresas nas escolhas dos alinhamentos desta digressão. Segundo o grupo de Almada, "os ensaios têm sido densos, duros e recompensadores", sendo voz corrente entre o quarteto que "há muito não se preparava uma digressão nestes moldes".
É, ainda, proposto um desafio aos fãs e amigos para que participem na escolha do repertório desta digressão que irá conduzir à gravação do primeiro DVD dos UHF.
Assim, quem quiser pode votar em sete temas que gostasse de ver incluídos. O primeiro tema escolhido valerá sete pontos e o sétimo um ponto.
As votações devem ser dirigidas para info@uhfrock.com e devem ser realizadas até ao fim deste mês de Abril.

13.4.06

Eduardo Simões comenta "O outro lado"

O presente texto do Director-Geral da Associação Fonográfica Portuguesa (AFP) foi enviado como comentário à crónica "O outro lado" de Orlando Angelino. Considerando o elevado interesse e a extensão do mesmo, optámos por o publicar independentemente.


Em primeiro lugar gostava de saudar o Canal Maldito. Não sendo um especialista em blogs mas apenas um observador ocasional, tenho lido com agrado alguns dos posts e não posso deixar de felicitar os responsáveis pelo CM por conseguirem um fórum de discussão civilizado onde a liberdade de expressão é exercida de uma forma responsável e... com assinatura!
Dito isto, tomo a liberdade de comentar o texto de Orlando Angelino, que levanta, de forma séria, questões importantes. Começo por concordar com o facto de a Internet possibilitar uma muito maior divulgação dos trabalhos dos novos talentos, Portugueses ou não. Todavia, penso que o panorama actual do mercado de concertos não se deve apenas à Net: houve uma evolução enorme no mercado do espectáculo e aí penso que foram os próprios hábitos do público que mudaram. Primeiro com os concertos de Artistas/Grupos estrangeiros, depois com o 'boom' do rock Português, mais tarde com a presença regular dos nossos músicos nas televisões, nas rádios - muitas vezes em programas "de autor" especializados na música mais actual. Para que isto fosse possível houve ainda outros contributos, tv por cabo, uma exposição enorme da música nos mais diversos locais (bares, centros comerciais, gares de transportes, centrais telefónicas, etc. etc., ao ponto de hoje quase não haver negócio digno desse nome que não esteja "sonorizado"). Há pois um conjunto de factores que alterou tudo e não um factor isolado, por mais importante que seja.
Relativamente às opções editoriais sobre a música dita "pimba" (não sou partidário de rotulagem qualitativa para qualquer tipo de música), também discordo. Este tipo de música sempre existiu, cá como lá fora, e, no passado não foi responsável por nenhuma quebra de vendas, antes pelo contrário. Também agora não deverá ser "diabolizado" como responsável por qualquer crise. De resto, no P2P, também se encontra abundantemente, esta música. Em relação á rádio, a Indústria, muito pelo contrário, tem vindo nos últimos anos a reivindicar alto e bom som, quotas para a música Portuguesa e, não menos importante, quotas para a passagem de novidades. Não defendemos nem a massificação do repertório estrangeiro, nem a "nostalgização" da rádio. Acredite, Orlando Angelino, que teria sido muito mais fácil ficarmos calados! A campanha da PLAM-Plataforma pela Música (com o apoio incondicional e desde a primeiro hora da AFP) tem sempre custos...
Quanto ao papel editorial das multinacionais, parece-me o seu comentário um bocado injusto a menos que se explique por um excesso de subjectividade. Basta darmos uma vista de olhos nas edições que se foram fazendo no período que refere.
Sobre se o fim dos "downloads ilegais" possibilitaria maior investimento em novos talentos, concerteza que sim. Editar repertório mais específico para o ver de imediato "ripado" na net em larga escala não é um investimento atraente para ninguém de bom senso. Neste ponto, cabe-me reafirmar o que já expliquei muita vez: as editoras são sociedades comerciais que, por definição, visam o lucro. Acontece que só o reinvestimento do lucro possibilita a aposta em novos talentos.
Os lucros que refere no iTunes e nos telemóveis estão, infelizmente, muito longe de poderem compensar, a quebra enorme que o mercado sofreu. Temos esperanças e trabalhamos para que isso aconteça. A campanha da AFP relativamente ao P2P, ao contrário do que alguns disseram, não é para assustar as pessoas, é para "abrir caminho" aos negócios digitais legais.
O exemplo dos Artic Monkeys, é um bom exemplo, foram eles próprios que quiseram, numa fase inicial, disponibilizar o seu trabalho gratuitamente. Foi uma opção consciente dos próprios, não foi uma decisão de terceiros, ou de milhões de terceiros. Depois, segundo julgo saber, partiram para outra via e assinaram com uma editora.
Em França, há de facto uma corrente que defende um esquema de compensações que eu diria são minimalistas. Todavia, não obteve a consagração legislativa que alguns chegaram a celebrar em Dezembro passado. De resto, esquemas de substituição de direitos exclusivos por remunerações simbólicas, é tapar o sol com a peneira: se isso fosse posto em prática em França, dentro de um ou dois anos, verificar-se-ia uma redução drástica do número de edições o que, num país com uma quota de produção nacional de cerca de 50%, seria criminoso para a Cultura Francesa.
Por último, tem toda a razão o Orlando Angelino quando diz que a Indústria foi lenta a abraçar algumas novas tecnologias. Todavia, está a recuperar a bom ritmo. Neste momento já há 3 serviços legais em Portugal para download a partir da Net. São mais de 1.100.000 de canções a cerca de 1 Euro cada uma, e ainda há descontos possíveis.
Se os preços são justos ou não, penso que a questão se deve colocar em relação a todos os bens e serviços que queremos. Se houvesse possibilidade de baixar preços para aumentar as vendas, há muito que as editoras o tinham feito. Já viu o preço a que estão outros bens culturais e o que aumentaram nos últimos 12 anos comparativamente com o que (não) aumentou o CD? Pense um pouco no que custava um bilhete de cinema, de concerto ou um livro há 12 anos.
Com os melhores cumprimentos e votos para que encontre sempre mais música que goste,


Eduardo Simões

12.4.06

O outro lado

Bem...há meses que não escrevia aqui, mas achei que devia de mostrar o "outro lado" quando se fala em roubo, crime e coisas parecidas.
Mas atenção que não venho aqui defender a pirataria, seja ela de música, filmes, jogos ou outra coisa qualquer. Apenas vou tentar dar uma opinião mais diversificada de quem tem cerca de 600 cds originais em casa e que não deixou de comprar os originais só porque eles existem na internet sem custos.

Antes da internet surgir, o mercado de música moderna portuguesa estava muito mais estagnado do que agora pois a divulgação que havia era 80% bandas internacionais, 17 % música popular portuguesa e devia de restar pouco mais do que 3% para divulgar a boa música moderna que se faz no nosso país.
E os concertos não decresceram, pelo contrário, aumentaram em grande número, mesmo sem as ditas salas para tocar.
Basta irmos ao site http://www.epilepsiaemocional.org/agenda ou ver as páginas do Blitz para concluirmos que há mais concertos seja em que ponto do país fôr e não só nos grandes centros.

Será que a quebra de 40% das vendas em Portugal não será devido às opções que as próprias editoras tomaram de editar artistas duvidosos e esquecer a boa música portuguesa que as pessoas querem comprar? Será que esse decréscimo não foi quase todo na dita música pimba, pois essa é direccionada para as classes com menos poder de compra?
Conheço vários músicos e bandas com projectos interessantes para editar e nenhuma editora apostou nos seus projectos; e pelo menos dois desses que acompanhei de perto tiveram que o fazer em edição de autor, sem distribuidora, porque nenhuma editora lhes pegou.

Por outro lado foi esta mesma indústria que andou anos a impigir-nos música anglo-saxónica 24 horas por dia na rádio portuguesa, porque isso lhes dava mais lucros: é que evitavam os custos de estúdio, de produção, de músicos, de criação gráfica, etc.
E a música moderna portuguesa? Tirando um ou outro caso de sucesso, se formos analisar os ultimos 15 anos pouco ou nada de novo foi editado pelas multinacionais, mas sim por pequenas editoras, muitas delas já extintas.
Espanto-me agora ao ver aqui neste blog e noutros de música portuguesa muitos a defender as editoras, quando foram eles mesmos os maiores críticos há tempos atrás.
Ou como é possível que alguns artistas que lutaram e reclamaram das explorações das editoras, do sistema fechado musical, das dificuldades que este sistema de "máquina de fazer dinheiro" levanta (principalmente aos jovens artistas), vêm "hoje" defender essa mesma máquina de fazer dinheiro?
Será que sem os dowloads ilegais havia mais música portuguesa editada e divulgada?
E nem vou falar aqui da questão do IVA, pois essa já foi abordada aqui há algum tempo atrás.

Muita gente fala do decréscimo de vendas de cd`s, mas e então os lucros enormes que estão a acontecer com sistemas como o iTunes ou os toques de telemóveis?

Quer se queira quer não a internet tem esse grande dom de tornar acessível ao grande público artistas que de outra forma nunca seriam escutados e caíriam no esquecimento. Vejamos o caso dos ingleses Artick Monkeys que se divulgaram a eles próprios através da internet e o seu álbum de estreia foi o mais vendido de sempre na Inglaterra para um artista estreante (250 mil cópias).
Nos Estados Unidos os Panic At The Disco divulgaram a sua música através dos chamados P2P (eMule, Limewire, etc) e praticamente 500 mil fãs compraram o álbum quando saiu nas lojas, mesmo tendo as músicas no computador.
Em França existe actualmente uma movimentação para a legalização da troca de música em P2P, com compensações alternativas para direitos de autor, editoras e distribuidoras, como acontece actualmente na difusão pública de música em rádios, restaurantes, bares, discotecas, etc.

Como referi no inicio deste artigo, não defendo a pirataria informática, e até defendo a punição de quem faz dowloads ilegais na internet, mas gostava apenas que existissem mais alternativas na "rede portuguesa" e a verdade é que elas não existem, tirando a compra de uma simples música por cerca de 1 euro e pouco mais do que isso.

A própria indústria (seja ela discográfica ou cinematográfica) atrasou-se muito e aos poucos vai tentando formas de contornar a tecnologia, mas acho que não é através de multas que o vai conseguir. Acho sim que deveria tentar primeiro procurar alternativas viáveis e com um preço justo para quem não se quer deslocar a uma loja para comprar um cd a 20 euros.

Já agora vejam este link: http://arstechnica.com/news.ars/post/20060406-6541.html
Dá que pensar?


Orlando Angelino

Festival Santos da Casa

Numa altura em que a Rádio Universidade de Coimbra, está a comemorar 20 anos, o mais antigo programa de música portuguesa, Santos da Casa , que vai para o ar todos os dias entre as 19h00 e as 20h00, organiza a sétima edição do seu festival.
Em Abril e início de Maio, Coimbra vai ser invadida pela música portuguesa, com concertos, exposições e palestras.
Paralelamente ao festival, que tem início a 19 de Abril, decorre no TAGV uma exposição de memórias de música portuguesa.
Mais informações em http://santosdacasa.blogspot.com

3.4.06

Um mergulho no saque

A indústria musical em Portugal já viveu melhores dias. Estamos num período de “vacas magras”, como todos os indicadores o comprovam e com a facturação das editoras a diminuir quase para metade no espaço dos últimos 5 anos.

E se o negócio da música está mau em todo o mundo, a música portuguesa ainda se encontra em pior estado. As vendas têm baixado e as apostas das editoras têm de ser bem reflectidas. Os novos músicos não editam, não têm espaços para tocar, não passam na rádio e não surgem em programas de televisão. Esta sequência é aleatória, mas o ciclo vicioso está a provocar danos em toda uma geração de criadores sem possibilidades de furar. Contudo, não são somente os novos músicos a terem problemas com o momento presente. Tirando uma minoria de consagrados, temos um vasto leque de artistas com passado relevante que se encontram a atravessar um limbo prolongado, pouco habitual e indesejável.

Aproveito para um aparte a que voltarei em próxima crónica. Ao contrário de algumas vozes, não acredito que os veteranos tapem lugares às novas gerações. O mercado internacional mostra que coexistem novos e antigos valores. Os U2 ou Elton John não bloqueiam o surgimento de outros projectos de grande dimensão porque existe mercado para todos. Porém, para que tudo funcione é imprescindível que exista mercado e, nos dias de hoje, corremos o risco de o matar…


Há 25 anos, o “Mãozinhas” adorava ir de noite ao supermercado “fazer compras”. Costumava levar todos os bens que lhe apetecesse e depois deixava as portas escancaradas para que todos os amigos pudessem repetir os carregamentos.
Já o “Brocas” era um destravado que chegava depois do "Mãozinhas" fazer o "trabalhinho" e, além das suas “compras”, mantinha as portas abertas e distribuía tudo o que continha o supermercado.
Entrando sorrateiro, o “Pantufas” só levava umas coisinhas e tentava sumir rapidamente com medo que algum segurança o visse.

Em pleno século XXI, estes 3 rapazes modernizaram-se e deixaram o desconforto das saídas nocturnas. Operam hoje nas suas casas e são especialistas da negra arte do saque pela Internet.

O “Mãozinhas” permanece o mesmo palerma de sempre. Agora, até se dá ao luxo de comprar CD's para depois os ripar, os compactar com todas as imagens que integram os discos e os disponibilizar para que possam ser sacados na Internet.
O “Brocas” aproveita o trabalho do “Mãozinhas”, saca os discos e incentiva a continuação do vil saque ao manter esses ficheiros acessíveis para posteriores uploads.
Por último, o “Pantufas” tenta não partilhar, mas, vai sacando sempre que pode. Ainda assim, enquanto “saca e não saca” acaba por ir permitindo que outros saquem os fragmentos que ele vai conseguindo transferir para o seu computador.

A diversidade do que se encontra disponível na Internet é impressionante. Mesmo sem contribuir activamente para o fenómeno, conseguimos visualizar um vasto leque de exemplos do que se passa no presente. Quase tudo se consegue sacar pela Internet: aplicações e jogos de computador, séries de todo o género, filmes ripados de DVD's ou filmados durante a sua exibição nas salas de cinema, etc. E, no âmbito daquilo que mais nos importa nesta crónica, na música, além das edições recentes, consegue-se encontrar de tudo um pouco… até trabalhos nunca editados em formato digital!

Há 15 dias, tive oportunidade de conversar com José Cid e confirmei que o “Cantando Pessoas Vivas” (disco de rock progressivo gravado pelo Quarteto 1111 em 1975) não existia em formato CD. Todavia, este disco encontra-se disponível nos programas de partilha de ficheiros.
Também o nosso amigo António Manuel Ribeiro tem poucos trabalhos recuperados para o formato CD. Contudo, o disco ao vivo “No Jogo da Noite” (que tenho em LP) encontra-se, não só, disponível, como em versão remasterizada!
Considero que estes e muitos mais álbuns deviam ser lançados em CD, mas, o que me interessa ressalvar aqui, hoje, é o nível de sofisticação a que as coisas chegaram.
Existem pessoas que se dão ao trabalho de passarem som analógico para digital e de cuidarem profissionalmente do produto final antes de o disseminarem pela Internet…

Estes rapazes contribuem, em escalas diferentes, para o descalabro de toda a indústria musical e enganam-se aqueles que consideram que os artistas não necessitam das editoras para nada.
A principal diferença entre o pirata dos livros de história, barbudo e de arma em riste e o pirata dos nossos dias é que, antigamente, ele tinha consciência de que arriscava.
Actualmente, o sentimento de impunidade é absoluto e ninguém imagina que possa ser, num destes dias, apanhado e condenado. Considera-se impossível que sejam todos apanhados ao mesmo tempo, pelo que, a probabilidade é um argumento forte em prol da manutenção de hábitos, pois, existem dezenas de milhares de portugueses que aderiram ao sistema das borlas ilegais, muitos deles pagando upgrades aos fornecedores de Internet para usufruírem de maior quantidade de tráfego.
Apesar dos ISP’s operarem dentro da legalidade, pacotes que incluam 30, 40 ou 50 Gigas de tráfego internacional serão consumidos em quê? Em acessos à conta de email não será certamente…

Quem se habituou a sacar tem outro argumento falacioso e que se relaciona com o preço dos CD's. Como os discos são caros não faz mal piratear…

Pois, eu também sou daqueles que considera o preço dos discos elevado e sei que se os preços fossem menores a minha colecção já ocuparia o dobro dos móveis. Creio que um CD deveria ser tributado com o IVA de 5% (só aqui o custo baixava 16%) e que o preço não deveria ultrapassar um patamar de 10 ou 15 euros. E edições com mais de um ano deveriam ser sinónimo de “nice price”. Dando um exemplo aqui da “nossa casa” (alô Ulisses), encontrei, num destes dias, o primeiro CD dos k2o3, “És Capaz”, editado em 1996, à venda por 12 euros numa das maiores lojas de venda de discos deste País. Como é possível vender um CD com 10 anos a 12 euros!?
Pois, o preço dos discos pode não ser barato, contudo, eu não ando a roubar ecrãs de plasma só pelo facto de os considerar caros…

Regressando ao “sentimento de impunidade”.
A impunidade é meramente aparente porque, exceptuando alguns casos menos vulgares, o comum do cidadão faz cópias ilegais “à descarada”.
Como já dissemos, nós próprios realizámos alguns testes em que determinámos os ISP e IP's de piratas em programas P2P. Qualquer pessoa, mesmo sem grande formação tecnológica, poderá obter o mesmo resultado. Depois, bastará chegar ao responsável através dos mecanismos legais disponíveis para o efeito.

A ofensiva lançada recentemente pela AFP vai começar a dar resultados. Não que se termine em absoluto com a pirataria – nisso não acredito -, porém, não duvido que, com duras medidas restritivas, se consiga controlar esta questão.

Para primeira abordagem ao tema, centraria a preocupação na música portuguesa e seleccionaria os “Mãozinhas”, ou seja, aqueles que colocam as novidades online e faria deles exemplos a não seguir. Mais do que as dezenas de milhares de “Brocas” ou de “Pantufas” são estes “Mãozinhas” os principais responsáveis pela situação actual.

As editoras necessitam de ser rentáveis para continuarem a apostar em novidades e os músicos precisam de editar e de receberem os respectivos direitos. Esperamos que a ofensiva da AFP comece a surtir efeito dissuasivo.
Mesmo num País com um sistema judicial moroso como o nosso, ninguém gostará de arriscar ser apanhado se souber que o pode ser de facto…

Sacar não é legal, yô…


Luís Silva do Ó


P.S.: O tema é apaixonante e deve ser encarado numa perspectiva global.
1. É diferente o uso destes downloads para fins comerciais ou para fins de consumo pessoal. São casos diferentes e a Lei prevê penalizações diferentes. Contudo, o autor de uma obra é o detentor dos direitos da mesma e só o próprio (e a quem a mesma esteja licenciada) é que pode decidir disponibilizar a mesma gratuitamente ou não. O argumento, de alguns cidadãos, que afirmam "não serem piratas porque não retiram dividendos financeiros pela partilha que realizam" não anula um acto de incumprimento do respeito pelos direitos do autor e pela Lei que se encontra em vigor. O termo "pirata" pode não ser o melhor, mas, o termo "criminoso" é juridicamente correcto.
2. Existe muita gente que não "simpatiza" com as editoras. Porém, sem editoras, quem paga o investimento que é necessário realizar para gravar um disco? Quem paga o estúdio? Tirando alguns que possam ter recursos financeiros a maioria das bandas não pode dispor de centenas de contos para gravar um disco.
3. Downloads de canções protegidas e feitas de forma ilegal é uma coisa e downloads legais e gratuitos outra bem diferente. Quem disponibiliza gratuita e legalmente temas na Internet está a promover, inteligentemente, o seu produto. Pessoalmente, como já defendi diversas vezes, sou a favor do uso da Internet como meio promocional. O que nunca concordarei é com a disponibilização de qualquer música à revelia dos seus criadores.




Entrevista a David Ferreira, conduzida por BGP e LSO em 13 de Março de 2006.

"Pirataria na net" (2)

O uso de aplicações P2P generalizou-se em todo o mundo. KaZaA, GTK Gnutella, LimeWire, Emule são somente algumas das mais utilizadas.
Em Portugal, o seu uso é corrente e tem aumentado ao longo dos últimos meses, enquanto o sentimento de impunidade deste tipo de actividade permanece entre os seus utilizadores.

Contudo, o sentimento de impunidade não passa de um mero "sentimento". Apesar de ser humanamente complicado responsabilizar todos os prevaricadores, a sua identificação não é tão "impossivel" como alguns pensam.

No site www.pro-music.com.pt estas e outras verdades são explicadas de forma directa e simples, enquanto algumas medidas no combate à pirataria são anunciadas para muito breve.
Durante o dia de amanhã, 4 de Abril, vão ser apresentadas as primeiras queixas-crime em Portugal relativamente à partilha não autorizada de ficheiros musicais nos serviços de partilha de ficheiros (P2P).
Todavia, esta abordagem activa e musculada por parte da AFP surge num momento em que as diversas empresas fornecedoras de internet continuam a aumentar as velocidades e os tráfegos disponibilizados para download.

Alguém acredita que tarifários com 30 Gigas de tráfego internacional sejam apenas utilizados para ler emails e outros fins lícitos?

2.4.06

"Pirataria na net" (1)

A AFP está a lançar uma ofensiva contra a pirataria através da Internet.
Entre 2000 e 2005, o mercado discográfico, em Portugal, desceu 47%, representando uma quebra acentuada no número de unidades vendidas, de 15.161.880 para 9.068.062.
Em termos de facturação a descida foi para quase metade: de 106 milhões de euros em 2000 para 56 milhões de euros em 2005.

O "Canal Maldito", ao longo da próxima semana, irá aprofundar este tema. Para iniciar o debate/reflexão, deixamos a opinião do Director-geral da AFP, Eduardo Simões, recolhida durante a apresentação do Plano de Combate à Pirataria Digital.

Nessa tarde foi ainda lançado um folheto-guia e apresentado o site www.pro-music.com.pt.



Entrevista a Eduardo Simões, conduzida por BGP e LSO em 13 de Março de 2006.