31.3.05

A Cigarra

A malta, quando é assaltada, costuma ficar com medo e coloca trancas nas portas. Dizem as estatísticas, que, raramente, se é novamente assaltado a menos que nos tenhamos mudado para um bairro degradado e violento. Também, é do conhecimento popular que só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja.
O primeiro parágrafo está muito "pois, somos portugueses e a história é sempre remediar o que podia ter sido previsto". É verdade, quem pense assim está coberto de razão. E porque motivo estamos para aqui a falar de assaltos, de trancas e de trovoadas em época de seca? Ainda não sabemos, mas, tentaremos descobrir até ao final da crónica.

O mercado discográfico vive uma grave crise com a diminuição das vendas e dos consequentes lucros. Na busca das causas dessa crise, à cabeça da lista, surge a questão da "pirataria" informática, das cópias e dos programas P2P. As editoras partiram, então, para uma guerra contra o mercado paralelo, conseguindo pequenas vitórias e implementando negócios de venda digital de música. A ideia está correcta e promete resultados positivos e animadores, porém, a pirataria através da Internet não dá sinais de abrandamento. Nesta luta, a favor do CD original, algumas discográficas passaram a integrar, nos discos, uma tecnologia designada por "anti-cópia", tentando inviabilizar a cópia directa do CD e aniquilando certa percentagem de pirataria.
Pessoalmente, não creio que os resultados sejam muito animadores, porque alguns leitores de automóvel não "simpatizam" com essa tecnologia e nem o meu leitor de casa gosta. Por outro lado, usando qualquer programa P2P, encontramos as mais recentes edições, incluindo aquelas com a referida protecção "anti-cópia" e anexadas com capas, contra-capas e demais material gráfico. Um luxo!

Para quem prevarica e copia discos pela net, a qualidade é excelente e o preço final é muito baixo. Tão cedo esta tendência de “pilhagem colectiva” não vai abrandar, por mais protecções, cuidados tecnológicos e medidas "repressivas" que se venham a implementar. Estamos cansados de saber no que dão as medidas repressivas. Quanto maior a repressão, maior a decisão de transgredir. Esse nem é um ditado popular nacional, mas, uma constatação à escala global. Vejam-se os resultados da Lei Seca americana ou das campanhas repressivas de combate ao tráfico de drogas.
Na actual conjuntura, as editoras não estão muito vocacionadas para grandes investimentos de estúdio, sobretudo com grupos não testados positivamente no mercado. Uma das saídas para as editoras é realizarem parcerias com as bandas, no sentido dos artistas suportarem os custos de estúdio, ficando a cargo das editoras a promoção e a consequente distribuição. Todavia, isto pressupõe disponibilidade económica por parte dos músicos (e, se quase toda a gente toca de borla no início da carreira, de onde virá a grana?)…

Enquanto a pirataria digital não invadiu o mercado e fez estragos, a preocupação das editoras foi reduzida, tal cigarra em pleno Verão. Esta crise actual podia e devia ter sido prevista e combatida em devido tempo porque não é benéfica para ninguém. Os grandes nomes da música vão continuar a existir, contudo, os grupos que estão no início têm cada vez maior dificuldade de afirmação.
No entanto, como situações difíceis favorecem a imaginação dos interessados, acredito que o futuro possa ser promissor. A título de exemplo, deixo as edições discográficas via-Blitz e muito do paleio das minhas crónicas passadas (disponíveis no já vasto arquivo deste blogue).

Nesta breve reflexão, assalta-me uma questão final: "As editoras não podiam baixar os preços de venda?"
Todos sabemos que as "rodelas" têm um preço de fabrico muito menor do que antigamente, sendo mesmo muito reduzido. Também, concordamos que o preço final do CD é um exagero e que devíamos ter o IVA a 5% - além das outras considerações realizadas ao longo destes meses de debate. Se a indústria apostasse num preço de venda ao público de 10 euros por unidade, não conseguiria aumentar, consideravelmente, as receitas, com implicações positivas nos seus resultados financeiros? Se o preço for adequado, por muito que evolua a pirataria não creio que os amantes de música optem por "fabricar" uma cópia em vez de terem o CD original nas mãos. Mas, quando se pensa que um CD custa quase 20 euros e uma cópia com óptima qualidade fica quase de borla… é só fazer contas!

Luís Silva do Ó

24.3.05

Rock em Portugal

Ora, boas tardes,

Não. Esta não é a minha crónica mensal, a qual, tarda em ser escrita. A “minha data” está agendada para dia 30, contudo, confesso, a inspiração anda em baixo.
Com ou sem provocações à mistura, pareço um daqueles músicos, que, após um certo fervor inicial, fica sem a chama que o impulsione para novo disco.
Todavia, como escrever uma crónica é mais fácil do que compor uma canção, aguardo, serenamente, que, durante estes dias festivos, a minha pena se solte. Como sou optimista, acredito que sim!
Supostas poesias à parte, vou directo ao que motiva este meu post.

Usando um pensamento chavão, poderei afirmar que o progresso da música se constrói, no presente, mas, sem conhecermos o nosso passado ficaremos a perder as raízes daquilo que somos hoje.
Xutos & Pontapés, Jáfumega, Salada de Frutas, Roxigénio, GNR, Arte & Ofício, NZZN, Beatnicks, Taxi ou UHF são alguns dos nomes determinantes, uns mais, outros menos, de uma “nova” geração da música portuguesa, surgida em finais da década de 70 e revelada aquando do famoso “boom” do rock português.
As canções “Chico Fininho” e “Cavalos de Corrida” (em 1980) foram determinantes para que Portugal saísse das canções de intervenção e se abrisse a outros sons. São o nosso “Rock Around The Clock”.
Tudo isto vem a propósito de um excelente blogue, da autoria de Aristides Duarte, um homem que conhece, como ninguém, o “fenómeno” do rock português.
O arquivo histórico é vasto e permitirá uma aproximação dos “mais jovens” às raízes do rock luso, enquanto os mais “crescidos” recordarão autênticas pérolas há muito esquecidas.
Depois de uma visita, regressa-me à mente uma pergunta antiga. Para quando a recuperação deste arquivo musical com lançamento em CD?
Que estranho País… sem edição em CD de trabalhos como Independança (GNR), Roxigénio (Roxigénio), Estamos Aí (Jáfumega), Forte & Feio (NZZN), Taxi (Taxi), Salutz (Taxi), Estou de Passagem (UHF), Persona Non Grata (UHF), Ares e Bares de Fronteira (UHF), Ao Vivo em Almada – No Jogo da Noite (UHF), Noites Negras de Azul (UHF) e por aí fora. “Forcei” o nome UHF porque é dos tais que tem uma carreira grande, com discos de ouro e prata, e com muitos álbuns, porém, quem faça uma pesquisa nas lojas, encontra tão poucos disponíveis que até dói… Podia dizer o mesmo a respeito do LP que conquistou o primeiro "disco de ouro" do rock português, dos portuenses Taxi. Paradoxal é que existe a edição do segundo álbum, "Cairo" (inicialmente editado numa célebre lata e reeditado num banal CD sem a dignidade merecida, mas, pelo menos disponível!), não existindo a do primeiro, precisamente, a do maior "fenómeno" musical nacional de 1981!

Com um grande abraço de felicitações ao autor, recomendo, um passeio cultural a http://rockemportugal.blogspot.com/
A crónica, essa, fica para dia 30.
Até lá boa Páscoa e boas amêndoas!

Luís Silva do Ó

16.3.05

Terceira Via II – O Muro dos intermédios

Não que haja uma alegria que me faça escrever de feição, esperançado no pulo da música portuguesa, comprometi-me a escrever e aqui estou.
Olho à minha volta e vejo o mesmo cenário de sempre, apenas mais gasto, ou não fosse o tempo correndo. Novidades, algumas, o endeusamento dos U2, por exemplo. Uma banda de se escrever nome com letra grande, fora de questão, mas vale a pena estar num posto de combustível em condições que nem há trinta anos atrás seriam aceitáveis, a esperar e a erguer as mãos para o céu em espera pela concessão da graça divina da obtenção de um ingresso num concerto?
Os próprios U2 têm traçado uma carreira simples, complexa apenas no que deve ser uma carreira – objectivo firmado sem desvios, fim social, humildade e boa gestão da própria carreira – por isso não permitem a existência de patrocínios nos seus concertos, por isso Bono e os outros são o que são, pessoas do mundo e não querem ser o mundo para muitas pessoas. Imagino a dificuldade que existirá em explicar à banda este endeusamento fora de jeitos. Ainda assim, vi inveja nos meandros de alguns músicos cá do burgo, uma inveja latente, pelo sucesso deles, pela humildade deles – acrescento eu.
No fundo, quando se sente um bichinho a que não conseguimos dar nome, que está presente e nos incomoda, tal pode muito bem ser uma inveja boa, querermos ser melhores, quando assim for, que se avance. Essa é uma das grandes lições que grandes bandas podem dar. As estrangeiras, ou as nossas. Nem só o que vem de fora é bom.
Não pega a desculpa de que a alma lusitana é assim, o triste fado e por aí adiante, o problema deste país, já sabemos, passa pela produtividade, ou falta da mesma, e tão mais grave é porque não se assume que o eu também tem a produtividade a entrar nos vapores da reserva. Mas, esquecemo-nos ainda de outro não menos grave, os cargos intermédios neste país. Muitas vezes, sem incorrer no erro da generalização, temos pessoas e acção espectaculares ou boas -que mais não seja- por parte da nossa malta terra a terra e dos grandes senhores e depois aparecem aqueles técnicos, burocratas, complicadores ou o que lhe queiram chamar nos lugares intermédios da cadeia. É assim nas empresas, nas cooperativas, colectividades e na música. Encontramo-los por todo o lado. Dá-se um mini-poder a essa gente e a sua natural capacidade para a inércia, falta de educação e má gestão, acompanhada por uma enorme falta de altruísmo aí está. Das bandas de música de pouca nomeada, às rádios regionais (nome que prefiro a locais) aos gabinetes de toda e qualquer estrutura. Lá estão esses tontos frustrados, cujas iniciativas, de tão pouco inteligentes, são atentados à própria estrutura em que se encontram inseridos. Ainda bem que, salvaguardados estão os colaboradores das instituições – os tais que estão por vontade, não recebem ordens e só se lhes deve agradecer o seu contributo – escapa alguém. Tudo isto e que mais fosse, para chegar a um ponto. Ao de dizer que as bandas, e tantas boas conhecidas ou quase desconhecidas que temos bem melhor faziam em deixar-se do muro de lamentações que é este e qualquer espaço em que se fale de música nossa. Explica qualquer abordagem psicológica o porquê das vantagens de ver as coisas pela positiva. As nossas intuições também. Os instintos, se é que os temos, deviam levar-nos a seguir em frente, já é feio fazer juízos em proveito próprio e dizer então mal dos que são nossos pares ultrapassa os limites. De que se queixam algumas bandas que são maiores entre iguais, que tocam em festivais, que vão onde outros com igual mérito nem passam da soleira da porta para dentro? Porque se picam uns com os outros e dão resposta a gente mal intencionada que só quer fazer fumo? Tenham calma e cabeça bem assente, a caravana passa.
Têm todos a sua razão – menos na má inveja – não esqueçam é que o tal ditado popular aplica-se aqui, na miséria de recursos materiais em que está a música portuguesa, todos reclamam e- nova adaptação- todos perdem a razão. O ser pequeno, como eu sou, tem estas “porras”, como se diz no Alentejo. Há mais dificuldade em ver para lá da linha dos dois palmos. Quando se vive num mundo de reduzidas dimensões, mesmo a nível de profissão, ao não conhecer como é que os grandes funcionam nunca teremos oportunidade de ser parecidos, iguais, diferentes, melhores e... humildes, por termos o conhecimento de que não o temos na sua totalidade nem o alcançaremos algum dia.
Como é que alguém que nunca orientou uma rádio a sério (os tais cargos intermédios) pode orientar uma rádio mais pequena a sério? Não pode, pelo menos em condições, nem nunca pode ser humilde, porque em terra de cegos quem tem um olho é o rei. Como pode uma banda singrar se são os músicos, sem qualquer tipo de preparação em gestão, que maneiam estrutura financeira e a própria carreira, no intervalo da estrada e do dedilhar em busca de novas composições? O artista gestor de si mesmo? O amor à arte deixa-o ver a razão, escolher o melhor caminho para si mesmo?
É ridículo o cenário das queixas do ter que trabalhar e ganhar para sustentar a música, parece a lamúria das donas de casa, têm de ser mulheres completas, trabalhar, cuidar da casa, ser boas esposas, cuidar das crianças e óptimas amantes, no final de dias mais compridos do que se pode suportar, ou, utilizando uma das minhas frases preferidas, do que é humanamente possível. Cada um escolhe o seu caminho e é senhor do seu destino, as coisas assumidas é que é de se ver. E o pessoal que trabalha tal e qual e à noite vai para casa ver novelas e televisão que estupidifica as pessoas? Estão pior, não é? O que faz a diferença das bandas, das pessoas? É – arrisco eu- a sua capacidade para ultrapassar limites, para terem tempo para tudo menos para lamentos, para serem humildes e ao mesmo tempo, com isso e com toda a sua postura guerreira, conseguir lutar por si, pelos valores que têm crédito no sua ideia, pelos outros e pelo que acham que vale a pena. Se forem ver biografias de bandas à internet têm centenas de receitas que não sendo mágicas, podem tornar-se com o esforço, a não ser que se pretenda reescrever a história no que a formação e conquista de objectivos por parte de uma banda diga respeito. Também tive uma banda. Quando nos levantávamos às quatro da manhã para carregar colunas e mesas pré-amplificadas em carrinhas velhas era porque queríamos e nunca dissemos mal das outras bandas, ou do Governo, já agora. As pessoas devem assumir-se. Há golpes de sorte ou de falta dela, mas com trabalho alguma coisa se consegue, e os outros, são os outros.
Pode dizer-se que as empresas visam o lucro e querem lá saber, que as supostas preocupações sociais são uma tanga para ficarem bem na fotografia, a mim pouco me importa. Se uma delas tem uma iniciativa pela nossa música, estando a usá-la ou não, nem é a mim que me compete avaliar isso. Até prova em contrário é tudo de boa fé. A TMN lançou um concurso Garage Sessions, parabéns pela iniciativa, só não concorre quem não quer. É o mesmo que algumas bandas quando se queixam que não tocam na rádio. Primeiro têm de enviar os discos, não são os locutores que fazem uma cover e depois se explicam a dizer “isto é parecido com o disco ou a canção da banda tal, um disco, pelos vistos secreto e que apenas pode ser ouvido em clubes e casas de espectáculo que ninguém sabe onde ficam e os próprios também não pretendem ver muito divulgados”. Relembro que no espaço de anos, apareceram-me menos de meia-dúzia de trabalhos numa das rádios que fazem bandas e dá cartas. Sintomático.
Fui sentir a música dos UHF a Almada, à Incrível. Resposta afirmativa imediata ao convite do Luís Silva do Ó. Já conhecia o avanço do disco, mas foi diferente, vê-los ao vivo, para um disco pouco rodado foi um concerto muito à frente, a garra está ali toda, a rádio transmitiu para o país e para o mundo, como se costuma dizer. Os Antónios e companheiros de banda não têm problemas em falar na rádio, em dar-nos o disco para tocar. O AMR trata pelo menos tão bem o Atlântico da Antena Miróbriga como a Antena 1, não vê qualquer empecilho em meter-se no carro e ir até à Costa Alentejana para ter uma conversa aos microfones e para ser nosso colega numa patuscada. O disco é bom e está a rodar. Os bons exemplos são para seguir, a humildade derruba muros.

Bruno Gonçalves Pereira

15.3.05

Disco: Tambor – Rádio

Tambor:

Alex – Voz
Fernando Martins – Guitarras/Teclas
Padi – Baixo
Quimze – Bateria

Quem conhece o Fernando Martins, sabe que o coração é bom e as acções também.
É em pessoas honestas e que, simplesmente, fazem o que gostam que me revejo. O colectivo Tambor é assim… honesto. Tocar pelo prazer é algo que se vê nesta gente boa que conheço e acompanho há uns anos.
O primeiro concerto que dei na minha vida com condições foi uma primeira parte dos Ritual Tejo (entre 90/92 não me recordo bem da data). Estávamos na Escola Secundária de Alfragide, e eu tocava (ou melhor tentava tocar) numa banda de garagem, de nome Falso Alarme. Os Ritual estavam no auge da sua carreira com "Foram Cardos, Foram Prosas". As condições eram as melhores (se esquecermos o brutamontes do manager dos Ritual) e lembro-me perfeitamente do Fernando Martins e do Paulo Costa se aproximarem de nós para meterem conversa. Achámos aquilo o máximo, claro! Para uma banda que está a começar, poder falar com alguém que está a viver aquilo que nós queríamos viver é algo de brutal em termos psicológicos. A amizade mantém-se até hoje e esta é uma das coisas por que vale a pena viver e estar na música. Lembro-me de ter voltado a sentir isto, já depois de entrar para os UHF, quando fizemos o Miguel Ângelo ao vivo na RTP, cada vez que encontro o Rui Veloso na Diapasão, quando estivemos em Paris com o Rui Reininho, o Miguel Ângelo, o Janelo e a Viviane ou com os Quinta do Bill nos concertos que já fizemos juntos. União entre as pessoas, conversas, almoços, copos, cumplicidades e amizades que se vão fazendo na estrada, que, apesar de não estarmos juntos todos os dias, permanecem. É por isto que vale a pena!
Os Tambor mostram-nos, neste disco, que evoluíram para o bom caminho. O disco tem boas canções, passando por "Lisboa pra Trás", o single radiofónico deste disco, que deveria ter mais expressão no éter nacional, pois é uma excelente canção, a "Mar Sou Azul", onde a banda entra por caminhos experimentais que me agradaram bastante.
A voz de Alex é o grande trunfo desta banda e isso constata-se em "Balada do Amor Morto", o tema que abre o disco. Fadista sensual a cantar canções pop com originalidade e qualidade, numa altura em que a originalidade é parca em novos projectos nacionais.
Os Tambor são uma banda a ter em atenção. O disco "Rádio" é um disco a comprar (disponível nas lojas Fnac).
Esta banda merece uma melhor promoção e uma melhor distribuição, duas coisas a ter em conta nos próximos trabalhos.
Peço desculpa aos Tambor por ter tornado este texto um pouco mais pessoal do que é costume, mas, afinal… é por isto mesmo que vale a pena!


António Côrte-Real


Contactos:
Concertos – Magic Music 21 238 74 40
Mail – magicmusic@netcabo.pt
Site – www.tambor.net

8.3.05

Limbo

Volto à carga (há quem não me deixe desistir), após um agradável fim de semana musical. Como foi atempadamente noticiado aqui mesmo no Canal Maldito (obrigado Xinfrim), fomos tocar ao Whisky Bar, ali para os lados de Braga... É incrível o que alguma divulgação pode fazer a um pequeno concerto num bar.

A Rádio Universitária do Minho também apostou na divulgação do evento e assim, aquilo que, nalgumas ocasiões é apenas um concerto num bar, ali torna-se um acontecimento devidamente apoiado e que atrai bastante público. É de facto agradável ser-se recebido daquela forma, arrancar para um bom concerto e ver ainda as reacções do público no fim. E é daqui que parto para o que vai ser o meu tema para este mês. É que o simpático público (aos quais adiciono ainda os donos do bar e outros que entretanto se cruzaram connosco), pede-nos um álbum. Surpreendem-se quando lhes dizemos que não temos. Compreende-se. Para quem não está neste meio, torna-se algo difícil conceber que uma banda que passa na rádio não tenha um álbum.

Pois, mas os The FingerTrips não têm. Para espanto de muito do comum e leigo público, essa é a verdade. Parte estratégia, parte imposição, assim o é. Temos dois singles, com um total de três músicas. Todas elas tiveram relativo sucesso e airplay na rádio, servindo-nos de suporte para o que fazemos mais e melhor: concertos!

Porque não um álbum? Porque não podemos! Temos a música, temos os temas, temos a experiência, temos imensa vontade... mas falta-nos o dinheiro. Faltará até o interesse de editoras, pode-se dizer. Mas a verdade é que, na maioria dos casos hoje em dia, as editoras não suportam a gravação do álbum. Pagam por um master ao invés de investir na sua gravação. Passo a explicar. Em vez de uma editora procurar uma banda, em vez de entrar em negociações com a banda, em vez de dizer "gravem um álbum", em vez de estar inserida nesse projecto de criar e gravar um álbum, ainda que com tempos de estúdio limitados, as editoras reclinam-se nas cadeiras e aguardam que uma banda lhes bata à porta já com o trabalho de estúdio realizado. Aí, se lhes agradar, pagam pelo master, trabalha-se o q tiver que ser trabalhado ainda e comercializa-se.

Não há, então, verdadeiro investimento. Não há um trabalho de semear e tratar para mais tarde colher. Há uma espécie de regar, de vez em quando, e pode ser que saiam dali umas couves ou uma macieira, ou quem sabe, uma roseira.

Provavelmente é só a mim, mas isto não me parece o caminho indicado a seguir. Se uma editora não se envolve e se não investe numa banda na altura das gravações, as bandas que optarem por fazê-lo a solo, vendo-se na indisponibilidade de abrir os cordões à bolsa da forma como uma editora o faria, farão um trabalho menos custoso. E se é certo que por vezes se consegue muita coisa com muito pouco, também é mais que verdade que às vezes não há milagres e o que sai é um trabalho aquém do que poderia ter saído. Quem perde? Arrisco: todos. A banda, porque vê as suas expectativas e o que queria de um trabalho defraudado. O público, porque tem uma percentagem do que podia ter em termos de trabalho e qualidade. E as editoras que, sem um produto consistente, de qualidade, suportado, em termos de gravações, promoção e divulgação, vendem apenas uma fracção do que poderiam vender. Seja. Pelos vistos a solução actual agrada a muita gente, quem sou eu para me meter com eles?

Ficamo-nos assim, pelo menos para já, pelos singles. Dois singles, como disse. Três músicas. Mas são três músicas que soam na quase totalidade como aquilo que nós gostaríamos que soasse. Dedicamos-lhes tempo, todo o (pouco) dinheiro arrecadado dos muitos concertos que temos dado. O nosso retorno? A gratificação pessoal. Temos um trabalho com que nos identificamos, feito com o nosso esforço, quase sozinhos. Temos o que outras bandas, com mais anos de estrada e apoio, por vezes não têm. Temos gente a pedir-nos um álbum, que quer mais música. Temos a vontade do público de ter um pouco mais de nós. Temos concertos como este último, no Whisky Bar. Temos a crítica, que parece, volta e meia, ir acertando quando diz que somos uma originalidade disfarçada de plágio, uns falsos diletantes, uns falsos desinteressados... mas senhores de uma genuína entrega em cima do palco. É isso que queremos ouvir. Foi isso que ouvimos, ainda este sábado.

O futuro? Dependerá do retorno de próximos concertos, da nossa capacidade de trabalhar à noite, depois do pica miolo, e fazer mais músicas, trabalhando-as. Com sorte e algum esforço, aliados a um qualquer empurrãozinho, procuraremos gravar algo mais ambicioso. Na falta disso, provavelmente seguiremos pelo mesmo caminho. Mais um single, mais uma, duas, três músicas. Algo que fique para nós, algo que possamos oferecer ou vender a um preço simbólico a quem vai aos concertos ou a quem cusca por nós na web. Algo que mantenha interessado o público e que sirva de apelo a comparecerem nos concertos.

A alternativa? De momento, a única seria hipotecar o futuro da banda. Ter uma editora a custear-nos um disco, talvez, mas ver-nos na obrigação de dar 10, 20, 30 concertos agendados por esta, com os lucros para esta. E de momento, até por questões profissionais, é-nos impossível ter datas atribuídas sem hipótese de renegociar ou adiar.

O presente? Um limbo. Uns degraus acima de muitas bandas que por aí andam. Estivemos lá, sabemos o que passam, o que representa um concerto, dois... Sabemos o que é fazer uma música do zero, sabemos o que é ter a primeira vitória numa carreira. Sabemos da importância das pequenas coisas que outras bandas não se apercebem. Estamos uns degraus acima desses. Noutra divisão, seja. Mas falta-nos um derradeiro passo para subir um andar inteiro. Para subir de divisão. Estar no mercado. Ter um álbum à venda. É tudo muito bonito, são todos muito amigos, mas chegados a esta questão, as coisas são lineares. Ou se tem ou se não tem. Nós não temos. Talvez nunca venhamos a ter. E por agora, nada mais podemos fazer que esboçar um sorriso e um rabisco sobre a capa de cartão que envolve o último single, quando confrontados com a tal pergunta. O público compreenderá.


PS - Este mês tinha pensado escrever sobre outra coisa... fica ainda assim uma achega. Falo do preço da cultura. Como alguns saberão, saiu esta semana o novo livro do escritor Dan Brown, "Anjos e Demónios". Um livro que no Brasil custa o equivalente a 4 euros, um livro que, em Inglês, o original (e podem encontrá-lo em algumas lojas cá em Portugal) custa 8 euros... é o mesmo livro que, na sua versão Portuguesa custa a pouco módica quantia de 16 euros. Talvez a crueza dos números e da matemática suscite algum comentário a alguns... a mim resta-me a surpresa e a revolta.

7.3.05

Novidade dos UHF

Enquanto não nos chegam os novos textos de António Côrte-Real e de António Manuel Ribeiro podemos aproveitar para conhecer um pouco do próximo trabalho "Há Rock no Cais". No "ponto de escuta" criado no site encontramos 8 excertos de temas do novo disco a ser editado proximamente.

MUSA#7 - Envio de maquetas

A partir do dia 1 de Março até dia 29 de Abril, as bandas interessadas em participar na 7ª edição do Festival MUSA, devem enviar as suas maquetas - com pelo menos 4 músicas - em formato CD, para Rua José Carlos Ary dos Santos, Lt. 57, 1º Dto., 2775-590 Carcavelos (recomenda-se que consultem o regulamento).

As inscrições estão abertas a todas as bandas amadoras de todo o país e de todos os estilos musicais, com disponibilidade para actuar nos dias 1 e 2 de Julho em Carcavelos. O resultado da selecção de bandas será divulgado no nosso site pela organização no dia 16 de Maio.

De forma a dar um maior apoio às bandas nesta fase de envio de maquetas, a Câmara Municipal de Cascais em parceria com a Criativa abre as portas do projecto "Armazéns de Sons". Esta iniciativa permite a todas as bandas gravarem a sua maqueta num estúdio profissional de som com uma promoção muito apelativa - nas primeiras 15 horas de gravação as bandas dispõem de um desconto de 50%, ficando a utilização do estúdio a 5 euros por hora. Para ficares a saber mais informações clica aqui.

Regulamento em:
www.criativa.org

Mais música nacional!

"A Minha Fender é Melhor do que a Tua!"

(De Segunda a Sexta entre as 14h e as 15h)

Radio Universitária do Minho (Braga) 97.5 fm

OS 20 TEMAS MAIS TOCADOS NO MÊS DE FEVEREIRO 2005

* Umpletrue - Pink Eyes
* Pluto - Sexo Mono
* Humanos - Na Lama
* The Astonishing Urbana Fall - Hearsay Evidence
* Bandex - Chico Bam Bam
* The Gift - You Know
* Funami - Happy Dog
* Umeed - The Pretender
* Hipnotica - Hell's Kitchen
* The Symphonyx - Winter Fall
* Ölga - Money
* Jorge Cruz - Adriana
* Dead Combo - Cacto
* Mão Morta - Sobe, Querida, Desce
* Expensive Soul - As Minhas Palavras
* Snuffle - Shine
* Wray Gunn - All Night Long
* Complicado - For You To Dance
* Human Cycle - Thrilling Ride
* Quinteto Tati - Um Fado Qualquer

por: Vitor Pinto

Contactos: fender@tugamail.com ou Apartado 557 * 4750 Barcelos

6.3.05

Santos da Casa prepara compilação online

O Santos da Casa - o mais antigo programa de rádio inteiramente dedicado à música portuguesa - está a preparar uma compilação que vai comemorar os 19 anos da Rádio Universidade de Coimbra com 19 temas de bandas/artistas. Esta compilação vai estar mais tarde disponível na página da RUC para download.

As bandas ou os artistas a título individual devem enviar dois cd’s com música, junto com fotos e biografia ambos em suporte digital para:
Apartado 4053
3031–901 Coimbra
O prazo termina a 15 de Abril de 2005.

A partir do momento em que a compilação estiver online na página da RUC, vai ser aberta uma votação para o melhor dos temas, ao longo de dois meses. As 3 bandas mais votadas vão depois ser convidadas a tocar no mítico corredor da RUC, sendo o concerto transmitido em directo pelo Santos da Casa e disponibilizado também ele futuramente na página da Rádio Universidade de Coimbra.
Santos da Casa: Diariamente entre as 19h e as 20h na antena dos 107.9FM, Fausto Silva e Nuno Ávila numa viagem de uma hora pela música portuguesa.

http://santosdacasa.blogspot.com

Mais informações: santosdacasa@ruc.pt

2.3.05

Quero crescer mas não tenho espaço.

Lisboa. Capital das decisões, do emprego ou da falta dele, das ilusões e do lazer, dos negócios e da cultura, capital de um país onde tudo se passa e onde o tudo sabe tanto a pouco. A música moderna portuguesa assiste, infelizmente, a um vazio crescente, ao fim de um misticismo próprio que desde os anos 80 a rodeou tornando-a apelativa, curiosa e viva. Os rituais de um qualquer dia, que cercavam os "apaixonados" e os conduziam a lugares mágicos de criação, deixaram de existir. A proximidade entre as luzes da ribalta e os seus aspirantes acabou, tornando o fosso ainda maior. Estou a falar, claro, de sítios como o "Rock Rendez-Vous" ou o "Johnny Guitar", exemplos mais gritantes da cultura rock urbana nacional. Tenho saudades da frequência com que ia ver um concerto de uma banda do Porto, outra de Coimbra, uma de Almada ou de Setúbal, dos contactos trocados, dos jantares com a "malta" antes dos concertos, dos grupos de amigos à porta para entrar, dos charros feitos em vão de escadas, das conversas sobre música, da "vedeta" que subia a rua e cumprimentava um de nós por sorte. Sinto falta das salas escuras, do palco pequeno, da expectativa e do nervosismo, dos punks e dos metálicos, dos vanguardas e dos betos, da crítica e das palmas, tudo misturado sem se saber muitas das vezes a quem atribuir rótulos. Essa pluralidade era rica e motivava. Apesar dos escassos locais sentia-se que algo fervilhava, que o interesse era grande e que o sonho que cada um de nós tinha valia a pena ser alimentado. Hoje em dia, o que é que temos? Bares e bares, ao lado uns dos outros, a servir as mesmas bebidas, a vender o mesmo tabaco e a alimentar poses e vaidades às mesmas pessoas. Nada de novo. Bandas de originais? Nem pensar, afasta a clientela, dizem. E como assim acontece nesta bela localidade à beira-rio plantada, resta a quem ainda gosta realmente de criar música, de fazer rock, resignar-se às salas de ensaio e aos concursos utópicos de música moderna portuguesa que dão direito à primeira parte, ao palco secundário do festival XPTO, ao contrato discográfico que fica na gaveta ou ao anúncio para vender telemóveis. É assim que se quer fazer carreira? É incrível que não haja uma única sala de espectáculos em Lisboa dedicada à música moderna portuguesa, gerida por pessoas credíveis, que possa seleccionar, calendarizar e receber bandas de todo o país, um sítio que servisse de montra aos críticos, ao A&Rs, aos managers, aos homens da rádio. Um espaço onde as pessoas se pudessem conhecer, trocar ideias e maquetes, falar de música, dos problemas e das soluções. Em Lisboa, existem centenas de espaços vazios à espera de dias melhores que poderiam ser aproveitados em prol dos jovens, da cultura, da música. Derrapagens de milhões de euros em "casas da música" e afins, para além de revelarem incompetência, são autênticos travões ao desenvolvimento de largos milhares, onde me incluo, que gostavam de crescer. Mas infelizmente, parece que não há espaço para nós.

Ulisses

The FingerTrips - Ao Vivo

SÁBADO, 5 DE MARÇO 23.00H
WHISKY BAR PRADO – BRAGA


Depois do bem sucedido single de estreia, "Mr.Freddy" que levou a banda a colocar-se no meio da nova música portuguesa, bem como a percorrer palcos do norte a sul do País, os THE FINGERTRIPS acabaram o ano de 2004 com o lançamento de um novo single promocional.

"Whisky" o tema escolhido continua a reflectir toda a atitude da banda... uma excelente e contagiante música feita a pensar na diversão de quem ouve... uma melodia e execução talhada para sorrir... para dançar... para sentir o corpo a balançar.

No próximo sábado dia 5 de Março, este tema entre outros fará parte do espectáculo a apresentar no WHISKY BAR, em Vila do Prado – Braga e as primeiras 20 pessoas a comprar bilhete serão contempladas com o referido single.

1.3.05

Noites Bastardas – Real Feytoria

Março 2005

Alvaro Costa (Dj Set) – Sexta 04 Março (00.30)
Same Size (Acustico) – Sabado 05 Março (23.00) – Jovem trio de Riba D´Ave em busca da cover perfeita.

Sinergias Xoné (Dj Set) – Sexta 11 Março (00.30)
Funky Fever – Sábado 12 Março (23.30) – Colectivo praticante de versões electro-soul-disco-funk para fazer a noite bulir!!!

Boite Zuleika – Sábado 19 Março (23.30) – Foram os vencedores do concurso para
novas bandas organizado pela Antena 3. O disco esta aí...cuidado com cão!

Orangotang - 25 de Março (23.30)
Depois do EP «Factory Songs», este grupo de Mondim de Basto praticamente de um
pop-rock certeiro, apresenta-se no Real para desvendar material do novo disco
prestes a ser editado.

Half Baked - 26 de Março (23.30)
"No Brain Punk Party Rock"...pela primeira vez na Invicta um colectivo de Paços
de Ferreira que promete uma real grande festa de punk rock.

...be there, be REAL!!!


Isidro Lisboa