15.12.05

O Marreta

Antes que comecem as especulações, intrigas e violentas discussões na secção de comentários, que fique claro que, neste quintal bloguista, o marreta sou eu. Raramente me engano, muitas vezes tenho dúvidas e costumo ser perfeccionista. Umas vezes ganho, outras perco e faço “os possíveis” para não ficar na mesma… A monotonia é uma coisa chata… O silêncio a que me remeti nestes meses – a última contribuição remonta a 9 de Abril – deveu-se a desafios pessoais cujos resultados estão encriptados na frase anterior e que me absorveram sobremaneira a partir de meados desse mês libertador. E de política estamos conversados porque o tema deste blogue é “música, música e música”. Portuguesa e da melhor, claro, seja lá isso o que for para cada um de nós. Para nunca perder o fio à meada, costumo passar pelos jardins do Palácio de Cristal em fins de Agosto de cada ano. Sobretudo, nesta fase em que não temos nenhum Johnny Guitar na capital…

Chegados a este segundo parágrafo, pergunto se alguma coisa mudou nestes meses? Aparentemente, poucas coisas mudaram. O meu leitor de sala (DENON CDR-1000) continua a não conseguir ler CD’s com tecnologia anti-cópia (aspecto muito negativo), as vendas das editoras mantêm a espiral de descida (outro mau sinal), os grupos consagrados continuam a esgotar Coliseus (felizmente este ponto é bom!), as bandas novas continuam a não ter espaços de música ao vivo em quantidade e qualidade (o que é péssimo) e as rádios permanecem de costas viradas para apostas generalizadas em música nova e em programas de autor (onde é que já escrevi sobre isto!?).

A entrada da Prisa na Média Capital irá mudar alguma coisa?
Não faço a mínima ideia, contudo, alguma coisa vai ter de mudar na rádio em Portugal, senão um destes dias acordamos e a “novidade musical” é a “Rosinha dos Limões” de Artur Ribeiro, compassada com algum furo noticioso acerca do Nobel de Egas Moniz ou do Mundial de 1966…

Os problemas dos novos projectos musicais permanecem e poucas saídas parecem existir enquanto não se constatar que estamos perante uma nova realidade. A realidade das editoras com estruturas pesadas tende a desaparecer e as receitas da venda de discos físicos também tem tendência para se tornar tão residuais como as vendas actuais do vinil. Para coleccionadores, profissionais ou viciados como eu. Todavia, mesmo eu, começo a estar menos viciado em comprar discos que, depois, não podem ser escutados no meu leitor, mas que conseguem ser copiados em qualquer PC e se encontram disponíveis em qualquer sistema de partilha de ficheiros P2P.

Para descobrir o futuro basta compreender e saber perspectivar o que o presente nos mostra.
A montra do presente está bem recheada, sendo rica na vertente digital, incluindo a possibilidade de compra de músicas no formato mp3. Além da aquisição de toques para telemóveis (um excelente negócio já com taxas de implantação significativas), a compra de temas em formato digital a baixos preços tem enorme margem de crescimento e consolidação. E as novas bandas têm uma oportunidade única, com possibilidades promocionais à escala mundial, mediante uma simples aposta na distribuição da sua música de forma gratuita, livre e legal. Aliás, como muitas já fazem… umas mais novas, outras nem tanto.

As editoras vão-se lentamente adaptando aos novos tempos com o lançamento de diversos pacotes promocionais. No futuro, creio que terão de alargar horizontes e, entre outros produtos, apostar em força na comercialização de merchandising. A diversificação pode, também, passar pela prestação de serviços de promoção e distribuição a bandas que assumam as despesas de gravação dos seus trabalhos. O management e agenciamento podem ser a próxima etapa a ser conquistada pelos grupos económicos que detêm as editoras – zonas de negócio lucrativas e sem possibilidade de se tornarem “pirateadas”.

O disco vai ser, cada vez mais, um meio e não um fim em si mesmo.
Vai ser o meio para promover a banda e para vender digressões, exclusivos e merchandising. E não tarda, para que na manhã enevoada de um dia qualquer, acabe por chegar o momento em que as rádios vão ter de pagar algo mais aos artistas e às editoras do que meros direitos de autor…

Próximo do final desta crónica, nada como manter que o “marreta sou eu”, mas esclarecer que o título pretendia ser mais apelativo do que real… Ao longo de 2 anos de blogue, todos nós que por aqui escrevemos e comentámos tivemos um pouco de “velhos dos marretas”. O que foi óptimo porque gerou amplo debate e reflexão. Tudo no bom sentido, como diria o outro…

Depois de meses de silêncio, vamos fazer “barulho”?


Nota: Deixei de conseguir contactar por email com alguns dos colegas cronistas. Querem fazer o obséquio de me indicarem os vossos contactos actuais? O blogue precisa de todos e de mais alguns.


Luís Silva do Ó