29.6.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 26/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 11 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

1º O MUNDO AO CONTRÁRIO (PR) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
2º RE-DEFINIÇÕES (PR) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
3º UM AMOR INFINITO (PR) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
6º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
13º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
15º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
16º AI MOURARIA - AMÁLIA RODRIGUES (EMI/EMI-VC)
17º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS (PR) - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)
25º PORTUGAL - CONQUISTAR A VITÓRIA (VIDISCO)
27º SUPER DRAGÕES PORTO CAMPEÃO 2004 - SUPER DRAGÕES (VICIO MUSICA/WARNER MUSIC)
30º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

28.6.04

Disco: Fonzie – Wake Up Call (Movie Play 2004)

Uns amam-nos, outros detestam-nos…Uma coisa é certa, esta banda não passa despercebida!
Os Fonzie representam, para mim, tudo aquilo que escrevi nos textos anteriores sobre os Aside e Easyway (consultar textos). Não quer dizer que sejam melhores, nem sequer que sejam piores! Resumidamente: quer dizer que existem, que trabalham como ninguém, que têm qualidade e que andam a esforçar-se ao máximo pelo seu sonho! Esta banda é tudo aquilo que as outras duas são, levado ao extremo. Extremo esse, positivo nuns aspectos, menos positivos noutros…
Os Fonzie sabem o que querem e têm objectivos bem traçados. Rock mainstream a cair no punk, meio rebelde, meio betinho… é aqui que surge o primeiro aspecto menos positivo! Os rapazes tocam bem, têm bom som, boas canções com refrões orelhudos… mas a procura da perfeição tira-lhes o que deveriam ter em rebeldia pura!
Um pouco de Sex Pistols, The Clash, Ramones, Censurados ou Peste&Sida recomenda-se (como exemplo, claro!), projectos com uma atitude punk anárquica ou anti “qualquer coisa”…
A evolução da banda é notória e a aposta em guitarras consistentes e poderosas agrada-me profundamente. O single “Gotta Get Away” é uma perfeita canção MTV, um perfeito single de verão e acredito que, se houver uma aposta radiofónica forte nesta canção, esta banda pode vender a sério em Portugal. O disco está muito bem estruturado, consistente em todas as suas canções, dando para perceber a preocupação da banda em fazer um disco bom do princípio ao fim!
Acredito que este “Wake Up Call” possa ser a porta para uma internacionalização massiva deste projecto que, no disco anterior, já deu um ar da sua graça em países como Brasil, Japão, EUA, Canadá e um pouco por toda a Europa.
Que tudo corra bem na carreira já internacional dos Fonzie, esperando que, com este trabalho, despertem a atenção de uma multinacional com poder de promoção e distribuição a nível mundial. Esta banda pode ir longe!
Podem fazer uma escuta em http://www.fonzietime.com .
“Wake Up Call” recomenda-se!
Força!!!


António Côrte-Real



Contactos:
Site: http://www.fonzietime.com
Contacto banda: fonzie@fonzietime.com
Contacto para concertos : agencia@lisboagencia.pt e andreia.guerra@lisboagencia.pt

Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade

22.6.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 25/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 11 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

1º O MUNDO AO CONTRÁRIO (PR) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
2º UM AMOR INFINITO (PR) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
4º RE-DEFINIÇÕES (PR) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
6º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
12º SUPER DRAGÕES PORTO CAMPEÃO 2004 - SUPER DRAGÕES (VICIO MUSICA/WARNER MUSIC)
14º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
22º AI MOURARIA - AMÁLIA RODRIGUES (EMI/EMI-VC)
23º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS (PR) - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)
25º PORTUGAL - CONQUISTAR A VITÓRIA (VIDISCO)
27º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
28º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

15.6.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 24/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 9 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

1º O MUNDO AO CONTRÁRIO - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
2º UM AMOR INFINITO (PR) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
4º RE-DEFINIÇÕES - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
8º SUPER DRAGÕES PORTO CAMPEÃO 2004 - SUPER DRAGÕES (VICIO MUSICA/WARNER MUSIC)
9º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
13º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
25º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
27º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
30º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS (PR) - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

14.6.04

Vamos combinar uma excursão a Espanha para ir comprar música!!!

Algum tempo antes de Portugal aderir à União Europeia (UE), foi lançado pelo Governo de então uma campanha para estimular a compra dos produtos portugueses. A frase mais marcante de toda a campanha era "o que é nacional é bom". Ora, infelizmente, no que se refere ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), este não é nacional, nem bom, nem bem aplicado.
Vejamos o caso português: quando se fala de impostos todos nós nos lembramos da bandalheira que é o sistema fiscal em Portugal, muita gente não paga a horas, outros optam mesmo por não pagar e outros ainda arranjam “esquemas” para não ter que pagar nada ou não declarar aquilo que realmente possuem ou rentabilizam anualmente.
É verdade também que o IVA em si não é um sistema perfeito, mas é razoável (dependendo do ponto de vista, claro…).
E também é verdade que foi desenhado para contribuintes e Estados cumpridores, e os portugueses não o são (sinceramente acho que nunca o serão…).

Mas aqui a questão de fundo é sem dúvida a luta que alguns travam - tiro o chapéu à francesa Fnac por isso, e não por outras coisas (essa discussão fica para outra altura) - para se baixar o IVA no preço da música.
Contudo, face à abismal diferença que se propõe (alteração de 19% para 5%), aquilo que todos esperam é uma significativa redução do preço final. Mas será que isso vai acontecer ?? Será que alguns não vão aproveitar esta situação para aumentar a margem de lucro ? E será que as bandas vão receber mais dinheiro ou outros incentivos dessa mesma margem ? E os preços dos espectáculos irão baixar ? A pirataria vai diminuir ?
Estas e muitas outras questões se colocam, até porque, segundo dizem muitos especialistas, aqui quem vai perder é o Estado e quem vai ganhar é o consumidor final. Claro que coloco todas estas questões, porque nos encontramos em Portugal, o país onde muita coisa se faz e acontece, mas só nos papéis…

Ah… pois é… e mais uma vez os nossos vizinhos espanhóis continuam a bater-nos aos pontos em quase tudo (só espero que no futebol isso não aconteça…) e desta vez foi na questão do IVA nos produtos culturais.
No ínicio do mês de Maio, a ministra da cultura espanhola, Carmen Calvo anunciou que o IVA sobre todos os produtos musicais vai baixar de 16% para 4%. “Ao baixar o IVA para 4%, os produtos musicais contribuem para que paguemos os bens do nosso país”, sustentou a ministra, acrescentando que assim “os cidadãos compram cultura e os criadores podem viver da profissão”. Acho que precisamos de ministros com esta visão, ou pelo menos que vejam que a cultura cada vez mais é para uma classe alta (e não é só de música que aqui se trata, se analisarmos a questão bem a fundo), enquanto que a maioria da classe média (e esta é a maioria da população portuguesa), opta pela Internet, até porque é mais barata e muitas vezes mais acessível.

No resto da Europa sabe-se que o governo francês continua de pedra e cal na defesa da sua tese quanto à redução das taxas de IVA para 5% nos discos de música, ou seja, equilibrar a taxa comparativamente com os livros.
Desde o final do ano de 2002 que uma delegação do executivo francês está a exercer pressão sobre os vários Estados membros da UE no intuito de se proceder a esta alteração.
Sinceramente é aqui que encontro uma esperança para Portugal, isto é, seja publicada uma daquelas directivas europeias em que obrigatoriamente todos os estados membros tenham de passar das palavras aos actos. Também é certo que o alargamento da UE vem complicar a situação e países como a Dinamarca e a Suécia (com um poder de compra que todos sabemos!!!) estão contra a redução do IVA.

Entretanto, e enquanto os nossos políticos nada fazem a este respeito, seja cá ou em Bruxelas, acho mesmo que o melhor é irmos todos para Espanha…atestamos o depósito do automóvel, compramos uma Sagres (bem mais baratas!!!) e aproveitamos para adquirir uns dvds e uns discos de música…

Orlando Angelino

11.6.04

In Vivo: The Great Lesbian Show

Curiosamente, ao contrário dos outros textos do “In vivo” que escrevi, este parece não querer ser! Só assim explico as muitas e infrutíferas tentativas para obter um resultado fiel e coerente. Mas, acontece!... E não é por acaso!
Até agora escrevi sempre sobre espectáculos, que de uma forma ou de outra, conseguiram despertar sensações e ideias adormecidas, experiências envolventes que revelaram matizes distintas da música que dimana em Portugal, em tons harmonizados. A minha última experiência foi um encontro com uma realidade dissemelhante. Um encontro estreito mas ausente, um formato abstracto em cores indistintas, o flagrante com um paradoxo desconexo. Não gostei do todo, mas não desgostei de uma ou outra parte. E na perplexidade em que dei por mim, esvaziei de ideias e sensações. Fiquei sem palavras!
Era Sábado. Maio. Fui até ao Maus Hábitos. Porto, Rua Passos Manuel. O programa era “The Great Lesbian Show”! Tinha tido oportunidade de ouvir alguns temas na R.U.M. (Rádio Universitária do Minho), e o género era-me simpático. Também já tinha lido alguma coisa sobre esta formação ainda que não me lembrasse já o quê. Tinha curiosidade… um argumento só por si convincente… Fui!
The Great Lesbian Show! O nome combina com a banda no ponto de ininteligibilidade entre as partes! O nome sugere o aparato que na prática se encontra entre a extravagância lunática de uma joaninha de tule (foi assim que a vocalista se apresentou!) e a crueza indumentária de outros (o resto da banda exibiram-se na mais vulgar representação do transeunte). Mas a colisão encontra o seu mais auspicioso ponto no “desmascarar” de Ondina (vocalista), que se “despe” nos intervalos entre os temas, em que fala com o público, e deixa ver a mulher, vulgar, com rugas, que veste a maquilhagem e as loucuras de um personagem excessivo. No primeiro desses momentos, a credibilidade da transfiguração sucumbe, e o resto da peça aparece-me como o palco para a extravagância desmesurada de alguém vulgar que reclama atenção!
Não fiquei persuadida da verdade alternativa hiperbólica que o projecto tentou afirmar. Mas…o projecto tinha o seu “je ne sais quoi”! E uma apreciação, diria que é inevitavelmente influenciada por inúmeras circunstâncias, endógenas e exógenas, que revelam sempre um bocadinho do sujeito (o “eu”!... Que não estava nos seus melhores dias, confesso!) Mas… não me senti envolvida pela música, nem pela performance, nem sequer pelo parco público que fluía meio hesitante…
The Great Lesbian Show passeiam por ritmos inconstantes, mas monotonamente repetidos. Percorrem temas que exaustivamente galanteiam fórmulas conjecturáveis (como a alternância quase maquinal entre as duas vozes, feminina e masculina). Vozes que gritam até ferir os ouvidos de um corpo cansado… o som de cornetas que se impõem violentamente nas dores de cabeça latejantes… a alienação brutal dos sentidos que se lembram de cada nota, e a querem desesperadamente render ao esquecimento tranquilo.
The Great Lesbian Show são uma história de dificuldades e de alguns azares (comuns a quase todas as histórias), com um passeio melindroso por palcos “de luzes”, que um dia espero rever com outra predisposição (das duas partes!).
The Great Lesbian Show são um produto actual! São show virtual (o show acontece! O show é inconsistente!) São música dançante, estonteante, deambulante! São qualquer coisa de “unseeing”, e talvez por isso, sem aconselhar, não me atrevo a contra-indicar! São uma estrutura frágil, que se afirma forte! São a contradição de qualquer fórmula, a excepção a toda a regra!
A música é um “universo” complexo! Há sempre um desnível onde tropeçamos, uma realidade que nos surpreende… Para o bem, para o mal… E quem GOSTA de música, vive a permanente angústia de “querer estar”, mesmo quando as “imperfeições” laceram pedaços dessa dimensão de existência!

Walkgirl (o walkman fica em casa!)

8.6.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 23/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 9 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

1º UM AMOR INFINITO (PR) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
2º O MUNDO AO CONTRÁRIO - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
4º SUPER DRAGÕES PORTO CAMPEÃO 2004 - SUPER DRAGÕES (VICIO MUSICA/WARNER MUSIC)
5º RE-DEFINIÇÕES - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
8º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
12º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
22º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
28º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
30º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

4.6.04

Tocar para aquecer?
Não obrigado. Está muito calor.

Hoje não é apenas mais um dia, é dia de concerto.
Despacham-se os afazeres profissionais num ápice e dá-se a desculpa da consulta do dentista.
É preciso sair mais cedo.
À excepção do colega da frente, ninguém desconfia.
A ansiedade de chegar, o nervoso miudinho e a vontade de pegar na guitarra e de libertar o stress são enormes e o tempo, esse, passa a correr. O encontro com os colegas de banda dá-se pouco minutos depois e a boa disposição é visível na cara de todos. "Hoje é o melhor dia da semana".
Fazemo-nos à estrada com uma paragem na estação de serviço para atestar a carrinha de gasóleo e as barrigas de cerveja e seguimos caminho.
Ao chegar ao local deparamos com uma casa semi-abandonada, no meio do nada, e um grupo de jovens ostentando garrafas de vinho na mão por entre nuvens de fumo previsíveis. Tudo normal.
Descarregamos o material, montamos as coisas no palco e tentamos fazer som. O técnico de palco, visivelmente embriagado, dá instruções surreais ao técnico de frente que mais parece um dactilógrafo em frente a uma máquina de escrever do século passado, rodeado de cabos soltos e partidos, por todos os lados. A coisa promete. Sem paciência para mais, damos por encerrado o ensaio. Está bom, dizemos nós. E seja o que Deus quiser.
Mais tarde, alguém nos diz para irmos dar uma volta ou então esperarmos no local, que o jantar vem duas horas depois. Isto porque aceitámos jantar por lá, por forma a não encarecer as despesas de quem nos iria pagar o cachet. Somos uns gajos porreiros.
Esperámos no sítio, bebemos umas cervejas, conversámos. Inexplicavelmente, minutos depois, a casa "semi-abandonada" estava abandonada por completo, de portas abertas no meio do nada, à disposição de mentes menos voluntariosas e honestas. Marcámos território e não arredámos pé. Sempre tínhamos uns milhares de contos em cima do palco.
Quase três horas chegou o jantar, colocado em cima de uma bancada de uma sala desarrumada, poluída por mesas e cadeiras sujas e partidas, espalhadas aleatoriamente pelo espaço. Sem toalhas nem guardanapos encontrámos uma pilha de pratos, talheres com ar duvidoso e dois tachos: um com massas e outro com tortilhas de aspecto nojento. Sirvam-se. Foi a palavra de ordem. Olhámos para o interior e nem queríamos acreditar. Eu só pensava nas panelas de massa de carne tenra e legumes que a sortuda da minha cadela pastora alemã desfruta todos os dias em minha casa e que, comparadas com aquilo, eram manjares de deuses. A fome perdeu-se e só mesmo a vontade de tocar e de fazer aquilo que mais gostamos nos conseguiu segurar.
Fizemos o concerto, o som estava mau, quem lá estava gostou e recebemos o cachet, que apenas deu para pagar as despesas. Bebemos uns copos para afogar as mágoas e fomos embora com a sensação de que nada tínhamos acrescentado à nossa carreira.

Conclusão: Infelizmente, situações destas acontecem quando as hipóteses de tocar são poucas e se tem de optar pelo circuito alternativo, dos bares, de associações. E sem querer generalizar, é triste é ver algumas pessoas proclamarem-se "beneméritos" e de trabalhar sem receber em prol da música, terem a coragem de receber os outros em "suas casas" de uma forma vergonhosa que demonstra falta de respeito e, acima de tudo, de profissionalismo. Na minha casa recebo quem eu quero, e faço tudo para que as pessoas se sintam bem e que saiam de lá com vontade de voltar. Não precisávamos de camarins, de um jantar de 5 contos por pessoa, de um P.A. de 300 contos, mas sim de um técnico de som empenhado no seu trabalho, de um frango assado ou de uns bifes com batatas fritas de pacote, 1 pão de quilo e uma mesa posta e limpa. Para 6 pessoas. Dá assim tanto trabalho? É pedir assim muito? Eu acho que não. Os músicos abdicam do seu tempo, arranjam problemas nos locais de trabalho para fazerem aquilo que mais gostam e depois acontece isto. Tocar para aquecer? Está muito calor. Mais vale umas imperiais numa esplanada e uns belos caracóis.


Ulisses

In Vivo: Renderfly

Castelo da Maia. Foi muito fácil encontrar o Tertúlia Castelense... E pensar que, o não conhecer, tantas vezes foi desculpa para não ir até lá!... O Tertúlia Castelense é a casa dos nossos avós que foi recuperada para acolher um ambiente sóbrio e cálido, onde a música acontece! Fui ver Renderfly! A banda certa, no lugar certo! Uma sonoridade que se coaduna com este espaço numa simbiose excelente!
O primeiro impacto é sempre diferente e especial... Todos os recantos surgem como uma brisa nova, e as cores, as texturas, as formas, surgem reveladoras dos espaços intermoleculares que os nossos movimentos respiram...
Os Renderfly sobem ao palco perto, muito perto da meia-noite e abrem o concerto com a radiofónica “Fallen Star”, incluída na compilação PopUpSongs. O desempenho é de quem conhece bem o chão que pisa e apenas a queda monotonia dos temas adormecem o corpo e permitem ao espírito a evasão da mística que as melodias sustêm. A monotonia que noutro lugar qualquer incitaria ao abandono, ali faz sucesso!
Os temas sucedem-se, exibindo a cumplicidade de um álbum, “Beyond Because”! Na voz, Andrew Terrence, canadiano. Mais alguém que se rendeu ao nosso país... Não se cansa de conversar com a audiência. Fala em inglês e sorri feliz! Às vezes, numa fracção de um ou outro tema, desafina. Mas, ninguém se parece importar com isso!! Eu também não me importo... Os olhares perdem-se em pensamentos, outros fixam atentamente os gestos da banda, a música pende sob o tecto, branco, esmaltado. De vez em quando solta-se um “flash” que interrompe a escuridão ténue da sala. Nada parece interferir na “viagem” que fazem...
A música são melodias sinceras… Ar puro, verdes de todas as qualidades, terra... flores campestres no seu habitat, ou num ramo que se colhe num ímpeto para oferecer a alguém querido... Paisagens naturais de um lugar qualquer, que nos olha do painel divisório, num cartaz vivo! O ambiente contudo, é bem diferente... É uma sala ampla, com mesas redondas e cadeiras de outras gerações. Emana humanidade... talvez pela candura intemporal do cenário a combinação resulte tão eficaz!
Renderfly é “soft-rock”, transparente, cálido… A formação compõe duas guitarras, baixo e bateria. Um clássico! Na parede que fica por detrás das costas do palco projectam-se imagens e o logótipo da banda, um recurso corrente nos concertos. Fica bem!
Confesso que não fiquei até ao fim e por isso não sei o fim da história... Custou-me abandonar o serão de tertúlia, a sala com a “família” reunida, a minha cadeira vaga, a caneca de sangria vazia (outro excelente argumento para passar por ali!!)...
Não há muito para descrever sobre o concerto, não há segredos a desvendar... Não há aparatos! Não há “glam-show”! Não há euforias nem intrigas.... Podem acontecer bocejos, mas não são de aborrecimento! São de cansaço acumulado que não se esconde... a sinceridade impõe-se naturalmente! A familiaridade pleonástica é intrigante num lugar que nunca antes pisamos…
Foi mais um concerto para guardar na recordação! Uma experiência que mais uma vez partilho... e guardo... em sensações desinteressadas, pormenores invisíveis, que as melodias despoletaram nos desenhos de um momento meu...
Se a procura por novas sonoridades é fundamental, também é importante que o clássico permaneça! Se a euforia é excitante e convida ao cansaço, a placidez das águas calmas é a panaceia revigorante para a nota seguinte...
A música é tanto mais poderosa quanto mais intensamente permitimos aos nossos sentidos o envolvimento... So, let them be!! :-)

Walkgirl (o walkman fica em casa!)

2.6.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 22/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 8 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros, destacando-se as entradas directas para o segundo e terceiro lugares: Da Weasel e Xutos & Pontapés, num pódio totalmente português!

1º UM AMOR INFINITO - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
2º RE-DEFINIÇÕES - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
3º O MUNDO AO CONTRÁRIO - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
8º SUPER DRAGÕES PORTO CAMPEÃO 2004 - SUPER DRAGÕES (VICIO MUSICA/WARNER MUSIC)
10º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
15º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
17º ROSA CARNE - CLA (CAPITOL/EMI-VC)
26º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

1.6.04

Pop in Rio

Numa semana em que tanto se fala de grandes festivais, julgo ser pertinente fazer aqui uma pequena análise…
Estamos em pleno Rock in Rio. Estamos na calha para um Super Bock Super Rock que se afigura como um dos melhores SBSR dos últimos anos, estamos no rescaldo das Queimas das Fitas, e estamos em fase de aquecimento para os restantes festivais de Verão.

Embora a organização se afirme satisfeita, não deixo de reparar que a afluência ao Rock in Rio está aquém das expectativas criadas. Pelo menos das minhas. Num dos dias em que gostaria de ter marcado presença (estava a dar um concerto na Queima das Fitas de Oliveira do Hospital), a assistir a Ben Harper e a Peter Gabriel, contaram-se cerca de 52 mil pessoas. É muito? É. É muito para um espaço como aquele? É muito para um festival para o Rock in Rio? Não.

Os motivos do sucesso ou insucesso (dependendo do ponto de vista) são muitos…

Se, por um lado, temos o nome e o mediatismo dado a este festival, do outro temos os preços, motivo de muita contestação em vários meios de comunicação.
Se, por um lado, temos lá dinossauros da música, por outro temos… bem… precisamente isso. São dinossauros. Não estão propriamente na crista da onda. Como disse o Nuno Galopim, “gostaria de ter visto cá uns Strokes”… alguma coisa actual. Coisa que, quer se goste quer se não goste, os (ausentes devido a cancelamento) Guns n’ Roses não são. E quem diz esses diz outros. Xutos e Pontapés. Banda de referência, é certo. Mas, 53 euros para ver Xutos e Pontapés?! Se eu os vejo por 10 ou até de borla…

Enfim, gostos são gostos e nem eu quero estar a dizer que devia lá estar a banda X em vez da banda Y… mas a minha visão geral deste festival resulta num conjunto de opiniões:

- Cartaz algo desiquilibrado e, aqui e ali, desadequado ao mercado português
- Conjectura económica pouco favorável aliada a preços elevados
- Faltou um “pacote económico” para mais que um dia do festival
- Presença no cartaz de bandas que tocam por esta altura noutros locais, a preços mais acessíveis
- Comparação inevitável entre o RiR e o SBSR. Temos que o SBSR tem um cartaz menos excêntrico, mas escolhido com mais cuidado tendo em vista os nossos gostos. Se por um lado se diz “Vou ao RiR”, por outro há quem se refira ao SBSR como “Vou ver os Pixies” ou semelhante.
- O RiR viverá mais do “conceito” e da imagem do que propriamente dos concertos, dos espectáculos.
- De um festival com a envergadura do RiR esperar-se-iam MAIS bandas, MAIS concertos, MAIS espectáculos
- O RiR apresenta alguns nomes excelentes, espalhados pelos dias. O SBSR apresenta um cartaz excelente, sem dinossauros, mas com nomes actuais, com culto no nosso país. Mais coerente, poder-se-ia dizer.


Depois, o tempo o dirá, se estou enganado ou não. Se há quem considera 52mil pessoas um bom número, pois que me calarei e respeitarei essa opinião. Até porque este não é mais um hate-post a deitar abaixo. Não. Respeito muito o RiR. Acho de louvar a iniciativa, acho que há mercado para aquilo e acho que temos mais é que estar gratos por termos mais um festival de música em Portugal. Mas também acho que há sempre espaço para se melhorar o que temos, e parar é morrer.

E por falar em parar, é bom ver que o SBSR não o fez. Nem tão pouco se deixou apagar pelo previsto êxito do RiR. Antes, ripostou em força, apostando na qualidade, em nomes fortes, todos eles. Apostando em cativar o público dos concertos em vez do público dos festivais. Pelo que sei e tenho ouvido, há quem não foi ao RiR para poder ir ao SBSR. Quer se queira, quer não, é uma vitória. Isto porque o povo português não tem possibilidade de ir a tudo o que lhe aparece. E o SBSR alia ao cartaz coeso um preço mais acessível e o sentimento menos mainstream, que, como sabemos, agrada a muita gente.

Ou seja, por um lado, temos um festival poderoso. De renome internacional, com fundos para investir, com uma imagem poderosa e apelativa. Fizeram um festival generalista, tentando agradar a gregos, troianos e sarracenos e criaram a ideia de que é “in” ir ao RiR.
Por outro lado, temos um festival de créditos formados, sim, mas apenas em Portugal, que em vez de competir ombro a ombro, decidiu aproveitar o seu nicho. Virou o feitiço contra o feiticeiro e tornou o “Rock” do RiR num Pop quase popularucho, e foi, como quem não quer a coisa, crescendo e cativando o seu público, que é quem, no fundo, ganha com isso. Porque tem uma vasta oferta de espectáculos por onde escolher, de acordo com os seus gostos, tempos livres e carteira.

Bandas portuguesas é que vão sendo deixadas um pouco de parte, salvo raras e honrosas excepções… Talvez por culpa dos promotores, mas também por culpa delas próprias…


NOTA:
Deu há uns dias atrás, num telejornal, a notícia de que as vendas de material discográfico em portugal caíram 20% desde há uns anos a esta parte. Apareceram a comentar os senhores Tó Zé Brito e David Ferreira… Culpou-se a pirataria, culpou-se a internet… Meus caros, e reacções? Não é só dizer que o barco mete água, é preciso ir lá alguém com uma rolha. Que a música está mal, já nós o sabemos… O que se espera (ou esperaria) das discográficas é que reagissem, que inovassem, que fizessem por cativar o público em vez de esperar que ele lhes bata à porta.
Já muito foi dito, já muitas ideias foram dadas que poderiam ajudar a impulsionar as bandas e a indústria discográfica portuguesa. Uma relação mais estreita entre as bandas e as discográficas poderia ser benéfica, priveligiando-se a promoção de eventos capazes de lançar as bandas, cativar o público e vender um produto através da fidelização do cliente e do acrés-cimo de valor de um álbum. Já é notícia nos jornais… falta a reacção visível, menos mediática, mais prática.



Purple