22.4.08

Despertar para a realidade

Já não escrevo aqui há bastante, mas como se costuma dizer “detesto ter razão” ou “eu bem te avisei”…

Quando vai a música (sim… a música na generalidade, entre bandas, rádios, editoras, …) despertar para uma realidade cada vez mais vincada no quotidiano de todos?

Ora… Tantas polémicas levantadas neste blog, desde o famoso “boicote UHF/RFM”, impulsionador deste blog, até a algumas conversas mais ou menos acesas sobre os “consultores” estrangeiros que escolhem as músicas das rádio, sobre os preços dos CDs, sobre a “crónica de uma morte anunciada” onde as protagonistas eram as editoras…

Muito se falou sobre música… Ou será que muito se falou de “política” e pouco na essência dessa “arte e ciência de combinar harmoniosamente os sons”?

Algo que não me cabe na cabeça, salvo raras honrosas excepções, é gastar dinheiro em música!

Sério… Eu sei que esta afirmação é polémica, mas olhando para as rádios, ou até para a TV, que raio de promoção tem um álbum de uma banda, e pior que isso… Que raio de promoção têm as bandas novas que num mercado de tubarões tentam aparecer à tona, quais peixinhos dourados?

Vou comprar o novo disco de uma qualquer banda, quando apenas oiço de quando em vez uma música na rádio? E será que o resto do álbum vale a pena? Se nem sou “fã” de uma determinada banda, vou gastar dinheiro num CD? (E isto não invalida que tenha umas centenas de CDs originais)

Mas, cá para mim, MP3 é o futuro. Mais que o “codec”, o conceito! Podcasts, rádios online, MySpace… A música grátis veio para ficar… E isto sem abordar os tão “amados” p2p, onde se “saca” o que se quer, quando se quer e em espaços de tempo extremamente reduzidos (mais rápido que ir à loja e voltar)…

Radicalizando, para quando a extinção das editoras?

Para quando música livre para todos?

Ganha-se assim tanto dinheiro com um CD? Tendo em conta o preço virgem vs. gravado imaginava que sim, mas as editoras continuam a desaparecer ou a serem fu(n)didas…
Artistas do meu país… Sejam inteligentes… Usem o MySpace para se divulgarem (felizmente é já uma realidade cada vez maior)… Ofereçam MP3…. Se querem que a vossa música seja ouvida realmente distribuam-na aos milhões de pessoas que frequentam a Internet…

E porque não usar a “nossa” playlist?

Musica Grátis JÁ!


João Pedro Rei

13.4.08

Gazua - Convocação (Ranging Planet 2007)

Numa linha de rock Português que navega entre os anos oitenta e principios de noventa (Xutos e Pontapés, Censurados e UHF), os Gazua apresentam-nos para mim um dos melhores registos do género dos últimos anos.

Já vi esta banda uma série de vezes ao vivo. Na estrada algo especial une os Gazua e a Revolta. A irmandade das guitarras, a amizade e o rock n`roll transformam este grupo de amigos num clã musical.

Ao vivo, além da classe do João a tocar guitarra (Marshall JCM 900 SLX e Gibson SG) e da força da mensagem das letras, surge a potência brutal do Quim atrás da bateria e a raça do Paulinho no baixo.

O disco tem um som muito acima da média, e o trabalho de produção está bem conseguido.
A edição é da banda com distribuição da Ranging Planet e pode ser encontrado nos concertos e nas lojas Fnac ou Carbono. Muito interessante está também a linha de merchandising que a banda apresenta na estrada.

Acho que este trabalho merece uma promoção e distribuição a nivel nacional. Há muitos anos que o público desta área musical tem sede por um novo projecto, os Gazua têm potencial para o conseguirem.

"Se tens vontade de gritar", "Morres devagar", o já hino ao vivo "Fazia tudo outra vez", "O que é que estás aqui a fazer" e "Punição" são canções que marcam!

Nota 4

Mail: gazuarock@hotmail.com

Space: http://www.myspace.com/gazua


António Côrte-Real

5.4.08

Ares e bares de mau rapaz

Estive na Aula Magna e compartilho do sentimento que João Morales teve a gentileza de partilhar connosco. Mais do que a um espectáculo, assisti a uma celebração que gerou – pela primeira vez na história dos UHF – uma unanimidade em toda a crítica presente. Porém, neste texto, não irei dedicar-me a analisar o concerto mas procurarei olhar, noutro prisma, para uma carreira coerente e determinada e em simultâneo, repleta de erros, de decisões a quente, de afrontamentos aguerridos e das boas e más decisões inerentes a uma vida preenchida por atitudes destemidas, sem medos de entrar em choque e em guerra com tudo e todos ao mesmo tempo.

Se fosse realizado um estudo para determinar a empatia, antipatia e indiferença que o público nutre pelos nossos artistas, António Manuel Ribeiro teria um resultado ínfimo no item indiferença. Raras são as pessoas com mais de 20 e menos de 50 anos que sentem indiferença quando a personalidade se chama António Manuel Ribeiro. Provavelmente, a quantidade daqueles que gostam bastante de UHF seria semelhante à daqueles que os odeiam. No início dos anos 90, cheguei a pensar colocar em estúdio um fã e um “anti-fã” para conversarem em directo com o António. A coisa esteve quase a concretizar-se, contudo, à última hora, a pessoa que detestava UHF roeu a corda. Teria sido sociologicamente interessante, além de esteticamente agradável – o ataque viria do género feminino.

Numa sociedade normal, estes indicadores amor/ódio seriam interessantes porque quem gosta gosta e quem desdenha ao menos não sente indiferença – ou pode querer comprar e, por receio de não ser popular gostar de UHF, afirmar não gostar. Não nos esqueçamos que os Duran Duran foram devastados por aqueles que anos mais tarde os glorificaram. Vêem estes considerandos a propósito daquilo que me palpita ser o motivo da ausência dos UHF das playlists das rádios com maior airplay. Ou seja, suspeito que os UHF não passam não por uma questão de popularidade dos temas, mas devido à impopularidade que se retira dos resultados dos estudos. Isto é, se 40% de pessoas adoram uma canção, 20% a consideram razoável, 20% não a apreciam e os restantes 20% a detestam é muito provável que seja incluída na playlist. Não obstante, se 60% de pessoas gostam de um tema e 40% o dizem detestar é, também, altamente provável que essa canção nunca faça parte da playlist. Isto porque é valorizado o risco da perda de auditório do lado dos 40%, enquanto se desvaloriza a mais valia junto da maioria de 60% que afirmam gostar. Os méritos de uma eventual vitória da indiferença são, no mínimo, estranhos. No entanto, palpita-me que possa estar a ocorrer no que respeita a um número considerável de canções. Esta lógica aplicada às eleições Legislativas poderia implicar a situação caricata de um partido vencer, mas acabar por perder no cruzamento entre o positivo e o negativo – na mesma linha das sondagens referentes à popularidade dos nossos políticos.

Esta é, somente, uma teoria tão absurda ou verdadeira como outra qualquer. Na realidade, nunca conheci um artista português cuja apreciação seja tão emocional como a que existe em torno de António Manuel Ribeiro. O caso é tão evidente que, depois do concerto na Aula Magna, o baterista Ivan – que está nos UHF vai para 10 anos – dizia-me, para os microfones da Miróbriga, que o António merece ter amigos. Num momento de euforia e de contentamento indescritível, podia ter aproveitado para dizer mil coisas diferentes, mas, 5 minutos após sair do palco, as suas palavras foram inteirinhas para o mérito e para a amizade que tem com António Manuel Ribeiro.

Nestes 30 anos de carreira, os UHF estiveram sempre em guerra dentro do mercado e nunca desistiram das suas convicções. António Manuel Ribeiro pode até ter dores nas costas, porém nunca se juntou a brigadas do reumático para aumentar a conta bancária. Podia tê-lo feito e, certamente, se entrasse no jogo das concessões, teria, hoje, outro estatuto, outra empatia mediática, outra carreira, mas, no fundo, seria outro. E, se fosse “outro”, teria algum interesse, teria algum valor ou seria, apenas, um somatório de vazios com uma carreira que nem para nota de rodapé serviria daqui a 30 anos?

A rebeldia, o afrontamento, a forma muito rock’n’roll como se esteve nas tintas para o politicamente correcto levaram-no a coleccionar uma lista de antipatias superior ao que seria desejável num meio que vive muito dos conhecimentos, das aparências, das grandes digressões que se esgotam nalgumas cidades e dos copos que antigamente se bebiam em determinados bares de Lisboa. Todavia, não se pense que faltaram copos às dezenas de músicos que passaram pelos UHF. Com os UHF, beber copos não era uma questão estética de estar na moda, mas sim, um mergulhar no mesmo espírito de Ramones ou de Jim Morrison. Outros seguiam tendências etílicas mais próximas da new-wave ou do pós-punk em que o copo segurado na mão também servia como adorno.

Como seria possível uma História diferente se até no beber existiam visões e atitudes inconciliáveis?


Luís Silva do Ó