29.12.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 52/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 9 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

2º HUMANOS (P) - HUMANOS (CAPITOL/EMI-VC)
5º AMOR SEM LIMITES (PR) - MARCO PAULO (ZONA MUSICA/ZONA MUSICA)
8º RE-DEFINIÇÕES (P) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
15º TUDO BEM (PR) - JOÃO PEDRO PAIS (POPULAR/VC)
16º NORTE (PR) - JORGE PALMA (CAPITOL/EMI-VC)
17º AM-FM (PR) - THE GIFT (LA FOLIE RECORDS/UNIVERSAL)
21º CINEMA (OU) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
25º CANÇÕES DA NOSSA ESCOLA (PR) - OS PATINHOS (VIDISCO/VIDISCO)
29º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

23.12.04

In vivo: "RMC 2004, o coroar de uma iniciativa"

Sexta-feira, 17 de Dezembro. O ano de 2004 aproxima-se do fim, e é também a Final do Rockmusic Challenge. Não podia faltar!
As bandas na Final: Genius Loki, Navajo, Quetzal’s Feather e Snail. A banda convidada: Blasted Mechanism. A qualidade da iniciativa, o espaço mítico, eram por si só argumentos “de peso”, mas a acrescentar no cartaz, Blasted Mechanism. Sem dúvida, uma festa em grande, da música nacional.
Cheguei “on time”! Eu, tão dada a atrasos… Mas a organização (e pela primeira vez) trocou-me as voltas, e o arranque deu-se só por volta das 23.30. Obviamente, esse tempo de espera, foi preenchido com música, enquanto o espaço se preenchia de gente.
A primeira banda em palco foram os Genius Loki. Uma banda completamente desconhecida para mim… Por momentos, esqueci-me que estava num concurso de bandas. A qualidade dos temas, e a voz grave, soft-soul da vocalista, a tela melódica de fundo… Não compreendo como nunca antes ouvi falar dos Genius Loki! Onde têm andado? Como não se insurgiram ainda? O que falta?... Foi uma actuação inebriante! O escuro do espaço, cortado pelas luzes deixava entrever as pessoas, e eu sentia-me com elas debaixo de um véu sonoro, que nos envolvia inexplicavelmente. O primeiro tema soou-me particularmente mágico, provavelmente pelo ónus da revelação. Alguma insegurança no palco, sim. A relíquia com pequenas arestas por lapidar…
Navajo. Ouvira alguns temas numa das eliminatórias da edição do RMC de 2003, ainda no Maus Hábitos. Uma participação limitada, já que a banda na altura não se apresentou ao vivo, e houve apenas projecção de imagens a acompanhar a música. Na altura lamentei não ter oportunidade de apreciar esta formação. Ficou a curiosidade, que se viu satisfeita nesta edição.
Os Navajo apresentam-nos os anos 80, numa reinterpretação afectada por traços próprios. A formação apresenta-se em palco numa distribuição diferente, com as vozes diluídas no instrumental. Ritmos dançantes, a evasão punk, o desempenho musical afectado de quem está a respirar a música que toca, e se esquece que aqueles acordes saem de si mesmo… A performance não foi a melhor da noite mas a identidade da banda destacou-se na originalidade dos temas. E eu, especial fã dos movimentos dessa década musical…
A noite estendia-se… Os Quetzal’s Feather, uma banda jovem mas já com um currículo de respeito sobem ao palco. Quem os conhece, sabe que os corpos vão aparecer pintados nos braços e nos troncos nus. A música é mais “pesada”… As guitarras, baixo, bateria e precursão produzem uma malha excessivamente intricada. A voz passeia-se entre uma mistura de sons densos e difusos… O poder que transpira daquela actuação é de uma mística semelhante à descrita por Patrick Suskind, no seu livro “O Perfume”, em relação aos cheiros. A intensidade que se vive naquele palco como que hipnotiza quem assiste! E eu já antes vira Quetzal! A entrega, a vontade de estar ali, desfez os percalços do som e… tiveram o seu momento! A música não é particularmente inovadora, as inconsistências sucedem da dispersão de um instrumental demasiado repartido, o timbre da voz é demasiado comum para se impor… mas a energia que emana daquele “ritual” que é estar em palco, a capacidade de criar personagens nas notas que desprendem, projecta uma luz ébria que confirma que os Quetzal’s Feather têm uma aura.
A fechar o desfile, Snail. Os Snail ofereceram o espectáculo mais interactivo da noite. O à vontade muito “pro”, as influências de diversas expressões da “black music”, o ska, o funk, o reggae num cocktail onde o soul da voz se dissolveu… as cores das luzes, o ambiente de festa… Tudo se transfigurou e o palco estendeu-se até ao público, que dançou e balançou, que bateu palmas e cantarolou. Os temas sucederam-se em linhas próprias, e o último deles foi sem dúvida o coroar desta apresentação. Os Snail impuseram-se pela atitude e com um género muito próprio, que veio despertar o público do embriagante estado de espectadores.
A noite prosseguiu com Blasted Mechanism… Lamentavelmente, outros apontamentos não me deixaram ficar para desfrutar do espectáculo que apresentaram. Nem para conferir a banda vencedora, Genius Loki. Mas, saí com os sentidos cheios! O RMC 2004 ofereceu um palco de luxo, bandas de qualidade, público a combinar… um espectáculo que me faz pensar se este “espaço” é paixão de uma minoria ou privilégio de uma elite?…

Walkgirl

13.12.04

Do "Ao Vivo" ao CD Player

Escrevi sobre o RockMusic Challenge... E nesse passo, dei outro.
O blogue anda um bocadinho mais “despido” (em Portugal a música não é sustento, como muitos se queixam!) e o tempo urge, e os compromissos reclamam, e a vontade dilui-se numa corrente que passa… para um dia depois, voltar a insurgir-se com ideias renovadas, com uma sensibilidade diferente, com iniciativa… Somos um pequeno “motor”, mas o nosso lugar está previsto, e sem nós, há um espaço que perde sentido!
O RMC é uma iniciativa de coragem! Num ano em que (impressão minha?) as bandas e este género de actividades afrouxaram o ânimo, o RockMusic Challenge voltou não só a apostar, como subiu a parada! E depois de escrever sobre este evento, um “ao vivo” da praxe, os acontecimentos levaram a Walkgirl ao “walkman”…
Os New Connection são uma banda da Grande Lisboa. Foram uma das concorrentes no RockMusic Challenge 2004, que tem decorrido no Hard Club, em Gaia. E foi lá que pude testemunhar a performance desta formação pela primeira vez, ainda que já conhecesse o nome (de algumas publicações, e pela participação em alguns concursos). Eu, do meu lugar indistinto entre tantos outros no público, e eles, no palco, evidentes e apaixonados pelos seus personagens.
Eu encontrei-os e os New Connection encontraram o Canal Maldito (que não é afinal só mais um lugar recôndito, perdido numa “blogueland” inundada de tudo…) e, tiveram a iniciativa de me contactar e de me enviar a maqueta que lhe serve de apresentação.
Fiquei particularmente sensibilizada. Há bandas que reclamam! Terão certamente legitimidade (ou não!) para o fazer! Mas, há bandas que mais do que reclamar, se esforçam! Todos os dias! Empenham-se não só na sua própria música, mas também na divulgação e na promoção do seu trabalho!
Ser banda de garagem é muito mais! É construir um repertório, trabalhá-lo, gravá-lo (isto são muitas horas!)… Depois, é reproduzir maquetas, fazer-lhes uma capa de apresentação, elaborar folha de contactos, enviar para meio mundo (bares, concursos, festivais…). Depois se um amigo até percebe de net, construir um site! (Concorrência a quanto obrigas!!) E é procurar e seleccionar o material para se colocar, a imagem, a organização dos menus, configurações para isto e aquilo… (mais umas horas!!) Entretanto surgem respostas! Actuação a 10, a 25, a 80, a 230 km!! É carregar material: bombo, colunas, pratos, guitarras, jacks, suportes,… falta alguma coisa? São checksounds … Um concerto (ou apresentação!) de uns minutos (mais ou menos conforme o caso!) e… fazer percurso inverso! Coleccionam-se os flyers, tiram-se umas fotos (dão jeito para o site!), e trocam-se uns apertos de mão… E é esperar reacções! E reagir (ou não!) depois!!
E os New Connection reagiram. E obviamente parei para ouvir “Departure To The Past”, “Waterfall”, “Mommente”, “Smoke Fantasy” e “Jeanette”, os temas de apresentação. A destacar uma sonoridade bem construída, com uma estética melódica invulgar, os New Connection têm uma excelente base para crescerem. A precisarem ainda de trabalho (é preciso sempre!). Falta consolidar a estrutura complexa que desenham, e a voz tem potencial para “ser” mais… A conciliar com a impressão do “ao vivo” ficam as insistências nalguns momentos que podem temperar de monotonia o resultado final. Ainda assim, os temas são bastante diferentes, sem ferir a coerência do projecto, que percorre ondulações orientais temperadas com o “je ne sais quoi” inevitavelmente jazzistico de um saxofone.
Para quem tiver curiosidade de saber mais sobre a banda, fica o link: http://newconnection.planetaclix.pt. E claro, estar atento aos programas que vão divulgando este e tantos outros projectos como este. Porque “ao vivo”, é sempre especial! Para eles e para nós!
Go On!

Walkgirl

10.12.04

Lulla Bye hoje no Hard Club

Hoje, 6a feira, o Rock Music Challenge 2004 vê a fase de eliminatórias terminar.

Após as actuações de Loto, Sloopy Joe e Anger, cabe agora aos LULLA BYE encerrar a última eliminatória do RMC 2004, enquanto banda convidada. Antes actuam Monsieur Cochon, Navajo e Dollar Llama.

Os concertos decorrem no palco principal do Hard Club e têm início às 22 horas.

Lulla Bye Management/ Brainmusic Produções
Centro Comercial Londres, LJ AC 192
4465-388 Senhora da Hora
PORTUGAL
Phone +351 22 9563379/80
Fax +351 22 9563381
Mobile +351 91 9530905

9.12.04

Notícia: Plastica

Depois do concerto em Liverpool no mítico club "the Cavern" os "Plastica" vêm editado em Espanha o seu ultimo album de originais, "the red light underground".
Tendo em conta esta edição pela "Liliput records" e a distribuição a cargo da "El diablo", os Plastica preparam-se para a apresentação ao vivo na capital do país vizinho, numa tambem emblemática sala de Madrid, a sala Staff (14 de Dezembro).
Tambem ainda dia 14 a banda toca "unplugged" para um canal de televisão "Telemadrid" e dia 15 um concerto para a TVE canal2 e, dia 16 é vez de apresentação na principal FNAC de Madrid (fnac callao) e dia 17 o regresso a Portugal para o ultimo concerto do ano, desta vez em Lisboa na Praça Sony na tenda "funfej."pela 16.00h

Este é o resultado de um trabalho desenvolvido pela banda com o objectivo de se internacionalizar, e assim continuar a perseguir um sonho.


Contactos:
www.plasticamusic.com
plastica@plasticamusic.com
www.discosliliput.com
www.amigosdeldiablo.com

24.11.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 47/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 4 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

11º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
13º RE-DEFINIÇÕES (P) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
16º CINEMA (OU) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
27º CANÇÕES DA NOSSA ESCOLA - OS PATINHOS (VIDISCO/VIDISCO)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

23.11.04

RMC - Mais!... no Hard Club!

De volta ao Hard Club e ao RockMusic Challenge!... Mais uma vez, atraso-me. Nem tento desculpar-me. O dia foi cansativo e stressar no fim-de-semana é até pecado!... Mas fui! Fui à 2ª eliminatória do RMC 2004 e foi com satisfação que encontrei aquele lugar mais preenchido de gente e mais vazio de espaços… Não sei se eram apoiantes desta ou daquela banda, se transeuntes, se simples amantes da música, fiéis apenas aos limites, que se estendem a cada momento, e que desvendam mais um detalhe de uma arte infinita. Estavam mais!
A noite estava fria… A respiração aquecia um espaço aparentemente grande para bandas de públicos pequenos, e a cumplicidade de se ser sensível a revelações misturava-se na mistura de expirações entrelinhas… Snail, Wise Womb e Daguida são os protagonistas da primeira parte de um argumento refractário a fórmulas ou combinações… E, como qualquer protagonista que se preze, sublinham entusiasticamente os traços excêntricos que delineiam a sua identidade. O exotismo do nome que se quer evidente mais do que nunca naquele momento de palco! O tal episódio que acontece debaixo de luzes, mas que são escassos minutos, de dias, meses, anos de experiências, aventuras e desventuras, entusiasmos e desânimos… O “show” é assim! Um flash de luz!
É curioso observar o público… feito de alguns repetentes da outra eliminatória (Não! Não sou a única!), feito de outros “músicos” mais ou menos anónimos, feito de amigos apoiantes, e amigos de amigos, e... Alguns conhecem uma das bandas, muito poucos conhecem mais do que uma, provavelmente ninguém consegue trautear as músicas, o móbil de cada um é uma incógnita susceptível das mais extravagantes especulações… O Hard Club estava vivo! Sem grandes festarolas mas com um entusiasmo calmo, que fluía livremente entre a massa humana…
E quando entram os Sloppy Joe, depois de um intervalo que dá o tempo de passar pelo bar e duas de treta, os ânimos reacendem-se, provavelmente agora com uma espontaneidade maior, não fosse esta banda responsável por alguns dos temas que passam repetidamente nas nossas rádios! Uma banda nacional, legitimamente a prosperar no panorama nacional, com uma fórmula interessante e inovadora… O “reggae” a servir de pano de fundo a temas felizes e bem construídos, numa linha coerente e aventureira. O público salta com eles, e Marta Ren conquista até um céptico, com a sua voz enleada, a pronúncia marcada, o sorriso fácil… Os “little monsters”, dançam entre os mais novos com o furor de música “cool”! Aqui e ali vejo muitos a acompanharem! Sabem as letras de cor e o corpo discorre sozinho… a música é daquelas que se entranha…
Duas noites de RMC que se pintaram de cores diferentes, que se estenderam em formas tão dispares… Fragmentos comuns que se combinam à medida de cada uma das formações que ali desfilaram… E confesso que me rendo ao teclado, para traduzir momentos que aquelas bandas de originais coloriram, com um prazer enlevado… Uma forma de reviver cada gesto, cada emoção… sustentado na divergência de sonoridades e interpretações que se exploram ali, e que estendem um manto de imagens novas, emergem-nos num aposento de sensações insondadas, infligindo uma introspecção quase inconsciente, mas irrefragável pelos seus efeitos…
A música nacional existe! A música nacional tem qualidade! As oportunidades não são muitas, mas já são mais! E de mais qualidade! O importante é que haja força para continuar!... Porque o homem continua a sonhar! E quando o homem sonha, a música acontece!

Walkgirl

20.11.04

Concerto

My Tie (Tomar) Ao Vivo na Santiago Alquimista - dia 20 pelas 23h

17.11.04

Ao Vivo: "RMC - Hard Club"

Passou-se algum tempo… bastante tempo mesmo! Por isso não podia deixar de, antes de qualquer outra frase, agradecer a todos os que continuam a marcar presença neste blogue. São essas palavras, de apoio ou censura, de carinho ou revolta, por sentirem a falta das nossas palavras ou por simplesmente estarem fartos dela, que fazem mais do qualquer outra coisa, este Canal Maldito! Obrigada…
Estou a escrever enquanto ouço Pearl Jam, “Live at Benaroya Hall”… Não é banda nacional (sorry!), mas é um “ao vivo”… faz o seu sentido!
Não é pelos Pearl Jam que voltei a deixar os meus dedos percorrerem as teclas em busca das palavras que desfilam morosamente no meu pensamento! São os concertos… os concertos que ultimamente não têm feito parte dos meus dias, das minhas semanas… E que inevitavelmente também me afastam desta página! A vida obriga-nos a opções!
Na passada 6ª feira fui ao Hard Club, assistir à primeira eliminatória do Rockmusic Challenge. O ano passado decorreu no Maus Hábitos. Este ano evolui, deu um passo em frente (invertendo tantas correntes) e mudou-se de malas e bagagens para o mítico Hard Club! O cenário da música! Não podia deixar em branco os momentos (ainda que poucos… atrasei-me, confesso!) que ali vivi, num regresso sentido… a um lugar, a um ambiente feito de tantos pormenores… a uma quase forma de vida… Walking girl! J
O palco… as luzes… uma banda… emoções, silêncios, olhares… rostos estranhos e familiares… arrepios e aragens quentes! Cheguei a tempo apenas de ouvir a última banda da noite a concurso! O suficiente para lamentar o que perdi! E porque não seria justo não vou estender descrições sobre qualquer uma!
Mais do que qualquer outro facto, destaca-se a vontade que acontece naquelas paredes e em cada lacuna de espaço, onde o ar se passeia… entre notas musicais, e suspiros, e o calor dos corpos que se deixam envolver! Um convite a assistir ao despoletar de novas estruturas, de conhecer rostos que amam a música, que amam a estrada e a aventura de ser banda de garagem um ano inteiro, e que uma ou outra noite saem (ou não!) das paredes de um qualquer lugar recôndito para subir ao palco… Rostos, que procuram rostos, olhares atentos, sentidos despertos e disponíveis para a música a que se dedicam no anonimato! Música alternativa, de excelência, com ingredientes nacionais, e influências de todo o mundo…
A banda convidada, Loto! O lado A deste evento, fecha a noite com chave de ouro! Já oportunamente escrevi sobre os Loto, que no Tertúlia Castelense puseram uma sala a dançar. Ali não foi diferente! Ninguém fica indiferente à simpatia autêntica de uma banda, que faz da sua música uma verdadeira festa! Sem complexos, sem artifícios, sem bolas de sabão, nem coloridos vivazes! A dança palpita em cada pulsação e os corpos mexem-se em ausências sucessivas! A ideia viaja e dá a volta ao mundo, à sala toda, e volta a si mesma para esboçar um sorriso! O público e a banda formam uma massa homogénea de boa disposição! Loucura!...
O tempo não espera… Talvez por isso é que o ditado diga que não se deve voltar ao lugar onde fomos felizes… Aquilo que lá encontramos depois, é inevitavelmente diferente… Em nós ou fora de nós!... Mas a música não é um lugar… E voltar a estar com a música fez simplesmente diluir todo o tempo que passou desde o meu último “ao vivo”! As emoções estão lá sempre! Vivê-las é ir!... Por isso, fica o convite a passarem pelo Hard Club, e a assistirem ao Rock Music Challenge… O apoio à música nacional também passa por aí!

Walkgirl

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 46/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 4 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

11º RE-DEFINIÇÕES (P) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
12º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
18º CINEMA (OU) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
28º BOM DIA - PLUTO (POLYDOR/UNIVERSAL)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

27.10.04

U outro lado do espelho

[O tema deste mês estava escolhido há muito, mas, com o Tejo próximo de mim, deixei as vendas da música digital na gaveta e a caneta deslizou para outros assuntos. Morreu John Peel, lendário DJ da rádio deste mundo (“Peel Sessions”, diz-vos alguma coisa?), e a música está de luto carregado… que me desculpem, hoje vou para outros Oceanos!]

A teia que a vida tece tem factores bons e menos bons que se entrelaçam em experiências que ficam e se recordam para sempre. Hoje, não me apetece escrever sobre a nossa indústria nem sobre nada que envolva rádios ou afins. Vai ser uma crónica real, sem quaisquer pensamentos especiais que não sejam a admiração e a amizade. Como já perceberam, não vou desbobinar acerca de playlists, nem acerca de vendas. Irei mergulhar noutras águas, certamente mais importantes (para mim, claro!), porquanto, intimistas. No canalmaldito escrevem vários amigos, incluindo 2 músicos, aos quais reconheço méritos indiscutíveis. A ordem dos textos é aleatória.

I
Não me recordo muito bem de quando o conheci, mas, creio que terá sido por finais dos anos 80 e lembro-me, perfeitamente, da primeira vez que o vi agarrado a uma guitarra. Estávamos no ano de 1990, dia 25 de Julho (feriado no meu Concelho), e os UHF haviam gravado um concerto ao vivo no dia 13 anterior. Fui ao escritório dos UHF entrevistar o António Manuel Ribeiro e a conversa seguiu em amena cavaqueira pelo fim de tarde, início de noite (memorável, contudo isso pertence a outras histórias), enquanto o seu filho, António Côrte-Real (Toninho, para os amigos), sentado no chão do escritório, dedilhava umas notas soltas. Em determinada altura, reparei nele e gerei risadas, perguntando ao António Manuel Ribeiro se ensaiava para os UHF... Passaram uns anos e dou com o Toninho como guitarrista dos UHF.
Quando este blogue surgiu, foi dos primeiros a aceitar o desafio e tem feito de tudo para ajudar e divulgar novos projectos musicais. Algumas das coisas são visíveis, embora a grande maioria sejam executadas no recato da invisibilidade. Como músico dos UHF, já marcou uma época nas guitarras e, fora do palco, passei a admirá-lo pela enorme dedicação com que se entrega à causa da música. A dedicação é tanta que quase roça a obstinação doentia. As ideias fervilham e são dezenas os emails que vou recebendo com projectos, com iniciativas de valor. Infelizmente, nem sempre consegue obter as respostas que merecia, sobretudo de colegas que funcionam em comprimentos de onda diferentes.
O Toninho não inveja a arte alheia e tem uma energia inata que o torna numa força da natureza.
Por vezes, olho para ele e penso que todos os músicos, todas as pessoas deste País, deviam ser assim: Determinadas e Profissionais em tudo o que fazem.
Ele sabe e gosta de trabalhar com uma intensidade imprópria para o meio musical português. Tal como o pai, também ele parece ter nascido dentro da poção mágica!

II
Era sábado, algures, entre as 16 e as 18 horas, e estava em estúdio a fazer o programa "Rock de cá", em directo, quando surgiu um rapaz, que não conhecia, acompanhado pelo Orlando Angelino. Traziam uma cassete gravada de um ensaio do grupo desse miúdo – Ulisses de seu nome – e gostariam de ma mostrar. A minha primeira reacção foi curiosa: Afinal esperava escutar mais uma das desgraças habituais que todas as semanas recebia pelos CTT, mas não! Apesar do som ser muito mau (um gravador no centro da sala de ensaios não faz milagres) a linha punk-rock dos k2o3 já lá estava em embrião. Surpreso, disse-lhe que tinha bastante potencial!
O tempo passou, a evolução foi estrondosa e a amizade foi crescendo.
Cheguei a ser manager do seu grupo e, com eles, entrei em estúdio, pela El-Tatu, com Tim, dos Xutos, a produzir. Durante 2 anos, passámos momentos únicos na estrada e nas mesas de cafés, bares e restaurantes, montando e desmontando ideias e projectos, sonhos, utopias e realidades. Os k2o3 são como família para mim. Na hora do reencontro é sempre uma festa.
O Ulisses é um génio criativo que tarda em ser reconhecido. Compõe punk-rock, sim, e muito mais do que isso, sempre de forma excepcional, o que o tornaria um excelente compositor para outros artistas ou em projectos paralelos. Poucos conhecem essa faceta.
Simultaneamente, reconheço nele capacidades de produtor que devia explorar mais – música onde toque fica com valor acrescentado…
O Ulisses é, para mim, o irmão que não tenho. Porém, esta opinião sobre o seu valor e sobre o seu potencial artístico é absolutamente independente da relação pessoal. Aliás, vejam-se os prémios internacionais que tem recebido como copy writer.
Sobre o futuro nada sei, ninguém sabe. Pode ser que lhe suceda o mesmo que ao Abrunhosa e, num instante, “rebente” no Verão de um ano qualquer… ele merece e a música portuguesa ficaria mais rica!


Luís Silva do Ó

26.10.04

The Fingertrips apresentam "Whisky" ao vivo

Os The Fingertrips (banda do nosso cronista Purple) apresentam-se ao vivo no próximo dia 1 de Novembro, pelas 23.00h no Hard Rock Café - Lisboa para dar a conhecer o novo single intitulado Whisky e produzido por Rodolfo Cardoso.
Este será o primeiro espectáculo da digressão de Inverno que está em fase de agendamento. As datas e os locais serão oportunamente divulgados.
A banda aproveitará a sua deslocação a Lisboa para marcar presença na Antena 3 a partir das 18.00h.

19.10.04

Concurso de Egos

Em primeiro lugar um pedido de desculpas pela não aparição no passado mês, falha especialmente grave atendendo ao primeiro aniversário daquele que responde pelo cognome de agitador de águas, o de todos nós, Canal Maldito.
Agenda carregada todos temos, a minha ditava desdobrar-me em tarefas múltiplas, com colegas de férias e rádios para trabalhar. Como por aqui não estive foi mesmo de todo, daí que não tenha visto em tempo real reacções a escritos anteriores. Passadas que estão algumas semanas, parecem-me exageradas e respostas de calor do momento, respeitando, contudo, se forem mantidas. Continuo a achar que quem dá a cara tem de ser respeitado nesse facto. Bem sei que – como censura não há – e tempo cada vez menos os administradores do Canal não podem andar sempre a retirar comentários, ainda que estes tenham alguma carga de ofensabilidade na óptica dos cronistas. A tais comentários é dar-lhes indiferença, dado que também por aqui passam frustrados da rádio e da música, à semelhança do que acontecia no que de mau tinha a Telefonia Virtual e que ainda agora tem a Telefonia Real . Há muito quem não resista a enviar umas atordoadas a coberto do pretenso anonimato, quando, se aparecesse de boa fé, seria tão mais fácil enviar um e-mail a um de nós que não foi suficientemente claro ou quando se lê e não se compreende inteiramente o que está escrito. Devemos respeitar-nos a nós mesmos e aos outros.
Tudo e também o mundo da nossa música portuguesa melhor funcionaria se a tolerância e o respeito pelas diferentes opiniões e formas de encarar as coisas fosse a tónica. A virtude da diversidade.
As personagens, os mitos e as Instituições têm esta coisa lixada de serem únicos. Só existem uns Nirvana, uns Chiclete, um Jim Morrison, um Sexo dos Anjos, um CMR e um novo fôlego de cada vez.
Temos egos de todos os tamanhos e com toda a espécie de expansibilidade. Sei que não tenho dos mais pequenos, restando-me um falso consolo de existirem maiores.
Se, mantendo as suas características, os egos se juntarem sem radicalismos que chateiam até quem os tem, até chego ao ponto que julgo saudável de acreditar que vamos lá, a um ritmo que se há-de ver. Assim, penso que a divulgação da música portuguesa (que mais não é do que uma etapa de toda a indústria ou concretização de arte, para o caso tanto faz) passa cada vez mais por uma focagem equilibrada e articulada entre as bandas ou artistas, as editoras, a televisão, a rádio e as entidades que promovem e oferecem ao público a possibilidade de assistir ou não a um bom concerto de música portuguesa.
Isto para se acabar de vez com as grandes teorias que não resolvem problema algum à nossa música, as que dão conta dos pobrezinhos dos músicos que nem sequer o salário tiram fazendo o que gostam de fazer, dos “maus” da rádio que não tocam o disco, dos exploradores dos agentes, da intelectual editora, do frango assado e da batata frita de pacote quase a passar a validade. Sendo contra a generalização, reconheço que há quem trabalhe bem nesta ou naquela área, há quem não veja o seu talento reconhecido e temos também quem se mostre reticente em olear as dobradiças de portas que se querem abertas.
Convém dizer que quando falo em concurso de egos é no sentido de junção em termos de trabalho conjunto pela música portuguesa. Todos no tal lado certo que é o mesmo, com o fim último de apoiar a nossa música, sendo que ela também tem de fazer por si muito melhor do que tem feito até aqui.



Os 25 anos dos Xutos


Muito se escreveu acerca dos 25 anos e do último disco dos Xutos. Apenas digo que gosto mais do segundo single – “o mundo ao contrário” – do que do primeiro. Parabéns à banda por um aniversário que é um marco, tendo também como função pedagógica dar motivação aos que por cá estão há menos tempo. Afinal, tal como noutros casos, é possível.


Uma das festas da terra

Já aqui se falou do papel das autarquias país fora na promoção de espectáculos. Da postura que deveriam ter.
A Câmara de Santiago do Cacém – a minha terra natal – contratou – num rasgo de desespero de marketing, Tony Carreira, para a Feira do Monte deste ano. Resultado, milhares de pessoas vindas em autocarros de excursão oriundas de todas as zonas do país, pouca gente da cidade, numa decisão que numa lógica de come e foge nada acrescentou ao turismo ou ao bom gosto da casa. Como é que uma autarquia investe numa época de música planeada – Cerromaior – e depois faz destas? As bandas pop / rock da terra e arredores ficarão, mais uma vez, para outras núpcias.


O contexto

Sei que temos coisas boas de UHF e outros à espera da luz do dia, o que me deixa mais descansado.
Gostava que nos chegasse às mãos mais produção nacional minimamente capaz de tocar na rádio. Com uma sonoridade, que, não restringindo a criatividade de artistas e bandas, tivesse algo de comercial, de “orelhudo”, para que se faça vender a si mesma. O que tem vindo ultimamente é feito com gosto e em alguns casos com uma produção aceitável mas não passa do espectro alternativo, pouca oferta de pop / rock não pesado ou de algo que não entre apenas no mundo da fusão e do experimentalismo e que de âncora para quem escuta pouco tem. Orientem definitivamente a vossa produção para o grande público, não descurando as franjas que já se tem. Mandem as coisas para as televisões, para as rádios, imprensa escrita e para as autarquias, espero que esbarrem e se relancem na modéstia e na humildade de alguém que as saiba escutar, porque ouvir, qualquer um ouve.

Bruno Gonçalves Pereira

11.10.04

Disco: My Tie – The Prize (Blitz)

The Prize é um bom disco de canções Pop, onde o feeling prevalece acima de tudo.
Esta banda de Tomar mostra a sua dedicação no cuidado que tem a trabalhar os arranjos de cada instrumento, em função da canção. O conjunto faz o todo e assim é que deve ser!
Numa cruzada de melodias, sucedem-se as canções, que à terceira ou quarta audição já estão no ouvido.
Comprem este disco e vão descobrir uma nova banda, portuguesa e independente, que não conhecem e que vale mesmo a pena!
The Prize foi disponibilizado com o Blitz, por mais 7€, numa continuação da saga de edições do jornal nacional de música. Uma iniciativa de grande importância e valor incalculável para a nova música Portuguesa.

Contactos da banda:

Concertos – geral@mytie.info

Site – www.mytie.info

Blog – mytie.blogspot.com


António Côrte-Real

6.10.04

O reverso da medalha

Pois é... este mês atraso-me um pouco, fruto do fim de semana prolongado. Afinal, eu também tenho direito.

Os The FingerTrips andam prestes a lançar um novo trabalho. Nada demais, desenganem-se. Nada de mega-projectos. Nada de álbums, nada de DVDs, nada de fotografias dos membros da banda em roupa interior. Nem tão pouco o anteriormente planeado "Tringle" com as tais 3 músicas. Nada disso.

Trabalhamos apenas num single. Uma música. Bem sei que ao ouvido final isso soará a pouco. Muito pouco. Então estes gajos tocam em tudo quanto é lado e passados 3 anos só têm 3 músicas editadas?! É.

A música chamar-se-á "Whisky" e deverá ter direito a um videoclip por altura do seu lançamento para as rádios. Não está planeada a sua venda. Nada para entregar em mãos aos fãs desta vez. Antes procuraremos fazer disto uma pequena prenda para todos os que gostam de nós e nos queiram ouvir. Será enviada para rádios e será distribuída gratuitamente a quem possa interessar, via internet. É pouco? É o que nos é permitido editar de momento.

Não estamos para hipotecar o nosso futuro enquanto banda e enquanto indivíduos para fazer um álbum que, ao fim e ao cabo, seria um risco. Poderia ser muito bem aceite e poderia ser a nossa ruína (sem que uma coisa invalidasse a outra). Poderíamos gravar um álbum. Lançar 5000 cópias no mercado. Ganhar aquele "estatuto" de banda com álbum. Ter uma medalha para mostrar e uma cicatriz nas costas a provar que a merecemos. Claro que, não tendo grandes meios financeiros para isso, a solução seria hipotecar uma parte do futuro da banda. Como outros o fazem, comprometer-nos-íamos a tocar umas quantas dezenas de concertos, algures pelo país, como forma de pagamento pelo investimento feito. Tocaríamos de borla, portanto, mas no fim ficaríamos com um trabalho nosso. Ah... Está bem. Mas... e seria assim tão bom quanto isso?!

Vejamos. Não toco pelo dinheiro, mas gostava de poder receber o suficiente para poder TOCAR por profissão. Não me parece que esse horizonte se aproxime em breve. Ainda assim, por brio e interesse em levar isto avante, não tocamos de borla (os amigos que o merecem vão gastando os seus créditos). Sabemos que o trabalho que iremos lançar, se correr bem, poderá dar mais um pequeno impulso aos The FingerTrips (dizer "catapultar" seria muito, não?). Mais exposição implicaria maior visibilidade, maior interesse por parte das promotoras de espectáculos e, consequentemente, melhores preços a serem pagos. Na escala em que nos encontramos, ressalve-se que os valores reverteriam por inteiro para o próximo trabalho, a exemplo do que se tem feito com este single+videoclip. Mas talvez com mais dinheiro conseguissemos fazer um trabalho mais extenso e mais cuidado. Talvez em vez de um single pudessemos optar por um álbum. Que temos as músicas já nós (e quem nos segue) o sabemos, mas investir o corpo e a alma para ver passar uma música na rádio e ter a tal medalha não é motivo para querermos ter a tal cicatriz.

Assim, desta forma prevemos que ao eventual sucesso da Whisky nas rádios, poderá contrapor-se um eventual aumento das solicitações e encaixes resultantes das mesmas, que poderá, por sua vez, ser aplicado em novo trabalho que serviria para novos concertos e por aí em diante.

Por outro lado, o que nos esperaria se optássemos por empenhar o nosso futuro pela tal medalha?! 50 concertos?! 50 concertos marcados a caneta de tinta permanente? 50 concertos daqueles que dizem "amanhã vão tocar ali perto do cu de judas, tens que sair do teu emprego às 2 da tarde e estar lá às 7"? 50 concertos que poriam em causa a minha vida profissional (aquela que sustenta a minha curta carreira na música)? Não sei... teria a medalha... mas talvez a cicatriz resultasse maior do que o esperado? Talvez matasse a proverbial galinha dos ovos de ouro... Sim, porque ter um álbum no mercado não significaria profissionalismo no mundo da música. Que o digam outros milhares de bandas nacionais que, com álbums, vêm os seus membros cumprindo as suas obrigações profissionais. Porquê? Porque esses 50 concertos seriam os tais em que se notaria o impacto causado pelo álbum. Porque neste mercado de pastilha elástica, o álbum não renderia durante muito mais tempo além desses 50 concertos espalhados pelo país. Ou seja, não teríamos o investimento, mas também dificilmente veríamos o retorno desse investimento, que nos permitisse fazer disso um investimento continuado, uma vida, uma PROFISSÃO.

O imediatismo tem destas coisas. Teria um álbum, teria a minha medalha... Mas teria deixado a terra árida. Teria que recomeçar tudo de novo ou quase. Porque ao fim de um ano, esse álbum é apenas mais um poeirento nos escaparates e nos móveis e já não nos convidam para ir tocar em função dele. "Esta noite, ao vivo, a banda sucesso em 1997!!". É a tal pastilha elástica. Masca-se, deita-se fora. Uma banda não pode estar muito tempo parada a não ser que tenha atingido um estatuto que lho permita. Quantas bandas que foram sucesso há 3 anos atrás estão hoje na mó de cima?! Ou quantas dessas bandas têm um trabalho consistente, com mais um álbum na calha? ...E quantas dessas bandas nos deixaram para sempre, vampirizadas por este mercado até ao colapso, vendo um partir para trabalhar num restaurante, outro como caixa do continente e a menina das vozes num cabeleireiro?

É a cicatriz, que muitas vezes é bem maior que a medalha. E não adianta ter-se uma medalha se não se tem roupa para a pendurar.

Posso não chegar a fazer da música a minha profissão, mas pelo menos não jogo tudo nisso. Não me posso dar a tal luxo. Não tenho casa para pagar e filhos para criar, mas posso vir a tê-los em breve e por isso em risco por um reluzir efémero e ténue na triste realidade da música moderna portuguesa não me parece sensato. Agrade a quem agradar. É que a mim, pouco ou nada podem exigir. Exijam-no aos outros, que vivem disto!

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 40/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 8 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

4º RE-DEFINIÇÕES (OU) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
9º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
12º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
16º CINEMA (PR) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
19º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
23º ESQUISSOS (OU) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
29º MESA - MESA (VIRGIN/EMI-VC)
30º O MUNDO AO CONTRÁRIO (OU) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

28.9.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 39/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 11 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

5º RE-DEFINIÇÕES (OU) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
6º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
9º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
12º CINEMA (PR) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
15º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
19º ESQUISSOS (OU) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
22º O MUNDO AO CONTRÁRIO (OU) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
23º UM AMOR INFINITO (OU) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
24º OURO E PLATINA - MARCO PAULO (EMI/EMI-VC)
28º MESA - MESA (VIRGIN/EMI-VC)
30º GUITARRA, O MELHOR DE (P) - CARLOS PAREDES (EMI/EMI-VC)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

23.9.04

E eu quero lá saber...

... se vou desagradar a uma vasta maioria que pensa diferente. Não me aborrece nada porque querer ser politicamente correcto (o que é diferente de o ser) é das piores coisas que existem neste país saloio em costumes e avançado em demagogia cultural. Patrocinar filmes que ninguém vê é cultura, cobrar 19% de IVA nos discos portugueses está correcto porque é indústria. Alguém acredita nisto?
Se afirmar que qualquer pessoa estará melhor preparada a exercer uma tarefa caso receba formação adequada penso que estarei a ser consensual. Quem tem formação está melhor preparado. Sem dúvida. Contudo, não quer isto dizer que o talento inato não possa existir e um carpinteiro ser mesmo bom, sem ter tido aprendizagem na oficina do mestre (que havia sido ensinado por quem?) ou na escola profissional.
Na música, passa-se o mesmo: qualquer pessoa preparada estará mais apta, mas, isto não significa que quem tire um Conservatório seja melhor apreciador e conhecedor do que outro que não o frequentou. Quantos de nós conhecem gestores que pouco percebem de gestão, levando empresas a situações difíceis ou de falência? E quantos profissionais que trabalham com números não possuem formação académica para tal? Sem citar os milhares de casos musicais e continuando na área de negócios, António Champalimaud – o homem mais rico de Portugal - não era licenciado e isso não o impediu de chegar onde chegou.

Temos, depois, os outros casos. Aqueles em que os próprios profissionais, não “certificados academicamente”, decidem aprofundar as coisas na escola. Recordo Jorge Palma, cujo Conservatório realizou já depois de ser consagrado.
Resumindo, uns tiram curso, outros não, uns são bons, outros maus, mas, ter mais conhecimento nunca fez mal a ninguém. Por isso, algumas discussões parecem-me mais divagações filosóficas do que passos em frente no campo minado da música portuguesa.

Tirar cursos formais/informais pode limar arestas ou permitir uma entrada planeada em outros ambientes. Porém, por si só, não geram criadores de excepção. Considero o génio criativo inato. Existem uns que nascem com o talento de transformar o que tocam em ouro e outros que, por mais que se esforcem, não passam da mediania. É assim a vida, na música e na venda de tremoços. Uns são bons e outros nem por isso!

Ouvir muita música e ler muito sobre tudo é muito bom - todavia, não chega. Um factor que penso essencial e que rebate muita retórica de gabinete é a importância de viver o terreno da música ao vivo, da sala de ensaios, das garagens bafientas ou dos estúdios de gravação. Cheirar o pó da estrada, mergulhar nos décibeis dos concertos, na azáfama de uma noite de concerto, nos íntimos momentos que ocorrem no backstage e no esplendor da madrugada tornam as ideias mais claras com o cérebro a dar e a receber proporções idênticas do “sentir a música”, do “debater a música”, do “querer sempre mais e melhor”.
Não se iludam que não digo que o rosa é a cor dominante! Todos sabemos das rasteiras que se levam, do “xico esperto” que sempre lá estará, dos jantares de frango até rebentar, da exploração, etc, etc.
Mas, mesmo assim, estar nos meandros do concerto ao vivo, sendo desgastante e cansativo, é recompensador ao ponto de se ficar “viciado”.
Juntando dinamite ao incêndio, direi que quem não vive a música ao vivo pouco percebe do panorama musical deste País.


[Voltando à questão da aprendizagem e da formação musical, devo afirmar, com toda a convicção, que onde ela é absolutamente vital é na escola. Desde a pré-primária ao secundário, o ensino da música poderia fazer maravilhas por dentro. Ter educação musical nas escolas devia ser tão natural como beber água e aprender português. Não o é, assim como não é natural fomentar as artes no nosso sistema de ensino. Está errado e paga-se caro. O ouvinte não é um bom ouvinte, nem o espectador tem grande apetência pela representação. Por isso é que temos “actores” formados em agências de modelos e ninguém se chateia, nem aborrece. Porque, afinal, têm umas carinhas bonitinhas, enquanto os verdadeiros actores muitas vezes morrem de fome e de desespero...]


Luís Silva do Ó

22.9.04

Um ano depois

O grito de nascimento deste blogue já foi há um ano e, apesar de ter sido chutado por mim, não me sinto pai solteiro. Este é um filho com carradas de pais e mães!

No meio do frenesim desta novidade cibernética, o meu grande amigo João Pedro Rei criou um blogue e eu, movido pela curiosidade, decidi criar este... só para ver como era e apagar depois. Nasceu assim o canalmaldito, em tons de brincadeira e só para ver como funcionava. O meu amigo lixou-se porque ficou com a administração informática da cena! :)

Pouco tempo passou entre a brincadeira e a realidade do novo vício da rede. O blogue foi crescendo e entraram mais viciados no confronto das palavras e das ideias. Num ano, muitos debates foram acontecendo e muita tinta virtual foi derramada.

A guerra fria a que se assiste entre alguns sectores da indústria musical fez disparar os comentários e muitos fogos foram apagados com pólvora. Não chegámos a tribunal, porém, andámos perto com ameaças. Olhando para trás, não deixo de ficar espantado com estes 365 dias e mais de 30.000 visitantes, mas, o defeito deve ser meu, ou não se chamasse este blogue “Canal Maldito”!

Novas aventuras, neste mar de blogues, se esperam para breve. Álvaro Costa (Via Rápida) prepara um encontro informal a ocorrer no Porto, restrito às áreas de espectáculo, pop, cultura, artes, onde se faça o ponto da situação e se discuta o futuro desta nova área de comunicação. A dinâmica adivinha-se boa e promissora, o interesse comum é efectivo e partilhado pelo canalmaldito. Para qualquer informação/inscrição sobre o encontro podem escrever para bloguedogg@yahoo.com.



Um abraço a todos,
Luís Silva do Ó

21.9.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 38/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 11 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

3º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
6º RE-DEFINIÇÕES (OU) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
8º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
9º CINEMA (PR) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
14º ESQUISSOS (OU) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
15º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
17º O MUNDO AO CONTRÁRIO (OU) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
21º ANTOLOGIA (2P) - MADREDEUS (EMI/EMI-VC)
22º OURO E PLATINA - MARCO PAULO (EMI/EMI-VC)
24º UM AMOR INFINITO (OU) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
28º GUITARRA, O MELHOR DE (P) - CARLOS PAREDES (EMI/EMI-VC)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

20.9.04

Disco: Yellow W Van – Ninguém faz Filmes de Olhos Abertos (Mercury/Universal)

Os Yellow W Van são uma das mais consistentes bandas Hip-Hop/Funk/Rock Portuguesas. A bateria sólida e exemplarmente executada por Fred, acompanhada pelo excelente baixo do Rui dão a este grupo da margem sul a alma que falta à maior parte dos projectos nesta área. A orgânica deste trabalho completa-se com o power, umas vezes funk outras pesado das guitarras de Fruntxas e Tomé. A raiva não (e muito bem!) contida pelo Ruas e o Manzk nas vozes completam esta banda que assim transmite as suas preocupações sociais e politicas. Concordo em tudo com vocês pessoal…
Neste “Ninguém faz filmes de olhos abertos” desfilam boas melodias, muito groove, mensagens que se querem (porque é mesmo preciso dizer aquilo que se pensa!). Revejo neste trabalho aquilo que penso em relação à sociedade Portuguesa e mundial. O mundo não está bem, Portugal ainda está pior… é preciso mudar!
Ainda não vi os Wellow W Van ao vivo (foi-me mesmo impossível estar presente no lançamento do disco no Santiago Alquimista), mas a coisa promete! Assim que tiver uma oportunidade lá estarei!
Se gostares de Hip-Hop/Funk com as guitarras a berrar! Compra urgentemente este disco porque não sabes o que andas a perder!
Força!


António Côrte-Real



Contactos:

Site – www.yellow-w-van.net

Editora – www.universalmusic.pt

Concertos – maismusica@netcabo.pt ou 21-3844439/43

7.9.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 36/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 12 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

3º VAGABUNDO POR AMOR (P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
6º RE-DEFINIÇÕES (OU) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
9º CINEMA (PR) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
10º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
13º ESQUISSOS (OU) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
14º OURO E PLATINA - MARCO PAULO (EMI/EMI-VC)
16º O MUNDO AO CONTRÁRIO (PR) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
17º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
22º UM AMOR INFINITO (OU) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
24º TA LAAA?... O MELHOR DE - RAUL SOLNADO (EMI/EMI-VC)
27º BAILE DE VERÃO (OU) - JOSÉ MALHOA (ESPACIAL/ESPACIAL)
29º A CABRITINHA (OU) - QUIM BARREIROS (ESPACIAL/ESPACIAL)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

2.9.04

Sangue, suor e lágrimas.

Stressei com o patrão e ele quase que me despediu por eu ter de sair à hora para ir dar um concerto numa sexta-feira à noite em Grândola. Fui a acelerar para o alentejo. A minha namorada carregou o amplificador e a guitarra, sozinha, e foi andando mais cedo. Dei o concerto e regressei ainda com mais stress. Fui trabalhar o fim de semana todo para segurar o emprego. O Toninho ligou-me e em 3 dias tive que fazer uma versão de uma música dos UHF, preparar uma banda e gravá-la em estudio. Entretanto ganhei uns prémios internacionais de publicidade, a coisa acalmou com o patrão, preparei a festa, fiz os convites e casei-me. Fui de lua de mel e uma semana depois já o trabalho não me largava com fins de semana agarrado a livros e a programas de computador. Nos intervalos escrevia umas coisas. Enquanto fazia um bacalhau no forno tocava guitarra mas não falava francês, escrevia mais umas letras soltas. A namorada, entretanto já esposa, jogava playstation e queimava tempo. Os 3 litros de Jack Daniels vindos de Andorra esgotaram com as noitadas em frente à mesa de mistura caseira. No dia seguinte trabalhar era um suplício. Mas tinha de ser. O António Manuel Ribeiro ligava a dizer que tinha umas primeiras partes de UHF para fazer. Óptimo, mesmo sendo a um domingo. Acaba o espectáculo e regresso a casa às 3h30 da manhã. Às 9h30 já estava a trabalhar novamente. Escrevo um contrato à pressão e envio por fax para a organização de um concerto. Mais uma série de telefonemas para acertar as coisas, uns emails com o logotipo da banda para os cartazes e está tudo tratado. Entretanto é preciso falar com o pessoal para alugar uma carrinha. Mais uma semana lixada com 4 campanhas e 10 filmes para fazer. Despedida de solteiro no fim de semana seguinte com bebedeiras de sexta a domingo. O casamento do meu amigo é no sábado ao meio-dia e na sexta-feira tenho um concerto em Castelo de Vide. Vou dormir 4 horas e correr para o alentejo para estar a horas de assistir à cerimónia. Provavelmente no Domingo terei de ir trabalhar. Mas está tudo bem. Seja como for, nestes dois meses aqui representados já foi possível criar 14 novos temas para os k2o3, que irão fazer parte do novo disco, a sair no início do ano. Sinceramente é muito difícil arranjar tempo para a música quando não se depende dela. Mas a paixão que se tem por tudo isto, por querer fazer mais, por desejar subir para cima de um palco e mostrar às pessoas aquilo que mais gostamos de fazer, vale o sacrifício. Quase que me esquecia de dizer: não ganho dinheiro nenhum com isto. E como é simples algumas pessoas destruirem o trabalho de quem dá tudo o que tem, só porque estão à frente de uma editora e nem se dão ao trabalho de querer ouvir, só porque escrevem num jornal e como não gostam dizem que é mau, só porque trabalham numa rádio e a política da rádio não permite que passe. Mas também não será isso que me irá fazer baixar os braços, nem a mim nem a todos aqueles que continuam a sonhar, a acreditar de que é possível mudar alguma coisa.
Estamos vivos.

Ulisses

1.9.04

In Vivo: Paredes de Coura - Take III

Mais um dia de Festival. Paredes de Coura, 2004. Mais um dia, que não é simplesmente "mais um" dia. Não só é o meu último dia de Festival, como é de alguma forma, aquele que mais expectativas me incita.
O dia corre calmo e sereno... O pessoal continua a fazer-se passear pelo cenário quase bucólico, preenchido de ar pasmacento, depois de noites agitadas sucessivas... À tarde, arrastam-se as pernas, mas mal o sol se põe, as baterias começam a dar sinais de recarregamento e a euforia faz-se notar nos olhares ansiosos e animados...
A banda que abre esta noite é Wray Gun. A formação nacional, liderada pelo front-man, Paulo "Legendary-Gun" Furtado, entra de mansinho, acompanhada pelo coro Godspell. Uma apresentação quase discreta que não deixava adivinhar o espectáculo que se ia seguir! A euforia dos blues, num cocktail com rock-soul-roll!!! A frenética e espontânea coreografia de um Show Man (com letra grande!) no seu melhor! O público assistia entre o atónito e o fervilhante, enquanto as músicas se sucediam, num crescendo, que terminou com Paulo Furtado de guitarra em punho nos braços do público, entre autógrafos e apertos de mão, entre abraços e palmas nas costas, entre gritos histéricos e assobios de quem se sentia entre "estrelas"! Os Wray Gun não só foram a banda nacional que se destacou, mas foram a banda que melhor performance apresentou. Entre nacionais e internacionais!! A confirmação de que a fasquia "cá dentro" está ao nível do que se faz lá fora, e que mais do que nunca, o argumento "ser português" não serve de desculpa nem a bandas, nem a públicos!! E por aí fora...
Por muito bom que fosse o que viesse a seguir, a imagem da "nossa" banda impunha-se na memória ainda fresca... E o tempo que demorou até "Mark Lanegan Band" subir ao palco não foi o suficiente para dissipar o entusiasmo que se instalara!... De tal forma, que o ambiente pesadamente intismista que se debruçou com a noite, não conseguiu envolver todos... muitos até se teriam esquecido, da curiosidade de ver a nova apresentação de um dos responsáveis dos Queen of the Stone Age. Mas, aqueles que conseguiram apanhar aquela nova onda, tiveram o prazer de balancear até à profundidade oceânica de uma voz hipnotizante. Mark Lanegan não falou uma palavra, e a estática do seu corpo chegava a ser comovedoramente dolorosa... Quase como se o mais infímo gesto pudesse quebrar aquele "cristal" que ganhava forma no palco e tentava abraçar o recinto, o mundo inteiro... A única palavra, foi no fim, um "obrigado", que não deixou adivinhar qualquer traço da identidade, qualquer emoção, da pessoa que abandonava o palco. Não foi "distante", mas não foi "sedutor"! Era preciso dar, entregar-se completamente, para poder sentir as moléculas vocais "bluesy" trespassarem cada célula do epitélio, até render o corpo a um estado de quase anestesia. Mais um grande concerto!
The Kills! A demora até o início do espectáculo conseguiu impacientar o público ao ponto de "estragar" alguma da predisposição para um espectáculo que prometia ser no mínimo revelador! Problemas técnicos que pareciam incontornáveis adiavam o descarregar de adrenalina que se transpirava no ar nacarado. Depois de uma partida em falso, o "show" arranca. A cumplicidade dos dois personagens, VV e Hotel, foi a luz predominante de cada tema. A garra de uma voz "colocada" à PJ Harvey, numa "dança" agressiva, entre cigarros e cabelos esvoaçantes... acompanhada pela magreza comum de um companheiro dividido entre a guitarra e as programações... Música crua num palco quente onde a sensualidade é violenta. Faltou deixá-la atravessar o véu transparente do ecrã virtual! But... we danced!!
Para completar a noite, e preencher os mais recônditos e exigentes espaços, Black Rebel Motorcycle Club! Foram tudo, e tudo o resto! Uma presença poderosa de três elementos aparentemente "«vulneráveis". Muita energia a envolver o ar molhado (a chuva caiu em força, a brindar um coroar de uma noite fantástica!), e na lamacice que se reinstalou, a multidão vibrou e esgotou as expectativas! Houve direito a "encore", que terminou num tema quase triste a prometer a melancolia feliz das recordações que ali se imprimiam.
Foi um "grande" Festival, Paredes de Coura! Mais do que "reunião", via-se "união" entre todas as partes que fazem um evento! Podia dizer simplesmente: "ADOREI!"... As tantas outras palavras que me decidi a escrever são a tentativa (tento acreditar que, não vã!) de partilhar os momentos fantásticos que lá vivi, com os que passam por aqui... e, de alguma forma também, guardá-los para mim...

Walkgirl

30.8.04

Disco: Plástica – The Red Light Underground (Metrodiscos 2004)

E esta?... Os Plástica lançam o segundo disco numa editora independente e volvidas umas semanas passaram em mais do dobro as vendas do primeiro trabalho!
Disponivel durante os primeiros 15 dias com o Blitz, mais um grande disco, neste momento já se encontra à venda em todas as lojas.
The Red Light Underground é excelente. Um dos melhores disco rock dos últimos anos.
À medida que vou ouvindo e repetindo este trabalho dos Plástica, vou descobrindo coisas novas, pormenores e ambientes que me fazem querer ouvir o disco outra vez.
O trabalho dos músicos é excepcional, desde a composição, à execução, ao som e atitude de cada um dos membros, formando um conjunto coeso, melodioso e poderoso.
O primeiro trabalho dos Plástica saiu via EMI, foi gravado com um orçamento confortável e produzido por um produtor inglês. Neste disco, a banda grava com meios próprios, na garagem de ensaios com os músicos à frente da produção e da gravação. Resultado: comprem o disco e digam-me! :)
Estará afastado o fantasma estrangeirista? Cá dentro também se podem fazer bem as coisas : The Red Light Underground é exemplo disso.
O disco é coeso, o bom gosto uma constante, recheado de grandes temas, riffs e experimentalismo q.b.
Visita os Plástica em www.plasticamusic.com e faz uma escuta ao disco. Se gostares vai a uma loja e compra-o. O preço anda à volta dos 9.50€.
A banda está a trabalhar a exportação deste trabalho e a marcar datas ao vivo para uma série de países europeus.
Força !



António Côrte-Real


Contactos:
Editora: metrónomo@metronomo.net
Site: www.plasticamusic.com
Concertos: 91-7519537

29.8.04

In Vivo: Paredes de Coura - Take II

Paredes de Coura. Dia 18, 4ª feira. O sol espreita entre as nuvens que se passeiam ora mais “leves” ora mais ameaçadoras... Mas aguentam-se! Uns chuviscos a enfeitar agora e logo… “brincadeira de crianças” em comparação com o dia anterior.
Vou para o recinto mais cedo… Até porque me parece desperdício não aproveitar as “ofertas” do cartaz. Ainda assisto a uma parte considerável do concerto de Josh Rouse. Intimista, pacífico, sereno… sem tristeza mas meditativo. Um aperitivo perfeito, ainda que bem distante da “ementa” proposta para essa noite. Uma das revelações deste Festival, no Palco dos “Songwriters”.
O frio começa a cair em força e vejo-me obrigada a sair para reforçar agasalho… a noite ainda está a começar…
Chego pela segunda vez ao recinto, já tinha começado o concerto de Mão Morta, em interpretação de “as bonecas” de Braga. Surpreendem-me com uma indumentária bem coqueluche e requintada, cabeleiras e vestidos de cor… O alinhamento passa sobretudo por temas anteriores ao último álbum “Nus”, que no contexto em questão não faria tanto sentido, mas que a meu ver, podia ter sido mais explorado... Foi um bom espectáculo, que acabou naquele momento em que ganhou o “balanço”! Mão Morta, os Mão Morta de outrora, numa performance irrepreensível, mas a revelar ainda assim a falta de um “retoque final”, que não consigo identificar! Uma revelação que se manteve em segredo, um silêncio inseguro, a ausência de uma fala na peça… Encheu mas não preencheu.
Talvez o cansaço que acumulei, naquele momento começasse a repercutir efeitos! A envolvência do primeiro dia, no segundo, esmoreceu. Cheguei a sentir a falta do “chuveiro” de S. Pedro…
MC5! A voz “Godspell”, num contexto melódico distinto do habitual conseguiu despoletar a atenção do público. O ambiente era calmo, e a actuação foi envolvente, com o tempero de um passado misturado num presente indefinido, numa espécie de embriaguez que se instalava tranquilamente… Os ritmos mais agressivos conseguiam combinar-se com a ligeireza de vozes potentes, mas tranquilas… No espectáculo marcou-me o “sabor”, que foi qualquer coisa de familiar numa apresentação inesperadamente reveladora… Foi estranho…
Mondo Generator foi a banda que se seguiu… E foi, na minha opinião, aquela que menos impacto conseguiu. Os sons que pareciam colar-se uns aos outros, teve o condão de instalar um desânimo que, em mim, se reflectiu até ao fim daquela noite. Tenho consciência que a saturação de ondulações monotonamente revividas, em registos que não deixavam distinguir as formas dos objectos, esgotaram a minha predisposição para o “lugar” onde supostamente queria estar! Talvez por isso, acabei por deixar a vontade das minhas pernas sobrepor-se à vontade de ouvir o que vinha a seguir… e abandonei o recinto ao segundo tema da banda que muitos esperavam, os cabeça de cartaz, Motorhead!
No dia seguinte, perscrutando opiniões cheguei a conclusão nenhuma… Motorhead foi o grande concerto de muitos e o fim da noite de Festival para outros! É curioso observar como se conseguem misturar tão bem, gostos tão divergentes, e como um mesmo espectáculo consegue reproduzir efeitos tão desiguais…
A minha segunda noite de Festival foi um menos cúmplice… O público pareceu-me mais apático, as bandas ofereceram registos mais próximos, e a falta de alguma animosidade quer das bandas quer do povo esmoreceu a euforia… Constante foi o álcool, que continuou a rolar garganta abaixo e o fumo dos cigarros, que dava uma cor diferente ao ar da noite… A chuva marcou uma presença tímida, e como alguns, optou mesmo por se resguardar na sua tenda, à espera do dia seguinte.
Analisando, honestamente, as coisas… tenho consciência que as minhas preferências musicais se reflectiram na forma como vivi as actuações desse dia. Um reflexo que provavelmente se fez notar em muita gente que como eu abandonou o recinto mais cedo. Ainda assim, considero que a diversidade de um cartaz, como aconteceu no Festival de Paredes de Coura, é uma qualidade. Aquela que, por excelência, pode oferecer o requinte da sensibilidade. Um instrumento precioso para a avaliação de um desempenho, independentemente de nos agradar ou não. E no melhor ou no pior, há sempre qualquer coisa a absorver… e a aprender… sempre!

Walkgirl

26.8.04

In Vivo: Paredes de Coura - Take I

Paredes de Coura. Dia 17, 3ª feira. Depois de montar tenda num parque de campismo com uma densidade populacional bastante razoável, debaixo de um céu em ameaça permanente de chuva, sigo caminho para o recinto. Ao longe ainda consigo distinguir o “som” de Arrested Development. Um concerto, que me escapa porque o tempo corre, em vez de andar…
Mas a noite ainda está a começar… E promete! :)
Bunnyrunch! A banda entra em palco no momento em que eu entro em público. Uma sintonia simpática e encorajadora! Os Bunnyrunch são tugas!... “Sorry! We’re not Snow Patrol! We are… We are… Bunnyrunch! Bunnyrunch!”... A apresentação de um invulgar vocalista/baterista, que dispensa o banco tradicional e toca os pratos, a tarola e o bombo (isso mesmo!)… “stand up”! enquanto se passeia em volta de uma bateria que é a sua companheira de dança! Roll… rock and roll! É o mote e é a música com o dom de fazer parar a chuva! O povo salta e balança! Enquanto a festa dura, a chuva espera… para depois jorrar a cântaros, quase convidativos de gel de duche. A banda nacional agradece a presença de um público melómano, ao ponto de preterir o saco cama de uma tenda enxuta, aos sons electrizantes das guitarras aquecidas pela adrenalina de emoções levadas ao rubro!
Seguem-se John Spencer Blues Explosion! O anfitrião da noite é mesmo o rock, em misturas diversas, e não há descontentamentos! Os pés agitam-se enquanto evitam enterrar-se na matéria lamacenta em que se transformou o pó de dias quentes e secos anteriores! O público mantém-se!... Uma actuação fervilhante! Guitarras explosivas e a garra de uma voz que faz questão de se impor... Os blues a despoletar num “shake” enérgico e mais alternativo, mas intemporal!... Para muitos, o espectáculo da noite! A mim, marcou-me sobretudo pelos inesperados desvios de uma indumentária musical, com que contactei pela primeira vez na actuação no Festival da Ilha do Ermal em 2002, e que em Paredes de Coura revelou outra faceta dessa identidade que são os JSBE.
Scissor Sisters! O concerto foi de um rock-pop-roll, dançante e provocante! O sabor picante que a chuva não conseguiu dissipar! As roupas saíram molhadas, os cabelos escorreram água, a lama instalou-se definitivamente nos pés… A música entranhava-se, misturada na água da chuva, e os rostos esboçavam sorrisos, enquanto os corpos não paravam (não podiam dar-se ao luxo de arrefecer!)… Estava tudo doido! A imagem era digna de um vídeo-clip! ;) O desempenho foi o esperado, e apenas ficou a faltar aquele toque “pessoal” imprevisível, de qualquer “alive”... A banda podia talvez ter sido mais, mas o mais que lhes faltou, aconteceu no público. Um público que teimosamente insistiu em ficar e em viver aquele momento! Um momento que se tornou mais intenso porque a entrega foi a do que se pedia, e a do que não se ousava pedir!
O espectáculo é muito mais que o desempenho de uma banda, é muito mais que a paixão pela música, é muito mais que um lugar… é um conforto… Uma entrega comum, uma partilha de um momento que é especial pela aura que todo um contexto consegue criar e elevar! No final da noite, as pernas pesavam-me em direcção à tenda que sabia lá se ainda estava de pé… e enquanto ia sentindo o frio a chegar de mansinho, pensava no dócil conforto do suave regresso a um estado de “mim”... pleno de momentos recentes para recordar e reviver, ali e em distâncias inevitavelmente crescentes. Um regresso inconsciente de um estado de “nós”. O “nós” que era aquele número indeterminável de gente, debaixo de chuva, em cima de lama, no escuro, e de corpo e alma num palco de luzes... luzes que aconteciam entre as vagas de sons que iam escapando deliberadamente estudados!
A música foi o elemento unificador daquela massa humana, mas a intempérie que se abateu naquela minha primeira noite de Festival, foi a substância que consolidou a incoerência contextual do cenário. Seja lá qual for o verdadeiro “segredo”… um Festival é mesmo uma “festa” especial!... Paredes de Coura não ficou por aqui…

Walkgirl

25.8.04

Radio UK

Intróito:
O fenómeno das rádios formatadas com base em estudos de mercado não é um exclusivo português. Longe disso! Sem tecer considerações sobre a forma como esses estudos são realizados e aplicados, a minha crónica de hoje recupera um episódio - delicioso - ocorrido numa semana de Junho passado, no Reino Unido.


Os intervenientes e a semana:

A rádio
Classic Gold Digital, estação destinada a um público adulto, com música adequada a esse target e com forte aposta na programação.

O animador
Tony Blackburn, 61 anos de idade, 40 de carreira, iniciou-se na lendária e pirata Radio Caroline, apresentou o mítico “Top of the Pops” e foi disk-jockey da BBC Radio One. Actualmente, é o responsável pelo programa da manhã da Classic Gold Digital e recebeu o prémio de “Oldie of the Year” em 2003.

O artista
Cliff Richard, 63 anos de idade, 46 de carreira, teve como primeiro single o sucesso “Move It” (1958), conta com o record de “hit singles” no top inglês (126, com 14 a chegaram ao nº 1) e, segundo o Channel 4, é o artista com mais singles vendidos no Reino Unido (21 milhões).

2ª feira
O irreverente Tony Blackburn decide passar dois temas de Cliff Richard (não incluídos na playlist), no seu programa da manhã. Nesse mesmo dia, a Direcção da Rádio chama-o para uma reunião, onde é avisado para não tocar mais canções de Cliff.

3ª feira
Contrariando as instruções recebidas, Blackburn coloca no ar “Summer Holiday” (1963, 1º lugar no top inglês) e o Director de Programas, Paul Baker, envia um email ao apresentador:
“Não deveríamos estar a tocar Cliff Richard. Temos uma decisão, na política da estação, de que ele não corresponde aos nossos critérios de antena. Ele não está na playlist, e deves parar de tocar os seus discos”.

4ª feira
Estando “no ar” e sem meias medidas, Tony Blackburn decide partilhar com o auditório o teor do email do Director de Programas. De seguida, rasga o papel, atira-o para o lixo e toca mais dois antigos sucessos de Cliff Richard, “Living Doll” (1959, 1ºlugar no top inglês) e “We Don’t Talk Any More” (1979, 1º lugar no top inglês, 7º lugar no top americano e Disco de Ouro, em Portugal).
Como seria de esperar, as coisas tendem a rebentar...
O Director da Classic Gold Digital, John Baish, reage de imediato, também por email, e decreta a suspensão de Blackburn:
“Estás, constantemente, a quebrar a política musical da estação. Vincámos a nossa posição de forma tão clara quanto nos era possível. Não tenho outra opção senão suspender-te até que esta situação se possa resolver”, escreveu.
Baish anuncia que Blackburn não fará o seu programa na 5ª feira, para permitir, aos dois lados, “espaço para respirar” e solucionarem as suas divergências.
“O Tony acredita que o Cliff tem algumas excelentes canções e procurava testar a adesão do público”, disse ele. “Fazê-lo no ar não é a melhor forma de tomar estas decisões – nós temos estudos muito sofisticados.”

5ª feira
Tony Blackburn encontra-se suspenso e não apresenta o programa da manhã. Entretanto, a Classic Gold Digital é verdadeiramente inundada com emails e telefonemas de suporte a Blackburn e à passagem de temas de Cliff Richard. A chuva de reclamações torna a situação insustentável. O assunto chega, mesmo, à Câmara dos Comuns, onde o respectivo Líder apoia Blackburn e as suas escolhas musicais.

6ª feira
Sem espaço de manobra, dada a amplitude dos protestos, a Classic Gold Digital divulga que Blackburn vai regressar e que a música de Cliff Richard irá passar a integrar a playlist.

À BBC News Online, o Director da Rádio, John Baish, assumiu que foram “inundados com o apoio a Cliff. Deveríamos estar a tocá-lo tanto quanto The Beatles, e tocamos The Beatles com frequência. Esta briga nunca foi, realmente, sobre o Cliff. Foi, apenas, uma situação com o Tony que saiu de controle.”
Já o Director de Programas, Paul Baker, afirmou ao Daily Mirror que a “estação tem que dar ouvidos aos seus ouvintes ou eles não escutarão a estação”. Acrescentou, ainda, que “neste momento é absolutamente óbvio que os ouvintes querem escutar Cliff”.
Tony Blackburn, por sua vez, afirmou: “Estou encantado por esta questão se ter solucionado. Foram os ouvintes que ficaram por cima”.
E que pensou Cliff Richard disto tudo? Como seria natural, estava “realmente radiante”, até porque “Tinha desistido de me preocupar com isso há 3 ou 4 anos atrás. Tentei conversar e conseguir o meu lugar nas playlists, mas, não deu resultado e não entendi porquê – eu não tinha feito nada de errado para ser banido desta forma. Agora que o Tony pegou no bastão, pensei, óptimo.”
Blackburn tinha dito antes, no programa “Today” da BBC Radio 4, que “preferiria não perder o seu emprego por causa de Cliff Richard”, mas, que a suspensão tinha “um propósito sério”. “Não estamos a tocar discos para a Direcção, estamos a tocar para os nossos ouvintes. E os ouvintes gostam de Cliff”, disse ele.

[Sobre esta história, ocorrida numa sociedade onde a indústria musical é bem mais evoluída que a nossa, não ouso tecer conclusões. Tony Blackburn, Paul Baker, John Baish e Cliff Richard são nomes concretos de um exemplo concreto, mas, a reflexão que considero importante não é a dos nomes aqui referidos. A reflexão que se torna urgente efectuar é outra, mais profunda, em que este “caso” é, mera e precisamente, um exemplo.
Os estudos de mercado, os consultores, os resultados e a aplicação desses estudos que valor têm e como devem ser usados?]



Luís Silva do Ó

19.8.04

Saí para comprar pincéis.

Às vezes é bom desligar-mo-nos do mundo. Sermos nós mesmos. Apenas isso. Ser.
Sou músico. Sou português. Vivo um momento de (estranhamente) agradável falta de sintonia com a música. Algum desencanto, talvez, mas longe de ser triste. Nem se pense que vou desistir ou baixar os braços - Não - mas terei, talvez, mudado um pouco a minha postura.

Recordo sempre uma das metáforas que costumava usar para explicar a pessoas que precisavam de conversar e que se sentiam algo isoladas no mundo.
A vida é como um gigantesco muro que temos que pintar da nossa cor (púrpura serve perfeitamente para mim, obrigado. ou roxo. qqr coisa nesse tom)... Não o pintar é mau. Tentar pintá-lo pode acabar por nos matar. Começamos jovens, inexperientes, insensatos... com um mero pincel e uma latinha de tinta. Para tornar as coisas mais ridículas, imaginemo-nos com um pincel de aguarela na mão. Daqueles fininhos. À nossa frente, um muro até perder de vista, branco.

Começar desde logo a labuta seria condená-la ao fracasso. Há que ser inteligente. Dar umas pinceladas, ver um pouco da técnica, dar uns salpicos aqui e ali... Depois há que crescer. Sair da frente do muro. Conhecer gente, trocar ideias, aprender, ensinar, ajudar, ser ajudado. Há que mostrar o nosso trabalho a alguém. Gostas? É a cor que eu escolhi. Há que pegar no pincel, colocá-lo na mão dessa pessoa e ajudá-la a dar a primeira pincelada. Fazê-la ganhar o gosto por aquilo. Pô-la a ela a pintar. Depois, de mansinho, temos que sair e investir em nós próprios. Compremos então uma lata de tinta maior, um pincel igualmente maior. E voltemos para lá. Continuemos o trabalho, sós ou acompanhados. Dominemos novas técnicas, desenvolvamos algo que nos dê gozo apreciar, no fim do dia.

Saiamos... conheçamos mais gente, levemos o nosso amigo aprendiz de pintor. Conheçamos mais gente, troquemos ideias, experiências, façamos amizades e mostremos-lhes o nosso muro. Pintemos com eles. Há que rir, há que aproveitar esses momentos de troca de ideias.

Saiamos a meio. A cada período de aprendizagem intercalemos com um período de assimilação. Além de aprender, temos que apreender. Compremos uns bidões de tinta, uns pincéis tamanho gigante. Voltamos ao muro, pintamos, conhecemos gente, pômo-las a pintar, a ver o muro pelos nossos olhos, a ver o mundo pelos nossos olhos, pômo-las a trocar ideias entre elas, compramos rolos, máquinas de pintar, acabamos por comprar material que nós próprios não usamos, mas que é usado pela multidão de pequenos pintores que vamos encontrando e pondo a pintar um muro. Aquele muro.

Poderemos morrer, entretanto, mas morreremos com a certeza de que haverá mais gente a tentar tornar aquele enorme muro. O mesmo muro que, sozinhos, teríamos sido incapazes de pintar 1 milionésimo. Morreremos mas teremos deixado ficar algo. Dormiremos, mas outros cumprirão esse turno.

Os homens passam, mas a sua obra, a sua mensagem fica.

Finda a metáfora, julgo que atravesso, musicalmente, uma fase em que fui comprar pincéis.
Estou um pouco cansado, estou um pouco desligado, talvez até desiludido com muitas das coisas relacionadas com a música em Portugal, mas voltarei à carga, quiçá com mais meia dúzia de pintores e com uns rolos de pintar anti-salpicos?
Saí, com os The FingerTrips, um pouco das luzes da ribalta que chegaram a passar, numa reduzidíssima escala, por nós. Andamos mais reservados. Damos menos concertos, tornamo-nos mais exigentes, mas também mais generosos para com o público. Vamos tendo também a consciência de que a música dificilmente passará de um hobby. Um passatempo. Uma paixão. Algo que queremos fazer, mas que não é, fruto das exigências da vida, aquilo que pomos em primeiro plano 24 horas por dia.
Recebi recentemente em casa o pagamento de uns Royalties relativos à venda de CDs editados de um concurso em que participámos. 16 Euros. Não dá nem para os pincéis. Torna mais visíveis os contornos que definem que a música não pode ser um investimento grande demais nas nossas vidas. Por outro lado, sabe bem. É uma sensação estranha, diferente.

Entretanto, vamos aproveitando a vida, aprendendo um pouco, juntando dinheiro para pincéis, preparando novos projectos (se correr bem, tudo estará por cá antes do Natal), novas técnicas de desenho, novas maneiras de fazer aquilo que gostamos: a música.

18.8.04

O Primário

Este calmo Agosto de Lisboa, dá-me para falar, entre chuviscos e ameaços de intempérie, do que está para lá das fachadas. Desta vez, literalmente, dos edifícios.
A cidade antiga, esta como outras, esconde o mundo ininteligível das escolas de música e dos conservatórios. Isto a propósito da escrita dos músicos, que também se aprende. Assim se passa com a música propriamente dita, entender e saber harmonizar sons. Apesar do mérito do reino “de ouvido”, como se pode continuar a encarar como saber menor a teoria e técnica musical?
Até entendo que os preços sejam proibitivos e as entradas por demais condicionadas em conservatórios e mesmo em instituições de todo privadas. Se calhar conhecem através de alguém a dificuldade de graus de equivalência entre conservatórios e demais escolas, bem como a aberração constituída por algumas audições de acesso.
Os programas de ensino nas escolas públicas deviam dar importância à música desde o primário. Não se fazem poetas com domínio de técnica sem estudos na área, tal como duvido que se façam verdadeiros músicos que saibam o estão a fazer e onde podem chegar no campo da harmonia dos sons, sem estudos de música. Saber música abre horizontes até para se entender o que se ouve, sem ser apenas pelos tradicionais “soa bem, é bonito”, “ganda som”.
Tive o privilégio de estudar música numa sociedade filarmónica – a União Artística, em Santiago do Cacém. Foi nesse conservatório de amadores que o grande Ti António – Donana de alcunha e Cipriano de nome – foi dando as lições de solfejo pelo surrado livro de Freitas Gazul, mais tarde, a vinte e cinco quilómetros de casa, com Ilda Maria pelo clássico compêndio de Artur Fão. Na SFUA, pela passagem da lição 100 do velho livro azul, foi-me entregue uma requinta (clarinete em mi bemol, vocacionado para os sons mais agudos), indiscritível a sensação de poder por em prática a teoria, com a tradicional passagem pelas escalas antes das pautas de músicas, propriamente ditas. E os estudos continuaram, não até onde queria, mas até onde me foi possível, com passagens pelo clarinete, saxofone tenor (esporádica) e acordeão clássico. Acompanhei bem de perto amigos meus que tiraram estudos nos conservatórios, nas escolas superiores de educação e que continuaram a aprender nas bandas militares. Quando oiço uma canção, não me consigo afastar do que aprendi e conheço, por isso muitas vezes não me agrada nada o que me chega aos ouvidos, mas admito que seja exigente em demasia, o que se pode tornar defeito.
Os da minha geração daquela Santiago, como de outros micro – climas, naquela parte final dos anos oitenta, agradecem por certo às suas famílias o facto de lhes terem permitido e incentivado até, o aprender de música, a prática desportiva, a leitura nas bibliotecas da terra e, por outro lado, adquirindo livros, instrumentos musicais, pagando para que os filhos, sobrinhos e netos soubessem mais do que eles próprios do mundo das artes.
Sei que temos agora o cenário das play stations , da música já feita dos outros, o pronto a vestir há muito que saiu da zona exclusiva das roupas.
Sobre o que as famílias fomentarem hoje, estamos nós aqui a conversar, daqui a uns anos, dos efeitos e mais uma vez, do que haveria de ter sido feito. Triste sina esta, de aqui sim, correr –se atrás do prejuízo. Como serão os músicos de amanhã?
Como se pode esperar que um ver de coisas que dá conta de termos poetas que não lêem e não aprendem a escrever para lá de alguns limites, de músicos que não sabem uma nota e de faltas de visão assombrosas, nos leve muito além do lugar onde agora estamos?
É fácil, ainda que pouco original ou mesmo vulgar, criticar um dos intervenientes no processo de divulgação de música cá no burgo, esquecendo outros e o papel próprio. Ser-se tapado passa por tomar isto e aquilo como verdades absolutas e não ter espírito crítico. Não menosprezo indicadores, nem opiniões – desde que dadas para acrescentar algo de bom – ser refém das próprias palavras e de posturas radicais à força, nada traz que não seja banalidade e alguma forma aparentemente discreta de ignorância.
Quando é que alguém pede satisfações à televisão pela medíocre divulgação de música, que à parte de um top que – utilizando a mais preferida das expressões de análise – vale o que vale, de alguns programas de música alternativa como o “músicas do mundo”, de alguma coisa da SIC Radical, pouco tem? Quase que vale já às vezes mais o franchising da MTV, porque o canal nacional de música, que de sol só tem o nome é, em minha opinião, uma nulidade na divulgação, sem critério, e é por isso não têm audiência. O serviço público da RTP passou pela brilhante iniciativa de fazer um debate sobre o estado da música em Portugal, lançou a bomba e fugiu. Um debate onde todos os que falaram tinham a sua razão e onde se disseram muitas verdades e não se chegou a um conjunto palpável de linhas de orientação, com concessões e arredar de medos.
A música é uma indústria, em Portugal insiste em funcionar como uma micro – empresa. Antes que alguém se ofenda por equiparar a música à metalomecânica, siderurgia e comunicação, digo que por mais nuvens de embelezamento que se coloquem, com rótulos bonitos e laçarotes, não há mais forma de esconder essa parte da verdade. A música é feita para vender, tal como tudo. Há quem a faça por amadorismo, louvável, mas não paga os custos da vida moderna. Temos de apoiar a nossa música, pois claro, mas quem a faz e comercializa, mais do que o interesse na música em si, quer é vender. E nem sequer há nada para condenar. As indústrias fabricam e vendem. A música é mais uma, ainda que a nossa preferida.
As rádios e as televisões necessitam de audiência, que vende a publicidade que as sustenta – tendo funções sociais ainda melhor, trata-se de uma mais – valia.
Os editores, têm de vender discos para existir, de todo, ou em determinado país. Os catálogos nacionais justificam a permanência cá sempre bem-vinda e de cooperação de colegas de mundo da música, não são é uma bandeira, se venderem discos não portugueses o lucro também chega, não vai é para os nossos artistas, o que, de facto, é de lamentar.
Os autores, músicos (e staff) precisam de vender discos e concertos, produzir para vender. Só há que, em todos estes casos, não ter vergonha de o admitir ou arranjar palavras dissimuladas para o fazer, é preciso vender e pronto.
Quem me explica porque é que toda a gente canta nos concertos as músicas de cor de imensos grupos, estão nesses concertos milhares de pessoas e como é que depois, na própria altura ou na semana seguinte, nas lojas, não é adquirida a mesma quantia de discos dessa banda?
A banda não fica o tempo suficiente na memória?
Será que os discos estão demasiado caros?
Como depois a rádio não tocou os temas todos ou algum que fosse, o público – tal qual não tivesse pensar próprio – seguindo os lideres espirituais que são as mulheres e homens dos microfones – boicotou a compra dos discos?
A liberdade existe para tudo, pode ouvir a estação de rádio ou televisão que quiser, ou nem sequer se aproximar de nenhuma. Pode gostar de música ou não. Pode gostar de música portuguesa ou preferir outra. O que não gosta, com certeza, é que lhe impinjam o que não quer. Respeito as liberdades de escolha.
Penso que aproveita aos músicos e grupos portugueses a ideia do Luís Silva do Ó, a figura em boa hora sugerida do gestor de carreira. Estou certo que este, a ser um bom profissional não permitiria a um grupo, por exemplo, editar uma série de discos no mesmo ano e a fazer uma travessia de deserto durante um bom par deles. Importa a estrutura, não a conjuntura.
Antes da demão definitiva no lançamento ou retoque de um grupo, é necessário um primário, que lhe dê consistência, base e ajude ao brilho final da obra e seus autores. Assim, podem ser utilizadas quaisquer latas que tenham no rótulo as inscrições “gestor de carreira”, “ensino de música”, “atenção ao mercado”, “relações públicas” ou outras e variadas que tragam benefício claro e acetinado, para que não seja só fachada. Sem receios de manchar a pintura, ou estalar o verniz.


Bruno Gonçalves Pereira


O ensino da música. Ensino público, conservatórios e outras formas de aprender.

Os músicos de amanhã.

A televisão e a música.

A música é uma indústria.

Porque é que os largos milhares que assistem aos concertos não compram o disco da banda?

Subscrição de apoio à figura do gestor de carreira dos músicos.

A estrutura, o todo, como sempre.

17.8.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 33/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 12 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

2º VAGABUNDO POR AMOR - TONY CARREIRA (ESPACIAL/ESPACIAL)
3º RE-DEFINIÇÕES (PR) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
4º CINEMA (PR) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
6º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
7º ESQUISSOS (OU) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
11º O MUNDO AO CONTRÁRIO (PR) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
14º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
15º UM AMOR INFINITO (OU) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
17º TA O BALHO ARMADO - ADIAFA (COLUMBIA/SONY MUSIC)
18º GUITARRA, O MELHOR DE (P) - CARLOS PAREDES (EMI/EMI-VC)
21º A CABRITINHA - QUIM BARREIROS (ESPACIAL/ESPACIAL)
22º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS (PR) - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

16.8.04

Noites Ritual Rock 2004
Jardins do Palácio de Cristal, 27 e 28 de Agosto

Ritual em comum: a música que é indiscutivelmente nossa, a capacidade para manter em festa as noites de Agosto, agitando o Porto com um regresso entusiástico ao Palácio de Cristal e às propostas nacionais.
Ritual diferente: dois palcos que se distanciam cada vez mais em termos de proposta + um programa que cresce em outras direcções, procurando os trilhos recentes do som e da imagem (com fotoprojecção, exposições e até um workshop de fotografia).
As Noites Ritual estão de regresso, com rock, como sempre, mas não só.
Da bit electrónica ao hip-hop total, das novas apostas aos nomes confirmados, está cá tudo e todos.
Cartaz a abrir com a prestação única e intensa de Tiger Man, depois a irreverência dos Fat Freddy , a estreia no festival da nova banda de Manel Cruz e Peixe (Pluto), a finalizar e a encher o palco de Rosa Carne, com os Clã. E rendendo-se, depois, ao rock-electrónico dos X-Wife, à força dos Blunder; à nova fase dos Zen ou à confirmação dos Mão Morta.
Com espaço, no Palco Ritual, para cantautores a solo e novos valores do hip-hop. Porque há sempre lugar para mais um. Músicos / espectadores, nos palcos mais próximos de todos.
Duas noites sem as quais o mapa da música português não fica completo.
O Ritual vai começar.


Programa |

Sex. 27 Agosto
Palco 1: The Legendary Tiger Man Fat| Freddy | Pluto | Clã
Palco Ritual: Fritz Kahn | Nuno.Nico | Jorge Cruz

Sáb. 28 Agosto
Palco 1: X Wife | Blunder | Zen | Mão Morta
Palco Ritual: Capull | Nbc | Matozoo


  • Programa e Informação Detalhada



  • Fonte: Xinfrim

    12.8.04

    Blogue-se à Força – Oito
    "Não sou do fado, sou do rock, não me resigno."

    A modos que...

    ...é por estas e por outras que me esquivo de aceitar compromissos – todos – de uma forma solene, sobretudo se acho difícil cumpri-los. Mas a vida é assim e hoje o dever de escrever esta crónica chama por mim.

    Andei por Lisboa seca e molhada em tarefas lassas de um verão que espreita o olho ao clima da savana. Os portugueses adoram guiar mal, faz parte da sua pequena aventura de todos os dias a diatribe privada ao volante, finalmente o bardamerda ao chefe ou ao cônjuge que não houve coragem para gritar, vingado, vingadinho no entalanço feito ao gajo que se queria meter à frente: "À minha frente, ora pois, vai-te f...", rematou o bigodes ao meu lado. Será por isto que tantos portugueses penduram no espelho retrovisor um terço, depositando na divindade a reparação das suas aselhices? Entretanto, na segunda circular, a modorra do trânsito assemelhava-se a uma serpente gorda de digestão a deslizar para o fim da tarde.
    Cento e nove quilómetros e duas horas e doze minutos depois, regressei ao convívio do Rafa, um pastor alemão que de há três anos e meio para cá estuda a linguagem dos homens, o cheiro e o perfil dos sujeitos amigáveis e dos outros.


    Profética nação

    Pensei muito sobre o que haveria hoje de escrever, mesmo durante o almoço prolongado com um jornalista nas Docas de Alcântara. O tempo sobrava nas filas do trânsito apressado para o acidente, a rádio escorria o baú do costume, indiferente se as pessoas que ouvem rádio são deste tempo e gostam da música actual ou múmias. Juro: nos anos de 1980 não tinha esta idade, esta lata, este carro e um telemóvel.
    Para um tipo como eu, duas vezes e meia divorciado, ouvir certas canções fora do seu contexto temporal traz à memória momentos passados e enterrados com os refrães desses tempos: é este o serviço primário e primeiro da música popular, marcar a vida em cada momento das nossas vidas. Mas, como todos sabemos, ao fim de muitos anos de éter ficámos todos burros, os radialistas ainda mais burros estão, levando em conta que os famosos consultores é que a sabem toda.
    Aqui para nós: recentes estudos de mercado revelam novas e continuadas percas para o mundo radiofónico, fazendo lembrar a história do PC que vê fugirem-lhe votos eleição atrás de eleição apesar de, pelo discurso dos seus líderes, continuar a reforçar a sua posição "junto do povo eleitor" (dixit).
    No país dos enormes equívocos – já tínhamos a história dos fenómenos do Entroncamento – mais um, o equívoco da rádio que não passa a música destes dias, portuguesa ou estrangeira, torna-se fastidioso, chato, sem piada.
    Depois de ter lido há dias nas páginas de A Bola como a própria Marktest dirige o jogo, percebem-se melhor os comentários que aqui travei em duelo de amizade com o Bruno G. Pereira, e como anda a ser difícil à malta da rádio dar o braço a torcer e avançar para a ruptura, a mudança, uma rádio que não espezinhe o trabalho editorial discográfico, antes o divulgue, como a história ocidental da pop music ensinou.


    As cores nacionais e o desígnio

    Vimos e ainda vemos o pano verde-rubro nas janelas, nas varandas, nas antenas e nos carros. O fenómeno partiu de um brasileiro treinador de bola, campeão e meio campeão, que mistura táctica futebolística com adorações religiosas: desta vez não deu, só para provar que da outra vez houve acaso em vez de desígnio.
    Não seria bom que, para além do convite para manter a bandeira à mostra até ao apuramento da nossa selecção para o campeonato do mundo de futebol, conforme nos foi pedido, ultrapassássemos o futebol como desígnio nacional, e nos encontrássemos como nação com gente dentro? E, já agora: que tal uma rádio e depois outra e outra irem garimpando o filão do que é português, sem xenofobias, com auto-estima, dando estímulo aos seus criadores?
    Deixo aqui o desafio e convido-vos a assistir a um qualquer concerto dos UHF – grupo de palavras portuguesas com estórias: as pessoas gostam de cantar as canções que foram quadros nas suas vidas.
    Porque...


    ...há uma poética...

    ...que nos é intrínseca, a nós portugueses, apesar do nível assustador de analfabetos totais e funcionais: mesmo o mais grotesco português é capaz de repetir que "somos um país de poetas". Porque será?
    Escreve-se mal por aqui. Fala-se mal, na rádio, na TV, nas nossas canções. Abandalhando a pátria cultural, começámos em 95 a levar com as novas rimas ajustadas ao brasileirismo de Odivelas para servir o despertar da música pimba: mais do que o brejeiro, a facilidade grosseira assaz picante chegava ao poder, sim porque os tugas são uns vivaços sempre jeitosos (actual versão Fernando Rocha). Vejam no que deu: o esgoto está entupido e os artistas de arte falidos. Mas no rock, Senhor, ou nesta música pop ou moderna ou outra conversa, escreve-se tão mal, amanha-se também tão mal uma ideia poética que às vezes pergunto: que fazemos nós aqui?
    Quando acabei a Ópera dos UHF e mais tarde o meu segundo livro de poemas pus-me a mesma questão: será que alguém vai perceber isto, será que alguém me vai ouvir ou ler?
    Temos por aí imensos amigos professores, eu próprio fugi de uma carreira que haveria de me pôr maluco, a pão e água ou exilado. Não é apenas o léxico dos Kapas que me preocupa: hoje ainda mal se sente mas daqui a uns anos, sem correcção, a malta vai pensar que assim é que é.
    O que me atormenta é uma escrita oca, feia e foleira, utilizada e usada com a arrogância dos justos e dos certos: a história do mundo sabe o que tem sido o reino da ignorância na história do homem; o que me preocupa é não haver uma crítica discográfica em Portugal onde se esventre a temática que, grupos como os UHF ou os Xutos ou os Delfins ou outros, abordam nas suas canções e, ao invés, tanto se fale – pateticamente – de produção; o que me chateia é ficar só a pregar neste deserto e perceber que dez, quinze, vinte anos depois, o que antes foi escrito permanece actual e actuante: é bom pelo engenho, dói pelos sintomas da doença.
    Dou-vos alguns exemplos:
    "Cavalos de Corrida" (não é sobre droga dura mas sobre a vida rotineira nas grandes cidades);
    "Rua do Carmo" (uma fotografia de um tempo sem tempo, Lisboa romântica e naif);
    "Cheio" (porque às vezes um murro na mesa desentope as ideias);
    "Comédia Humana" (porque continua a hipocrisia do mundo);
    "Esta Dança Não me Interessa" (interessa a alguém?);
    "Lisboa Hotel" (não façam reservas que o Hotel está cheio);
    "Meninos Angolanos" (eu sei que este postal ilustrado não interessa aos Negócios Estrangeiros);
    "Quando (dentro de ti) " (essa força é tua e minha e ninguém no-la pode roubar);
    "Sarajevo (verão 92) " (quando é que esta porra acaba?);
    "Um Copo Contigo" (não é a amizade, uma forma profética de amor, o melhor do mundo?);
    Ou,
    "Uma Palavra Tua" (contra a corte da indiferença).

    No resto escrevo canções em que me descrevo, o espelho do homem e os necessários paraísos do amor ganho e perdido. Mas estarei eu aqui no papel do cabotino que promove o que escreve? Não e talvez.
    Estou-me nas tintas para o sagrado elemento da patetice e da inveja e, magnanimamente, para o santuário lusitano do "parece mal". Afirmo o que acredito e o que sou. Escrevo e reescrevo, mato-me a corrigir, rasgo e deito fora o resto, que é muito e do qual desconfio.
    Depois do liceu continuei a estudar literatura na Faculdade e, sobretudo, continuei a ler, a aprender, a abrir necessariamente um dicionário de Língua Portuguesa. Por isso não tenho vergonha do meu passado, acreditando que, pela forma e conteúdo das suas canções, os UHF têm contribuído para elevar o intelecto das pessoas, divertindo necessariamente, mas suscitando questões que a indiferença adormece. À volta só terra árida: TV, imprensa e até rádio, doem; os políticos, os homens da bola e o jet set, com microfone e câmara à frente, doem.
    Perguntar-me-ão: mas é preciso ir à Faculdade para escrever a letra de uma música rock?
    Respondo: não sei, o poeta Aleixo era analfabeto e... sabiamente inspirado. Mas é evidente que estudar os clássicos ajuda, formar uma mentalidade crítica é necessário, ser corrigido molda a consciência formal do aprendiz: se um médico tem de estudar, um homem de leis e um futuro engenheiro também, colocamos a formação do escritor de canções a que nível? Só vamos lá pelo jeito? E o saber e a técnica, e a comparação histórica?
    Para expressarmos aos outros imagens da nossa visão pessoal é preciso mais do que configurar as palavras que a malta usa nas conversas na net, no dia a dia, repetindo expressões tribais. Ergo aqui a pena por três companheiros de escrita pop: Carlos Tê, Rui Reininho e Jorge Palma.


    Os outros

    Não consigo criticar os textos de outros colegas com discos a rodar por aí. Não consigo porque essa não é uma tarefa minha, mas tenho consciência das banalidades e dos equívocos que algumas capelinhas (o país é muito pequeno) permitem e promovem: apesar dos dislates, o melhor da música ainda é alguns músicos. Mas posso contribuir com esta reflexão para elevar a exigência das pessoas deste Portugal acomodado, cobarde e que adora repetir: "que se há-de fazer, sempre foi assim".
    Apesar do gueto em que a querem colocar, a música moderna portuguesa não é pobre, é nobre e resiste por puro gozo: pessoalmente não sou do fado, sou do rock, não me resigno.

    No final: os últimos concertos dos UHF têm decorrido tão bem que, por vezes, no palco, enquanto uma canção se esvai, pergunto-me se o que está ali a acontecer é mesmo real. E é. Tem sido: Mafra a 30/07, Benavente a 2/08 e 9/08 em Santa Maria da Feira.
    Pelo meio, a 31/07, a solo, deu para tocar "Por Três Minutos na Vida", voz e piano, e, magistralmente, "Sierra Maestra", em noite de Lua Cheia.
    A vida de músico tem estas coisas pequenas e bonitas: momentos irrepetíveis que o suor da noite guarda.
    (No próximo dia 20/08, pelas 22:00 horas, eu e o poeta Paulo Anes vamos andar à volta das palavras da poesia profética, bebendo "Um Chá no Paraíso", no salão de chá Tea For Two, na Costa de Caparica – montando a aldeia dos irredutíveis gauleses da cultura.)

    11 de Agosto de 2004

    António Manuel Ribeiro

    11.8.04

    Sugestão: "1"

    No âmbito da promoção ao seu disco de estreia 1 - Poesia e Percussão, os 1 vão estar amanhã, dia 12, quinta-feira, na primeira edição do programa Curto Circuito da Sic Radical 12.30h, com entrevista e ainda lugar a uma pequena performance.

    Uma boa oportunidade para a conferir ao vivo o interesse deste colectivo.

    Fonte: no agency

    In Vivo: Loto

    Diz-se que o criminoso volta sempre ao local do crime… Não sei a origem deste “pressuposto” mas tem qualquer coisa de inexoravelmente verdadeiro! Os lugares onde de alguma forma encontramos resposta a uma qualquer expectativa tornam-se parte de nós… Ou nós deles…
    Tanto texto para que o regresso ao “Tertúlia Castelense” não passe por um simples regresso, não seja apenas “mais” uma passagem por um qualquer troço de estrada. O Tertúlia tem o tal “je ne sais quoi” que não é suficientemente imperceptível para usar o “je ne sais”… O “quoi” está nas paredes e nas montras. Está nos balcões e nas mesas e cadeiras… está no fumo dos cigarros, nos copos, nos rostos que ali sofrem uma transfiguração… O lugar é excelente e a banda da noite promete!... Loto!
    Loto são uma banda para se ouvir de pé! Para se dançar nos ritmos electrizantes que uma bateria impulsiona incansável, nas mãos e pés de João Pedrosa. Tem as distorções afectadas de samplers num batido com guitarra, e baixo, e teclas, que vão até ao mais clássico e desafectado som de piano. Tem a voz crua e genuína de um vocalista (Ricardo Coelho) que deixa adivinhar o nome da banda, acompanhado nos coros pelo terceiro elemento (teclados), João Tiago… e pelo músico convidado no baixo.
    O Tertúlia é um quase salão de chá ou de baile, em voga há um século atrás e muito “british” no estilo. O “british” clássico das casas velhas recuperadas, das tradições conservadas, dos serões literários “à la” Eça de Queiroz. E os Loto são um grupo de rapazes, muito simples (aquela simplicidade que se encaixa em qualquer lugar e em qualquer circunstância!), que exploram sons modernos sem a irreverência que quase se julga óbvia! Talvez seja esse o trunfo que os distingue das demais!
    Não há gestos a mais, não há troca de comentários “revoltosos”, não há imagens extravagantes! O objectivo é a música, é a dança, são os sorrisos e as palmas que naturalmente o público entrega!
    A sobriedade fica sempre bem! Quando realmente existe qualidade os “adereços” revelam-se completamente dispensáveis! O Tertúlia viu as cadeiras aquecidas, abandonadas… Os corpos habitualmente pasmacentos e descansados iam-se abanando timidamente até se erguerem no “encore” para se juntarem a festa dos Loto! O salão de chá passou a ser apenas o cenário revivalista que no fim da peça se enche de festa! E as paredes ficaram a olhar… que nem um avô enternecido das traquinices do neto!
    A música do Loto é moderna, é divertida, é “soft”… É sumo de laranja natural com efeito de chá quente! Talvez porque a imagem “jovem” que exibe tenha qualquer coisa de acolhedor e confortável… Ritmos que rapidamente se tornam familiares, sons atrevidos sem agressividade, a imagem intemporal, a intimidade que a banda consegue conquistar numa relação fácil com o público que ali se reuniu… “I’m loosing my mind but I’ve got a good, good feeling” ... O primeiro sucesso da banda descreve com rigor a sensação que se vive na música que fazem: a loucura saudável! O transporte até a um estado de alegria, de diversão, onde doses “terapêuticas” de adrenalina se escapam e nos produzem uma percepção de vida diferente! Porque existe uma identidade nova a alargar a perspectiva de experiências anteriores… E os “Loto” têm o seu cunho… Evidente e acessível a quem quiser descobrir mais um bocadinho de “nós”, na “nossa” música…
    Neste “regresso” (interactivo) sinto-me tentada a cometer uma pequena inconfidência… Às vezes, é difícil encontrar as palavras que podem demarcar a diferença de cada experiência que aqui partilho… Interiormente, apenas alimento o desejo de despertar quem lê a saltar da cadeira e a ir… Ir! Viver a música!... Porque cada concerto, cada espectáculo, cada ambiente que se cria (e englobo neste contexto a música e o público obviamente!), transformam a realidade de cada lugar. As cores, as formas, as texturas… tudo se envolve de uma volúpia própria, única e irrepetível… E, a maior diferença entre as nossas bandas e as bandas que vêm de fora… quem a marca somos nós! A intensidade com que nos dedicamos aos que nos estão a dar!

    Walkgirl