29.7.04

De tudo um pouco

Intróito

Numa das últimas semanas, consegui tirar uma semana de férias e caminhei rumo à minha terra.
Como não sou adepto do "ser churrasco", em vez de esturricar ao sol, combinei alguns reencontros de amigos. Assim, num dos dias, em almoço com dois colegas de liceu, um deles (com quem não conversava à bué – também gosto de ser moderno e de usar as novas palavras do dicionário luso) confidenciou-me que a passagem dos anos não o estavam a deixar mais paciente, pelo contrário, estaria a ficar cada vez mais impaciente. Achei curiosa a confidência porque, a 150 km de distância, sinto a mesma coisa em relação a tantos aspectos do dia a dia...
Não entreguei nenhum texto no blogue, no passado mês, pois, considerei que nada havia a dizer. Estava demasiado impaciente e desiludido com detalhes soltos do Verão musical.


Scolari, o verdadeiro português

Felizmente, tivemos o Euro 2004, em futebol, para nos dar a alegria da redescoberta do "Ser Português". Nem que, para tal, tenha sido necessário recorrer às soberbas ideias de um senhor chamado Scolari, que se revelou um digno sucessor dos navegadores portugueses.
O futebol foi bom para muitas maleitas, inclusivé para o ego. Porém, para a nossa música, foi, como se esperava, igual ao litro...


Feira de vaidades

Fóruns de debate, neste país, estão quase sempre condenados ao fracasso.
Começam com bom fôlego, crescem em ideias interessantes e terminam em equívocos e ofensas da treta.
Ao longo destes meses, vivemos estas fases - incluindo comentários muito valiosos, escritos por bloguistas frequentes ou ocasionais – e assisti, satisfeito, a aceso debate entre cronistas e colaboradores do próprio blogue!
A porca torceu – inevitavelmente – o rabo, ao surgirem os primeiros ataques, rasteiros e gratuitos, a cronistas. A essas tiradas de mau gosto, a Administração do blogue respondeu com inúmeros apelos à serenidade. Todavia, apesar dos esforços, o respeito não chegou a comparecer.
Para piorar o cenário, começaram a surgir ofensas entre comentadores.
E foi neste quadro que se consumou a decisão dos últimos dias.
Pessoalmente, por mais disparates que tenha lido (a meu respeito e de outros) custa-me perder o elemento maior, que motivou debates e intensa troca de ideias. Contudo, concordo que, sem regulação, não faz sentido continuarmos uma tarefa de bombeiros voluntários.
Pena é que, por causa de um número marginal de pessoas, todos nós sejamos afectados.
É a vida!


Um mergulho glaciar

Gosto e admiro o trabalho dos Xutos & Pontapés e espero que compreendam que a redacção das próximas linhas não foi feita de ânimo leve. Custou-me muito. Mais de um mês para ser exacto...
Além de outra argumentação pesada, tenho quase todos os trabalhos dos Xutos (incluindo o célebre single "Sémen"), acompanho a carreira da banda, desde o início, e cresci, nas matinés do liceu, a escutar "Barcos Gregos".

Transpira em conversas privadas e públicas - é mesmo opinião corrente - que os últimos trabalhos dos Xutos têm sido menores em relação ao "passado". Ao aproximar-se uma marca histórica – 25 anos –, quis acreditar que a magia desse momento iria funcionar.
A pequena crítica, demolidora, que saiu no Blitz sobre o single, deixou-me incrédulo!
Passadas poucas semanas, a opinião mudou radicalmente e li várias páginas de rasgados elogios, dedicados por este mesmo semanário ao recente "O Mundo ao Contrário".
Quem não conhecia o trabalho, teve motivos para explodir de curiosidade e correr para uma discoteca, no objectivo de adquirir o CD, na expectativa de voltar a escutar um grande trabalho de rock português.
Até aqui, nada de errado. O problema só surge aquando da audição do disco, pois, este álbum é uma sombra, uma fotocópia negra e mal tirada do próprio som da banda.
Para não me sentir traído pelo engano, escutei o CD umas 15 vezes, antes de redigir esta pequena opinião.
Mas, por mais que o escute, as letras soam-me a uma (des)união de palavras, quase sempre ocas e banais, e a música é de uma ausência de criatividade cortante, sufocante e gritante.
No fim de tudo isto, a menos má canção (?) do disco é o tema promocional e nem esse me consegue entrar no ouvido!
É inacreditável que um grupo como os Xutos & Pontapés ouse colocar, nos escaparates, uma coisa destas.
Se isto ocorresse com os Rolling Stones, no Reino Unido, a comunicação social teria dizimado o trabalho. Por cá, o Blitz publicou uma crítica altamente favorável e com um destaque que nos deixa à beira de um ataque de nervos.
São acontecimentos destes que explicam muita coisa, num país onde a música portuguesa tem a dimensão que tem.
Algum puto que compre este disco voltará a gastar dinheiro noutro CD de música moderna portuguesa?
Respeito a carreira da banda, mas, respeitar não é sinónimo de dependência cega e autista.


Músicos

Qualquer reflexão sobre a música portuguesa, em que se abordem os diversos factores e os diversos intervenientes, resulta em reacções exacerbadas por parte de uns quantos. Temos de ser verdadeiros e assumir que alguns músicos são muito interventivos quando chega a hora de olhar para o umbigo.
Seria conveniente que estes músicos percebessem que o mundo não se limita ao seu próprio projecto musical e que existem outros músicos, cada qual com o seu talento.
As capelinhas não fazem sentido, só atrapalham, e esta falta de visão, de discernimento, não pode justificar tudo. Seria mais útil canalizarem as energias numa luta comum, porque motivos cooperativos não faltam para uma sentida reunião.
Mesmo músicos com carreira, por vezes, parecem esquecer-se que a nossa mercearia musical é, mesmo, uma pequena loja de bairro, na qual se necessita de alguma gestão e estratégia, sob pena de falir.
A figura de "gestor de carreira" é essencial, mas, em Portugal, alguém sabe o seu significado?
Alguém consegue conceber a edição deste "tiro no pé" dos Xutos & Pontapés?


Carreiras

Noto que, em Portugal, as carreiras dos diversos grupos e artistas tende a ser neglicenciada... Sem querer particularizar, temos algumas excepções em que a editora funciona como "porto de abrigo" faltando ao nosso meio musical, "gestores de carreira" que saibam dialogar com os músicos e que tracem metas e objectivos a longo prazo.
Um exemplo: no espaço de um ano, um grupo não pode pensar em gravar um disco conceptual, seguido de um disco rock, enquanto o seu vocalista lança um trabalho a solo e se projecta a gravação e edição de um concerto acústico da banda.
Tem de haver uma linha estratégica definida, em relação aos discos, aos concertos ao vivo e à carreira. Isto porque o concerto ao vivo é o cartão de visita para a compra de um disco ou de toda a discografia, assim como, um disco pode ser o "convite" para ir assistir ao vivo a um determinado concerto. Tal como as "placas tectónicas", tudo está ligado e tudo gira em torno de um mesmo objectivo.
Ao contrário de muitos managers "manhosos" que procuram o lucro fácil e imediato ("mastiga e deita fora"), um "gestor de carreira" serve para defender os interesses dos artistas e, por consequência, das próprias editoras.
Frequentemente, o lado criativo dos músicos não lhes permite discernir a melhor direcção, nem a melhor decisão. Quando um grupo em constante crescendo (este é um exemplo bem concreto) opta por um disco mais difícil - menos comercial - num momento como o actual, em que as rádios estão fechadas às apostas, tem de existir o bom senso de assegurar, pelo menos, um single que promova o disco e que o torne conhecido.
Igualmente, é de evitar que, com o intuito de ganhar mais uns trocos, o grupo (ou o seu manager) prefira dar espectáculos com um som e uma luz sofríveis, colocando toda a imagem da banda em cheque...

É que, meus amigos, a liberdade artística é fundamental, mas, depois, não se venham queixar que as rádios não passam temas de muita "qualidade" (o que é afinal a "qualidade"?), embora, sem pinga de chama comercial.
Se discos com temas fortes já não conseguem entrar nas playlists, imaginem o que sucede a um CD sem um único tema orelhudo!

Luís Silva do Ó

27.7.04

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 30/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 13 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros

2º CINEMA (PR) - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
4º O MUNDO AO CONTRÁRIO (PR) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
6º RE-DEFINIÇÕES (PR) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
7º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
8º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
9º UM AMOR INFINITO (PR) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
12º GUITARRA, O MELHOR DE (P) - CARLOS PAREDES (EMI/EMI-VC)
13º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
17º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS (PR) - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)
23º FADO EM MIM (2P) - MARIZA (WORLD CONNECTION/EMI-VC)
24º UMA GUITARRA COM GENTE DENTRO (OU) - CARLOS PAREDES (UNIVERSAL)
27º TA O BANHO ARMADO - ADIAFA (COLUMBIA/SONY MUSIC)
28º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

26.7.04

Comentários OFF

O calor parece ter chegado a este blogue com uma força devastadora.
Apesar dos repetidos pedidos à contenção verbal, a secção de comentários transformou-se em algo que não queremos, nem podemos, permitir. Desta forma, não nos restou outra alternativa, senão colocar como inactiva esta secção.
Esperamos que, no futuro, seja possível retomar os debates valiosos que tívemos durante largos meses.

23.7.04

In Vivo: Vilar de Mouros

Nome: Festival de Música. Morada: Vilar de Mouros! Data: Sábado, 17 de Julho de 2004. O cartaz: Fingertips, Ice T, Clã, The Cure!
Temperatura: a ideal! A paisagem: soberba! O ambiente: fantástico!
Pessoas e paisagem convivem harmoniosamente naquele que é o cenário mais antigo deste tipo de eventos! Eu dissolvo-me no pó, que se ergue em nuvens de fumo e no ar que se respira festivo!
Infelizmente não tive possibilidade de assistir ao Festival na íntegra porque outras obrigações se impuseram! Mas… estive lá! :-)
A oportunidade de assistir a “The Cure” afigurava-se como um prémio! Um prémio por ter sido adolescente, por ter absorvido punk, por ter as células epidérmicas sensíveis a notas mais rebeldes! The Cure tornou-se num ingrediente muito em voga, que se usa e abusa, explora e reformula, buscam-se aproximações… Mas The Cure é The Cure! Sou fã (sim!), mas independentemente disso, admiro a coerência, a consistência, a crueza flagrante de um movimento intemporal…
Mas… Se The Cure foram a banda da noite com um concerto de encher a alma, as bandas nacionais que estiveram em palco não ficaram aquém das mais elevadas expectativas e cumpriram o protocolo com performances admiráveis! E afinal, neste Canal Maldito que nos serve de cenário, o nacional é “personagem principal”!...
A abrir o segundo dia de Festival estiveram os Fingertips e há que dizer que atendendo ao ainda pouco público que assistia, ao brilho do sol que se impunha e apelava às lentes escuras… atendendo a que as hostes da casa estavam a cargo de uma formação encabeçada por tão jovem figura… pedir mais, seria até ridículo! Faltou talvez o véu a envolver a música… faltou o abraço entre o público, que ainda se ia deambulando timidamente ao som dos últimos raios de luz, e os “tips” de uns “Finger”, que se estendiam convictamente! A intimidade que faltou foi mesmo por ausência da noite, de maior imponência das luzes de cores que lutavam com a claridade, do “entusiasmo afectado” do público, que viria mais tarde…
Mas, se Fingertips conseguiram dar ao público provas de que têm tudo para ir mais longe, os Clã fizeram jus ao nome que construíram e ao reconhecimento que têm… e deram um espectáculo! Manuela Azevedo é uma imagem de palco! O pop corre-lhe nas veias e nos músculos e o corpo faz a música! A voz percorre todos os contornos desse quarto intimista sem paredes, e envolve as palavras numa teia de sons recombinantes! O álbum “Rosa Carne” vai-se desfiando por entre temas mais antigos que elevam o público, que revigoram a força entre copos de cerveja e acordes mais ou menos familiares, mas todos genuínos… A exaltação da nossa língua!... O momento é o vento que suspende as cores de uma bandeira verde e vermelha, que teima em permanecer… Os Clã foram românticos e efusivos! E a massa de gente balanceou-se no mesmo ondular apaixonado e selvagem das letras dançantes! Momentos que agora se estendem pelo tempo, em fragmentos de memória, tão soltos quanto a música dessa noite…
Desse 17 de Julho não guardo Ice T, que teve uma actuação hip-extra-american-hop, com um discurso de frases “feitas” e “mother fuckers” a separar cada duas palavras! Quebras demasiado frequentes e forçadas dificultavam qualquer entusiasmo maior… mas de destacar a prestação feliz de um fã que teve honras de palco!
Vilar de Mouros foi obviamente muito mais!
Correu muito bem e parece-me importante congratular a organização de eventos como este, fora dos grandes centros, conciliando duas valias do nosso país: a música e a paisagem! De certeza que quem lá esteve guarda na memória imagens de grandes concertos! Eu, “revejo” essas imagens num sorriso, cúmplice de uma multidão que partilhou afectuosamente entre si, as mesmas árvores circundantes, os mesmos trilhos de pedra, as mesmas barraquinhas “feirantes”, os encontros e desencontros, o brilho da lua que pairou despercebido num palco com tanta cor! Afinal, uma vez por ano, Vilar de Mouros é um Festival!

Walkgirl

19.7.04

O mais esclarecido dos liberalismos

Sempre fui, por princípio, pouco adepto das meias palavras. Acho que o apoio à música portuguesa pode e deve revestir muitas formas, condenando à partida qualquer situação de clausura. A colocação em “guetos” não a vai proteger, antes uma exposição ampla, tal e qual a visão que se deve ter dos nossos sons e do seu real poder.
Estive na semana passada no Hard Rock Café, os meus vizinhos ali dos Restauradores, ouvi os “Cúmplices” uma banda que de todo desconhecia, mas que já existe - pelos vistos - desde 92. Gostei do que ouvi, é bom saber que também a fusão pop / rock ainda dá de si. É claro que nunca me chegou qualquer registo da banda ou de muitas outras, mas de tal já falámos.
Devo dizer que ando a sentir mais de perto a situação das editoras e a transformação do modo de as pessoas consumirem música. Falei, ainda mais, nos últimos meses com responsáveis destas áreas e de facto, para além da cordialidade que tivemos e do se conseguir falar e expor ideias, chego cada vez mais à placa indicadora de caminho que diz “conciliação”... espero que a quilometragem indicada na dita sinalização não seja excessiva...
Esta estória de conciliação entre os envolvidos na produção e divulgação da nossa música não se afigura como retórica, diz o sonho ou a ingenuidade aplicado ao que se fala. Acredito que seja por vezes difícil articular a emoção e o fim a que se destina a música que é o de tocar sentimentos de quem a ouve e a quem a faz e, por outro lado, a necessária visão comercial de indústria, para a fazer divulgar convenientemente e para que esta venda, seja nas lojas de discos, na net ou nos concertos e demais meios.
Penso que só não vê quem não quer. As soluções ou são mitigadas ou simplesmente não existem, quem concebe uma relação de todos os interessados com serventia e sem cooperação está-se a afastar do caminho que, entenda-se, tem de ser real e não ilusório, mesmo um negócio só é bom, se for bom para ambas as partes, e aqui é o mesmo.
Será que há muita gente a admitir que exista música para o grande público e outra para nichos de mercado?  Às vezes penso que não, porque a divulgação que se pretende dar a uma e a outra é igual ou gasta-se mais de empenho, meios e (eventualmente) verbas a divulgar a última. E não estou aqui a falar numa perspectiva exclusiva dos editores, entenda-se bem. Talvez se mantenha ainda um preconceito de encarar  a música como um produto, dada a sua carga emotiva e criativa, porque estamos perante uma arte. Quem sabe se é aqui que está o cerne, misturar dinheiro e arte. Mas há que aprender a viver com isto e que me desculpem as bandas que se “desunham” por todo o país, a custo reduzido ou inexistente, nada contra o trabalho e a vontade. Mas temos de aplicar um valor às coisas, mesmo que seja pecuniário. As pessoas não podem ser só informadas de que uma banda existe, pronto, fazem-se uns cartazes, toca na rádio, vão a um programa de televisão, destaque na loja de discos. O público precisa de ser formado, e instruído para gostar de música, da nossa principalmente, que é onde existe o maior déficit . Lá fora, também não nos podemos esquecer que as crianças ainda no ventre vão a sessões de audição de música, aprendem técnica e teoria desde cedo de um modo generalizado e não existe a cultura do ser avesso às artes – livros, música e belas artes – temos por terras nossas muitos complexos infundados, desde as conotações perniciosas do mundo das artes com a homossexualidade e os estupefacientes ao não se considerar a música um trabalho sério, vê-se de tudo. Havia alguém que dizia que as mentalidades não se mudam na secretaria, coberto de razão. Panfletos de um país que ainda tem casos de violência gratuita pelas suas ruas, onde se cultiva o insulto fácil e onde, para um elemento do sexo feminino, é proibitivo andar por certas ruas, terras e horas sem ser condecorada com abordagens ordinárias ou de alguma forma abusivas de qualquer espécie de integridade. Dirão alguns que são excepções, pois... o tristemente curioso é que quase todos nós conhecemos alguma excepção...
Queremos nós agora, já neste ano da idade média de 2004, que se dê valor à música e em particular à nossa... não será o nosso desenvolvimento de formação espelho do cultural?
Nasceu mesmo uma nação com o campeonato europeu de futebol?
Retorno à música e às suas escapatórias, a nossa música portuguesa nomeadamente, porque é dela que se fala aqui no Canal Maldito. Pode ser mais vendável por via da sua tipificação, os sons mais experimentais com espaço nas rádios ditas mais alternativas que existem em cada vez maior número e com coberturas geográficas extraordinárias – não agora falo de audiências, nem para aqui são chamadas – uma comercialização em espaços alternativos e, naturalmente, secções com uma renovada disposição e filosofia nas lojas que já temos e que têm vindo a fazer parte do seu papel, apelando para a tão reclamada reposição em tempo útil dos stock’s , que não tem sido o cartão de visita do circuito de distribuição e de alguns espaços. Entendo tempo útil, neste caso, como aquele que permite não deixar de se vender um único disco que seja. Defendo ainda um investimento nos bares selectos para cada público, não um disparar à toa, a ver se acerta. Um espaço aconchegante e um bom som e palco podem fazer muito, mas se o público não for o nosso...
A ajuda da internet não tem sido potenciada, quer ao nível da divulgação, quer da venda. Sites de bandas com mp3 e regularmente actualizados são poucos ou pelo menos não os suficientes, os editores poderiam pensar a sério em permitir os já solicitados downloads de qualidade  - álbuns completos e faixa a faixa - pagos a um preço justo, para além da venda de álbuns físicos pelos sites. Continuo a ver que muitas bandas não estão interessadas em correr o país das rádios, enviando os seus trabalhos para todas, que mais não seja num acessível CD-R.
Tenho para mim que os que têm talento acabam por vingar e por detrás do lugar comum quero dizer ainda mais que toda esta euforia e consenso gerados pelo futebol e, quem sabe, pela nomeação do ex- Primeiro-Ministro para lugar de tão significante relevo, poder-se-ia canalizar também toda esta performance para as outras áreas de interesse. Sim, porque enquanto português não me estou a imaginar a arrear a bandeira, pelo menos a que tenho na cabeça. Depois de passada a festa, sinto necessidade de continuar a sentir que somos capazes de nos darmos bem por causas comuns, e entre elas, naturalmente, a nossa música.
Fala-se muito da necessidade de alargar horizontes, mas é agora, a seguir, que se vai ver. Quem é criticado pela negativa tem dois consolos, o primeiro é que não vagueou pela inércia, revestiu a sua postura de acção. Depois, o incómodo que se causa é provavelmente proporcional ao que se fez de movimento nas ideias. A passividade não acho que seja acrescento algum.
Cenário caricato este em que chegam temas às editoras impossíveis de trazer a lume. Em que bandas de talento erram pelas garagens e sub - mundos. Em que as rádios tomam  iniciativas consideradas insuficientes e poucos discos recebem. Em que a música do refugo pseudo - popular vai tocando ao lado da barraca das farturas, a contrastar com tudo o resto à volta, caracterizado pela escassez.
Ouvi (salvo seja) um artista de música de cariz popularucho, numa feira de artesanato de grande dimensão, esta semana. Soube que tinha ganho milhares de cachet. Nada contra o recheio da respectiva conta bancária do senhor, apesar de estarmos se calhar perante um enriquecimento sem causa. Da situação em si, a culpa é de quem? Das câmaras que continuam a fazer destas e ainda por cima gratuitamente? Das dezenas largas de pessoas que o ouviam? Do próprio artista que permite que as pessoas sejam enganadas, ganhando tanto pelo tão pouco de dar meia dúzia de gritos, contar anedotas e não passar de dois acordes/música, com uma lógica de rimas de se ficar sem palavras e profundeza de “poema” de um nível que não passa do caudal de uma ribeira seca?
Canso-me de tanto constatar que Eça de Queiroz está mais actual que o jornal de hoje.
As visões abertas nunca fizeram mal a ninguém, desde que esse seja o mais esclarecido dos liberalismos.
 
 
Bruno Gonçalves Pereira 

16.7.04

In Vivo: EZ Special

O tempo aqueceu, passaram dois festivais "big" e, depois de um intervalo afastada dos palcos (que outros pisam!)… sinto-me qual filho pródigo neste regresso feliz. Foi uma noite cheia!
Primeiro, Santo Tirso. Concerto dos EZ Special! Não alimentava expectativa alguma. Já tinha assistido a um concerto deles (menos venturoso) nas Noites Ritual Rock 2003, nos jardins do Palácio de Cristal, e a música já tão recalcada nos ouvidos pela publicidade, pelas rádios e televisões não acalentava o ónus de novidade!...
Há gente que se junta na praça. Muitos jovens. Muitos que não sabem o programa da noite que não vinha anunciado em lado algum... O concerto começa sem muito aparato. Só a televisão da praxe pousada num estrado no palco, anuncia no fundo rosa os "EZ Special"! Um pseudo-rádio procura uma pseudo-estação, numa pseudo-viagem que não tem destino nenhum. Pára num lugar qualquer anunciado como "wonderfull world of EZ Special"…
Foi um concerto muito bom! O cenário combinava com a "peça", que combinava com o público e com a disposição, que por sua vez, combinavam com as cores das roupas da estação e da moda… E quando os elementos encaixam, o resultado é uma imagem distinta e nítida, que se gosta mais ou menos, mas que não se ignora tal é a redundância dos seus contornos!
A música dos EZ Special é comercial... Naquele momento pensei que a música comercial era talvez a mais universal, era talvez aquela onde as harmonias conseguem melhor conjugar o positivo da vida… Até as músicas mais calmas conseguem despertar para aquela alegria baixinha que às vezes sopra em momentos mais tristes!
À minha volta, dos mais novos aos mais velhos todos se sentem adolescentes! Todos se sentem bonitos e populares! Vivem os acordes com sorrisos e olhares que brilham enquanto se cruzam pela multidão… Ainda que aqueles minutos sejam apenas um momento de ausência, vale a pena!
A banda está sólida, é cúmplice (entre si, e com o público), navega num mar que faz as ondas que precisam para chegar a bom porto. Um dos guitarristas, particularmente divertido, eleva a euforia cá de baixo, enquanto a voz se consegue manter irrepreensivelmente no seu posto de princípio a fim. São competentes, são jovens, são divertidos, são um sucesso. Se são resultado de uma fórmula não sei, mas não me pareceram menos autênticos!
A música tem outras formas e outras cores… Nessa noite, aproveitei o balanço do regresso para espreitar no Swing (Porto), uma banda que pode ser exactamente a outra face desta moeda! Dance Damage!... O nome não diz muito. Ou até diz! São experimentais, alternativos, são de um dançante alucinado, atiram sons em todas as direcções…
O vocalista veste de saia preta, e usa uma corrente que combina com outras que se espalham entre as escassas pessoas ali presentes. Os olhos estão pintados de negro e o cabelo penteado rebelde. Os outros elementos, mais discretos, dedicam-se às guitarras, a umas teclas híbridas de sintetizador, e à bateria. O instrumental consegue momentos bons, mas a voz passeia-se monocordicamente por um lugar menos interessante. O resultado é meio desconexo e incerto… Há pormenores curiosos, soltos entre sons que circundam formas menos vulgares, e uma qualquer estrutura rígida de fundo, que se perde na sobreposição das matérias. Uma mistura de "sabores" que se detectam mas não se distinguem perfeitamente entre si. Uma dúvida que se cria permanentemente… Talvez o elemento unificador ausente seja a experiência… A expressão do tempo de palco onde determinadas respostas surgem, onde algumas verdades desvanecem enquanto outras se desnudam… Não há garagens que bastem! É preciso palco, é preciso estrada, é preciso sentir a demanda de uma entrega que é muito maior quando se completa a outra dimensão do espectáculo, quando se encontra o público…
São os diferentes perfis de duas realidades que vivem no mesmo mundo… O jogo é um só, mas cada "equipa" tem a sua identidade, tem a sua cor… e para haver campeonato são precisas muitas! :)

Walkgirl

13.7.04

Blogue-se à Força – Sete
O verão quente de 2004

Intróito

Em Junho não apareci por aqui e não vou explicar porquê – ainda me dói a ferida. Mas até podia descrever-me, ir contra os conselhos de alguns amigos mais conservadores que assinalam a demasiada exposição que esta tribuna suscita – só o suscita porque me apetece aqui vir provocar e desafiar as consciências.
Recordo, sempre que estou a falar de poesia em salas que podem ter dez, vinte, ou cinquenta pessoas no máximo, recordo, dizia, a todos aqueles que vieram e não ficaram em casa no chouriço da TV, que juntos parecemos a famosa aldeia de uns certos gauleses irredutíveis.

Por tudo isto, falar-vos faz parte de um exercício de libertação, algo mais que as canções e o canto: os políticos chamar-lhe-iam um acto de cidadania.


De borla

A digressão dos UHF prossegue rotineiramente a subir e a descer a A1, um voo pelo oceano, a vigilância histérica dos aeroportos ou a sua ausência, as bandeirinhas a sugerirem (?) que a nação existe, e aqui pergunto se além da empatia do chuto na bola há uma outra existência maior, mais subtil e poderosa, fundada na cultura de um país de gente informada, exigente e capaz.
Oiço as agruras da crise política, as meias verdades que jorram de todos os quadrantes, penso nos meus amigos que encontrei na política, na ginástica a que são obrigados pela sobrevivência, penso no povo que murchou na noite de 4 de Julho porque uns gregos quaisquer vieram de mansinho lixar os planos da orquestração sonhada. E enquanto subimos o alcatrão tremido da canícula, penso em tudo o que se passa à nossa volta e como esta vida se passa na música, vai para vinte e seis anos de acordes afinados (nem sempre).
Que a música de cá está às portas da amargura, toda a gente o sabe. E as causas, além das lamúrias costumeiras e do palavreado formal?
Hoje, acrescento uma: em Portugal, ao longo de todo o ano, a música é um produto que se serve de borla às massas, esvaziando-se assim o acto nobre de se gostar de pagar um bilhete para presenciar um espectáculo, uma actuação, um momento único de arte.
É verdade, noventa por cento ou mais dos espectáculos que todos os artistas executam, têm entrada livre, são oferecidos à população por entidades: autarquias, partidos políticos, comissões de festas, todo o tipo de outras comissões, associações e afins.
A malta que tem dinheiro guarda-o para os festivais, que também são sítios onde os mais novos não vão para ver ninguém em especial mas, sobretudo, para estar com os amigos fora da alçada dos pais, experimentando o que aparecer na ementa.
Os festivais estão cheios, os estádios também, os nomes até são velhos e importantes ou novos e atraentes, sem que isso influa nas tabelas de vendas de discos: ir ver é uma coisa social, comprar o disquito é outra missa.


Brazucas

Nos últimos anos vinha-se acentuando a projecção de uma ou duas bandas brasileiras de covers, ligadas ao fenómeno das novelas, que estavam anunciadas em tudo o que era terra com festa religiosa tradicional. A situação piorou, melhorando para eles.
Os artistas da área pimba vivem um estertor dramático e o seu espaço foi ocupado por grupos de músicos de ritmos brasileiros – ficam bem em todas as estações – mais ou menos sósias uns dos outros, todos com o nome de Canta Qualquer Coisa, com uma invejável agenda de trabalho, empresários astutos, salários miseráveis e condições de vida superiores ao estatuto da favela.
Não será por acaso que este ano, por três vezes, os UHF tiveram como primeira parte grupos brasileiros clonados. Assim, onde poderão entrar as novas bandas nacionais que mendigam um palco? Mas vem tudo da China e é barato, até as imagens de plástico da Senhora de Fátima.
Em Inglaterra, onde os sindicatos têm força e subjugam governos, há uma lei que determina que um músico estrangeiro só pode actuar regularmente no território de sua majestade depois de cinco anos de permanência em solo GB. Por cá, bem por cá... alguém acredita que a música é uma profissão?


Majors

É este o termo que denomina as editoras multi-nacionais que operam entre nós, aqui e no resto do mundo. Pois é, por cá as nossas andam de cócoras, tal a dimensão do colapso que atinge o mercado discográfico português: a crise financeira, a pirataria informática, a importação livre, a promoção radiofónica, mais uma mão cheia de outras dores de cabeça, a começar pela exagerada dimensão de algumas empresas para a sua cota no mercado nacional, e os erros que alegremente somaram desde o tempo das leiteiras gordas.
Vale tudo, ou quase tudo, um desvario de mentiritas tão nossas que, longe de reparar e inverter o caudal dos danos, apenas suscita a ilusão e um compasso de espera.
O fenómeno by out que aqui e acolá deu frutos espontâneos, tem resultado no enterro de artistas e editores: é possível mentir uma vez a muita gente, mas já não é possível fazê-lo todo o tempo a toda gente.
No cozinhado têm entrado algumas luminárias terceiro-mundistas dos média, confirmando a imagem frágil da música portuguesa, que vive há muito de acontecimentos imprevistos e pouca e continuada competência – sobretudo para inventar.


Nós

Estamos serenos. “La Pop End Rock” ficou aquém das vendas possíveis e por tudo isso se justifica este novo disco de originais que está quase pronto e do qual já se ouve “Matas-me Com o Teu Olhar”. E se a Antena 3 o quis agarrar e o tornou seu, “Matas-me” é já um fenómeno ao vivo, um coro uníssono que nos envolve em cada concerto: não esqueceremos aquelas quatro mil almas na noite de 9 de Julho na vila de Nordeste, em São Miguel.
Estamos serenos porque estamos a fazer o disco que nos apetece fazer – para nós, mesmo quando é duro, trabalhar não é um sacrifício – no tempo que melhor nos apraz, sem quaisquer pressões. Vai vender muito? Não sei. Sabemos que os nossos fãs vão comprá-lo; os outros talvez, se o espaço mediático deste país deixar.
Aconteça o que acontecer estamos serenos, atentos à evolução das coisas que geram e giram na nossa profissão, intocáveis como artistas: ainda não perdemos a capacidade de gozar com tudo isto que é o rock and roll.
Parece que em política não seria aconselhável, mas os UHF emocionam-se e espantam-se por tudo e por nada.

13 de Julho de 2004 (catorze anos depois de “Julho, 13”, álbum ao vivo dos UHF, gravado em Almada)

António Manuel Ribeiro

7.7.04

"A minha banda é demais"

Quando há concerto é dia de festa.
Muitos dos concertos que as bandas vão dando são em bares, em festivais e por aí.
Para os Músicos é dia de festa, para os donos de bares, é dia de encher a casa com os amigos que vieram para ver as bandas.
Para os técnicos é o fim do mundo em cuecas: coisa tipo, 5 bandas, 10 pedaleiras de guitarra, 2 com mau contacto na saída, 3 na entrada e uma com um problema na fonte de alimentação. 5 bateristas com 5 sets de bateria, um esquerdino, e outro com 5 timbalões, 5 vocalistas que não se ouvem na monição e ainda há duas bandas que têm um “convidado especial” que vai “tocar” djambé. O guitarrista da 2ª banda vai tocar com pedal de wha wha mas não trouxe pilhas. O afinador da 3ª banda partiu-se todo. O baixo dos primeiros não tem a 3ª corda. E por sistema NINGUEM SABE TOCAR. Esta última premissa, garante, por si só, que o que se vai passar ali naquela noite vai ser mau e sem ponta por onde se pegue.
“Estou a ser mau”, dizem vocês.
“É o que se passa quase sempre”, digo eu.
Claro que a coisa não vai ficar por aqui.
Com o avançar das horas, o consumo de cerveja e de tabaco com aditivo, começa a deixar as suas marcas e a coisa vai piorando.
No check sound e isto quando há, e após a discussão com a organização acerca do alinhamento que é injusto e vai beneficiar os 4ºs a tocar e isso é lógico, está tudo feito, vai se continuando a avaliar o real estado da situação. Das tais 10 pedaleiras, só há um guitarrista que percebe minimamente da coisa e vai explicando aos outros onde ligar o jack que vem da guitarra e onde liga no amplificador.
Esse guitarrista, na hora do jantar senta-se com os técnicos. Se este gajo não estiver lá à noite, vai haver pessoal que nem a guitarra sabe ligar. O resto dos “músicos” vai confraternizando, falando do outro festival em que ganharam os mais xungas porque conheciam alguém da organização, porque até ficaram a conversar depois da actuação da sua banda. Entretanto, outro vai dizendo que tem um amigo numa rádio que lhe contou que os outros só passavam na radio porque pagaram, outro que as editoras não apostam e que eles deviam ter ganho o outro festival, toda a gente disse que eles eram os melhores.
Nesta conversa está tudo com atitude, sim porque atitude é importante, e toda a gente sabe que a sua banda é demais, pois todos os seus amigos e vizinhos dizem que eles são demais. De guitarras gostam mais das vermelhas ou das pretas.
Começa o tal jantar, toda a gente aproveita para beber, é de borla, e é dia de concerto, é preciso ficar inspirado e fora, porque o Morrison também se pedrava todo e era demais.
Começa o concerto, os primeiros gostam dos Xutos, os segundos de Pearl Jam, os terceiros de Korn, os quartos de Blind Zero, os quintos de Delfins. Os djambés ficaram óptimos com as pistas desligadas, o baterista esquerdino demorou 40 minutos a mudar, o que tocava com 5 timbalões deixou-os atrás do palco onde caíram os tripés do esquerdino e o baixo sem a 3ª corda, foderam-se todos. A pedaleira com o problema na fonte de alimentação não tocou, o gajo utilizou a pedaleira do outro que percebia e que lhe arranjou uma distorção que era uma merda (está tudo feito), os técnicos não fizeram som de palco e o microfone da vocalista da 1ª banda desligou-se a meio da 2ª música. Para os da casa ganharam os de fora porque é sempre a mesma merda, para os de fora ganharam os da casa porque é sempre a mesma merda. A tragédia foi total. É um caso caricato dizem vocês, ao que eu respondo, vão ao Blitz, vejam os próximos concertos (festivais de bandas) e apareçam por lá. Vão ver que a coisa é mesmo assim e se não é sempre, é quase. E isto não é só no interior, nem só com bandas que estão a começar. Mesmo nos maiores eventos do género não se sai disto.
Para as bandas:
Se por sistema participam neste tipo de eventos considerem o seguinte. Enviem uma ficha técnica (rider técnico) da vossa banda previamente, levem cópias no dia para técnicos de som, frente e palco. Levem lista de vias e implementação em palco Simplifiquem o vosso set de bateria para o mínimo de timbalões e pratos possível, verifiquem as pedaleiras, cordas, jacks e pilhas antes de saírem, não metam mais gajos a tocar sobretudo se eles não o sabem fazer, esqueçam djambés, flautas, vozes das namoradas, e violinos desafinados, não se metam em guitarras acústicas a não ser que seja estritamente necessário. Não bebam nem fumem enquanto as coisas não estiverem na carrinha arrumadas, falem com calma com a organização e sobretudo com os técnicos, estejam muito atentos no check sound e procurem entenderem-se bem com todo o pessoal da empresa de som. Partam do principio, que ali não têm as máximas condições para fazer o vosso trabalho, por isso têm que simplificar o vosso set e serem muito compreensivos com todas as situações. Não pensem que são os maiores, pois todas as bandas nesse dia são as maiores para os seus amigos e namoradas, e também eles na terra deles passam muitas vezes nas rádios e nos bares da região. Vão bem preparados, e tentem fazer o vosso melhor, esqueçam o 1º lugar e preocupem-se em dar uma bom concerto. Analisem bem as outras bandas, vejam o que é que eles estão a fazer melhor ou pior que vocês, mas mantenham a discussão dentro da banda. Troquem contactos com as outras bandas, tentem arranjar um concerto na região deles e esperem ter sorte.
Enquanto o nível qualitativo destes eventos for assim (que é, digo eu) as novas gerações não vão ser melhores que as anteriores, ou seja, vamos continuar abaixo do que é internacionalmente praticado. Quanto a mim, este problema é o maior. A falta de qualidade. Querem ver... Acerca dos Xutos. Não me deixo impressionar por esta fase de que este albúm é o pior. É sempre assim, o último é sempre pior. Passados 2 anos todos cantam na mesma as músicas e deliram. O que eu quero dizer (e sei que os fãs não vão gostar) é que por exemplo, no Rock In Rio, qual a diferença entre Xutos e os Foo Fighters?... (não sou minimamente fã de nenhum) acho que os Xutos ganham em tempo de carreira, em discos gravados, em palcos pisados etc etc etc. Agora, porque é que deram um espectáculo bem pior?... ok as luzes!... mas esqueçam as luzes... ok estavam 50 000 pessoas a curtir os Xutos!... mas esqueçam isso porque os Xutos são uma instituição nacional e que toda a gente sabe cantar as suas músicas. Se não considerarmos estes dois factores vemos que tudo foi pior, a performance dos músicos, o som, a composição, a atitude etc etc. Ou seja, se o concerto fosse na América acham que ficavam 50 000 pessoas a vê-los?... talvez não...


Mr. Soul

AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 27/2004

No top semanal de vendas da AFP encontramos 10 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.

1º CINEMA - RODRIGO LEÃO (COLUMBIA/SONY MUSIC)
4º O MUNDO AO CONTRÁRIO (PR) - XUTOS & PONTAPÉS (MERCURY/UNIVERSAL)
5º RE-DEFINIÇÕES (PR) - DA WEASEL (CAPITOL/EMI-VC)
9º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
10º UM AMOR INFINITO (PR) - MADREDEUS (CAPITOL/EMI-VC)
13º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
14º PORTUGAL - CONQUISTAR A VITÓRIA (VIDISCO)
15º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
20º ALL'BOUT SMOKE'N MIRRORS (PR) - FINGERTIPS (METROSONIC/ZONA MÚSICA)
28º AI MOURARIA - AMÁLIA RODRIGUES (EMI/EMI-VC)

(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina

Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

6.7.04

Neste país, à beira mar plantado...

No rescaldo da primeira vaga de festivais de verão e em pleno Euro 2004, a música parece ter-se eclipsado das atenções de Portugal.

Tem sido normal tapar-se o sol com a peneira neste país. Aliás, se estamos na cauda da Europa em muita coisa, seguimos destacados na frente dos países que mais facilmente encontram peneiras. Ele é escândalos de pedofilia, ele é futebóis, ele é música, é à escolha do freguês. Desta feita vamos ficar sem aquele que foi, até agora, o nosso Primeiro Ministro. Mas está tudo bem. A selecção chegou à final e os jogadores passaram a heróis. Vende mais um jornal com a fotografia de um jogador na capa do que aquele que se arrisca a ter o Primeiro Ministro. Diferenças de mediatismo aceites por quase todos,
diga-se.

E a música? Estagnou... Após o RiR e o SBSR veio a tempestade.
Aguarda-se alguma bonança, mas o Euro 2004 trouxe apenas mais chuva e trovoada, salvo raras excepções. É que só há olhos para o futebol. Nada de mal em falar dele, nada de mal em vivê-lo... mas fazer dele a vida 24/7 é excessivo.

Findo o Euro, começaremos, espero, a regressar à normalidade. Uns mais rápidos que outros, é certo, mas aos poucos todos cessaremos o sorriso e pousaremos as bandeiras e cachecóis (cascóis, como parece vulgar chamar aos ditos, parece-me. Mas confesso que o termo não me seduz). A realidade voltará a impor a sua marcha. Voltaremos a ter um sistema de educação deficiente, um sistema de saúde inoperante, um sistema de transportes insuficiente, uma cultura supérflua... E assim andaremos, uns mais cabisbaixos, outros menos, até que surja de novo algo que nos faça levantar o queixo do chão. A 2ª vaga de festivais de verão poderá contribuir um pouco para isso, embora me pareça que se irão ressentir da maior dimensão dos anteriores. O tempo o dirá.

Até lá, vasculha-se nas prateleiras por algo que salte ao ouvido, de apelativo, de inovador... Talvez o hino do Euro?