Na passagem dos 7 meses de vida do blogue, sem publicidade e sem muito ruído, foram atingidas ontem as 20.000 visitas.
Curiosamente, o dia de ontem também marcou um novo máximo diário com 271 visitas.
Com um crescimento curioso, encontram-se inscritas 320 pessoas na nossa newsletter semanal.
Vamos continuar a querer debater e reflectir o futuro da música portuguesa.
A todos o nosso muito obrigado!
29.4.04
28.4.04
Um projecto global
Intro
Em outros tempos, Portugal era maior do que o Rossio; hoje em dia, qualquer mapa do Continente e Ilhas cabe na Betesga.
Estou farto desta treta de ser pequeno!
Quando andava na escola, aprendi, em "História de Portugal", que os portugueses eram fabulosos e que descobriram meio mundo. À medida que fui crescendo, a grandeza de Portugal foi mirrando, mirrando...
São ciclos e eu estou a viver na época em que este país se encontra numa região manhosa de Espanha.
Em 1974, libertou-se uma tendência de globalização que, ainda, não deu mostras de parar.
Passou a ser sinónimo de modernidade atestar os nossos estômagos num McDonald?s e numa Pizza Hut.
Tirando o ridículo da ausência de amor próprio, Portugal foi vivendo, cada vez mais, numa sociedade globalizada, das mais felizes e contentes por perderem a identidade cultural.
Sempre divulguei, apoiei e estive ligado ao rock português.
Acompanhei o "boom" de 1980, como ouvinte, e passei a "homem da rádio" em 1986/87, altura em que entrevistei muito músico e travei amizade com o nosso camarada de blogue, António Manuel Ribeiro.
No início dos anos 90, realizei um programa de rádio somente vocacionado para a música moderna portuguesa. A "coisa" durou uns 4 anos e fui sendo consumido com as novidades que me chegavam pelo correio, num momento em que a "moda" de cantar em inglês começava a dar sinais de crescimento. Das largas dezenas de maquetes que recebia e que divulgava, poucas se aproveitavam e menor era o número das eleitas de que gostava. O esgotamento motivado pelo cansaço de ter de escutar, entrevistar e passar tanta coisa horrorosa fez mossa.
Claro que passava quase tudo o que recebia, desde que tivesse uma produção aceitável ou ideias interessantes, mesmo não gostando, porque o objectivo era divulgar... podia ser verdade que alguém apreciasse!
No momento em que eu próprio deixei de ter interesse em escutar o meu programa, as emissões terminaram e dediquei-me a outros debates e a outras lutas.
Nessa fase, tínhamos imensos grupos novos e poucos com verdadeiro interesse, pelo menos, para mim!
A originalidade era escassa, as melodias quase sempre uma desgraça, os vocalistas usavam um inglês macarrónico e os músicos, ainda, estavam na terceira classe, apesar de serem melhores executantes que o pessoal de 80/82.
Em 2004, muita coisa mudou.
Temos uma boa quantidade de projectos com nível, os músicos são mesmo bons e as melodias ficam no ouvido. A língua vagueia entre um melhor inglês e um tímido retorno ao português.
Mercado Interno
Ao contrário de outros tempos, temos, actualmente, projectos musicais em quantidade, qualidade e diversidade.
Falta é que estes grupos saiam em definitivo do limbo onde se encontram e passem a tocar, a gravar e a serem escutados na rádio e na TV.
Ora, aqui é que a porca torce o rabo...
A TV, cada vez a maior referência nas audiências, não tem programas de entretenimento suficientes e as telenovelas não chegam para todos...
As rádios... bem, a divulgação nas rádios é matéria já batida e convenientemente debatida, pelo que, desta vez, não vejo necessidade de voltar à questão.
Na imprensa escrita, temos diversas publicações, mas, a referência continua a ser o Blitz, que, apesar de estar a trabalhar bastante melhor do que no passado recente, permanece sem concorrência; é como se, em Portugal, só existisse uma TV ou uma rádio de grande expressão. Ou uma editora.
Chegamos às editoras... num mercado em crise, em que poucas apostas são feitas e em que as editoras vivem dificuldades económicas.
A tendência corre no sentido de parcerias entre músicos e editoras, numa mudança considerável em relação ao passado recente. O caminho pode passar por uma aposta financeira dos próprios músicos e uma parceria (com acordo prévio, se possível) com uma editora que garanta a edição, promoção e distribuição. Ganham as editoras porque não investem em estúdio e, provavelmente, os músicos porque as contrapartidas financeiras das vendas poderão ser muito melhores.
Mas, quando o que está em causa é a própria existência da música portuguesa, não deveria o Estado olhar para os nossos músicos de uma forma diferente? Não são eles próprios agentes culturais?
Cultura ou Indústria?
Em 1991, inserido numa Associação Juvenil, organizei uma Conferência sobre Ambiente.
Naturalmente, foram feitos diversos contactos para patrocínios, entre os quais, os inevitáveis Ministério do Ambiente e Secretaria de Estado da Juventude.
Para abreviar, nenhum deles patrocinou, o primeiro porque considerou que o apoio devia ser prestado pelo segundo e o segundo porque alegou que a esfera de acção era responsabilidade do primeiro!
Será a música não erudita, quer seja electrónica, pop, fado, rock ou de outro estilo qualquer, um produto industrial ou um produto cultural?
Pelo comportamento dos organismos oficiais, parece-me que se repete a história da Conferência. Depende do ângulo?
Caso fosse a música considerada cultura, não deveria ter um tratamento semelhante a outras artes?
Não deveriam ser concedidos apoios, como acontece em outras áreas, nomeadamente, no teatro e no cinema? No mínimo, não deveria existir uma tributação de 5% de IVA?
Visão ou Alucinação?
Sobre os apoios financeiros à música portuguesa e buscando o exemplo do cinema, não seria tempo de reflectir, seriamente, acerca desta questão?
Passeando pelo site do ICAM (Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia) e olhando para os concursos de 2004, vou escolher um entre diversos, no caso, o "Apoio Financeiro à Criação e Produção Cinematográfica". Dentro deste Apoio em concreto e só em relação a "Longas Metragens de Ficção", temos 6 projectos que irão receber um total de ? 3.900.000,00... qualquer coisa como 780 mil contos.
Com uma verba desta dimensão, se usada pelos músicos portugueses, quantos discos se conseguiriam gravar e promover por ano?
Claro que, com apoios desta ordem, o Estado podia enquadrar essa aposta num pensamento global.
A primeira contrapartida podia ser um compromisso em termos de preço de venda dos CDs apoiados, necessariamente a valores muito inferiores aos praticados, tentando generalizar-se essa medida a todos os discos de música portuguesa.
Se tivermos os CDs de música portuguesa a 10 euros, vamos incentivar as vendas, o conhecimento público, o fomento do gosto dos portugueses pela sua música e, talvez, alterar mentalidades...
Todavia, este apoio à produção musical podia ter um espaço ainda mais vasto: o da indústria e o da exportação.
Exportação: Utopia?
A tal globalização em que Portugal é "excelente aluno" pode ter muitos aspectos negativos, mas, também, tem lados positivos.
Um deles é que estando o "Euro 2004" tão próximo, seremos óptimos conselheiros para os turistas que nos visitem, nas "ementas tipo" das grandes cadeias de "fast food".
Outro aspecto positivo é que esta onda de bandas de valor, com sonoridades diversificadas e actuais, só podia surgir num país tão aberto ao exterior.
Exemplos como Madredeus, Moonspell ou Fonzie mostram que é possível exportar a nossa música.
Dentro de uma linha de apoio, de aposta na música portuguesa, o Estado, depois de consolidar a etapa interna, usando o meio Internet e o organismo ICEP, poderia trabalhar os nossos valores numa perspectiva de exportação.
Por seu lado, o ICEP, a AFP, a SPA e demais organizações ligadas à música criariam um movimento global.
Naturalmente que feiras de música como o MIDEM seriam de muita importância, mas, deviam ser exploradas outras potencialidades como Mostras de música em capitais mundiais.
Um portal com mp3 gratuitos e políticas concertadas poderiam abrir caminhos - como campanhas de publicidade dirigida ao portal nas principais revistas internacionais da especialidade... - despertar a curiosidade, motivar a audição e, estou certo, as divisas que entrassem, iriam justificar a aposta porque esta Indústria está bem mais evoluída do que o nosso Cinema.
No passado, demos novos mundos ao mundo.
Este é o "timing" para dar música!
Esclarecimentos adicionais:
1. O meu programa de mmp cessou na busca de novos desafios e não, somente, pela falta de qualidade das maquetes que recebia, porque quem corre por gosto descansa depressa.
2. Sugiro que descobramos uns locais típicos lusitanos para recomendar aos turistas, incluindo o "Rock Rendez-Vous" e o "Johnny Guitar".
Notas pessoais:
1. Na TV precisamos de mais homens como o Júlio Isidro.
2. Saúdo a iniciativa do Bruno Gonçalves Pereira e o espírito de colaboração que emerge no blogue.
3. Uma palavra de estímulo para o Nuno Ávila e Fausto da Silva, dos "Santos da Casa", e para todos aqueles que apoiam e divulgam a nossa música: o vosso trabalho é notável.
Dúvidas existenciais:
1. O lobbie da indústria livreira será mais unido e estará melhor organizado do que o ligado à música?
2. Querendo discutir a "música moderna portuguesa e o futuro", porque motivo alguns comentários no blogue são dignos exemplos do conservadorismo do "Velho do Restelo"?
3. Que dignidade pode advir a organizações que "contratem de borla" novas bandas para Festivais que rendem rio's de dinheiro?
Agradecimento Final:
À recente participação activa de David Ferreira neste blogue e às palavras do seu comentário.
Lamento Final:
A Capital já não conta com o "Rock Rendez-Vous" e com o "Johnny Guitar"?
Desejo Final:
Ser incluído no jantar que o Ulisses prometeu ao Bruno Gonçalves Pereira. No restaurante "A Herdade", em Porto Côvo?
Ideia Final:
Aproveitando o "Euro 2004", vamos mostrar alguma música a esses turistas? Alguém pensou num CD compilação para estes visitantes receberem?
Ponto Final.
Luís Silva do Ó, jornalista
Em outros tempos, Portugal era maior do que o Rossio; hoje em dia, qualquer mapa do Continente e Ilhas cabe na Betesga.
Estou farto desta treta de ser pequeno!
Quando andava na escola, aprendi, em "História de Portugal", que os portugueses eram fabulosos e que descobriram meio mundo. À medida que fui crescendo, a grandeza de Portugal foi mirrando, mirrando...
São ciclos e eu estou a viver na época em que este país se encontra numa região manhosa de Espanha.
Em 1974, libertou-se uma tendência de globalização que, ainda, não deu mostras de parar.
Passou a ser sinónimo de modernidade atestar os nossos estômagos num McDonald?s e numa Pizza Hut.
Tirando o ridículo da ausência de amor próprio, Portugal foi vivendo, cada vez mais, numa sociedade globalizada, das mais felizes e contentes por perderem a identidade cultural.
Sempre divulguei, apoiei e estive ligado ao rock português.
Acompanhei o "boom" de 1980, como ouvinte, e passei a "homem da rádio" em 1986/87, altura em que entrevistei muito músico e travei amizade com o nosso camarada de blogue, António Manuel Ribeiro.
No início dos anos 90, realizei um programa de rádio somente vocacionado para a música moderna portuguesa. A "coisa" durou uns 4 anos e fui sendo consumido com as novidades que me chegavam pelo correio, num momento em que a "moda" de cantar em inglês começava a dar sinais de crescimento. Das largas dezenas de maquetes que recebia e que divulgava, poucas se aproveitavam e menor era o número das eleitas de que gostava. O esgotamento motivado pelo cansaço de ter de escutar, entrevistar e passar tanta coisa horrorosa fez mossa.
Claro que passava quase tudo o que recebia, desde que tivesse uma produção aceitável ou ideias interessantes, mesmo não gostando, porque o objectivo era divulgar... podia ser verdade que alguém apreciasse!
No momento em que eu próprio deixei de ter interesse em escutar o meu programa, as emissões terminaram e dediquei-me a outros debates e a outras lutas.
Nessa fase, tínhamos imensos grupos novos e poucos com verdadeiro interesse, pelo menos, para mim!
A originalidade era escassa, as melodias quase sempre uma desgraça, os vocalistas usavam um inglês macarrónico e os músicos, ainda, estavam na terceira classe, apesar de serem melhores executantes que o pessoal de 80/82.
Em 2004, muita coisa mudou.
Temos uma boa quantidade de projectos com nível, os músicos são mesmo bons e as melodias ficam no ouvido. A língua vagueia entre um melhor inglês e um tímido retorno ao português.
Mercado Interno
Ao contrário de outros tempos, temos, actualmente, projectos musicais em quantidade, qualidade e diversidade.
Falta é que estes grupos saiam em definitivo do limbo onde se encontram e passem a tocar, a gravar e a serem escutados na rádio e na TV.
Ora, aqui é que a porca torce o rabo...
A TV, cada vez a maior referência nas audiências, não tem programas de entretenimento suficientes e as telenovelas não chegam para todos...
As rádios... bem, a divulgação nas rádios é matéria já batida e convenientemente debatida, pelo que, desta vez, não vejo necessidade de voltar à questão.
Na imprensa escrita, temos diversas publicações, mas, a referência continua a ser o Blitz, que, apesar de estar a trabalhar bastante melhor do que no passado recente, permanece sem concorrência; é como se, em Portugal, só existisse uma TV ou uma rádio de grande expressão. Ou uma editora.
Chegamos às editoras... num mercado em crise, em que poucas apostas são feitas e em que as editoras vivem dificuldades económicas.
A tendência corre no sentido de parcerias entre músicos e editoras, numa mudança considerável em relação ao passado recente. O caminho pode passar por uma aposta financeira dos próprios músicos e uma parceria (com acordo prévio, se possível) com uma editora que garanta a edição, promoção e distribuição. Ganham as editoras porque não investem em estúdio e, provavelmente, os músicos porque as contrapartidas financeiras das vendas poderão ser muito melhores.
Mas, quando o que está em causa é a própria existência da música portuguesa, não deveria o Estado olhar para os nossos músicos de uma forma diferente? Não são eles próprios agentes culturais?
Cultura ou Indústria?
Em 1991, inserido numa Associação Juvenil, organizei uma Conferência sobre Ambiente.
Naturalmente, foram feitos diversos contactos para patrocínios, entre os quais, os inevitáveis Ministério do Ambiente e Secretaria de Estado da Juventude.
Para abreviar, nenhum deles patrocinou, o primeiro porque considerou que o apoio devia ser prestado pelo segundo e o segundo porque alegou que a esfera de acção era responsabilidade do primeiro!
Será a música não erudita, quer seja electrónica, pop, fado, rock ou de outro estilo qualquer, um produto industrial ou um produto cultural?
Pelo comportamento dos organismos oficiais, parece-me que se repete a história da Conferência. Depende do ângulo?
Caso fosse a música considerada cultura, não deveria ter um tratamento semelhante a outras artes?
Não deveriam ser concedidos apoios, como acontece em outras áreas, nomeadamente, no teatro e no cinema? No mínimo, não deveria existir uma tributação de 5% de IVA?
Visão ou Alucinação?
Sobre os apoios financeiros à música portuguesa e buscando o exemplo do cinema, não seria tempo de reflectir, seriamente, acerca desta questão?
Passeando pelo site do ICAM (Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia) e olhando para os concursos de 2004, vou escolher um entre diversos, no caso, o "Apoio Financeiro à Criação e Produção Cinematográfica". Dentro deste Apoio em concreto e só em relação a "Longas Metragens de Ficção", temos 6 projectos que irão receber um total de ? 3.900.000,00... qualquer coisa como 780 mil contos.
Com uma verba desta dimensão, se usada pelos músicos portugueses, quantos discos se conseguiriam gravar e promover por ano?
Claro que, com apoios desta ordem, o Estado podia enquadrar essa aposta num pensamento global.
A primeira contrapartida podia ser um compromisso em termos de preço de venda dos CDs apoiados, necessariamente a valores muito inferiores aos praticados, tentando generalizar-se essa medida a todos os discos de música portuguesa.
Se tivermos os CDs de música portuguesa a 10 euros, vamos incentivar as vendas, o conhecimento público, o fomento do gosto dos portugueses pela sua música e, talvez, alterar mentalidades...
Todavia, este apoio à produção musical podia ter um espaço ainda mais vasto: o da indústria e o da exportação.
Exportação: Utopia?
A tal globalização em que Portugal é "excelente aluno" pode ter muitos aspectos negativos, mas, também, tem lados positivos.
Um deles é que estando o "Euro 2004" tão próximo, seremos óptimos conselheiros para os turistas que nos visitem, nas "ementas tipo" das grandes cadeias de "fast food".
Outro aspecto positivo é que esta onda de bandas de valor, com sonoridades diversificadas e actuais, só podia surgir num país tão aberto ao exterior.
Exemplos como Madredeus, Moonspell ou Fonzie mostram que é possível exportar a nossa música.
Dentro de uma linha de apoio, de aposta na música portuguesa, o Estado, depois de consolidar a etapa interna, usando o meio Internet e o organismo ICEP, poderia trabalhar os nossos valores numa perspectiva de exportação.
Por seu lado, o ICEP, a AFP, a SPA e demais organizações ligadas à música criariam um movimento global.
Naturalmente que feiras de música como o MIDEM seriam de muita importância, mas, deviam ser exploradas outras potencialidades como Mostras de música em capitais mundiais.
Um portal com mp3 gratuitos e políticas concertadas poderiam abrir caminhos - como campanhas de publicidade dirigida ao portal nas principais revistas internacionais da especialidade... - despertar a curiosidade, motivar a audição e, estou certo, as divisas que entrassem, iriam justificar a aposta porque esta Indústria está bem mais evoluída do que o nosso Cinema.
No passado, demos novos mundos ao mundo.
Este é o "timing" para dar música!
Esclarecimentos adicionais:
1. O meu programa de mmp cessou na busca de novos desafios e não, somente, pela falta de qualidade das maquetes que recebia, porque quem corre por gosto descansa depressa.
2. Sugiro que descobramos uns locais típicos lusitanos para recomendar aos turistas, incluindo o "Rock Rendez-Vous" e o "Johnny Guitar".
Notas pessoais:
1. Na TV precisamos de mais homens como o Júlio Isidro.
2. Saúdo a iniciativa do Bruno Gonçalves Pereira e o espírito de colaboração que emerge no blogue.
3. Uma palavra de estímulo para o Nuno Ávila e Fausto da Silva, dos "Santos da Casa", e para todos aqueles que apoiam e divulgam a nossa música: o vosso trabalho é notável.
Dúvidas existenciais:
1. O lobbie da indústria livreira será mais unido e estará melhor organizado do que o ligado à música?
2. Querendo discutir a "música moderna portuguesa e o futuro", porque motivo alguns comentários no blogue são dignos exemplos do conservadorismo do "Velho do Restelo"?
3. Que dignidade pode advir a organizações que "contratem de borla" novas bandas para Festivais que rendem rio's de dinheiro?
Agradecimento Final:
À recente participação activa de David Ferreira neste blogue e às palavras do seu comentário.
Lamento Final:
A Capital já não conta com o "Rock Rendez-Vous" e com o "Johnny Guitar"?
Desejo Final:
Ser incluído no jantar que o Ulisses prometeu ao Bruno Gonçalves Pereira. No restaurante "A Herdade", em Porto Côvo?
Ideia Final:
Aproveitando o "Euro 2004", vamos mostrar alguma música a esses turistas? Alguém pensou num CD compilação para estes visitantes receberem?
Ponto Final.
Luís Silva do Ó, jornalista
27.4.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 17/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 11 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.
10º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
13º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
16º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
17º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
18º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
21º AO VIVO NO CCB (2P) - LUIS REPRESAS (EMI/EMI-VC)
24º UTOPIA - VITORINO & JANITA SALOMÉ (CAPITOL/EMI-VC)
25º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
27º APENAS O AMOR - ALDINA DUARTE (VIRGIN/EMI-VC)
28º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
30º O MELHOR DE ANTONIO VARIAÇOES (2P) - ANTONIO VARIAÇOES (EMI/EMI-VC)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
10º ESQUISSOS (PR) - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
13º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
16º OLHAR EM FRENTE (OU) - BETO (FAROL MÚSICA)
17º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
18º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
21º AO VIVO NO CCB (2P) - LUIS REPRESAS (EMI/EMI-VC)
24º UTOPIA - VITORINO & JANITA SALOMÉ (CAPITOL/EMI-VC)
25º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
27º APENAS O AMOR - ALDINA DUARTE (VIRGIN/EMI-VC)
28º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
30º O MELHOR DE ANTONIO VARIAÇOES (2P) - ANTONIO VARIAÇOES (EMI/EMI-VC)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
David Ferreira reage a "O Sigilo"
Que bom discutir em público assuntos que nos interessam a todos! E que surpresa, alguém da Media Capital dar-me confiança bastante para dialogar comigo em público... não é costume! O habitual é a Media Capital faltar a debates... Ou será que o Bruno Gonçalves Pereira fala a título pessoal? Seja como for merece uma resposta - e perguntas, como adiante verá.
O problema nº1 da Música na Rádio é o tipo de programação nostálgica da Rádio Comercial e da RFM. Em resumo, e para quem não saiba, elas programam, em média, 4 novidades por mês, de todas as editoras, de Artistas estrangeiros e nacionais. Nessas novidades privilegiam os estrangeiros e, de entre eles, os Artistas com carreiras longas. Com sorte, cabem nesta lista 1 a 2 Artistas Portugueses novos cada ano. Será que chega... se é com o futuro que nos preocupamos?!
O Bruno diz que as Editoras também têm culpa da situação em que se vive. Sem dúvida! Mas o Bruno pode abrir já uma editora e fazer bem o que acha que eu faço mal. Eu é que não posso abrir uma rádio que não tenho alvará...
O Bruno dá a entender que quero que os meus discos 'passem' à força... Engana-se porque eu respeito o direito de escolher e já tive ocasião de defender em público o Henrique Amaro quando o vi ameaçado de linchamento verbal num debate da RTP! Mas será assim tão estúpido uma pessoa revoltar-se perante um sistema que reduz cada vez mais as oportunidades em vez de as potenciar?
Em 2001 houve 29 Artistas Nacionais e Estrangeiros que conseguiram o primeiro Disco de Ouro em Portugal. Em 2003 houve 7... Será um acidente ou é às Rádios-Nostalgia que temos em primeiro lugar de pedir contas?!
David Ferreira
[O email do administrador da EMI Valentim de Carvalho, David Ferreira, foi recebido em 2004/04/26 e publicado no blogue com autorização prévia do autor.]
O problema nº1 da Música na Rádio é o tipo de programação nostálgica da Rádio Comercial e da RFM. Em resumo, e para quem não saiba, elas programam, em média, 4 novidades por mês, de todas as editoras, de Artistas estrangeiros e nacionais. Nessas novidades privilegiam os estrangeiros e, de entre eles, os Artistas com carreiras longas. Com sorte, cabem nesta lista 1 a 2 Artistas Portugueses novos cada ano. Será que chega... se é com o futuro que nos preocupamos?!
O Bruno diz que as Editoras também têm culpa da situação em que se vive. Sem dúvida! Mas o Bruno pode abrir já uma editora e fazer bem o que acha que eu faço mal. Eu é que não posso abrir uma rádio que não tenho alvará...
O Bruno dá a entender que quero que os meus discos 'passem' à força... Engana-se porque eu respeito o direito de escolher e já tive ocasião de defender em público o Henrique Amaro quando o vi ameaçado de linchamento verbal num debate da RTP! Mas será assim tão estúpido uma pessoa revoltar-se perante um sistema que reduz cada vez mais as oportunidades em vez de as potenciar?
Em 2001 houve 29 Artistas Nacionais e Estrangeiros que conseguiram o primeiro Disco de Ouro em Portugal. Em 2003 houve 7... Será um acidente ou é às Rádios-Nostalgia que temos em primeiro lugar de pedir contas?!
David Ferreira
[O email do administrador da EMI Valentim de Carvalho, David Ferreira, foi recebido em 2004/04/26 e publicado no blogue com autorização prévia do autor.]
21.4.04
O Sigilo
Nunca existem segredos bem guardados. Quanto muito, resistentes, aqueles que mais tempo não se tornam informação acessível. Hoje é dia de partilha, venham as novidades, muita coisa se passa num mês... ou vem até de mais longe...
A rádio, uma primeira volta, há site novo para os amantes do éter, de todo eles, dos ouvintes das formatadas e das que não o são, mesmo, se calhar, dos que não ouvem, abençoada variedade. Importa dar os parabéns aos autores da iniciativa, chama-se Telefonia Real, à parte da falta de originalidade do nome (percebe-se bem a ideia mas esta não deixa de ser forçada), se se souber rodear de conhecimentos, também eles reais no meio, a coisa está feita, o site tem pernas.
O Canal Maldito tem assistido a uma participação muito acima da expectativa, pelo menos da minha, já sobre os conteúdos, cada um saberá de si, mas pessoalmente acho que atingimos um ponto em que se devem saber umas verdades.
Antes, porém, falo de iniciativas da rádio para a música portuguesa, as bandas nacionais têm divulgação no éter do sul do país e via net para todo o mundo, no programa Atlântico. Deixo os requisitos que são estes e deverão ser respeitados. Como compreenderão as rádios e os programas têm, mais do que a sua forma, a sua filosofia e o seu público-alvo. Concorde-se ou não, as coisas são assim e peço é a vossa ajuda para dar, mais uma vez, suporte à música portuguesa. Assim, as bandas nacionais podem enviar temas cantados em português (porque para a nossa audiência são portugueses se cantarem em português, pessoalmente também gosto mais) pop / rock ou baladas de grupos de espectro sonoro mais pesado. Devem enviar o historial da banda, contacto telefónico para entrevista, e-mail e afins. Se os mp3 estiverem com qualidade de difusão (192 Kbps - mínimo) o nosso endereço é atlanticosempre@netcabo.pt
Atlântico – Nacional
A/c Bruno Gonçalves Pereira
Antena Miróbriga Rádio
Rua Condes d’Avillez, 19 – 21
7540 Santiago do Cacém
Gostava de publicamente convidar o António Côrte-Real a participar nesta iniciativa, tal como solicitar a colaboração/parceria dos “Santos da Casa” de Coimbra (RUC).
A par desta etapa digo-vos que está para breve o regresso de Luís Silva do Ó ao Atlântico, em mais uma série de Reserva do Rock, um épico da navegação com atenções centradas na nossa musica mais contemporânea, desde o seu advento.
As rádios nacionais também recebem trabalhos como sabem, não custa mostrar a vossa criatividade, a prova é que em cada ano entram dezenas de bandas novas em antena, sendo que também continuam a rodar os consagrados. Se o público específico de cada estação gostar, há acordo de certo. Não existem vias verdes para artistas nas rádios onde trabalho, pelas outras não sei nem falo.
Foi através do Luís Silva do Ó que conheci o António Manuel Ribeiro, que desde o primeiro momento, se mostra completamente disponível para qualquer tipo de conversa, ida a Santiago e colaboração e presença amiga sem fingimentos, a todo o tempo. Figura que vive intensamente as coisas, polémico quanto baste, produtor de ideias singulares, fortes e com uma tradução de pensamento para as palavras escritas como não se vê, escreveu “A Lágrima Caiu”. Não é uma canção qualquer, é provavelmente o maior regresso de sempre dos UHF, acho que é forte, tem um refrão “orelhudo” e entrelinhas para lá das palavras que me dizem muito. É o que o Bruno acha, por isso toca a canção no Atlântico, por isso tem um promocional do programa em que entra, com a devida vénia, um excerto. Por isso a sugeri a muita gente e em alguns locais. Sei que os programas e as rádios funcionam de forma a tentar chegar ao seu público e o meu no Atlântico é diferente do dos outros, umas vezes sim e outras vezes não. É escusado fazer correr mais tinta, as rádios de peso real passam o que o seu público-alvo principal (core-target) pede. (ponto final).
Sei que apesar do finca-pé da RFM em não tocar “A Lágrima Caiu” e das tentativas frustradas de outras estações em fazê-lo, as portas não estão fechadas aos UHF. Nem a ninguém. Os UHF fazem e farão parte da história da nossa música e não apenas por terem feito despertar um movimento da nossa música, quando o resto era paisagem.
Agora, não é por o António dizer que a rádio dos nossos dias é má que ela é efectivamente má, ou por eu dizer de minha justiça que faço mais alguém carregar a bandeira do éter. Um abraço, António.
David Ferreira deu-nos a honra de deixar algumas palavras com autorização de divulgação no Canal Maldito. Entendo tal acto, que saúdo, como um princípio de algo melhor que chegue depois e tão breve quanto possível, até para bem da música portuguesa. É melhor explicar-me e, ao fazê-lo, conto uma estória verídica e triste que ilustra as minhas (ainda existentes) inquietações.
Conhecem o Ulisses, um criativo de trabalho e de paixão, músico dos k2o3 e Dayoff.
Os Xutos e Pontapés editaram o primeiro álbum de K2O3 pela editora deles e os UHF deram toda a força a Dayoff – com algumas primeiras partes marcadas até Setembro, apesar de estes últimos estarem com actividades suspensas.
O Ulisses é um músico com rasgos de genialidade, compôs um trabalho homónimo (num estúdio caseiro) que me surpreendeu, disse-lhe que “tinha pelo menos tanto potencial como João Pedro Pais” porque acho que assim seja. Não tenho problemas em elogiar amigos. Proporcionou-se mostrar o trabalho a alguns dos meus colegas da área de coordenação musical, ao João Pedro Sousa, à Fátima Aragão, ao Nelson Miguel e ao Francisco Gil. O mínimo que se ouviu foi que o trabalho estava interessante e vários temas muito bons, ou “gosto daquela!”, já para não falar numa imagem geral de artista que nunca se viu em demos e nem tão pouco muitas vezes nos trabalhos finais.
Eu mesmo, o Bruno, a título individual e em mãos, entreguei o trabalho à EMI, à sua promotora, para ser entregue a David Ferreira e a Paulo Junqueiro. Fi-lo porque eu e mais acreditámos e penso que merecia uma audição atenta. Os meses vão passando e resposta ao autor, nada. Se o David procurar nas suas gavetas ou armário encontrará o trabalho proposto pelo Ulisses e que despertou agrado entre os elementos da música de um dos maiores grupos de rádios do país.
Ou a opinião das rádios não conta a não ser para passar o produto final sem participação no processo? Mas, se não lhe agradar a si e aos produtores, ao menos responda... se o descansa um pouco, não é exclusivo.
A Universal teve comportamento tirado a papel químico e ainda por cima nem sequer escreveram no blog... mais uma hipótese de não lhe escapar a oportunidade de ser diferente.
Seis anos no grupo Renascença e mais de um nesta lufada de ar fresco que considero ser a Média Capital por ter rádios para muitos gostos diferentes, entre muitas razões, tem feito com que goste cada vez mais de música.
Se os ouvintes de rádio quiserem que esta seja toda uma “nostalgia”, ela vai ser, não tenho grandes dúvidas. Mas como se pode rotular de “nostalgia” estações que todos os meses tocam dezenas de títulos novos, entre portugueses e estrangeiros, sendo que muitos são editados pela EMI?
Acredito que não são com prosas de mal dizer que se avança grande coisa, apesar de também nem sequer se recuar, por isso cada um responda para si mesmo...
Quando se começou a atacar as rádios?
Terá sido quando se deixou de permitir o forçar de entrada de música em lista?
Quando os aviões ficaram em terra ou seguiram com mais lugares vagos?
Quando só se toca o que o público-alvo de uma estação quer, com total inutilidade de pressões?
Ou quando não se consegue ter a capacidade para explicar com as razões da própria música quando esta não tem sucesso ou pelo menos o pretendido?
A Marktest divulgou na passada semana (15 de Abril) os resultados do mais recente Bareme Rádio. Estou duplamente contente, primeiro porque a MCR e em particular (porque ali trabalho) a Comercial e a Cidade FM deram pulos para cima. A Miróbriga, no sul do país está lentamente a ascender novamente para junto da liderança, entre as locais. Depois, talvez gostassem de saber que neste trimestre aproximadamente 68% (sessenta e oito) dos portugueses escutou rádio, tendo também aumentado a janela de escuta (as horas que ouvem) e audiência de praticamente todas as estações de referência, excepto a Antena 3 que tem menos audiência a nível nacional do que algumas locais. Talvez seja por isso que apesar de servida pela melhor rede de emissores de FM da actualidade não satisfaz um artista ou banda portuguesa ter apenas lá a sua música a tocar à 5ª ou em qualquer dia que seja. Mas falta todos fazemos e continuo a achar que deve haver rádios para todos os públicos, apesar de elas não viverem do ar, que o diga a imensa minoria de seguidores da XFM que viu a sua emissão entrar num sigilo até agora sem retorno.
Novo site sobre rádios.
O Atlântico, à semelhança de outros programas dá especial atenção à música portuguesa.
Enviem os trabalhos para as locais e nacionais. Mexam-se ou continuem a fazê-lo!
Uma saudação e um abraço ao AMR.
Reflexões para David Ferreira.
Audiências Rádio.
Rádio para todos, mas que estejam no ar. São melhores os mitos vivos.
Bruno Gonçalves Pereira
A rádio, uma primeira volta, há site novo para os amantes do éter, de todo eles, dos ouvintes das formatadas e das que não o são, mesmo, se calhar, dos que não ouvem, abençoada variedade. Importa dar os parabéns aos autores da iniciativa, chama-se Telefonia Real, à parte da falta de originalidade do nome (percebe-se bem a ideia mas esta não deixa de ser forçada), se se souber rodear de conhecimentos, também eles reais no meio, a coisa está feita, o site tem pernas.
O Canal Maldito tem assistido a uma participação muito acima da expectativa, pelo menos da minha, já sobre os conteúdos, cada um saberá de si, mas pessoalmente acho que atingimos um ponto em que se devem saber umas verdades.
Antes, porém, falo de iniciativas da rádio para a música portuguesa, as bandas nacionais têm divulgação no éter do sul do país e via net para todo o mundo, no programa Atlântico. Deixo os requisitos que são estes e deverão ser respeitados. Como compreenderão as rádios e os programas têm, mais do que a sua forma, a sua filosofia e o seu público-alvo. Concorde-se ou não, as coisas são assim e peço é a vossa ajuda para dar, mais uma vez, suporte à música portuguesa. Assim, as bandas nacionais podem enviar temas cantados em português (porque para a nossa audiência são portugueses se cantarem em português, pessoalmente também gosto mais) pop / rock ou baladas de grupos de espectro sonoro mais pesado. Devem enviar o historial da banda, contacto telefónico para entrevista, e-mail e afins. Se os mp3 estiverem com qualidade de difusão (192 Kbps - mínimo) o nosso endereço é atlanticosempre@netcabo.pt
Atlântico – Nacional
A/c Bruno Gonçalves Pereira
Antena Miróbriga Rádio
Rua Condes d’Avillez, 19 – 21
7540 Santiago do Cacém
Gostava de publicamente convidar o António Côrte-Real a participar nesta iniciativa, tal como solicitar a colaboração/parceria dos “Santos da Casa” de Coimbra (RUC).
A par desta etapa digo-vos que está para breve o regresso de Luís Silva do Ó ao Atlântico, em mais uma série de Reserva do Rock, um épico da navegação com atenções centradas na nossa musica mais contemporânea, desde o seu advento.
As rádios nacionais também recebem trabalhos como sabem, não custa mostrar a vossa criatividade, a prova é que em cada ano entram dezenas de bandas novas em antena, sendo que também continuam a rodar os consagrados. Se o público específico de cada estação gostar, há acordo de certo. Não existem vias verdes para artistas nas rádios onde trabalho, pelas outras não sei nem falo.
Foi através do Luís Silva do Ó que conheci o António Manuel Ribeiro, que desde o primeiro momento, se mostra completamente disponível para qualquer tipo de conversa, ida a Santiago e colaboração e presença amiga sem fingimentos, a todo o tempo. Figura que vive intensamente as coisas, polémico quanto baste, produtor de ideias singulares, fortes e com uma tradução de pensamento para as palavras escritas como não se vê, escreveu “A Lágrima Caiu”. Não é uma canção qualquer, é provavelmente o maior regresso de sempre dos UHF, acho que é forte, tem um refrão “orelhudo” e entrelinhas para lá das palavras que me dizem muito. É o que o Bruno acha, por isso toca a canção no Atlântico, por isso tem um promocional do programa em que entra, com a devida vénia, um excerto. Por isso a sugeri a muita gente e em alguns locais. Sei que os programas e as rádios funcionam de forma a tentar chegar ao seu público e o meu no Atlântico é diferente do dos outros, umas vezes sim e outras vezes não. É escusado fazer correr mais tinta, as rádios de peso real passam o que o seu público-alvo principal (core-target) pede. (ponto final).
Sei que apesar do finca-pé da RFM em não tocar “A Lágrima Caiu” e das tentativas frustradas de outras estações em fazê-lo, as portas não estão fechadas aos UHF. Nem a ninguém. Os UHF fazem e farão parte da história da nossa música e não apenas por terem feito despertar um movimento da nossa música, quando o resto era paisagem.
Agora, não é por o António dizer que a rádio dos nossos dias é má que ela é efectivamente má, ou por eu dizer de minha justiça que faço mais alguém carregar a bandeira do éter. Um abraço, António.
David Ferreira deu-nos a honra de deixar algumas palavras com autorização de divulgação no Canal Maldito. Entendo tal acto, que saúdo, como um princípio de algo melhor que chegue depois e tão breve quanto possível, até para bem da música portuguesa. É melhor explicar-me e, ao fazê-lo, conto uma estória verídica e triste que ilustra as minhas (ainda existentes) inquietações.
Conhecem o Ulisses, um criativo de trabalho e de paixão, músico dos k2o3 e Dayoff.
Os Xutos e Pontapés editaram o primeiro álbum de K2O3 pela editora deles e os UHF deram toda a força a Dayoff – com algumas primeiras partes marcadas até Setembro, apesar de estes últimos estarem com actividades suspensas.
O Ulisses é um músico com rasgos de genialidade, compôs um trabalho homónimo (num estúdio caseiro) que me surpreendeu, disse-lhe que “tinha pelo menos tanto potencial como João Pedro Pais” porque acho que assim seja. Não tenho problemas em elogiar amigos. Proporcionou-se mostrar o trabalho a alguns dos meus colegas da área de coordenação musical, ao João Pedro Sousa, à Fátima Aragão, ao Nelson Miguel e ao Francisco Gil. O mínimo que se ouviu foi que o trabalho estava interessante e vários temas muito bons, ou “gosto daquela!”, já para não falar numa imagem geral de artista que nunca se viu em demos e nem tão pouco muitas vezes nos trabalhos finais.
Eu mesmo, o Bruno, a título individual e em mãos, entreguei o trabalho à EMI, à sua promotora, para ser entregue a David Ferreira e a Paulo Junqueiro. Fi-lo porque eu e mais acreditámos e penso que merecia uma audição atenta. Os meses vão passando e resposta ao autor, nada. Se o David procurar nas suas gavetas ou armário encontrará o trabalho proposto pelo Ulisses e que despertou agrado entre os elementos da música de um dos maiores grupos de rádios do país.
Ou a opinião das rádios não conta a não ser para passar o produto final sem participação no processo? Mas, se não lhe agradar a si e aos produtores, ao menos responda... se o descansa um pouco, não é exclusivo.
A Universal teve comportamento tirado a papel químico e ainda por cima nem sequer escreveram no blog... mais uma hipótese de não lhe escapar a oportunidade de ser diferente.
Seis anos no grupo Renascença e mais de um nesta lufada de ar fresco que considero ser a Média Capital por ter rádios para muitos gostos diferentes, entre muitas razões, tem feito com que goste cada vez mais de música.
Se os ouvintes de rádio quiserem que esta seja toda uma “nostalgia”, ela vai ser, não tenho grandes dúvidas. Mas como se pode rotular de “nostalgia” estações que todos os meses tocam dezenas de títulos novos, entre portugueses e estrangeiros, sendo que muitos são editados pela EMI?
Acredito que não são com prosas de mal dizer que se avança grande coisa, apesar de também nem sequer se recuar, por isso cada um responda para si mesmo...
Quando se começou a atacar as rádios?
Terá sido quando se deixou de permitir o forçar de entrada de música em lista?
Quando os aviões ficaram em terra ou seguiram com mais lugares vagos?
Quando só se toca o que o público-alvo de uma estação quer, com total inutilidade de pressões?
Ou quando não se consegue ter a capacidade para explicar com as razões da própria música quando esta não tem sucesso ou pelo menos o pretendido?
A Marktest divulgou na passada semana (15 de Abril) os resultados do mais recente Bareme Rádio. Estou duplamente contente, primeiro porque a MCR e em particular (porque ali trabalho) a Comercial e a Cidade FM deram pulos para cima. A Miróbriga, no sul do país está lentamente a ascender novamente para junto da liderança, entre as locais. Depois, talvez gostassem de saber que neste trimestre aproximadamente 68% (sessenta e oito) dos portugueses escutou rádio, tendo também aumentado a janela de escuta (as horas que ouvem) e audiência de praticamente todas as estações de referência, excepto a Antena 3 que tem menos audiência a nível nacional do que algumas locais. Talvez seja por isso que apesar de servida pela melhor rede de emissores de FM da actualidade não satisfaz um artista ou banda portuguesa ter apenas lá a sua música a tocar à 5ª ou em qualquer dia que seja. Mas falta todos fazemos e continuo a achar que deve haver rádios para todos os públicos, apesar de elas não viverem do ar, que o diga a imensa minoria de seguidores da XFM que viu a sua emissão entrar num sigilo até agora sem retorno.
Novo site sobre rádios.
O Atlântico, à semelhança de outros programas dá especial atenção à música portuguesa.
Enviem os trabalhos para as locais e nacionais. Mexam-se ou continuem a fazê-lo!
Uma saudação e um abraço ao AMR.
Reflexões para David Ferreira.
Audiências Rádio.
Rádio para todos, mas que estejam no ar. São melhores os mitos vivos.
Bruno Gonçalves Pereira
20.4.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 16/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 9 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.
11º ESQUISSOS - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
14º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
16º OLHAR EM FRENTE (PR) - BETO (FAROL MÚSICA)
20º APENAS O AMOR - ALDINA DUARTE (VIRGIN/EMI-VC)
23º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
26º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
28º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
29º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
30º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
11º ESQUISSOS - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
14º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
16º OLHAR EM FRENTE (PR) - BETO (FAROL MÚSICA)
20º APENAS O AMOR - ALDINA DUARTE (VIRGIN/EMI-VC)
23º AO VIVO COLISEU DOS RECREIOS - CARLOS DO CARMO (MERCURY/UNIVERSAL)
26º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
28º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
29º NUNO NORTE - NUNO NORTE (ARIOLA/BMG)
30º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
19.4.04
Disco: Aside – Good Enough For Someone Else
(2004 RastilhoRecords/MúsicaActiva)
Todos os textos de António Côrte-Real estão disponiveis no Fora da Garagem
Aside (Lisboa)
David Arroz – Voz
Ricardo Cabrita – Guitarra
Daniel Dias - Guitarra
André Meleiro – Baixo
Hugo Pardal – Bateria
Existe uma nova vaga de bandas nacionais que se esforça imenso para conseguir chegar onde todo e qualquer músico quer chegar. Todos querem viver da música, fazer o que gostam, como gostam e de preferência que ninguém meta o dedo no seu som… do tipo “pá toca assim porque assim é que tá a dar, queres vender, não queres?”. O que estes músicos querem, e muito bem, é fazer aquilo que gostam conseguindo pagar a renda de casa para poderem largar o frete do emprego que têm e poderem dedicar-se 100% à sua arte.
Ora, como estamos em Portugal e falamos português, torna-se difícil para uma banda que se exprime em inglês viver da música em Portugal.
Claro que há excepções à regra (Silence 4, Blind Zero, EZspecial, entre outros), mas mesmo dentro das excepções temos de equacionar quantos é que conseguirão manter uma carreira activa e lucrativa ao longo dos anos.
Este rapazes têm de pensar do que é que viverão daqui a 10 ou 15 anos… (referindo-me apenas aos exemplos dados: Os Silence 4 acabaram, os Blind Zero têm uma carreira activa já com 10 anos (que venham muitos mais!!!) e os EZspecial ainda são novinhos, por isso vamos ver como é que as coisas correm).
É aqui que surgem bandas com outra ambição. É aqui que surge a malta que se esforça e tenta por todas as maneiras e mais algumas a internacionalização.
Não é fácil! Claro que não. Tanto não é que de repente só me lembro de um nome (dentro do rock) que o tenha conseguido até agora, os Fonzie.
Dois nomes novos na música portuguesa, os EasyWay e os Aside estão dispostos a tudo, desde dormirem na carrinha, ou até nem sequer dormirem, para poderem tocar onde quer que lhes abram as portas!
É preciso coragem, sobretudo para se sair de Portugal sem se ter sequer a certeza se os cachets vão ser suficientes para pagar a gasolina, portagens, alimentação, etc!!!
Os Aside chegaram ontem da sua tour Europeia:
04.04 Leeuwarden - HOLLAND
05.04 Mainz - GERMANY
06.04 Darmstadt GERMANY
07.04 Breda - HOLLAND
08.04 Gottingen - GERMANY
09.04 Bergen-Op-Zoom - HOLLAND
10.04 Marburg - GERMANY
11.04 Alzenau - GERMANY
13.04 Ostend - BELGIUM
14.04 Troisdorf - GERMANY
15.04 Furth - GERMANY
16.04 Numberg - GERMANY
17.04 Jonschwill – SWITZERLAND
13 concertos em 15 dias espalhados por 4 países!
Esta banda já anteriormente tinha estado no Canadá e em Espanha para diversos espectáculos.
Qual é a ideia deles de partirem daqui com as guitarras ás costas?
Bem, a ideia é conseguirem levar o seu Punk Rock a todo o lado e mais algum.
Se pelo caminho alguém reparar neles e quiser representar o disco para o respectivo país… o que aproveito para dizer que já aconteceu no Canadá, no Japão e Suiça. Para breve irá acontecer em Espanha, Bélgica, Alemanha, e Brasil!!! Tudo isto conseguido à custa de muito esforço e sacrifício pessoal com que este 5 rapazes nos brindam de uma forma exemplar!
"Good Enough For Someone Else" é um bom disco. Não é perfeito (mas também o que é um disco perfeito?). Este trabalho mostra-nos, sobretudo, que se estes Punks não perderem a pica e continuarem a apostar e a trabalhar como têm feito até aqui, vão longe… esta banda tem tudo para voar alto!
Próximas bandas: EasyWay, Grace, Yellow W Van, Fonzie.
Força!
António Côrte-Real, músico dos UHF
Contactos:
Banda: http://www.asiderockers.com
Editora: http://www.rastilho.com
Distribuidora: http://www.musicactiva.com
Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade
Aside (Lisboa)
David Arroz – Voz
Ricardo Cabrita – Guitarra
Daniel Dias - Guitarra
André Meleiro – Baixo
Hugo Pardal – Bateria
Existe uma nova vaga de bandas nacionais que se esforça imenso para conseguir chegar onde todo e qualquer músico quer chegar. Todos querem viver da música, fazer o que gostam, como gostam e de preferência que ninguém meta o dedo no seu som… do tipo “pá toca assim porque assim é que tá a dar, queres vender, não queres?”. O que estes músicos querem, e muito bem, é fazer aquilo que gostam conseguindo pagar a renda de casa para poderem largar o frete do emprego que têm e poderem dedicar-se 100% à sua arte.
Ora, como estamos em Portugal e falamos português, torna-se difícil para uma banda que se exprime em inglês viver da música em Portugal.
Claro que há excepções à regra (Silence 4, Blind Zero, EZspecial, entre outros), mas mesmo dentro das excepções temos de equacionar quantos é que conseguirão manter uma carreira activa e lucrativa ao longo dos anos.
Este rapazes têm de pensar do que é que viverão daqui a 10 ou 15 anos… (referindo-me apenas aos exemplos dados: Os Silence 4 acabaram, os Blind Zero têm uma carreira activa já com 10 anos (que venham muitos mais!!!) e os EZspecial ainda são novinhos, por isso vamos ver como é que as coisas correm).
É aqui que surgem bandas com outra ambição. É aqui que surge a malta que se esforça e tenta por todas as maneiras e mais algumas a internacionalização.
Não é fácil! Claro que não. Tanto não é que de repente só me lembro de um nome (dentro do rock) que o tenha conseguido até agora, os Fonzie.
Dois nomes novos na música portuguesa, os EasyWay e os Aside estão dispostos a tudo, desde dormirem na carrinha, ou até nem sequer dormirem, para poderem tocar onde quer que lhes abram as portas!
É preciso coragem, sobretudo para se sair de Portugal sem se ter sequer a certeza se os cachets vão ser suficientes para pagar a gasolina, portagens, alimentação, etc!!!
Os Aside chegaram ontem da sua tour Europeia:
04.04 Leeuwarden - HOLLAND
05.04 Mainz - GERMANY
06.04 Darmstadt GERMANY
07.04 Breda - HOLLAND
08.04 Gottingen - GERMANY
09.04 Bergen-Op-Zoom - HOLLAND
10.04 Marburg - GERMANY
11.04 Alzenau - GERMANY
13.04 Ostend - BELGIUM
14.04 Troisdorf - GERMANY
15.04 Furth - GERMANY
16.04 Numberg - GERMANY
17.04 Jonschwill – SWITZERLAND
13 concertos em 15 dias espalhados por 4 países!
Esta banda já anteriormente tinha estado no Canadá e em Espanha para diversos espectáculos.
Qual é a ideia deles de partirem daqui com as guitarras ás costas?
Bem, a ideia é conseguirem levar o seu Punk Rock a todo o lado e mais algum.
Se pelo caminho alguém reparar neles e quiser representar o disco para o respectivo país… o que aproveito para dizer que já aconteceu no Canadá, no Japão e Suiça. Para breve irá acontecer em Espanha, Bélgica, Alemanha, e Brasil!!! Tudo isto conseguido à custa de muito esforço e sacrifício pessoal com que este 5 rapazes nos brindam de uma forma exemplar!
"Good Enough For Someone Else" é um bom disco. Não é perfeito (mas também o que é um disco perfeito?). Este trabalho mostra-nos, sobretudo, que se estes Punks não perderem a pica e continuarem a apostar e a trabalhar como têm feito até aqui, vão longe… esta banda tem tudo para voar alto!
Próximas bandas: EasyWay, Grace, Yellow W Van, Fonzie.
Força!
António Côrte-Real, músico dos UHF
Contactos:
Banda: http://www.asiderockers.com
Editora: http://www.rastilho.com
Distribuidora: http://www.musicactiva.com
Podem ser enviadas demos para:
Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
A/C António Côrte-Real
Largo 5 de Outubro, nº 65
2800 Cova Da Piedade
16.4.04
Notícia: Festival Santos da Casa - RUC
O programa SANTOS DA CASA, da Rádio Universidade de Coimbra, vai levar a efeito mais uma edição do seu festival anual, com a seguinte agenda:
22 de Abril, 21:30 - NUNO, NICO + OVO - Auditório do IPJ (Coimbra)
25 de Abril, 21:30 - LOTO + GOMO - Centro Norton de Matos (Coimbra)
30 de Abril, 19:00 - BUNNYRANCH - Corredor da RUC (showcase)
01 de Maio, 19:00 - TWILIGHT GARDEN - Corredor da RUC (showcase)
Estes dois ultimos espectáculos tem transmissão em directo nos 107.9 fm e em www.ruc.pt.
22 de Abril, 21:30 - NUNO, NICO + OVO - Auditório do IPJ (Coimbra)
25 de Abril, 21:30 - LOTO + GOMO - Centro Norton de Matos (Coimbra)
30 de Abril, 19:00 - BUNNYRANCH - Corredor da RUC (showcase)
01 de Maio, 19:00 - TWILIGHT GARDEN - Corredor da RUC (showcase)
Estes dois ultimos espectáculos tem transmissão em directo nos 107.9 fm e em www.ruc.pt.
14.4.04
BLOGUE-SE À FORÇA - Cinco
UM CONCERTO É ASSIM
Os ponteiros do meu relógio, vagamente da Segunda Guerra Mundial (aqui há história), passaram a marca da meia-noite. Entrávamos no domingo de Páscoa, a noite estava fria em Lagoa no recinto da Fatacil. A concentração Motard do clube local ia no auge: três bandas a "aquecer" para os UHF desde as dez da noite, mais o primeiro show de miúdas despidas - um desfile atrevidote de lingerie. Cerveja e blusões negros, alguns mais corajosos de t-shirt a mostrar a geografia das tatuagens, enfrentavam a hora tardia da nossa entrada em cena e a brisa que soprava do mar.
No camarim, nas traseiras por baixo do palco, aguentávamos os atrasos sucessivos. O Miguel, de regresso como road manager, bufava por todos os cantos com a desorganização reinante. Nós próprios colaborámos nela, ao propormos a actuação extra-programa dos afilhados Karpe Diem. Mas os arranques das digressões têm sempre destas coisas.
Depois de mais uma semana de estúdio, a conversa, o whisky e os amigos do sul que visitavam o camarim, mantinham o ânimo elevado. Queríamos tocar para além das quatro paredes de uma sala de ensaio ou do estúdio de gravação - Glória do Ribatejo já pertencia a Janeiro.
Abertura
Não houve. Apesar de tudo combinado com o técnico principal (Jorge Silva) da nossa equipa, o instrumental de abre "La Pop End Rock" não disparou. Foram segundos de hesitação, o Miguel a olhar para mim e o público a saudar ruidosamente a previsível entrada em cena.
A seco e sem fanfarra mergulhámos no lusco-fusco das luzes preparadas para o primeiro tema.
Boogie Com o Sr. U
Recuperámos o tema já no final da digressão do ano passado. Foi com o deambular enigmático do Senhor U que dissemos olá à noite algarvia. À frente o público aquecia. Senti dificuldade em definir os acordes - o frio do aço paralisava os dedos da mão esquerda. Mas a voz estava toda lá. Era o meu primeiro concerto depois das aulas de canto que ando a tomar - em Dezembro, em Pataias, ia dando cabo de tudo - e estava a resultar. Límpida, forte, quase sem limites de extensão, como eu gosto. Mas devagar, a noite estava fria e os concertos dos UHF duram duas horas ou mais.
Quando (dentro de ti)
Eis a canção que já abriu mais de duas centenas de concertos, a explosão do jogo de luzes a ajudar o quarteto - ah, como nos sentimos bem a quatro. "Quando" é como uma casa que apetece, é nossa e dá gozo - os pensamentos fluíam em turbilhão. Gostaria de parar este tráfego de mil ideias que me assola durante a prestação, mas não consigo.
Duelo ao Espelho
Escrita para a "Santa Loucura" de 93, teve nova roupagem no interior do Convento do Capuchos em 95, onde gravámos "Cheio". Autobiográfica até à medula, reflecte um estado de desequilíbrio rock and rolliano que o meu segundo casamento a partir de uma certa altura viveu.
Matas-me Com o Teu Olhar
Para ela que estava longe. Ao vivo pela segunda vez, depois da Antena 3 andar a mostrar o riff às quintas-feiras.
Foi inicialmente escrita pelo Miguel Fernandes e fazia parte de uma demo que ele e o Tó me deram há uns anos. Esqueci-me, até que a paixão por uma mulher inovou a linha do horizonte em Dezembro passado. Agarrei no tema, reescrevi a letra, mudei o arranjo. Ouvimos dizer que era a nossa melhor canção dos últimos quinze anos - esperem pelo resto do disco. Sob o signo do amor mudamos o mundo. O público adorou e juntou-se a nós nos refrães.
Brincar no Fogo
Fica sempre bem este balanço forte - ai de mim se não coloco o tema no set. Chateia-se o Fernando Rodrigues à cabeça e a banda por arrasto, até aos técnicos. Gosto desta canção da "Comédia Humana" (91), um dos meus textos mais certeiros sobre a ambiguidade, o jogo das palavras e a dualidade.
Os Putos Vieram Divertir-se
Primeira incursão pela Ópera do ano passado. Uma das canções mais perfeitas de "La Pop End Rock", um tributo aos heróis que agarram numa guitarra de vinte e cinco euros e fazem dela a sua vida, e a todos os outros que se juntam à sua volta para ouvir a melopeia que do palco sai. Forte, quente, boa melodia e palavras directas, em pouco mais de três minutos - o rock é assim.
Na Tua Cama
Troco a Gibson SG (que tem gravado todo o novo disco) pela Washburn acústica. O Tó já está com problemas no amplificador que veio de uma revisão depois do fogo que rondou a nossa sala de ensaios. É-lhe colocado o kit de reserva. No palco, Jorge Morgado, o técnico de som interno, reajusta os níveis: passou por ali uma mimosa - é assim que eu defino um feedback de graves.
Segunda canção de amor de 88 (Noites Negras de Azul), ou melhor, de desamor. Relata o fim de uma longa época de naufrágios alcoólicos, junkies como músicos, e elas a fugiram da minha máscara.
A Lágrima Caiu
Segundo tema do disco de 2003, uma das mais belas melodias que escrevi, um sucesso só comparável aos maiores hits dos nossos primeiros tempos. Mesmo sem o apoio maciço da rádio - dói perceber como tudo pode andar de pés para o ar. O público gosta, o público quer, o público canta, mas... gueto com eles. Que tal um ataquezinho à kualidade do tema ou à política do A & R da EMI que aprovou a sua gravação?
100% Viciado em Ti
Estreia absoluta de uma das novas canções já gravadas. E também a estreia do progénito Côrte-Real nas palavras que os UHF cantam. Vai ser sucesso, não só pela reacção forte do público presente, mas porque - sobretudo - nós acreditamos. Pela primeira vez recorri-me da cábula entre os monitores para não falhar a letra. Para dançar e namorar, terceira canção de amor do alinhamento.
Por esta hora já a tarola do Ivan tinha problemas com a pele de baixo. A azáfama das formigas (técnicos) produzia efeitos. O arranque de uma longa digressão é assim. Importante é os quatro da frente passarem sobre quaisquer dificuldades surgidas e o público não sofrer qualquer impacto. O quarteto está coeso.
Um Copo Contigo
Mais uma radiografia do poeta-asceta-pateta de 93. Resumo de tantas memórias num jogo felino de palavras. Noites que não deviam ter o fim que tiveram, o vómito, a ilusão, até perder os sentidos (Diamantino: a resposta que te dei nos bastidores, no fim, é verdadeira e a atitude voluntária).
Dançando na Noite
Cortei-a do set, o que deixa sempre o Vasco Letria, técnico de luzes, com a programação de um computador à nora por breves momentos.
Há Rock no Cais
Para os que estiveram lá deu para reparar no gozo entre a banda, a comunhão. Sabemos o que vem nesta canção, desde os ensaios. Tem balanço, é longa, simples e brutal. "Há Rock no Cais" é, por isso, a canção-título do novo disco. Gozo, gozo puro, para quem gosta de UHF vintage. E tem aquele perfume enigmático nas palavras que não vou revelar. Também fala dela, do hotel onde forçadamente vivi dois meses e do incêndio. Por fim: o solo de guitarra é meu.
Esta Dança Não me Interessa
A nossa melhor zona política, de intervenção, de puro rock. Escrevi o tema com o Fernando Delaere. É sempre actual - os velhos erros repetem-se diariamente - e tem esta estrofe: "Se há putos sem sorte neste lar português / se tu danças com a morte sem saberes o que vês..." Sintomático e premonitório. Quem diria, em 93.
Rua do Carmo
Clássica e eficaz, a minha paixão pelo Chiado (esperem pelo próximo disco...). É forte, é quente e é de todos. As miúdas pulam e os mais duros que rock entoam com o copo de cerveja na mão.
Harley Jack
O nosso hino às duas rodas e à irmandade que aprendi a notar nas concentrações. O Jack é meu e vem do Tennessee. Balanço, força rock, curtição. Escrevi a canção depois de uma concentração em Faro, corria o ano de 99. Durante uma tarde vivi numa aldeia gaulesa no meio da floresta com eles. Nem o boi assado em espeto ao ar livre faltou.
Modelo Fotográfico
É das canções que mais balançam nos UHF, quase um ska de frenesim. Lembro-me do dia em que a gravei e da Ovation acústica que o Nuno Rodrigues - produtor - me emprestou. A versão é longa e muda todos os dias.
Saudei pela segunda vez a Lua que tomava assento sobre a copa das árvores, alaranjada, gorda, atenta. Corríamos para o final.
Menina Estás à Janela
Tem tudo o que as grandes canções populares, que emanam da tradição dos povos, podem possuir - simples, bela melodia, poucas palavras. E tem o nosso arranjo, brutal, a rasgar, a mostrar a identidade sonora dos UHF.
Cantámos e dançámos convosco, como sempre. Fiz da minha voz o que me apeteceu como há muito tempo não fazia. Senti-me bem e da noite agradeci à professora a confiança restabelecida e o tratamento natural da minha voz.
Boa noite! Até à próxima!
(Saída de palco)
Encore
Uma Palavra Tua
O Miguel conduziu-me de regresso ao palco e o Zero (roadie) ofereceu-me a Washburn afinada.
Sem pianista, só com a viola, devolvi o tema à guitarra acústica onde a escrevi. Adoro a canção. O fim de um ciclo da minha vida, a premonição visualizada deste presente: ela chegou. Entrei sozinho, enquanto no camarim a banda discutia os erros, se acendiam cigarros, mais um gole de whisky.
Toca-me
Passagem para uma das mais belas canções de amor do nosso repertório. A banda em palco e o namoro por fundo. O público gostou, como nós. Privadamente o tema fala de um diálogo impossível, o fim de uma relação.
The One I Love
É uma cover que fomos buscar ao baú dos R.E.M. Adorei sempre esta canção e depois de Dezembro propus que a banda a tocasse – já acontecera em Pataias e depois em Glória do Ribatejo.
Antes, desde a Praça Sony em 99, que por vezes a tocava sozinho nos encores. Gostaria de a ter escrito para ela.
Cavalos de Corrida
Eram quatro e quinze da madrugada quando o Tó acabou os harpejos finais do tema e o Ivan fez explodir a sua raiva sobre as peles. Estávamos bem, tinham havido momentos muito bons, as estreias foram fantásticas, a digressão começara com a equipa do costume.
Viemos à frente de palco agradecer o apoio e os aplausos. A Lua, um pouco subida no manto da noite, mostrava um sorriso benevolente - os putos tinham vindo divertir-se uma vez mais.
Até à próxima! *
(*A 8 de Maio em Vila Nova de Famalicão - concentração Motard)
14 de Abril de 2004
António Manuel Ribeiro, músico e produtor dos UHF
No camarim, nas traseiras por baixo do palco, aguentávamos os atrasos sucessivos. O Miguel, de regresso como road manager, bufava por todos os cantos com a desorganização reinante. Nós próprios colaborámos nela, ao propormos a actuação extra-programa dos afilhados Karpe Diem. Mas os arranques das digressões têm sempre destas coisas.
Depois de mais uma semana de estúdio, a conversa, o whisky e os amigos do sul que visitavam o camarim, mantinham o ânimo elevado. Queríamos tocar para além das quatro paredes de uma sala de ensaio ou do estúdio de gravação - Glória do Ribatejo já pertencia a Janeiro.
Abertura
Não houve. Apesar de tudo combinado com o técnico principal (Jorge Silva) da nossa equipa, o instrumental de abre "La Pop End Rock" não disparou. Foram segundos de hesitação, o Miguel a olhar para mim e o público a saudar ruidosamente a previsível entrada em cena.
A seco e sem fanfarra mergulhámos no lusco-fusco das luzes preparadas para o primeiro tema.
Boogie Com o Sr. U
Recuperámos o tema já no final da digressão do ano passado. Foi com o deambular enigmático do Senhor U que dissemos olá à noite algarvia. À frente o público aquecia. Senti dificuldade em definir os acordes - o frio do aço paralisava os dedos da mão esquerda. Mas a voz estava toda lá. Era o meu primeiro concerto depois das aulas de canto que ando a tomar - em Dezembro, em Pataias, ia dando cabo de tudo - e estava a resultar. Límpida, forte, quase sem limites de extensão, como eu gosto. Mas devagar, a noite estava fria e os concertos dos UHF duram duas horas ou mais.
Quando (dentro de ti)
Eis a canção que já abriu mais de duas centenas de concertos, a explosão do jogo de luzes a ajudar o quarteto - ah, como nos sentimos bem a quatro. "Quando" é como uma casa que apetece, é nossa e dá gozo - os pensamentos fluíam em turbilhão. Gostaria de parar este tráfego de mil ideias que me assola durante a prestação, mas não consigo.
Duelo ao Espelho
Escrita para a "Santa Loucura" de 93, teve nova roupagem no interior do Convento do Capuchos em 95, onde gravámos "Cheio". Autobiográfica até à medula, reflecte um estado de desequilíbrio rock and rolliano que o meu segundo casamento a partir de uma certa altura viveu.
Matas-me Com o Teu Olhar
Para ela que estava longe. Ao vivo pela segunda vez, depois da Antena 3 andar a mostrar o riff às quintas-feiras.
Foi inicialmente escrita pelo Miguel Fernandes e fazia parte de uma demo que ele e o Tó me deram há uns anos. Esqueci-me, até que a paixão por uma mulher inovou a linha do horizonte em Dezembro passado. Agarrei no tema, reescrevi a letra, mudei o arranjo. Ouvimos dizer que era a nossa melhor canção dos últimos quinze anos - esperem pelo resto do disco. Sob o signo do amor mudamos o mundo. O público adorou e juntou-se a nós nos refrães.
Brincar no Fogo
Fica sempre bem este balanço forte - ai de mim se não coloco o tema no set. Chateia-se o Fernando Rodrigues à cabeça e a banda por arrasto, até aos técnicos. Gosto desta canção da "Comédia Humana" (91), um dos meus textos mais certeiros sobre a ambiguidade, o jogo das palavras e a dualidade.
Os Putos Vieram Divertir-se
Primeira incursão pela Ópera do ano passado. Uma das canções mais perfeitas de "La Pop End Rock", um tributo aos heróis que agarram numa guitarra de vinte e cinco euros e fazem dela a sua vida, e a todos os outros que se juntam à sua volta para ouvir a melopeia que do palco sai. Forte, quente, boa melodia e palavras directas, em pouco mais de três minutos - o rock é assim.
Na Tua Cama
Troco a Gibson SG (que tem gravado todo o novo disco) pela Washburn acústica. O Tó já está com problemas no amplificador que veio de uma revisão depois do fogo que rondou a nossa sala de ensaios. É-lhe colocado o kit de reserva. No palco, Jorge Morgado, o técnico de som interno, reajusta os níveis: passou por ali uma mimosa - é assim que eu defino um feedback de graves.
Segunda canção de amor de 88 (Noites Negras de Azul), ou melhor, de desamor. Relata o fim de uma longa época de naufrágios alcoólicos, junkies como músicos, e elas a fugiram da minha máscara.
A Lágrima Caiu
Segundo tema do disco de 2003, uma das mais belas melodias que escrevi, um sucesso só comparável aos maiores hits dos nossos primeiros tempos. Mesmo sem o apoio maciço da rádio - dói perceber como tudo pode andar de pés para o ar. O público gosta, o público quer, o público canta, mas... gueto com eles. Que tal um ataquezinho à kualidade do tema ou à política do A & R da EMI que aprovou a sua gravação?
100% Viciado em Ti
Estreia absoluta de uma das novas canções já gravadas. E também a estreia do progénito Côrte-Real nas palavras que os UHF cantam. Vai ser sucesso, não só pela reacção forte do público presente, mas porque - sobretudo - nós acreditamos. Pela primeira vez recorri-me da cábula entre os monitores para não falhar a letra. Para dançar e namorar, terceira canção de amor do alinhamento.
Por esta hora já a tarola do Ivan tinha problemas com a pele de baixo. A azáfama das formigas (técnicos) produzia efeitos. O arranque de uma longa digressão é assim. Importante é os quatro da frente passarem sobre quaisquer dificuldades surgidas e o público não sofrer qualquer impacto. O quarteto está coeso.
Um Copo Contigo
Mais uma radiografia do poeta-asceta-pateta de 93. Resumo de tantas memórias num jogo felino de palavras. Noites que não deviam ter o fim que tiveram, o vómito, a ilusão, até perder os sentidos (Diamantino: a resposta que te dei nos bastidores, no fim, é verdadeira e a atitude voluntária).
Dançando na Noite
Cortei-a do set, o que deixa sempre o Vasco Letria, técnico de luzes, com a programação de um computador à nora por breves momentos.
Há Rock no Cais
Para os que estiveram lá deu para reparar no gozo entre a banda, a comunhão. Sabemos o que vem nesta canção, desde os ensaios. Tem balanço, é longa, simples e brutal. "Há Rock no Cais" é, por isso, a canção-título do novo disco. Gozo, gozo puro, para quem gosta de UHF vintage. E tem aquele perfume enigmático nas palavras que não vou revelar. Também fala dela, do hotel onde forçadamente vivi dois meses e do incêndio. Por fim: o solo de guitarra é meu.
Esta Dança Não me Interessa
A nossa melhor zona política, de intervenção, de puro rock. Escrevi o tema com o Fernando Delaere. É sempre actual - os velhos erros repetem-se diariamente - e tem esta estrofe: "Se há putos sem sorte neste lar português / se tu danças com a morte sem saberes o que vês..." Sintomático e premonitório. Quem diria, em 93.
Rua do Carmo
Clássica e eficaz, a minha paixão pelo Chiado (esperem pelo próximo disco...). É forte, é quente e é de todos. As miúdas pulam e os mais duros que rock entoam com o copo de cerveja na mão.
Harley Jack
O nosso hino às duas rodas e à irmandade que aprendi a notar nas concentrações. O Jack é meu e vem do Tennessee. Balanço, força rock, curtição. Escrevi a canção depois de uma concentração em Faro, corria o ano de 99. Durante uma tarde vivi numa aldeia gaulesa no meio da floresta com eles. Nem o boi assado em espeto ao ar livre faltou.
Modelo Fotográfico
É das canções que mais balançam nos UHF, quase um ska de frenesim. Lembro-me do dia em que a gravei e da Ovation acústica que o Nuno Rodrigues - produtor - me emprestou. A versão é longa e muda todos os dias.
Saudei pela segunda vez a Lua que tomava assento sobre a copa das árvores, alaranjada, gorda, atenta. Corríamos para o final.
Menina Estás à Janela
Tem tudo o que as grandes canções populares, que emanam da tradição dos povos, podem possuir - simples, bela melodia, poucas palavras. E tem o nosso arranjo, brutal, a rasgar, a mostrar a identidade sonora dos UHF.
Cantámos e dançámos convosco, como sempre. Fiz da minha voz o que me apeteceu como há muito tempo não fazia. Senti-me bem e da noite agradeci à professora a confiança restabelecida e o tratamento natural da minha voz.
Boa noite! Até à próxima!
(Saída de palco)
Encore
Uma Palavra Tua
O Miguel conduziu-me de regresso ao palco e o Zero (roadie) ofereceu-me a Washburn afinada.
Sem pianista, só com a viola, devolvi o tema à guitarra acústica onde a escrevi. Adoro a canção. O fim de um ciclo da minha vida, a premonição visualizada deste presente: ela chegou. Entrei sozinho, enquanto no camarim a banda discutia os erros, se acendiam cigarros, mais um gole de whisky.
Toca-me
Passagem para uma das mais belas canções de amor do nosso repertório. A banda em palco e o namoro por fundo. O público gostou, como nós. Privadamente o tema fala de um diálogo impossível, o fim de uma relação.
The One I Love
É uma cover que fomos buscar ao baú dos R.E.M. Adorei sempre esta canção e depois de Dezembro propus que a banda a tocasse – já acontecera em Pataias e depois em Glória do Ribatejo.
Antes, desde a Praça Sony em 99, que por vezes a tocava sozinho nos encores. Gostaria de a ter escrito para ela.
Cavalos de Corrida
Eram quatro e quinze da madrugada quando o Tó acabou os harpejos finais do tema e o Ivan fez explodir a sua raiva sobre as peles. Estávamos bem, tinham havido momentos muito bons, as estreias foram fantásticas, a digressão começara com a equipa do costume.
Viemos à frente de palco agradecer o apoio e os aplausos. A Lua, um pouco subida no manto da noite, mostrava um sorriso benevolente - os putos tinham vindo divertir-se uma vez mais.
Até à próxima! *
(*A 8 de Maio em Vila Nova de Famalicão - concentração Motard)
14 de Abril de 2004
António Manuel Ribeiro, músico e produtor dos UHF
13.4.04
AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 15/2004
No top semanal de vendas da AFP encontramos 7 projectos musicais nacionais nos 30 primeiros.
11º ESQUISSOS - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
16º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
17º OLHAR EM FRENTE (PR) - BETO (FAROL MÚSICA)
23º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
25º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
28º PALCO (P) - PEDRO ABRUNHOSA (POLYDOR/UNIVERSAL)
29º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
11º ESQUISSOS - TORANJA (POLYDOR/UNIVERSAL)
16º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
17º OLHAR EM FRENTE (PR) - BETO (FAROL MÚSICA)
23º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
25º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
28º PALCO (P) - PEDRO ABRUNHOSA (POLYDOR/UNIVERSAL)
29º 71-86 O MELHOR DE - SÉRGIO GODINHO (MERCURY/UNIVERSAL)
(PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina
Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal
MP ou MP3?
MP = Música portuguesa: duas palavras que tanto reboliço têm causado nos últimos tempos. Uns defendem, outros não.
Podia falar aqui das editoras, da má distribuição e divulgação dos discos (por parte das mesmas), da rádio, de bandas boas e más, da falta de espaços para tocar, da má cultura musical que existe no nosso país. Sinceramente acho que todos têm uma parte da culpa do que se passa há anos no panorama musical português. Até os próprios ouvintes…
Mas como bons portugueses que somos, todos se culpabilizam e ninguém tem culpa.
Felizmente a Internet veio revolucionar a música um pouco por todo o lado e muitas bandas e músicos vendem hoje milhões de discos porque houve quem trocasse uns simples mp3 entre amigos.
Basta navegar um pouco pela net e ver que existem milhares de páginas a divulgarem novas bandas, seja na Inglaterra, seja no Japão. E em Portugal, onde gravar um disco é quase um sonho para muitos?
Parece que finalmente se está apostar na “rede” em terras lusitanas, como se pode ver pelos links que estão aqui no blog, o que agrada a muitos. Mas a “outra” facção, mais conservadora, diz que assim a venda de discos diminui. Será?? Os poucos que conseguem gravar um cd não têm a divulgação adequada e o consumista não arrisca ir comprar um cd só porque existe uma música que passa na rádio e que ele gosta.
Também é verdade que existe muita gente que “saca” álbums inteiros em formato mp3, mas isso será assim tão mau? Será que não vão comprar o disco a seguir numa loja? Será que não vão aos concertos? Será que não vão mostrar a mais gente?
A verdade é que há bandas que podem só vender meia dúzia de discos e que nunca passam na rádio, mas os concertos tão cheios.
Só um exemplo curioso, enviei a demo (em mp3) dos Brainwashed By Amália para alguns “amigos” meus americanos e alemães ouvirem e todos perguntaram de que cidade norte-americana eram. Ao que parece são ali do Cacém, a caminho de Sintra...
Orlando Angelino, Animador Radiofónico
Podia falar aqui das editoras, da má distribuição e divulgação dos discos (por parte das mesmas), da rádio, de bandas boas e más, da falta de espaços para tocar, da má cultura musical que existe no nosso país. Sinceramente acho que todos têm uma parte da culpa do que se passa há anos no panorama musical português. Até os próprios ouvintes…
Mas como bons portugueses que somos, todos se culpabilizam e ninguém tem culpa.
Felizmente a Internet veio revolucionar a música um pouco por todo o lado e muitas bandas e músicos vendem hoje milhões de discos porque houve quem trocasse uns simples mp3 entre amigos.
Basta navegar um pouco pela net e ver que existem milhares de páginas a divulgarem novas bandas, seja na Inglaterra, seja no Japão. E em Portugal, onde gravar um disco é quase um sonho para muitos?
Parece que finalmente se está apostar na “rede” em terras lusitanas, como se pode ver pelos links que estão aqui no blog, o que agrada a muitos. Mas a “outra” facção, mais conservadora, diz que assim a venda de discos diminui. Será?? Os poucos que conseguem gravar um cd não têm a divulgação adequada e o consumista não arrisca ir comprar um cd só porque existe uma música que passa na rádio e que ele gosta.
Também é verdade que existe muita gente que “saca” álbums inteiros em formato mp3, mas isso será assim tão mau? Será que não vão comprar o disco a seguir numa loja? Será que não vão aos concertos? Será que não vão mostrar a mais gente?
A verdade é que há bandas que podem só vender meia dúzia de discos e que nunca passam na rádio, mas os concertos tão cheios.
Só um exemplo curioso, enviei a demo (em mp3) dos Brainwashed By Amália para alguns “amigos” meus americanos e alemães ouvirem e todos perguntaram de que cidade norte-americana eram. Ao que parece são ali do Cacém, a caminho de Sintra...
Orlando Angelino, Animador Radiofónico
7.4.04
Fenómeno para normal
Há coisas muito estranhas.
Mas o que vos quero dizer não é nada disso, é para pessoas normais que entendem perfeitamente esta reflexão.
Tudo começou há 10 anos atrás na simpática cidade alentejana de Santiago do Cacém.
Três amigos pariam uma banda, à partida, igual a todas as outras.
Com o decorrer do tempo, a banda passou a quatro residentes e os colaterais foram aumentando a olhos vistos.
Estou a falar do grupo punk rock k2o3 do qual eu faço parte.
Fez-se o percurso normal de quem quer vingar na música, tocou-se em todo o lado, com e sem condições, para 6 e para 6 mil pessoas, gravaram-se dois álbuns e 10 anos mais tarde, depois de a banda estar 2 anos parada, voltámos a tocar e reparámos de que o número de fãs aumentou substancialmente sem fazermos nada por isso.
Vá-se lá saber porquê.
Mas de facto é estranho que nos tempos que correm os k2o3 sejam solicitados para tocar de Norte a Sul do país e que encham todos os locais onde vão. Mas o mais curioso é vermos nos concertos não só público da nossa idade, que nos conhece desde sempre, como também "malta" dos 12 aos 22 anos que só conheceu a banda bem mais tarde, até numa fase descendente.
Para aumentar ainda mais a estranheza de tudo isto, é incrível como os k2o3 enchem actualmente um bar com 200 ou um pavilhão com 600 pessoas que cantam em uníssono todos os temas quer do primeiro, quer do segundo disco.
E convém lembar de que os k2o3 nunca tiveram promoção alguma, nunca tocaram em festivais, a editora que lançou o primeiro álbum nem sequer o promoveu, as rádios nacionais nunca passaram as músicas, os jornais e as revistas de música não deram destaque a nada, tendo os k2o3 temas que poderiam ser grandes sucessos a nível nacional.
Nunca ninguém se mostrou interessado, a não ser o público que ainda hoje vibra com a banda e a considera uma das melhores, senão a melhor banda punk rock portuguesa.
É também muito estranho que uma banda como k2o3 venda cerca de 500 cópias de um disco em edição de autor só nos espectáculos, quando temos grupos que são apoiados fortemente pelo Blitz, Antena3, Sol Música, MTV, organizações de grandes festivais, etc, e nem sequer vendam isso com os discos bem promovidos e disponíveis nas principais lojas de música, para já não falar nos concertos em nome próprio que muitos fazem com pouco público.
E porque é que isto acontece?
O que é que está mal no meio musical português?
Porque é que os agentes musicais que têm poder de decisão fecham os olhos perante situações destas?
Não querem vender discos e concertos, não querem trabalhar com bandas que tenham público, que consigam fazer carreira?
Vamos continuar na senda de projectos descartáveis e de duração limitada que agradam a 20 ou 30?
E só estou a falar deste caso que me afecta particularmente, porque de certeza existem muitos mais.
Não me venham as rádios falar em estudos de mercado porque eu tenho a experiência da estrada, de sentir o público, e vejo como as pessoas reagem a temas de k2o3 com 10 anos de anonimato nacional e vejo também como reagem com o silêncio e desconhecimento a muita coisa que tem imenso airplay.
Podia dar aqui vários exemplos de bandas que passam imenso nos testes e nas rádios e que nos concertos a gente vê o que é: indiferença completa do público.
É uma pena que não se trabalhe como se deveria, todos teriamos a ganhar com isso.
Ulisses, músico dos k2o3
Mas o que vos quero dizer não é nada disso, é para pessoas normais que entendem perfeitamente esta reflexão.
Tudo começou há 10 anos atrás na simpática cidade alentejana de Santiago do Cacém.
Três amigos pariam uma banda, à partida, igual a todas as outras.
Com o decorrer do tempo, a banda passou a quatro residentes e os colaterais foram aumentando a olhos vistos.
Estou a falar do grupo punk rock k2o3 do qual eu faço parte.
Fez-se o percurso normal de quem quer vingar na música, tocou-se em todo o lado, com e sem condições, para 6 e para 6 mil pessoas, gravaram-se dois álbuns e 10 anos mais tarde, depois de a banda estar 2 anos parada, voltámos a tocar e reparámos de que o número de fãs aumentou substancialmente sem fazermos nada por isso.
Vá-se lá saber porquê.
Mas de facto é estranho que nos tempos que correm os k2o3 sejam solicitados para tocar de Norte a Sul do país e que encham todos os locais onde vão. Mas o mais curioso é vermos nos concertos não só público da nossa idade, que nos conhece desde sempre, como também "malta" dos 12 aos 22 anos que só conheceu a banda bem mais tarde, até numa fase descendente.
Para aumentar ainda mais a estranheza de tudo isto, é incrível como os k2o3 enchem actualmente um bar com 200 ou um pavilhão com 600 pessoas que cantam em uníssono todos os temas quer do primeiro, quer do segundo disco.
E convém lembar de que os k2o3 nunca tiveram promoção alguma, nunca tocaram em festivais, a editora que lançou o primeiro álbum nem sequer o promoveu, as rádios nacionais nunca passaram as músicas, os jornais e as revistas de música não deram destaque a nada, tendo os k2o3 temas que poderiam ser grandes sucessos a nível nacional.
Nunca ninguém se mostrou interessado, a não ser o público que ainda hoje vibra com a banda e a considera uma das melhores, senão a melhor banda punk rock portuguesa.
É também muito estranho que uma banda como k2o3 venda cerca de 500 cópias de um disco em edição de autor só nos espectáculos, quando temos grupos que são apoiados fortemente pelo Blitz, Antena3, Sol Música, MTV, organizações de grandes festivais, etc, e nem sequer vendam isso com os discos bem promovidos e disponíveis nas principais lojas de música, para já não falar nos concertos em nome próprio que muitos fazem com pouco público.
E porque é que isto acontece?
O que é que está mal no meio musical português?
Porque é que os agentes musicais que têm poder de decisão fecham os olhos perante situações destas?
Não querem vender discos e concertos, não querem trabalhar com bandas que tenham público, que consigam fazer carreira?
Vamos continuar na senda de projectos descartáveis e de duração limitada que agradam a 20 ou 30?
E só estou a falar deste caso que me afecta particularmente, porque de certeza existem muitos mais.
Não me venham as rádios falar em estudos de mercado porque eu tenho a experiência da estrada, de sentir o público, e vejo como as pessoas reagem a temas de k2o3 com 10 anos de anonimato nacional e vejo também como reagem com o silêncio e desconhecimento a muita coisa que tem imenso airplay.
Podia dar aqui vários exemplos de bandas que passam imenso nos testes e nas rádios e que nos concertos a gente vê o que é: indiferença completa do público.
É uma pena que não se trabalhe como se deveria, todos teriamos a ganhar com isso.
Ulisses, músico dos k2o3
6.4.04
O Plano
Seguindo a recente onda de discussão sobre novidades e espaços na rádio, surge-me a ideia, um pouco em cima do joelho, é certo (o trabalho assim o obriga), de dissertar precisamente sobre isso.
É que as "novidades" em que, por norma, Portugal aposta não são necessariamente novidades no sentido temporal do termo. Isto quando há uma preocupação com a aposta nas novidades, porque o que não falta por aí é gente a apostar em coisas que já rodavam nos tempos em que o meu avô corria 100m sem se cansar. Meus caros "apostar" é sinónimo de arriscar!
Quando se passa uma música que está nos escaparates dos clássicos não se está a fazer uma aposta, está-se a preencher ali uns minutinhos com alguma coisa que se sabe que vai agradar a uma fatia da audiência.
Pois muito bem, somos então todos uns grandes beneméritos, procurando dar um sorrisinho aos que nos ouvem e dizem "olha, lembras-te?" e "esta música faz-me lembrar outros tempos.".
Permitam-me então sugerir que apostem em bandas de covers! Reinvente-se a roda! Lancem-se álbuns com as melhores covers. Ou, se estiverem em posição para tal, lancem uma versão portuguesa dos A-teens, que faziam (fazem?) versões de músicas dos ABBA. Ohhhhh que deleite, só de imaginar. uns reinventores de um Elton John ou de uns Trovante ou de uns Doors ou de um Rui Veloso.
Pode ser? Ajuda-se a música portuguesa e lança-se algo que é simultaneamente novo e velho. Agrada-se a gregos e a troianos, com um caldinho tépido. É preciso é que todos colaborem. TODOS. Não se pode depois criticá-los! Não se pode dizer que são imitações reles de A, B ou C. Não, não! Tem que ser tudo muito bem combinadinho! Pague-se a quem tiver que se pagar, mas o produto em questão tem que ser promovido como a grande novidade, que vendeu 134234 cópias na Tchétchénia e na Nova Zelândia! É preciso é chocar! Chocar e vender, pois claro. E então se conseguirmos todos passar a imagem de que até fazemos um serviço à cultura portuguesa pronto, é ouro sobre azul. Como disse, não podemos é ser muito exigentes! Nada de dizer que os originais eram melhores ou que isto não traz nada de novo. Senão repetem-se as cenas de maus tratos que se tem presenciado com os Toranja.
Depois, bem depois vamos passar a música! Muitas vezes! Aí umas 20 vezes por dia num conjunto de rádios! Claro que os profissionais de rádio devem ajudar a publicitar todo este aparato. Digam coisas bonitas. Chamem-lhes os novos Beatles, qualquer coisa que faça levantar o sobrolho e deixar os ouvintes de ouvido arrebitado.
Pronto, já temos a máquinazinha comercial e promotora toda a funcionar? Alto lá! Não pode haver areia na engrenagem! É preciso votar ao esquecimento toda e qualquer concorrência que possa surgir! Vete-se tudo o que é novo e que possa encobrir o nosso sucesso (*riso maquiavélico*)!
Bane-se da rádio tudo o que tenha mais qualidade do que o NOSSO investimento! Matem-se essas ervas daninhas antes que se propaguem! Pestes! Para ajudar à confusão, patrocinemos um festival. Obviamente que a nossa criação lá estará. Como cabeças de cartaz, como convém. Junte-se-lhe um punhado de bandas de renome para atrair multidões e resmas de bandas estrangeiras (pormenor importante!) de qualidade duvidosa (pormenor importantíssimo!!! Assim a nossa criação sobressairá! *Riso maquiavélico #2*).
Vá-se buscar uma banda de terceira divisão de um país qualquer e ponha-se a nossa máquina de marketing a dizer que são a revelação do Rock-Hard Rock-Pop-Hip-Hop-Rap lá do seu país (convém que se enquadre num destes estilos. Ninguém quer saber se eles são a nova revelação do Ska ou do Jazz ou do Death Metal ou do Grunge. isso está passado!). Agora imaginem. milhares de pessoas a ver concertos rançosos. e lá no meio a nossa criação!!! A cantar música que todos conhecem, visual cuidado e mais que rodado em cartazes, jornais, televisões e pacotes de batatas fritas! O delírio!! Seremos levados em ombros certamente. Nós. Os salvadores da música portuguesa!
[NOTA:] Este texto chegou ao seu autor por inspiração divina e é para ser lido em voz alta, para uma plateia repleta de olhares ávidos e sequiosos de informação e poder. Deve servir-se fresco e em tom profético e visionário. Acompanhe-se de um charuto acendido com uma nota de 10 Euros (5 Euros é assumidamente mitra e pretensioso, como se se estivesse só a tentar dar nas vistas) e de uma garrafa de vinho francês (Não importa que haja vinhos portugueses bem melhores! Este é Francês!!! É caro!). Para acompanhamento sugere-se um qualquer bicho que faça barulho ao ser alarvemente devorado, como umas sapateiras ou lavagantes. Lagosta não. É pretensioso.
O texto não representa a atitude ou posição do autor e podem ser feitas reclamações e comentários insultuosos na página pessoal do autor:
about:blank
[FIM DA NOTA]
Purple, músico dos The FingerTrips
É que as "novidades" em que, por norma, Portugal aposta não são necessariamente novidades no sentido temporal do termo. Isto quando há uma preocupação com a aposta nas novidades, porque o que não falta por aí é gente a apostar em coisas que já rodavam nos tempos em que o meu avô corria 100m sem se cansar. Meus caros "apostar" é sinónimo de arriscar!
Quando se passa uma música que está nos escaparates dos clássicos não se está a fazer uma aposta, está-se a preencher ali uns minutinhos com alguma coisa que se sabe que vai agradar a uma fatia da audiência.
Pois muito bem, somos então todos uns grandes beneméritos, procurando dar um sorrisinho aos que nos ouvem e dizem "olha, lembras-te?" e "esta música faz-me lembrar outros tempos.".
Permitam-me então sugerir que apostem em bandas de covers! Reinvente-se a roda! Lancem-se álbuns com as melhores covers. Ou, se estiverem em posição para tal, lancem uma versão portuguesa dos A-teens, que faziam (fazem?) versões de músicas dos ABBA. Ohhhhh que deleite, só de imaginar. uns reinventores de um Elton John ou de uns Trovante ou de uns Doors ou de um Rui Veloso.
Pode ser? Ajuda-se a música portuguesa e lança-se algo que é simultaneamente novo e velho. Agrada-se a gregos e a troianos, com um caldinho tépido. É preciso é que todos colaborem. TODOS. Não se pode depois criticá-los! Não se pode dizer que são imitações reles de A, B ou C. Não, não! Tem que ser tudo muito bem combinadinho! Pague-se a quem tiver que se pagar, mas o produto em questão tem que ser promovido como a grande novidade, que vendeu 134234 cópias na Tchétchénia e na Nova Zelândia! É preciso é chocar! Chocar e vender, pois claro. E então se conseguirmos todos passar a imagem de que até fazemos um serviço à cultura portuguesa pronto, é ouro sobre azul. Como disse, não podemos é ser muito exigentes! Nada de dizer que os originais eram melhores ou que isto não traz nada de novo. Senão repetem-se as cenas de maus tratos que se tem presenciado com os Toranja.
Depois, bem depois vamos passar a música! Muitas vezes! Aí umas 20 vezes por dia num conjunto de rádios! Claro que os profissionais de rádio devem ajudar a publicitar todo este aparato. Digam coisas bonitas. Chamem-lhes os novos Beatles, qualquer coisa que faça levantar o sobrolho e deixar os ouvintes de ouvido arrebitado.
Pronto, já temos a máquinazinha comercial e promotora toda a funcionar? Alto lá! Não pode haver areia na engrenagem! É preciso votar ao esquecimento toda e qualquer concorrência que possa surgir! Vete-se tudo o que é novo e que possa encobrir o nosso sucesso (*riso maquiavélico*)!
Bane-se da rádio tudo o que tenha mais qualidade do que o NOSSO investimento! Matem-se essas ervas daninhas antes que se propaguem! Pestes! Para ajudar à confusão, patrocinemos um festival. Obviamente que a nossa criação lá estará. Como cabeças de cartaz, como convém. Junte-se-lhe um punhado de bandas de renome para atrair multidões e resmas de bandas estrangeiras (pormenor importante!) de qualidade duvidosa (pormenor importantíssimo!!! Assim a nossa criação sobressairá! *Riso maquiavélico #2*).
Vá-se buscar uma banda de terceira divisão de um país qualquer e ponha-se a nossa máquina de marketing a dizer que são a revelação do Rock-Hard Rock-Pop-Hip-Hop-Rap lá do seu país (convém que se enquadre num destes estilos. Ninguém quer saber se eles são a nova revelação do Ska ou do Jazz ou do Death Metal ou do Grunge. isso está passado!). Agora imaginem. milhares de pessoas a ver concertos rançosos. e lá no meio a nossa criação!!! A cantar música que todos conhecem, visual cuidado e mais que rodado em cartazes, jornais, televisões e pacotes de batatas fritas! O delírio!! Seremos levados em ombros certamente. Nós. Os salvadores da música portuguesa!
[NOTA:] Este texto chegou ao seu autor por inspiração divina e é para ser lido em voz alta, para uma plateia repleta de olhares ávidos e sequiosos de informação e poder. Deve servir-se fresco e em tom profético e visionário. Acompanhe-se de um charuto acendido com uma nota de 10 Euros (5 Euros é assumidamente mitra e pretensioso, como se se estivesse só a tentar dar nas vistas) e de uma garrafa de vinho francês (Não importa que haja vinhos portugueses bem melhores! Este é Francês!!! É caro!). Para acompanhamento sugere-se um qualquer bicho que faça barulho ao ser alarvemente devorado, como umas sapateiras ou lavagantes. Lagosta não. É pretensioso.
O texto não representa a atitude ou posição do autor e podem ser feitas reclamações e comentários insultuosos na página pessoal do autor:
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[FIM DA NOTA]
Purple, músico dos The FingerTrips
5.4.04
David Ferreira comenta crónica "Rádio Nostalgia"
Um breve comentário acerca do texto de Luís Silva do Ó sobre as Rádios:
Tem toda a razão quando dá a entender que a nostalgização é hoje o maior dos problemas que enfrentamos na rádio. Por isso mesmo, a AFP (Associação Fonográfica Portuguesa) insiste em que não basta estabelecer quotas para a Música Portuguesa, são também necessárias quotas mínimas para a passagem de Novidades.
A título pessoal, não entendo como pode o Estado conceder alvarás a quem institui como regra básica de programação o bloqueio à Novidade: sendo limitado o espaço hertziano, porquê concedê-lo a quem, em lugar de informar, esconde a informação?! Deverá a Rádio ser posta ao serviço do silenciamento do que se faz, cá como lá fora?
Já pensaram o que seria se os cinemas se recusassem a passar filmes novos, as livrarias a expor livros novos, os jornais a mostrar e a comentar... as notícias do dia?!
Ou será que o progresso se faz de olhos postos no futuro e os ouvidos agarrados ao passado...?!
David Ferreira
[O email do administrador da EMI Valentim de Carvalho, David Ferreira, foi recebido em 2004/04/04 e publicado no blogue com autorização prévia do autor.]
Tem toda a razão quando dá a entender que a nostalgização é hoje o maior dos problemas que enfrentamos na rádio. Por isso mesmo, a AFP (Associação Fonográfica Portuguesa) insiste em que não basta estabelecer quotas para a Música Portuguesa, são também necessárias quotas mínimas para a passagem de Novidades.
A título pessoal, não entendo como pode o Estado conceder alvarás a quem institui como regra básica de programação o bloqueio à Novidade: sendo limitado o espaço hertziano, porquê concedê-lo a quem, em lugar de informar, esconde a informação?! Deverá a Rádio ser posta ao serviço do silenciamento do que se faz, cá como lá fora?
Já pensaram o que seria se os cinemas se recusassem a passar filmes novos, as livrarias a expor livros novos, os jornais a mostrar e a comentar... as notícias do dia?!
Ou será que o progresso se faz de olhos postos no futuro e os ouvidos agarrados ao passado...?!
David Ferreira
[O email do administrador da EMI Valentim de Carvalho, David Ferreira, foi recebido em 2004/04/04 e publicado no blogue com autorização prévia do autor.]
1.4.04
Bandas na Web - Three clicks away
Para quem não sabe a regra dos "Three clicks away" é fundamental na construção de qualquer website.
O que esta regra nos quer dizer é que, a partir da página de entrada, toda a informação deve estar disponível num espaço de 3 clicks.
Inspirado no número 3 decidi escolher 3 bandas que, por uma razão ou outra, marcaram o ano de 2003:
BlindZero pelo prémio MTV, GNR pelo 1º lugar na nossa sondagem e EzSpecial pelo 2º lugar na mesma sondagem, pela revelação, pelo manifesto que ouvi falar, pelo toque do telemóvel.
De baixo para cima, o site dos EzSpecial inicia-se, estrategicamente, pelo manifesto (que muito tem a ver com o que aqui se discute), um texto que vale a pena ler. Daí ao site passa-se pela página de entrada (engraçada mas desnecessária, na minha opinião, claro!) e entra-se no site... Site engraçado, bom design, prático, agenda, sound reviews, guestbook, enfim, preocupação geral de imagem!
A Visitar.
Os dinossauros GNR entram em força no site...
Sem página de entrada, com uma introdução rápida e dinâmica. Um site também sóbrio, mas que me levanta uma questão: A agenda é já deste ano? (não me parece...)
Por outro lado, a ausência de notícias fez com que a história (na minha opinião com um texto demasiado longo) seja também a única notícia disponível...
Cuidados de imagem, mas sem manutenção.
Vale a pena ver.
BlindZero. Após a pagina de escolha entre português e inglês, lá se vê o site...
Uma introdução simples mas eficaz, um design agradável e um site completo, mas, também, desactualizado (Agenda ainda de 2003) e com as notícias em inglês mais completas (ou melhor organizadas) que em português. Porque será?
Se tiver que dar um veredicto: Voto EzSpecial!
João Pedro Rei, Consultor Web
O que esta regra nos quer dizer é que, a partir da página de entrada, toda a informação deve estar disponível num espaço de 3 clicks.
Inspirado no número 3 decidi escolher 3 bandas que, por uma razão ou outra, marcaram o ano de 2003:
BlindZero pelo prémio MTV, GNR pelo 1º lugar na nossa sondagem e EzSpecial pelo 2º lugar na mesma sondagem, pela revelação, pelo manifesto que ouvi falar, pelo toque do telemóvel.
De baixo para cima, o site dos EzSpecial inicia-se, estrategicamente, pelo manifesto (que muito tem a ver com o que aqui se discute), um texto que vale a pena ler. Daí ao site passa-se pela página de entrada (engraçada mas desnecessária, na minha opinião, claro!) e entra-se no site... Site engraçado, bom design, prático, agenda, sound reviews, guestbook, enfim, preocupação geral de imagem!
A Visitar.
Os dinossauros GNR entram em força no site...
Sem página de entrada, com uma introdução rápida e dinâmica. Um site também sóbrio, mas que me levanta uma questão: A agenda é já deste ano? (não me parece...)
Por outro lado, a ausência de notícias fez com que a história (na minha opinião com um texto demasiado longo) seja também a única notícia disponível...
Cuidados de imagem, mas sem manutenção.
Vale a pena ver.
BlindZero. Após a pagina de escolha entre português e inglês, lá se vê o site...
Uma introdução simples mas eficaz, um design agradável e um site completo, mas, também, desactualizado (Agenda ainda de 2003) e com as notícias em inglês mais completas (ou melhor organizadas) que em português. Porque será?
Se tiver que dar um veredicto: Voto EzSpecial!
João Pedro Rei, Consultor Web
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