30.1.04

New York Festivals - 2004 Gold WorldMedal

Deixamos aqui uma notícia que nos enche de satisfação: o nosso colaborador Ulisses - Copy Writer na WPortugal - ganhou uma medalha de ouro no New York Festivals (festival mundial de publicidade de Nova Iorque)! PARABÉNS!

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  • 28.1.04

    O anti-neurónio

    Fazer uma intriga é tão normal para um português como o acto de arrotar num selecto recital no S. Carlos.
    Parece que ser pessimista também o é, pelo menos é o que as sondagens indicam e que o nosso senso comum detecta.
    Também, com tanta música de sucesso que entrou neste país vinda da zona cinzenta de Manchester… não podia haver melhor nação para uma onda tão cinzenta, tão depressiva, tão negativa. Essa onda, a outra onda, é bem mais positiva que nós.
    No lado mau, somos mesmo dos melhores. No Japão, trabalham imenso, produzem à brava por metro quadrado, em Portugal, temos a maior quantidade de depressões por habitante. Não sei se estes dados são reais e estão provados cientificamente, mas, se não são, podiam ser ou, então, os estudos estão errados.
    Porém, o português também é campeão da divagação, como a minha prosa dá mostras.
    Somos mesmo muito bons, em algumas coisas e dependendo da perspectiva…

    Voltando atrás, diga-se que o português maneja bem a arte da intriga.
    Chegado ao trabalho, é fácil aniquilar um colega chato (leia-se, competente, pontual e produtivo) só porque gagueja um pouco ou porque tem a voz algo aguda.
    “Hum… o Zé é larilas.”
    Basta uma deixa e o coitado do Zé vê a carreira arruinada por um indivíduo que, no bar, é machão, mas que, em casa, se costuma divertir a vestir a lingerie da mulher. Uma opção de vida como outra qualquer. O Zé é que não tinha culpa...
    A intriga pequena ou grande não tem fim, mas, que tem isto a ver com o blogue?
    Ok, divaguei até aqui para mostrar que, mesmo num blogue tão inofensivo como este, existem coisas que acontecem.
    Na secção de comentários é corrente a aparição de análises enviesadas aos textos apresentados e, se até ao momento não tive nenhuma ocorrência em crónicas minhas, estou certo que em breve tal acontecerá (outro atributo dos portugueses que partilho, a capacidade da previsão).
    A manipulação propositada de palavras que gerem equívocos, discussões, polémicas, é muito compensadora e ajuda a gastar o tempo em que o patrão pensa ter trabalhador.

    Querem um exemplo?
    Ora, aqui vai: num destes dias, um dos nossos estimados comentadores anónimos concluiu que este blogue devia chamar-se "anti-blitz". (?)
    No meio de uma sonora gargalhada, que assumo não ter conseguido evitar, fiquei zonzo pelos motivos estranhos da comparação, mas, não vale a pena reflectir sobre uma coisa dessas.
    Conversando com o criador deste blogue, fiquei a saber que outros nomes foram considerados, embora nenhum estivesse disponível (anti-blitz, anti-tv, anti-nódoas, anti-biótico, anti-manha, anti-tússico, anti-merdas, anti-lixo)… Pensando bem, também preferia o anti-tússico. Sempre servia para tratar da tosse a alguns inúteis e a outros que, sendo úteis, não fazem nada de jeito.
    As bocas servem para aquilo que servem, lançar confusão e ver se pega.
    Da minha parte o digo, aqui escrevo em nome da música moderna portuguesa, daquela que gosto e daquela que detesto.
    Todos os contributos críticos e atentos são válidos, mas, em jeito de prevenção… conotar a minha pena com anti-qualquer coisa é que não.

    Chegado aqui, sinto um aperto no estômago.
    Se calhar preciso de um anti-ácido - é que esta semana queria escrever uma coisa “séria”.
    Prometo que, no próximo mês, tentarei apresentar um texto anti-pasmaceira.
    O certo é que a presente crónica nunca imaginou ser escrita.
    Tal como os independentes, os neurónios portugueses são muito imprevisíveis.
    Por talento, inato, são mesmo anti-neurónios.


    [Como vêem o “crime” compensa… a esmagadora maioria dos comentários têm sido muito positivos, interessantes, acutilantes, e eu aqui estive a escrever sobre uma pequena minoria que aproveita o anonimato para escrever disparates. Mas, se são disparates, porque motivo os valorizamos? E de que forma a música avança neste país, se muitos dos agentes envolvidos no meio (músicos, promotores, managers, editoras, …) perdem as energias a guiar na contramão?]

    Luís Silva do Ó, jornalista

    27.1.04

    AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 04/2004

    No top de vendas semanal da AFP sairam Fausto (A Opera Mágica do Cantor Maldito) e Mariza (Fado em Mim), passando o contigente nacional para 8 projectos musicais nos 30 primeiros:

    2º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
    3º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
    10º PALCO (P) - PEDRO ABRUNHOSA (POLYDOR/UNIVERSAL)
    13º FOCUS (OU) - MORRICONE/DULCE PONTES (POLYDOR/UNIVERSAL)
    17º VIVO D'ARTE, VIVO D'AMOR - FREI HERMANO DA CAMARA (FAROL MUSICA)
    19º FORA DE MAO (OU) - LUIS REPRESAS (MERCURY/UNIVERSAL)
    24º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
    26º COMO SEMPRE. COMO DANTES (OU) - CAMANE (CAPITOL/EMI-VC)


    (PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina


    Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

    21.1.04

    O Pessimista

    Caminhando pela calçada da velha Lisboa, para além dos passos, também as palavras de um jornalista de um qualquer canal de televisão fazem eco na minha cabeça. Diziam elas que Portugal é o quinto país do mundo inteiro onde se é mais pessimista. Recorrente. Não é novidade, mas ainda faz tremer à entrada das palavras...
    A menos que se queira fugir também à sondagem, tal como se foge de muito mais na vida, e dizer que estas valem o que valem. E olhem que a sondagem é estrangeira, é capaz de ser boa...
    Se um dia deixar de acreditar em quem profissionalmente se dedica a quantificar o que as pessoas querem (não como verdade absoluta mas como melhor de entre todos os indicadores) terei de deixar de esperar que os outros acreditem também no meu trabalho. Terra chama coerência. E já se está a ver... os funcionários das empresas de sondagens são ouvintes como os outros, nem mais nem menos...
    Acho que me resolvi. Se um dia deixar de acreditar seja no que for, digo que isso vale o que vale. E já agora passo também a dizer que tudo o que está mal é culpa do governo. Desculpem a falta de originalidade, mas às vezes fico roído de inveja quando passo na rua e encontro inúmeras vítimas de “eles” (?) a exercer o seu direito democrático de dizer mal de tudo, sem lançar também o meu torpedo...
    Eu não me esqueço de que existe muita gente boa...
    É de uma injustiça, o bom do português faz de tudo para ser mais produtivo, não se desmotiva, faz mais do que o seu horário de trabalho e, mais importante, está sempre a produzir, quer sempre mais e melhor formação, nunca critica nada à toa e é sempre o primeiro...
    De repente deu-me a espertina em pleno andar acordado.
    Nem por sombras prescindo da emoção nem tão pouco dos contornos românticos das coisas, mas... não estará na altura de cada um de nós na sua equipa e no seu individualismo assumir a sua responsabilidade? A culpa será sempre dos outros? Não haverá culpa quase nunca, sobretudo a própria?
    Gostava de ser assim este ano, não criticar sem sugerir construtivamente e com os pés na terra. Procurar resistir à tentação de ser egoísta e sobretudo ao seu efeito prático de esperar mais dos outros do que aquilo que dou. Digo-vos que os restantes 364 itens estão todos relacionados.
    Quanto ao nosso canto, penso que precisamos de músicos motivados, de editoras que tenham orgulho na promoção dos seus artistas, de gente boa com tempo e vontade para colocar e manter projectos de pé e de uma rádio que continue a ser vivaça sem esquecer a magia e a emoção.
    É tudo uma questão de tempo. Daquele que temos e do que gostaríamos de ter. Para que as coisas se alterem, para criar energias e para tudo o que de bom cabe na vontade de cada um.
    Bons sinais? A hegemonia do ainda líder de audiências rádio está aos poucos a cair, sei de pessoas com tempo e vontade apesar da vida que se leva, o calendário das editoras tenho esperança que entre definitivamente no século corrente, a crise mais dia menos dia há-de acabar... e lembrar-se-ão de outros mais... dizer bem é, supostamente o contrário de dizer mal...
    O eco das palavras de pessimismo há-de desaparecer, tal como sucede com quase todos os ecos...
    Votos de bom trabalho, persistência e constância.
    Continuo a achar que é preferível ser como o último samurai, do que mais um desaparecido em combate.

    Bruno Gonçalves Pereira

    20.1.04

    AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 03/2004

    No top de vendas da AFP continuamos a encontrar 10 projectos musicais portugueses nos 30 primeiros:

    2º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
    4º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (3P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
    8º PALCO (P) - PEDRO ABRUNHOSA (POLYDOR/UNIVERSAL)
    11º FOCUS (OU) - MORRICONE/DULCE PONTES (POLYDOR/UNIVERSAL)
    13º FORA DE MAO (OU) - LUIS REPRESAS (MERCURY/UNIVERSAL)
    17º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
    21º VIVO D'ARTE, VIVO D'AMOR - FREI HERMANO DA CAMARA (FAROL MUSICA)
    22º COMO SEMPRE. COMO DANTES (OU) - CAMANE (CAPITOL/EMI-VC)
    23º FADO EM MIM (2P) - MARIZA (W. CONNECTION/EMI-VC)
    29º A OPERA MAGICA DO CANTOR MALDITO (PR) - FAUSTO (COLUMBIA/SONY MUSIC)


    (PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina


    Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

    19.1.04

    Banda Nova: K2O3 – Grita! (1999 – edição de autor)


    K2O3 (Santiago do Cacém)


    Ulisses – Voz/Guitarra
    Mini – Guitarra
    Nuno Costa – Bateria
    Rui Chaves – Baixo


    Desde o “Veneno” dos Peste&Sida e “Censurados” dos Censurados que não ouvia um disco punk, cantado em Português, tão forte. Esta banda toca com uma raiva e uma vontade enormes! Apesar do disco ser de 1999, está perfeitamente actual quer em termos de mensagem das letras, quer na sonoridade.
    O baterista é completamente diabólico a tocar, os guitarristas e o baixista fazem um trio perfeito e com uma sonoridade incrível.
    Este disco nunca foi posto à venda nas lojas e a única maneira de o comprar é nos concertos da banda. 500 discos vendidos só em concertos, é obra!
    Os K2O3 estão parados há 2 anos, mas (e ainda bem!) voltaram agora para a sala de ensaios onde estão a preparar os espectáculos que vão começar a dar já a partir do próximo mês.
    Além dos 2 discos editados, têm ainda como bandeira as várias primeiras partes que fizeram dos Xutos e Pontapés, o que lhes trouxe uma excelente experiência de palco, pois por várias vezes tocaram para audiências de milhares de pessoas.
    Os K2O3 mostram com este trabalho que as bandas que não conseguem arranjar editora podem gravar e, com um pequeno orçamento, conseguir um disco com bom som! Isto sem falar no trabalho da capa, que é genial!
    A única falha foi mesmo a distribuição que não existiu, mas sei que a banda está a tratar desse (muito importante) pormenor. E acho muito bem, pois se voltaram e têm um trabalho com esta qualidade, ele deve estar nas lojas para que possa ser ouvido e comprado.
    Brevemente a banda terá um site onde se poderá adquirir o disco, ver fotos, historial, etc.
    Se gostarem de punk e virem este disco à venda, não hesitem! Se tiverem oportunidade de ver um espectáculo dos K2O3 podem ter a certeza que vai ser uma hora e meia para não esquecer.
    Canções que marcam: “Grita por ti”, “Não à discriminação”, “O meu abandono”, “Já não me interessa”, “Em fuga” e “Voltar para trás”.
    Força !

    António Côrte-Real, músico dos UHF


    Contactos:
    K2O3: Ulisses – 91-7389809


    Podem ser enviadas demos para:
    Papelaria e Tabacaria Piedense - Jubal
    A/C António Côrte-Real
    Largo 5 de Outubro, nº 65
    2800 Cova Da Piedade

    15.1.04

    BLOGUE-SE À FORÇA – Dois
    TEMPO UHF

    Aqui estou eu para tentar cumprir a tarefa de escrevinhar a crónica (?) deste mês, num país que gera em barda cronistas profissionais evidentes, bastardos e anexados ao regime. Neste espaço a malta bloga-se e pronto, sacamos das crises internas e fazemos arremesso a golpe de fisga. Alguém sente a pedrada?
    A indisposição da última noite deixou-me vazio de assuntos, acrescendo o sadio motivo deste homem estar apaixonado. Também por isso, ou só por isso, desliguei inteligentemente o pequeno ecrã e os assuntos do cash and carry da vida, e povoei a minha ilha.
    A ostra comida – não aquela de duas perninhas da página 43 do meu último livro – ia-me matando. Mas o mar de Sesimbra convidava à conversa, estes olhos derramados nos olhos do olhar da Lua ali sentada à minha frente, desfiando o namoro sob o Sol da tarde.
    Os músicos também namoram. Vem com o tempo, pois até uma certa altura consumimos, sobretudo ralações sem grande relação. E gostamos, ou fingimos, exibindo.
    Amiúde dão canções as acções mais díspares de vivência e observação: os amores (poucos), os pequenos amores (muitos), as sombras e as figuras que circulam e o resto que vocês sabem que me chateia.
    Falo desse país adiado em corpo de nação de ausentes, com uns tipos eleitos a quem chamamos governantes e não passam de gerentes de balcão de uma lojeca de bairro periférico e pobre. Pobres de espírito, adormecidos, a quem chamamos povo, sobretudo, alheados na contagem das migalhas, acreditando que a vida é um sacrifício, o trabalho um martírio, e eles vexados crónicos e sem cura.
    É disto que falam as minhas canções desde o início do tempo UHF. Por tudo isto chateia-me que perguntem recorrentemente nas entrevistas:
    primeiro, como era no início;
    segundo, o que significa UHF;
    terceiro, como estamos de música portuguesa?
    E eu respondo que nem um alarve da diplomacia comunicativa, ao agrado dos promotores e das editoras, quando me apetecia dizer:
    primeiro, UMA MERDA;
    segundo, UMA HORA FORNICADA;
    terceiro: SÓ RESPONDO DEPOIS DE PERGUNTAREM AO MICHAEL STIPE O MESMO SOBRE A MÚSICA NOS STATES.
    Porra de rotina amadora!

    Naturalmente, agora, escapo-me para as veredas do amor, acreditando em mim e na escrita que resiste, neste bando de 4 (a 19/12 em Pataias deu muito gozo) que faz o que lhe apetece, existe, avança como um corpo biológico, sem padrinhos, sem lobbies, sem facturas por pagar (também nunca tivemos um bar para encher de copos a imprensa tesa).
    Dizem-me que em diversos sítios o nosso disco esgotou no Natal. É bom sabermos que o avô vestido de encarnado tem bom gosto e prefere a música portuguesa ou serão as renas? A EMI agradece e os UHF também. A pirataria ainda não atacou os melhores fãs do mundo e nós precisamos de dinheiro para comprar amendoins.
    Apetece-me dizer que eles são a nossa melhor família, que nós somos os melhores, que La Pop End Rock é o melhor disco português dos últimos 15 anos, mas não o vou fazer. Vou fingir que não sou de cá, que até somos amigalhaços, que a hipocrisia não existe na nossa indústria de canções, que todos os truques são válidos para manter a malta a boiar – editoras, artistas, agências.
    Que se lixem – as manias, as pessoas com manias que são muuuiito importantes, o cheiro nauseabundo desta paz pequena e perversa!
    Nós não somos os melhores, somos diferentes, e já nem pagamos o tributo do caminho solitário. Por isso não tenham pena de nós. Gostamos dele (caminho), usando as suas virtudes, fintando a desgraça, vivendo da inteligência neste país de música e cólicas.

    Em 2003 os UHF editaram 35 temas numa Ópera e guardaram 7; na colectânea Motard, apresentámos mais 3 originais; para “As Canções da Águia” 2 novas canções; escrevemos o hino dos Sub-17 (campeões); incluímos num disco sobre Porto Moniz outros 3 temas novos. Dá 57 canções editadas e ainda outras guardadas. E depois? Num país retardado e distraído isso vale o quê? Também com esta rádio... Só provámos a nós próprios que somos capazes, que compomos, que o estúdio é uma segunda casa, que amamos o que fazemos, que preferimos os desafios, tudo sem esforço. Ah, e foram 45 datas por aí, de permeio.
    Foi por isso muito agradável ver que os leitores do Blitz nos tivessem oferecido o 3.º lugar na sua votação para os 20 melhores discos nacionais de 2003. Quando me telefonaram a pedir o depoimento éramos segundos. Na edição ficámos em 3.º, mas eles lá sabem e eu estou-me nas tintas para explicações.
    Será que alguém responsável lê o Blitz? Até lêem, claro que sim, mas fingem que não. As editoras, as rádios e os artistas mainstream do burgo estão de trombas, chamando nomes à malta nova que se chateou a votar. E nós, os tais com 25 anos, aparecemos no meio da putalhada nova da música indígena (não esquecer as quase 200.000 pessoas que assistiram aos nossos concertos em 2003). Mas aonde é que isto nos leva, ecoa no coro surdo da pestilência? Ou será que os prémios do Blitz não valem um chavo quando mostram a vontade popular, diferente das partidas de canasta dos iluminados? Pergunto: como é que um país tão medíocre, tão merdoso, pode ter tantos iluminados por metro quadrado?
    Nos meus tempos de Faculdade de Direito da U.L. tive de aturar um, de nome Arnaldo Matos, o Educador do povo do MRPP, que deu no que se sabe: metade para o PS e metade para o PSD. Até aos nossos dias ficou o Garcia Pereira de aparições sazonais mais as cadeiras da sede.
    Vou-me daqui. Os efeitos da ostra marada partem com a ajuda repetida do chá e dos olhos do meu amor. Amanhã é dia de ensaio nos UHF e isso faz bem à malta.

    14 de Janeiro de 2004

    António Manuel Ribeiro, músico e produtor dos UHF

    13.1.04

    AFP: TOP 30 ARTISTAS - SEMANA 02/2004

    No top de vendas da AFP encontramos 10 projectos musicais portugueses nos 30 primeiros:

    2º O CONCERTO ACUSTICO (3P) - RUI VELOSO (VIRGIN/EMI-VC)
    4º AO VIVO NO PAVILHAO ATLANTICO (2P) - TONY CARREIRA (ESPACIAL)
    7º FOCUS (OU) - MORRICONE/DULCE PONTES (POLYDOR/UNIVERSAL)
    13º PALCO (P) - PEDRO ABRUNHOSA (POLYDOR/UNIVERSAL)
    14º FORA DE MAO (OU) - LUIS REPRESAS (MERCURY/UNIVERSAL)
    18º FADO CURVO (P) - MARIZA (VIRGIN/EMI-VC)
    21º COMO SEMPRE. COMO DANTES (OU) - CAMANE (CAPITOL/EMI-VC)
    23º VIVO D'ARTE, VIVO D'AMOR - FREI HERMANO DA CAMARA (FAROL MUSICA)
    27º FADO EM MIM (2P) - MARIZA (W. CONNECTION/EMI-VC)
    28º A OPERA MAGICA DO CANTOR MALDITO (PR) - FAUSTO (COLUMBIA/SONY MUSIC)


    (PR)-Prata (OU)-Ouro (P)-Platina (2P)-Dupla Platina (3P)-Tripla Platina


    Dados: AFP/Copyright AC Nielsen Portugal

    12.1.04

    Dicas para novas bandas

    Não é fácil começar uma banda em Portugal. Acho que isso é senso comum. Há falta de apoios, os instrumentos são caros, os bons instrumentos mais ainda e, se não se dispuser de uma garagem e/ou de uns vizinhos compreensivos ou duros de ouvido, o melhor remédio é mesmo alugar uma sala de ensaios. Claro que isso envolve mais custos, nem sempre fáceis de suportar para uma banda em fase de arranque. Um conselho que poderá ser útil e que poderá permitir poupar uns trocos numa fase inicial: procurem um estúdio que disponha de algum material. Evitarão assim ter que comprar desde logo amplificadores ou componentes para a bateria. À partida até serão estes os tipos de salas de ensaio mais frequentes, mas é sempre bom lembrar. É que mais vale pagar mais um pouco de início e ir tocando do que ter que esperar que cada membro desembolse o dinheiro para todo o material que julga necessário.

    Ensaiem. Façam um punhado de músicas vossas. Não se preocupem em fazer 40 músicas. Façam poucas mas trabalhem-nas. Procurem adicionar um condimentozinho sempre que a ensaiam, em vez de a ensaiar para não a esquecer. Quando tiverem 3 ou 4 músicas, atrevam-se a sair da garagem! Não faltam por aí festivais de música moderna aos quais podem concorrer! Procurem nos jornais e revistas de música e mandem uma maquete vossa. Arrisquem a ir tocar ao vivo! Geralmente 3 ou 4 músicas são suficientes para se poder concorrer. Sentem o contacto com o palco, com o público, ganham aquele calo que vos será necessário mais tarde, aprendem a ver aquilo que o público gosta e a analisar as diferentes reacções deste. Se gosta mais de uma música, se reage da forma que esperávamos a outra, etc. Esforcem-se por ser originais em palco. Lembrem-se que o público gosta mais de espectáculos do que de concertos! A diferença é que nos concertos todos se encontram a tocar direitinhos no seu canto. Um espectáculo é mais que isso, há uma postura, há comunicação, há uma componente visual que acompanha a componente auditiva. Os grandes palcos têm um espectáculo de luzes que complementa a actuação de uma banda. Vocês provavelmente não irão dispor de tal ajuda nos primeiros concertos. Trabalhem a componente palco e arrisquem. Pode ser que ganhem! :)

    Toquem para o público! Em casa, na sala de ensaios, no estúdio, a música é vossa. Mas vocês vão dá-la ao público! Não toquem apenas para vocês. Transcendam-se! E toquem muito, arranjem bares interessados e toquem, todas as semanas se possível. É no palco que vocês vão crescer mais, porque a concentração exigida é outra, o envolvimento é maior e as reacções são ali, naquele instante, o feedback é muito maior por parte do público. Ao tocar estão a recusar-se a ser apenas mais uma banda de garagem!

    Comuniquem! Sublinho e reafirmo: Comuniquem! Recolham opiniões, críticas, elogios. Guardem os elogios numa caixinha para as alturas difíceis e trabalhem as críticas. Não se acomodem, queiram sempre mais. Mostrem-se ao mundo, mostrem-se aos amigos, ao público, falem de vocês, da vossa música, ofereçam a vossa música...

    Mantenham-se informados. Leiam sobre o mundo da música à vossa volta. Quem toca onde, de onde é a banda tal, quem vai tocar ao lugar x, etc. Troquem ideias com as bandas que tocam com vocês. Ajudem-nos no que puderem e eles farão o mesmo por vocês. Arranjem-lhes contactos de sítios onde tocar, de produtores, de agências, de editoras, de tudo o que vos é útil.

    Habituem-se a não usufruir do dinheiro que fazem com a música. Invistam-no! Bom material dá maiores garantias de bons espectáculos. Ou poupem para um dia mais tarde poderem gravar uma maquete com maior qualidade. Invistam na música, não esperem que ela vos financie. Invistam em cds, na gravação de temas com o máximo de qualidade possível, distribuam cds... Esse investimento será gratificantemente devolvido por aqueles que realmente importam: o público.

    Saibam sofrer. A falta de apoios, as injustiças, a indiferença, o menosprezo, o mau profissionalismo, as exigências, a falta de dinheiro, de tempo, de reconhecimento, de meios para poder fazer aquilo que queremos, sabemos e podemos... Isso fará, num momento ou noutro, parte da vossa vida como músicos. Peguem nisso e transponham para a vossa música e modo de estar nela. E remem contra a maré o máximo de tempo possível... Há sempre um ou outro barco salva vidas que apanha alguns afortunados e esses podem ser vocês.

    Por último, embora muito fique ainda por dizer, uma vez que a vida de um músico em Portugal não é fácil e só a muito custo se consegue levar alguma coisa avante, ajudem as bandas que passaram, estão a passar e passarão ainda por aquilo que vocês passaram! Contem as vossas experiências e dêem o vosso apoio e conselhos. A única coisa tão gratificante na música quanto os aplausos do público é o agradecimento dos nossos colegas e o sentimento de que ajudaram alguém a fazer aquilo que vocês próprios amam: Música.

    Purple, músico dos The FingerTrips

    7.1.04

    Gosto demais da música para viver à custa dela

    Foi o que disse um dia Carlos Paredes.
    Um frase simples, de um homem simplesmente genial.
    É sem dúvida uma reflexão brilhante que ilustra aquilo que eu também acho que deve ser a postura daqueles que gostam de música, que sempre sonharam ser músicos, que ainda continuam com o mesmo sonho de criança, como eu.
    Para viver da música é preciso primeiro viver para a música, de corpo e alma.
    É preciso dar tudo o que temos para que ela nos dê um pouco hoje, mais um pouco amanhã ou nada no dia seguinte.
    Viver à custa da música sem amor, sem paixão, explorá-la apenas, resulta quase sempre num divórcio anunciado, num casamento frustrado ou num percurso de vida vazio.
    Por isso faço um apelo a todos os músicos para o ano de 2004: apaixonem-se pela vossa música, alimentem essa paixão, lutem por ela, discutam, façam as pazes o que quiserem mas nunca desistam de a amar.

    Um bom ano para todos com sucesso.

    Ulisses, músico dos Dayoff