Não sei se vivem num universo paralelo, num planeta distante ou noutra galáxia, mas eu sou daqueles que acredita que eles estão entre nós.
Mas o que é certo é que nós, músicos, tentamos contactá-los através das mais diversas formas, inventamos formatos inovadores e criativos, e o silêncio é assustador.
Das duas uma, ou eles andam sempre ocupados em viagens inter-planetárias ou então fazem parte de um fenómeno que só existe nos EUA.
Todos nós já ouvimos relatos de pessoas que os viram na televisão, a produzir discos, no continente a fazer compras de Natal. Mas quando se trata de opinar sobre um trabalho que é colocado a apreciação nunca dão sinal.
Será uma nova espécie de A&R nunca dantes vista que tem como objectivo o extermínio total da nossa raça?
Se virem algum por aí avisem. Mas eu começo a duvidar dessa iluminada existência.
Pedro Silva, músico
26.11.03
19.11.03
Sem carga de trabalho
Adormeci, extenuado, depois de mais um dia de trabalho.
“John Mayall tem concertos agendados para Portugal!”, diz-me Sara, acercando-se de mim e mostrando-me uma pequena publicidade inserida na revista Visão.
Com os olhos brilhantes de satisfação, esbocei um convincente “Óptimo!”.
Afinal, realizara, para o programa Atlântico, de Bruno Pereira, uma crónica e uma crítica sobre o excelente CD “Stories” – último álbum de estúdio do pai dos blues britânicos, editado no ano passado.
“Vou agendar uma entrevista” – pensei.
40 anos de Bluesbreakers e 70 anos de idade (neste mês de Novembro) comemorados num grande concerto de reunião com Mick Taylor, Chris Barber e Eric Clapton (DVD a sair brevemente), eram motivos acrescidos para essa entrevista.
No dia seguinte, salvaguardei um bom lugar e comprei bilhetes para o concerto na Aula Magna em Lisboa. Estaria presente, com ou sem trabalho, pelo que, não procurei acreditações gratuitas…
Nesse mesmo dia, contactei a empresa promotora do evento que me direccionou para a editora portuguesa responsável pela distribuição e promoção das edições da EAGLE.
Numa primeira conversa, fiquei a saber ser o único (!) interessado numa entrevista…
“Tudo bem”, disseram-me, “é o primeiro jornalista a pedir-nos uma entrevista, vamos contactar o John Mayall e depois telefonamos”.
Dias passaram e, à boa maneira lusitana, o prometido contacto não dobrava o Cabo das Tormentas.
Nas 48 horas anteriores ao concerto, foram diversos os contactos que tive de estabelecer.
Na véspera, ficara a saber que, segundo a EAGLE, “John Mayall é uma pessoa muito acessível e que, certamente, não se importaria de dar a entrevista. Na noite do concerto talvez não, mas no dia seguinte, sem qualquer problema.”
Agendar a dita é que não, pois, decorridos estes dias, ainda não tinham conseguido conversar com o músico.
Uma hora antes do espectáculo começar e após insistentes telefonemas, escutei um “duvidoso”, mas definitivo, “nada feito”.
Pouco depois, assisti a um estrondoso e monumental concerto de blues.
Profissional e com grande humildade (pediu luz para ver o público, dialogou, sorriu imenso e cedeu, mesmo, autógrafos no decurso do encore!), John Mayall arrasou, esquecendo e fazendo esquecer a sua idade.
Foi um monstro do principio ao fim; uma lenda viva.
Saí arrepiado da Aula Magna.
E, arrepiado, acordei do sonho com que iniciara esta crónica.
Muitas das editoras portuguesas continuam iguais a si próprias: não promovem e não deixam promover!
Por algum motivo, “Stories” subiu ao primeiro lugar do top de blues da Billboard, mas, por cá, ninguém conhece o disco.
Uns geram milhões, outros preferem tostões.
Vou adormecer, desolado, sem ter feito a entrevista programada.
E não a fiz, porque alguém não soube (ou não quis), fazer aquilo que é “só” o seu trabalho.
[Aqueles que são maus intervenientes na nossa indústria musical não podem continuar a encarar a sua profissão como um mero emprego. Trabalhar em música exige alguns predicados… para começar, é essencial “perceber da poda”, que é como quem diz, perceber de música.
Depois, é necessário ter consciência que a música é uma arte, uma emoção, uma criação.
Os músicos são artistas e quem trabalha neste meio tem de saber o seu real significado e o seu efectivo lugar. O “famoso” é o músico e não o próprio profissional que trabalha na editora.
A “vedeta”, aqui, não é o promotor discográfico; mas, por vezes, este é uma “vedeta” inebriada por “neons” alheios e, pior – muito pior – que o verdadeiro artista!
John Mayall não necessita deste Portugal dos pequeninos para cimentar a sua carreira, ao invés, os nossos músicos sem as editoras estariam numa carga de trabalhos…
Ou pelo contrário, vão aumentar, exponencialmente, os discos em edições de autor, aproveitando as potencialidades da internet e com promoções lideradas e controladas pelos próprios autores?]
Luís Silva do Ó, jornalista
“John Mayall tem concertos agendados para Portugal!”, diz-me Sara, acercando-se de mim e mostrando-me uma pequena publicidade inserida na revista Visão.
Com os olhos brilhantes de satisfação, esbocei um convincente “Óptimo!”.
Afinal, realizara, para o programa Atlântico, de Bruno Pereira, uma crónica e uma crítica sobre o excelente CD “Stories” – último álbum de estúdio do pai dos blues britânicos, editado no ano passado.
“Vou agendar uma entrevista” – pensei.
40 anos de Bluesbreakers e 70 anos de idade (neste mês de Novembro) comemorados num grande concerto de reunião com Mick Taylor, Chris Barber e Eric Clapton (DVD a sair brevemente), eram motivos acrescidos para essa entrevista.
No dia seguinte, salvaguardei um bom lugar e comprei bilhetes para o concerto na Aula Magna em Lisboa. Estaria presente, com ou sem trabalho, pelo que, não procurei acreditações gratuitas…
Nesse mesmo dia, contactei a empresa promotora do evento que me direccionou para a editora portuguesa responsável pela distribuição e promoção das edições da EAGLE.
Numa primeira conversa, fiquei a saber ser o único (!) interessado numa entrevista…
“Tudo bem”, disseram-me, “é o primeiro jornalista a pedir-nos uma entrevista, vamos contactar o John Mayall e depois telefonamos”.
Dias passaram e, à boa maneira lusitana, o prometido contacto não dobrava o Cabo das Tormentas.
Nas 48 horas anteriores ao concerto, foram diversos os contactos que tive de estabelecer.
Na véspera, ficara a saber que, segundo a EAGLE, “John Mayall é uma pessoa muito acessível e que, certamente, não se importaria de dar a entrevista. Na noite do concerto talvez não, mas no dia seguinte, sem qualquer problema.”
Agendar a dita é que não, pois, decorridos estes dias, ainda não tinham conseguido conversar com o músico.
Uma hora antes do espectáculo começar e após insistentes telefonemas, escutei um “duvidoso”, mas definitivo, “nada feito”.
Pouco depois, assisti a um estrondoso e monumental concerto de blues.
Profissional e com grande humildade (pediu luz para ver o público, dialogou, sorriu imenso e cedeu, mesmo, autógrafos no decurso do encore!), John Mayall arrasou, esquecendo e fazendo esquecer a sua idade.
Foi um monstro do principio ao fim; uma lenda viva.
Saí arrepiado da Aula Magna.
E, arrepiado, acordei do sonho com que iniciara esta crónica.
Muitas das editoras portuguesas continuam iguais a si próprias: não promovem e não deixam promover!
Por algum motivo, “Stories” subiu ao primeiro lugar do top de blues da Billboard, mas, por cá, ninguém conhece o disco.
Uns geram milhões, outros preferem tostões.
Vou adormecer, desolado, sem ter feito a entrevista programada.
E não a fiz, porque alguém não soube (ou não quis), fazer aquilo que é “só” o seu trabalho.
[Aqueles que são maus intervenientes na nossa indústria musical não podem continuar a encarar a sua profissão como um mero emprego. Trabalhar em música exige alguns predicados… para começar, é essencial “perceber da poda”, que é como quem diz, perceber de música.
Depois, é necessário ter consciência que a música é uma arte, uma emoção, uma criação.
Os músicos são artistas e quem trabalha neste meio tem de saber o seu real significado e o seu efectivo lugar. O “famoso” é o músico e não o próprio profissional que trabalha na editora.
A “vedeta”, aqui, não é o promotor discográfico; mas, por vezes, este é uma “vedeta” inebriada por “neons” alheios e, pior – muito pior – que o verdadeiro artista!
John Mayall não necessita deste Portugal dos pequeninos para cimentar a sua carreira, ao invés, os nossos músicos sem as editoras estariam numa carga de trabalhos…
Ou pelo contrário, vão aumentar, exponencialmente, os discos em edições de autor, aproveitando as potencialidades da internet e com promoções lideradas e controladas pelos próprios autores?]
Luís Silva do Ó, jornalista
12.11.03
A minha banda é maior que a tua
Uma coisa que me irrita solenemente é a relação que alguns músicos têm uns com os outros.
E quando digo isto falo não só de artistas consagrados como também dos desconhecidos. Não sei se é um comportamento populista compulsivo ou se é apenas um instinto animal de defesa territorial. Sei que irrita e que atrapalha, estilo pedra no sapato.
Ainda não há muito tempo tive o prazer de ir a um bar assistir um concerto onde estavam também vários músicos que, supostamente, eram amigos dos que estavam a tocar, e os comentários eram assustadores. Não só falavam mal como gozavam em conversas uns com os outros mostrando falta de respeito e de consideração.
No final do espectáculo lá estavam eles com os músicos a dar palmadinhas nas costas e a dizer que tinha sido "excelente". Isto é apenas um exemplo do que se passa um pouco por todo o lado.
Também há uns meses atrás, num concurso de música moderna com várias bandas de todo o país, pude constatar que a falta de solidariedade e de companheirismo é uma constante. Os músicos não se falam, cada banda ocupa o seu "nicho" e quando alguém tenta quebrar o "gelo" parece que o céu está prestes a cair sobre as cabeças dos presentes.
Quase que apetece pedir desculpas pelo incómodo.
O vedetismo embrionário de quem nunca fez nada, de quem nunca gravou discos, de quem nunca pisou grandes palcos tende a crescer desmesuradamente, e isso é preocupante.
Num país onde não há sítios para tocar, onde as editoras estão falidas, onde o lobbie ganha cada vez mais peso e onde os músicos se preocupam em olhar apenas para os seus umbigos, pouco mais há a fazer. E eu sei que todas as bandas são maiores do que a minha.
Na minha somos só três:-)
Ulisses, músico dos Dayoff
E quando digo isto falo não só de artistas consagrados como também dos desconhecidos. Não sei se é um comportamento populista compulsivo ou se é apenas um instinto animal de defesa territorial. Sei que irrita e que atrapalha, estilo pedra no sapato.
Ainda não há muito tempo tive o prazer de ir a um bar assistir um concerto onde estavam também vários músicos que, supostamente, eram amigos dos que estavam a tocar, e os comentários eram assustadores. Não só falavam mal como gozavam em conversas uns com os outros mostrando falta de respeito e de consideração.
No final do espectáculo lá estavam eles com os músicos a dar palmadinhas nas costas e a dizer que tinha sido "excelente". Isto é apenas um exemplo do que se passa um pouco por todo o lado.
Também há uns meses atrás, num concurso de música moderna com várias bandas de todo o país, pude constatar que a falta de solidariedade e de companheirismo é uma constante. Os músicos não se falam, cada banda ocupa o seu "nicho" e quando alguém tenta quebrar o "gelo" parece que o céu está prestes a cair sobre as cabeças dos presentes.
Quase que apetece pedir desculpas pelo incómodo.
O vedetismo embrionário de quem nunca fez nada, de quem nunca gravou discos, de quem nunca pisou grandes palcos tende a crescer desmesuradamente, e isso é preocupante.
Num país onde não há sítios para tocar, onde as editoras estão falidas, onde o lobbie ganha cada vez mais peso e onde os músicos se preocupam em olhar apenas para os seus umbigos, pouco mais há a fazer. E eu sei que todas as bandas são maiores do que a minha.
Na minha somos só três:-)
Ulisses, músico dos Dayoff
5.11.03
Muito me contas....
Esta surgiu durante um jantar, onde um promotor de espectáculos me contou como correu a organização do concerto dos Rolling Stones, mais concretamente sobre as creditações dos Jornalistas da nossa praça.
Ele disse-me que os pedidos foram completamente absurdos, tal a quantidade que foi pedida.
Ora vejamos; os nossos jornais que se limitam a ter algumas páginas sobre cultura e pouco mais que uma página sobre música, e que normalmente pedem duas credenciais aos produtores dos eventos, pediram dezenas delas...
Seria giro ver nos Classificados "Keith Richards vende guitarra usada com 35 anos, com alguns problemas, necessita restauro" ou no Desporto "Mick Jagger, antes do concerto faz 10 abdominais e 6 flexões com a ajuda do seu preparador físico".
Bem, com tantas credenciais por jornal, só faltou o pessoal da Necrologia ...
Mas com tantos Jornalistas por lá, pelo menos não se cometeram erros como os que tem havido nos espectáculos que vão acontecendo por aí.
Pois eu sei... já vos vou contar mais umas histórias.
Ok, hoje tirei o dia para os Jornalistas. Não se preocupem que não será hábito. Espero eu...
Esta passou-se no Festival do Tejo e refere-se à crítica que o Jornalista do Diário de Noticias fez sobre os Mundo Complexo.
A crítica diz que o concerto foi interessante e que a banda esteve muito bem em palco interagindo com o pouco público que se espalhava pelo recinto. Até aqui tudo bem, mas o problema vem quando vos digo que os Mundo Complexo estavam em suas casas descansados e nem sequer faziam parte do cartaz do festival.
Agora, uma crítica das Noites Ritual Rock no único (infelizmente para todos) jornal de música deste nosso país, o Blitz.
É fantástico ler a crítica das duas primeiras bandas que lá tocaram este ano. Para começar, o Jornalista até nem diz mal, o que já é bastante estranho, e revela-nos umas boas prestações por parte dos Fingertrips e Grace.
Já sei... estão a pensar "Mas então, o que está errado?"
Pois é, o Jornalista , autor dessa crítica, só pediu a credencial às dez da noite, e ainda por cima perguntando à organização se o festival estava atrasado....é que ainda estava em casa e como tal queria saber como estavam as coisas.
Já sei...os jornalistas da nossa praça são visionários e portanto não necessitam de estar presentes nos locais...não, não é isso.
É simples: o jornalista chega ao local, atrasadíssimo, mas facilmente se inteira do assunto perguntando a um amigo como correram as coisas...depois consoante goste ou não da banda atira uma linhas para o seu bloco de notas e consequentemente para as páginas de jornal. Ora aí está o verdadeiro profissional!!!
Promotores e bandas deste país não se apoquentem tá tudo sobre controle com esta nova geração de jornalistas superdotados.
CALV
Ele disse-me que os pedidos foram completamente absurdos, tal a quantidade que foi pedida.
Ora vejamos; os nossos jornais que se limitam a ter algumas páginas sobre cultura e pouco mais que uma página sobre música, e que normalmente pedem duas credenciais aos produtores dos eventos, pediram dezenas delas...
Seria giro ver nos Classificados "Keith Richards vende guitarra usada com 35 anos, com alguns problemas, necessita restauro" ou no Desporto "Mick Jagger, antes do concerto faz 10 abdominais e 6 flexões com a ajuda do seu preparador físico".
Bem, com tantas credenciais por jornal, só faltou o pessoal da Necrologia ...
Mas com tantos Jornalistas por lá, pelo menos não se cometeram erros como os que tem havido nos espectáculos que vão acontecendo por aí.
Pois eu sei... já vos vou contar mais umas histórias.
Ok, hoje tirei o dia para os Jornalistas. Não se preocupem que não será hábito. Espero eu...
Esta passou-se no Festival do Tejo e refere-se à crítica que o Jornalista do Diário de Noticias fez sobre os Mundo Complexo.
A crítica diz que o concerto foi interessante e que a banda esteve muito bem em palco interagindo com o pouco público que se espalhava pelo recinto. Até aqui tudo bem, mas o problema vem quando vos digo que os Mundo Complexo estavam em suas casas descansados e nem sequer faziam parte do cartaz do festival.
Agora, uma crítica das Noites Ritual Rock no único (infelizmente para todos) jornal de música deste nosso país, o Blitz.
É fantástico ler a crítica das duas primeiras bandas que lá tocaram este ano. Para começar, o Jornalista até nem diz mal, o que já é bastante estranho, e revela-nos umas boas prestações por parte dos Fingertrips e Grace.
Já sei... estão a pensar "Mas então, o que está errado?"
Pois é, o Jornalista , autor dessa crítica, só pediu a credencial às dez da noite, e ainda por cima perguntando à organização se o festival estava atrasado....é que ainda estava em casa e como tal queria saber como estavam as coisas.
Já sei...os jornalistas da nossa praça são visionários e portanto não necessitam de estar presentes nos locais...não, não é isso.
É simples: o jornalista chega ao local, atrasadíssimo, mas facilmente se inteira do assunto perguntando a um amigo como correram as coisas...depois consoante goste ou não da banda atira uma linhas para o seu bloco de notas e consequentemente para as páginas de jornal. Ora aí está o verdadeiro profissional!!!
Promotores e bandas deste país não se apoquentem tá tudo sobre controle com esta nova geração de jornalistas superdotados.
CALV
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