Quer as rádios, quer as televisões, têm programação populista, com informação cultural ausente e onde a música ocupa um lugar de segundo plano, se é que tem lugar no meio das novelas que nos poluem no “prime-time”, das 21:00 às 0:30.
Não será por isso que o sucesso de artistas como Mísia, Mariza, Madredeus, Cristina Branco ou Dulce Pontes é além fronteiras, vendendo modestamente no nosso país?
Será que a análise que se retira desses números é que os portugueses não gostam, ou não querem ouvir, música portuguesa?
Quantas bandas portuguesas que cantam em inglês tem sucesso real no nosso país?
Então, os sucessos de Sérgio Godinho, Vitorino, UHF, Delfins, GNR, Xutos & Pontapés, Pedro Abrunhosa, Santos & Pecadores (entre tantos outros)... serão sinónimo de falta de ideias ou falta de qualidade?
Por outro lado, onde estão os eventos desaparecidos, ou sem publicidade ou apoios, como eram os concursos do saudoso RRV que empurrou para a “fama” grupos como Mler Ife Dada (1º – 1º premio), Pop dell’Arte (2º - Originalidade), Mão Morta (3º - Originalidade), Ritual Tejo, Quinta do Bill, Sitiados, Agora Colora (todos estes saídos do 5º)... onde estão?
«O Rock Rendez-Vous simbolizou a evolução da música rock nacional; durante os seus vários anos de existência foi o palco e a embaixada da investigação dos novos talentos...» Luís Filipe Barros
«Foi durante anos uma sala de referência para toda a gente do universo Rock... Foi principalmente o local onde muitas bandas portuguesas tiveram o seu primeiro palco a sério...» António Sérgio
«Rock Rendez-Vous: ... dessa sala mágica guardo as melhores e mais misteriosas recordações: o rock, os copos, as "groupies", os amigos, o calor dos fans...» Rui Reininho
A música portuguesa está num marasmo em que se vão safando, apenas, aqueles que ou estão bem apadrinhados, ou apostam em fórmulas gastas importadas dos EUA...
Neste “Portugal dos pequeninos”, a verdadeira originalidade não poderá partir, por questões económicas/comerciais, dos grupos protegidos pelas multinacionais, mas, sim, na mão dos “garagistas marginais”, que criando com singularidade, livremente, nunca terão a oportunidade de a mostrar...
«A fama, no rock feito em Portugal, é, regra geral, em proporção inversa à qualidade. Quanto mais vulgar, ligeiro, for o músico, mais atenção lhe é prestada pelos “media”... » Victor Rua (1992)
João Pedro Rei, Lisboa
26.9.03
25.9.03
24.9.03
Os EUgénios da música portuguesa
Ao analisar o nosso mini-mercado musical deparamo-nos com algumas questões pertinentes no que respeita à relação simbiótica entre as editoras e as rádios.
As editoras precisam das rádios para promover os seus artistas e as rádios precisam de discos com sucesso para cativar audiência e vender publicidade.
Acima de tudo é um negócio. Mas é um negócio estranho.
Por um lado temos o plano editorial das editoras que não é suficientemente rigoroso por forma a editar projectos que tenham público e que, no mínimo, suportem os investimentos feitos. É tudo feito às escuras. Logo à partida estamos perante má gestão.
Por outro lado temos algumas rádios que, ao introduzirem modelos americanos de audiência, completamente desajustados à nossa realidade, substituem, e mal, as editoras nessa função de triagem. Ou seja, temos discos que vendem e que não passam nas rádios, temos discos que passam nas rádios e que não vendem e temos discos que não fazem nem uma coisa nem outra mas que podiam fazer mais qualquer coisa.
Provavelmente a coisa funcionaria melhor ao contrário. As editoras, antes de editar, deviam efectuar estudos de mercado, saber aquilo que as pessoas querem ouvir, acompanhar a evolução das tendências, escutar as maquetas e submeter os projectos escolhidos numa primeira fase à análise de um público restrito mas representativo.
Dessa forma poupar-se-ia imenso dinheiro em edições fracassadas, apostar-se-ia mais em música nacional e as próprias rádios teriam mais confiança nas editoras, como parceiros de negócio que são.
Para além disso, é frustrante para quem faz música, para quem edita, para quem promove espectáculos ver os seus trabalhos rejeitados em escassos segundos de escuta, quando muitas das vezes ainda nem houve tempo para promover um disco, uma música, ao ponto do público reconhecer um refrão, uma frase, uma melodia, qualquer coisa.
As editoras, as rádios e todos os agentes musicais no geral, deveriam reposicionar-se face ao mercado e ouvir as pessoas, que são quem sustenta muitos de nós. Como manda a regra, "o cliente tem sempre razão".
Espero sinceramente que o panorama da música moderna portuguesa melhore rapidamente.
Temos é que fazer opções: queremos ser Génios ou EUgénios?
Ulisses, músico dos Dayoff
As editoras precisam das rádios para promover os seus artistas e as rádios precisam de discos com sucesso para cativar audiência e vender publicidade.
Acima de tudo é um negócio. Mas é um negócio estranho.
Por um lado temos o plano editorial das editoras que não é suficientemente rigoroso por forma a editar projectos que tenham público e que, no mínimo, suportem os investimentos feitos. É tudo feito às escuras. Logo à partida estamos perante má gestão.
Por outro lado temos algumas rádios que, ao introduzirem modelos americanos de audiência, completamente desajustados à nossa realidade, substituem, e mal, as editoras nessa função de triagem. Ou seja, temos discos que vendem e que não passam nas rádios, temos discos que passam nas rádios e que não vendem e temos discos que não fazem nem uma coisa nem outra mas que podiam fazer mais qualquer coisa.
Provavelmente a coisa funcionaria melhor ao contrário. As editoras, antes de editar, deviam efectuar estudos de mercado, saber aquilo que as pessoas querem ouvir, acompanhar a evolução das tendências, escutar as maquetas e submeter os projectos escolhidos numa primeira fase à análise de um público restrito mas representativo.
Dessa forma poupar-se-ia imenso dinheiro em edições fracassadas, apostar-se-ia mais em música nacional e as próprias rádios teriam mais confiança nas editoras, como parceiros de negócio que são.
Para além disso, é frustrante para quem faz música, para quem edita, para quem promove espectáculos ver os seus trabalhos rejeitados em escassos segundos de escuta, quando muitas das vezes ainda nem houve tempo para promover um disco, uma música, ao ponto do público reconhecer um refrão, uma frase, uma melodia, qualquer coisa.
As editoras, as rádios e todos os agentes musicais no geral, deveriam reposicionar-se face ao mercado e ouvir as pessoas, que são quem sustenta muitos de nós. Como manda a regra, "o cliente tem sempre razão".
Espero sinceramente que o panorama da música moderna portuguesa melhore rapidamente.
Temos é que fazer opções: queremos ser Génios ou EUgénios?
Ulisses, músico dos Dayoff
17.9.03
O Rock nasceu do sangue
“Os escravos podem ser julgados, vendidos, alugados, avaliados, sentenciados como sendo bens móveis na mão dos seus senhores e donos, ou dos seus carrascos, administradores e procuradores, qualquer que seja a finalidade, construção ou propósito.”
Código Civil da Carolina do Sul, século XIX
Para conhecer a essência do Rock’n’Roll, temos de partir desta realidade.
Vindos de África e transportados em condições inacreditáveis, chegaram, à América, mais de dois milhões de escravos, entre 1680 e 1786.
Estes escravos trouxeram consigo a música e a tradição dos seus antepassados e seria este o embrião para o surgimento da música afro-americana, que havia de transformar o mundo musical do século XX.
Os Blues nascem nas canções de trabalho dos escravos, não podendo ser uma música alegre e feliz.
São músicas tristes, melancólicas e sofredoras, mas, simultaneamente, imaginativas, tanto na forma como no conteúdo.
Após a abolição da escravatura, as canções de trabalho perdem significado e os Blues destacam-se.
Retratam episódios concretos da existência humana: a vida, a morte, o ódio, o amor, o medo, a solidão, a angústia, o ciúme... percorrem sons pungentes, soltam gritos da alma, que ecoam e sublinham quotidianos e emoções, que lhes dão força e que lhes dão voz...
Música negra na sua origem, os Blues não são exclusivo de uma raça, sendo comungada por muitos brancos que lutaram e morreram ao lado dos negros, em prol de ideais comuns de liberdade.
Quem não entender os Blues, nunca poderá entender o Jazz nem o Rock!
O espírito do Rock tem estado presente em diversos projectos musicais, desde 1955, que inovaram e que projectaram novos movimentos sociais e culturais.
Little Richard, Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, Doors ou Bruce Springsteen são exemplos de irreverência, de rebeldia, de inovação e de revolução no “status quo” instalado.
Esta é a razão de ser do Rock, mas, desde cedo, a indústria e os “comerciantes” viram, neste “produto”, uma forma de ganhar (muito) dinheiro.
Muitos projectos e grupos foram “inventados” pela indústria, numa perspectiva meramente comercial, subvertendo, por dentro, o real significado de um movimento que nasceu de uma forma ingénua, espontânea e imparável.
Em Portugal, a revolução dos cravos, em 1974, põe fim a um regime de ditadura.
As canções de intervenção – censuradas, até então – passam a dominar as ondas hertzianas.
Os jovens vivem e lutam no seio de uma sociedade em ebulição.
A instabilidade agrava problemas sociais, cada vez mais complexos, greves, inflação, taxas de juro elevadas, falências e desemprego; a juventude mergulha em experiências diversas: o álcool, a droga, a violência e a marginalidade suburbana.
Surgem grupos musicais, fartos da ditadura imposta pelas canções de intervenção, com retratos do seu inconformismo.
25 anos depois de “Rock Around The Clock”, tivemos, em Portugal, o “boom” do rock português.
Finalmente, o rock aparecia cantado na nossa língua e com grandes sucessos.
Rui Veloso, UHF, Taxi, GNR, Ja’fumega e Salada de Frutas mostravam várias imagens de um mesmo filme.
Questões sociais eram abordadas com maior ou menor profundidade, mas no ritmo certo da dança redentora.
A agitação de 80 conduz à depressão de 82 e a uma certa sustentação, anos depois.
Tudo existe porque “existiu” um “boom”.
Contudo, permanecemos com um atraso significativo em relação ao exterior...
Lá fora, em 2003, o meio musical é mais maduro.
Cá e lá, os Rolling Stones enchem estádios e ninguém se preocupa com a sua idade.
Por cá, os GNR ou os UHF são esquecidos para Festivais de Verão ou para concertos de grande dimensão.
Lá e cá, Bruce Springsteen é capa de jornais e revistas.
Por aqui, ninguém se recorda da última vez em que os UHF foram capa no Blitz.
Lá fora, Bob Dylan é falado para Nobel da Literatura.
Por cá, António Manuel Ribeiro é um poeta marginal, numa sociedade sem alma, sem causas, sem rumo.
Uma sociedade que prefere ser acéfala, fugindo da revolução que fervilha em vulcão fumegante.
Luís Silva do Ó, jornalista
Código Civil da Carolina do Sul, século XIX
Para conhecer a essência do Rock’n’Roll, temos de partir desta realidade.
Vindos de África e transportados em condições inacreditáveis, chegaram, à América, mais de dois milhões de escravos, entre 1680 e 1786.
Estes escravos trouxeram consigo a música e a tradição dos seus antepassados e seria este o embrião para o surgimento da música afro-americana, que havia de transformar o mundo musical do século XX.
Os Blues nascem nas canções de trabalho dos escravos, não podendo ser uma música alegre e feliz.
São músicas tristes, melancólicas e sofredoras, mas, simultaneamente, imaginativas, tanto na forma como no conteúdo.
Após a abolição da escravatura, as canções de trabalho perdem significado e os Blues destacam-se.
Retratam episódios concretos da existência humana: a vida, a morte, o ódio, o amor, o medo, a solidão, a angústia, o ciúme... percorrem sons pungentes, soltam gritos da alma, que ecoam e sublinham quotidianos e emoções, que lhes dão força e que lhes dão voz...
Música negra na sua origem, os Blues não são exclusivo de uma raça, sendo comungada por muitos brancos que lutaram e morreram ao lado dos negros, em prol de ideais comuns de liberdade.
Quem não entender os Blues, nunca poderá entender o Jazz nem o Rock!
O espírito do Rock tem estado presente em diversos projectos musicais, desde 1955, que inovaram e que projectaram novos movimentos sociais e culturais.
Little Richard, Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, Doors ou Bruce Springsteen são exemplos de irreverência, de rebeldia, de inovação e de revolução no “status quo” instalado.
Esta é a razão de ser do Rock, mas, desde cedo, a indústria e os “comerciantes” viram, neste “produto”, uma forma de ganhar (muito) dinheiro.
Muitos projectos e grupos foram “inventados” pela indústria, numa perspectiva meramente comercial, subvertendo, por dentro, o real significado de um movimento que nasceu de uma forma ingénua, espontânea e imparável.
Em Portugal, a revolução dos cravos, em 1974, põe fim a um regime de ditadura.
As canções de intervenção – censuradas, até então – passam a dominar as ondas hertzianas.
Os jovens vivem e lutam no seio de uma sociedade em ebulição.
A instabilidade agrava problemas sociais, cada vez mais complexos, greves, inflação, taxas de juro elevadas, falências e desemprego; a juventude mergulha em experiências diversas: o álcool, a droga, a violência e a marginalidade suburbana.
Surgem grupos musicais, fartos da ditadura imposta pelas canções de intervenção, com retratos do seu inconformismo.
25 anos depois de “Rock Around The Clock”, tivemos, em Portugal, o “boom” do rock português.
Finalmente, o rock aparecia cantado na nossa língua e com grandes sucessos.
Rui Veloso, UHF, Taxi, GNR, Ja’fumega e Salada de Frutas mostravam várias imagens de um mesmo filme.
Questões sociais eram abordadas com maior ou menor profundidade, mas no ritmo certo da dança redentora.
A agitação de 80 conduz à depressão de 82 e a uma certa sustentação, anos depois.
Tudo existe porque “existiu” um “boom”.
Contudo, permanecemos com um atraso significativo em relação ao exterior...
Lá fora, em 2003, o meio musical é mais maduro.
Cá e lá, os Rolling Stones enchem estádios e ninguém se preocupa com a sua idade.
Por cá, os GNR ou os UHF são esquecidos para Festivais de Verão ou para concertos de grande dimensão.
Lá e cá, Bruce Springsteen é capa de jornais e revistas.
Por aqui, ninguém se recorda da última vez em que os UHF foram capa no Blitz.
Lá fora, Bob Dylan é falado para Nobel da Literatura.
Por cá, António Manuel Ribeiro é um poeta marginal, numa sociedade sem alma, sem causas, sem rumo.
Uma sociedade que prefere ser acéfala, fugindo da revolução que fervilha em vulcão fumegante.
Luís Silva do Ó, jornalista
15.9.03
1.000 visitas
Em 11 dias de presença na net, o Blog "Canal Maldito" já ultrapassou as 1.000 visitas!
Sem um esforço de divulgação especial e sem ter, ainda, referências nos motores de busca, este número acaba por ter um significado especial.
Para nós é um tónico para o futuro e um aumento de responsabilidades.
Agradecemos a todos os que nos visitaram, especialmente às dezenas que nos enviaram emails com contribuições diversas.
O Blog "Canal Maldito" pretende ser um espaço de reflexão relativo à música que se produz em Portugal.
O nosso objectivo é lançar pistas, fomentar o debate de ideias e partilhar projectos.
Queremos criar uma dinâmica positiva, visando uma saída do "pântano" que é o actual novelo da mmp.
Um Mau Rapaz & Persona Non Grata
Sem um esforço de divulgação especial e sem ter, ainda, referências nos motores de busca, este número acaba por ter um significado especial.
Para nós é um tónico para o futuro e um aumento de responsabilidades.
Agradecemos a todos os que nos visitaram, especialmente às dezenas que nos enviaram emails com contribuições diversas.
O Blog "Canal Maldito" pretende ser um espaço de reflexão relativo à música que se produz em Portugal.
O nosso objectivo é lançar pistas, fomentar o debate de ideias e partilhar projectos.
Queremos criar uma dinâmica positiva, visando uma saída do "pântano" que é o actual novelo da mmp.
Um Mau Rapaz & Persona Non Grata
10.9.03
Os mesmos do costume
Fico triste ao verificar diariamente as dificuldades de quem tem vontade de fazer coisas e a permanente falta de consideração que existe da parte de quem decide.
Fala-se da falta de espaços para fazer espectáculos mas quando eles existem o interesse dos media, e de quem edita, em ver novos projectos não é nenhum, apesar de serem solicitados.
E isso reflecte-se num comportamento que tem a ver essencialmente com profissionalismo, com procura, com descoberta, com "business".
Porque será que grande parte das editoras não dá sequer uma resposta às bandas sobre as maquetas que por elas são enviadas?
Porque será que, na esmagadora maioria das vezes, esses mesmos trabalhos nem sequer são ouvidos?
Será que quem decide tem assim tantos discos para promover, tantos espectáculos para fazer, tendo em conta a actual crise que se vive no nosso Portugal dos pequeninos?
Porque será que todos os anos são editados dezenas de "flops" que nem sequer chegam ao público em geral e que, quer em termos comerciais quer em termos criativos, não acrescentam nada a não ser uma série de prejuízos?
Edições essas que em alguns casos servem apenas para massajar o ego de alguns A&R´s fora de prazo.
Outro dos problemas tem a ver com a imprensa. Quando um novo projecto aparece, os críticos fazem questão de o comparar aos nomes mais sonantes da música internacional tecendo, na maioria das vezes, críticas pejorativas.
Porque será que variadíssimas bandas "MTV", iguais a tantas outras, merecem honras de capa e magníficas críticas quando as suas semelhanças musicais estão à vista de toda a gente?
Depois existem aqueles artistas que são sempre respeitados, não por aquilo que fazem actualmente, mas pelos discos que já editaram há uns anos atrás e que foram grandes sucessos. São as chamadas bandas descartáveis, sem carreira que têm um único objectivo: fazer dinheiro. Temos o caso dos Cabeças no Ar, ou serão os Rio Grande? É a mesma coisa.
É claro que a crítica não diz mal.
Mas muita gente talvez já não se lembre do último grande disco dos Xutos, da última grande canção do Rui Veloso, músicas que eles souberam fazer tão bem e que hoje já não fazem.
Que saudades.
Tudo isto para dizer que é preciso renovar mentalidades para não termos sempre os mesmos artistas nos jornais, sempre os mesmo músicos nos grandes concertos, sempre os mesmos a decidir por todos nós.
Pedro Silva, músico e compositor
Fala-se da falta de espaços para fazer espectáculos mas quando eles existem o interesse dos media, e de quem edita, em ver novos projectos não é nenhum, apesar de serem solicitados.
E isso reflecte-se num comportamento que tem a ver essencialmente com profissionalismo, com procura, com descoberta, com "business".
Porque será que grande parte das editoras não dá sequer uma resposta às bandas sobre as maquetas que por elas são enviadas?
Porque será que, na esmagadora maioria das vezes, esses mesmos trabalhos nem sequer são ouvidos?
Será que quem decide tem assim tantos discos para promover, tantos espectáculos para fazer, tendo em conta a actual crise que se vive no nosso Portugal dos pequeninos?
Porque será que todos os anos são editados dezenas de "flops" que nem sequer chegam ao público em geral e que, quer em termos comerciais quer em termos criativos, não acrescentam nada a não ser uma série de prejuízos?
Edições essas que em alguns casos servem apenas para massajar o ego de alguns A&R´s fora de prazo.
Outro dos problemas tem a ver com a imprensa. Quando um novo projecto aparece, os críticos fazem questão de o comparar aos nomes mais sonantes da música internacional tecendo, na maioria das vezes, críticas pejorativas.
Porque será que variadíssimas bandas "MTV", iguais a tantas outras, merecem honras de capa e magníficas críticas quando as suas semelhanças musicais estão à vista de toda a gente?
Depois existem aqueles artistas que são sempre respeitados, não por aquilo que fazem actualmente, mas pelos discos que já editaram há uns anos atrás e que foram grandes sucessos. São as chamadas bandas descartáveis, sem carreira que têm um único objectivo: fazer dinheiro. Temos o caso dos Cabeças no Ar, ou serão os Rio Grande? É a mesma coisa.
É claro que a crítica não diz mal.
Mas muita gente talvez já não se lembre do último grande disco dos Xutos, da última grande canção do Rui Veloso, músicas que eles souberam fazer tão bem e que hoje já não fazem.
Que saudades.
Tudo isto para dizer que é preciso renovar mentalidades para não termos sempre os mesmos artistas nos jornais, sempre os mesmo músicos nos grandes concertos, sempre os mesmos a decidir por todos nós.
Pedro Silva, músico e compositor
5.9.03
Primeiro Balanço da Polémica
Decorridos vários dias desde o inicio de tão agitada polémica em torno da não passagem de UHF na RFM penso que poderemos fazer um primeiro balanço.
Sabemos que as rádios actualmente estão formatadas pelo modelo puramente comercial.
Não apostam em temas sem sucesso comprovado ou que não suscitem determinado nível de confiança prévio.
Estão, efectivamente, no seu direito empresarial privado que visa o lucro e o aumento do seu share.
Por outro lado, encontramos uma afirmação que alimentou estes rios (gigantescos) de polémica.
Esta agitação acaba por provar, sobretudo a quem reside na capital, que o grupo UHF está bem vivo e com um fôlego assinalável.
Refiro a capital, porque os UHF, como qualquer grupo musical, tem trabalhado muito na província e nunca fomentaram a vida dentro de "lobbies", que lhes permitisse estarem na "linha da frente" mediática.
Em Lisboa a memória é normalmente mais curta, pois a vida é vivida de uma forma mais rápida.
Na província as coisas são diferentes e um concerto dos Xutos, dos GNR ou dos UHF pode ser recordado, como referência, durante anos, por uma massa humana significativa.
Em Lisboa tal também pode acontecer mas em muito menor dimensão.
Por exemplo, os Xutos cresceram com uma legião de fãs espalhada por Portugal.
Os UHF “explodiram” mais depressa e ficaram famosos muito antes, tendo mantido igual legião, mas, anormalmente, menos activa, menos organizada e menos interventiva.
Contudo eles, os fãs, existem em grande número e parece que saíram do casulo em autodefesa dos seus ídolos.
Outra questão também é importante neste ano grande para os UHF.
António Manuel Ribeiro regressa à casa-mãe EMI/VC e apresenta um duplo CD, Ópera-Rock, de grande qualidade.
Alguns orgãos de comunicação atribuíram excelentes notas e escreveram críticas muito positivas a "La Pop End Rock".
Recordo-me que o jornalista Fernando Magalhães do diário Público destacou uma boa meia dúzia de temas, muito fortes comercialmente. O próprio Jorge Mourinha, do Blitz, destaca um punhado de canções como potenciais hits.
António Pires, escreve num artigo de opinião que "La Pop End Rock" é o melhor disco dos UHF desde "À Flor da Pele".
Enfim, críticas e opiniões de gente respeitada e insuspeita.
Gente que em anos anteriores criticara violentamente trabalhos dos UHF ou de António Manuel Ribeiro (recordo uma crítica arrasante de Fernando Magalhães do Público) surge agora a afirmar a excelência da obra.
Naturalmente que os UHF têm mantido uma legião de fãs pelo Portugal real e têm conseguido tocar com muita regularidade (40 ou 50 concertos por ano, segundo dados que recentemente li).
Acresce a esta questão outro facto quente: O apoio que a RFM dera a trabalhos anteriores dos UHF.
Com esse apoio bem presente na memória de quem ouviu a RFM desde o seu nascimento, os admiradores dos UHF (e genericamente de música portuguesa) aguardavam certo destaque.
Recordo "parcerias" marcantes do passado:
- Passagem de muitos temas da banda ("Hesitar", "Menina Estás à Janela", "Nove Anos", etc)
- Patrocínio de digressões nacionais
- Lideranças do Top 25 RFM
- Gravação de concertos e posterior passagem
- Especiais sobre o grupo
- Promoção na gravação do disco ao vivo "Julho, 13"
- "Carimbo" RFM na compilação "Eternamente" de 1999
Mas para além desta história de cumplicidades, outros factores existem:
- 2003 é o ano dos 25º aniversário de carreira da banda de Almada;
- O disco é "só" uma Ópera-Rock autobiográfica de reconhecido mérito;
- "La Pop End Rock" marca o regresso à EMI/VC;
- O duplo CD integra temas ao nível de "Cavalos de Corrida", de "Hesitar" ou de "Menina Estás
à Janela", na visão dos próprios críticos.
Tudo isto potencia uma enorme desilusão em milhares de fãs dos UHF espalhados pelo Continente e Ilhas.
E, mais surpreendentemente, numa cada vez maior multidão de "não fãs" que fica conquistada pela qualidade do disco.
Pessoas que não gostavam de UHF, que não escutavam UHF, que nunca tinha comprado um disco dos UHF...
No jornal Blitz já se notara algum movimento e alguma revolta em alguns admiradores, ou em meros leitores, que tomaram contacto casual com "La Pop End Rock".
Esta questão que agora transpira na telefonia virtual é a ponta de um iceberg que não se pode desvalorizar nem silenciar.
A maioria das mensagens do fórum é claramente favorável a uma passagem de UHF na RFM, apesar de algumas vozes discordantes que apontam razões válidas e pertinentes.
Exceptuando alguns exageros, o tom tem sido muito positivo e é de saudar esta cultura de respeito e de troca de ideias, estando a telefonia virtual e os seus participantes de parabéns.
Sem sequer tocar em assuntos igualmente excitantes e quentes, quero louvar a coragem do director de programas da RFM, António Mendes.
É bom assumir publicamente a questão e explicar aos ouvintes as motivações e as razões da RFM.
Outros no seu lugar não teriam a ousadia de escreverem, preto no branco, a visão da RFM sobre o último trabalho dos UHF.
Provavelmente, jamais o director António Mendes pensara, que, um grupo com 25 anos de carreira mantivesse tão grande ligação com Portugal.
Essa é outra questão que nos levaria a questionar a falta de consciência nacional, que existe em rádios, televisões e jornais neste País.
Refiro-me aos orgãos de âmbito nacional, dado que as rádios locais têm plena consciência dos gostos do povo.
Contudo, as consequências desta polémica não podem ficar por aqui.
Tão assinalável conjunto de mensagens não acontece por acaso.
Existe uma "bolha" que parece ter começado a "estoirar"...
Mas, ao contrário do que seria usual nestes casos, não é uma "bolha" só de fãs dos UHF!
Claro que a maioria o deve ser, mas estão “acompanhados” (e isto é muito significativo) por outras pessoas que nem gostavam de UHF ou nem conheciam bem a banda.
São diversos os comentários em que se percebe isso mesmo!
Aqui, no Blitz, na Sic Radical, no chat do Curto Circuito...
Este indicador é muito positivo para o futuro dos UHF e para o êxito de "La Pop End Rock".
Facto curioso, em matéria de apostas radiofónicas, é que "A Lágrima Caiu" não passa na RFM, mas esteve diversas semanas no primeiro ou segundo lugar do TOP MAX MÚSICA da Sic Radical.
Suponho que esta posição fosse já sintomático do sucesso da música!
E, sendo assim, alguma coisa nos começa a escapar na decisão tomada pela RFM.
Chegado a este ponto resta pouco para concluir.
Julgo essencial uma reflexão da RFM (e das outras rádios), no sentido de ponderar melhor certas posições.
Não pela polémica levantada, nem pela quantidade de mensagens.
A polémica e o volume de mensagens são, realmente, um excelente caso para estudo.
Sobretudo, numa altura em que a maioria das pessoas está de férias no Algarve e sem internet...
Para estudar friamente e sem ideias pré-concebidas.
Por todos os motivos e mais algum seria importante mostrar este disco aos portugueses.
Analisando friamente a situação, pessoalmente, equacionaria uma abordagem racional de consenso.
Sem perder de vista o objectivo do lucro (esse é, de facto, o sustento das empresas!), existem formas de começar a divulgar (e "testar") uma música sem que isso acarrete perda de audiência.
Os profissionais sabem como o podem fazer, apostando em determinados horários que servem como "zona piloto", como "tubo de ensaio" para que o auditório tome contacto com essas músicas novas.
Suponho que "A Lágrima Caiu" já justifica essa "aposta".
Luís Silva do Ó, Telefonia Virtual, 28.08.2003
Sabemos que as rádios actualmente estão formatadas pelo modelo puramente comercial.
Não apostam em temas sem sucesso comprovado ou que não suscitem determinado nível de confiança prévio.
Estão, efectivamente, no seu direito empresarial privado que visa o lucro e o aumento do seu share.
Por outro lado, encontramos uma afirmação que alimentou estes rios (gigantescos) de polémica.
Esta agitação acaba por provar, sobretudo a quem reside na capital, que o grupo UHF está bem vivo e com um fôlego assinalável.
Refiro a capital, porque os UHF, como qualquer grupo musical, tem trabalhado muito na província e nunca fomentaram a vida dentro de "lobbies", que lhes permitisse estarem na "linha da frente" mediática.
Em Lisboa a memória é normalmente mais curta, pois a vida é vivida de uma forma mais rápida.
Na província as coisas são diferentes e um concerto dos Xutos, dos GNR ou dos UHF pode ser recordado, como referência, durante anos, por uma massa humana significativa.
Em Lisboa tal também pode acontecer mas em muito menor dimensão.
Por exemplo, os Xutos cresceram com uma legião de fãs espalhada por Portugal.
Os UHF “explodiram” mais depressa e ficaram famosos muito antes, tendo mantido igual legião, mas, anormalmente, menos activa, menos organizada e menos interventiva.
Contudo eles, os fãs, existem em grande número e parece que saíram do casulo em autodefesa dos seus ídolos.
Outra questão também é importante neste ano grande para os UHF.
António Manuel Ribeiro regressa à casa-mãe EMI/VC e apresenta um duplo CD, Ópera-Rock, de grande qualidade.
Alguns orgãos de comunicação atribuíram excelentes notas e escreveram críticas muito positivas a "La Pop End Rock".
Recordo-me que o jornalista Fernando Magalhães do diário Público destacou uma boa meia dúzia de temas, muito fortes comercialmente. O próprio Jorge Mourinha, do Blitz, destaca um punhado de canções como potenciais hits.
António Pires, escreve num artigo de opinião que "La Pop End Rock" é o melhor disco dos UHF desde "À Flor da Pele".
Enfim, críticas e opiniões de gente respeitada e insuspeita.
Gente que em anos anteriores criticara violentamente trabalhos dos UHF ou de António Manuel Ribeiro (recordo uma crítica arrasante de Fernando Magalhães do Público) surge agora a afirmar a excelência da obra.
Naturalmente que os UHF têm mantido uma legião de fãs pelo Portugal real e têm conseguido tocar com muita regularidade (40 ou 50 concertos por ano, segundo dados que recentemente li).
Acresce a esta questão outro facto quente: O apoio que a RFM dera a trabalhos anteriores dos UHF.
Com esse apoio bem presente na memória de quem ouviu a RFM desde o seu nascimento, os admiradores dos UHF (e genericamente de música portuguesa) aguardavam certo destaque.
Recordo "parcerias" marcantes do passado:
- Passagem de muitos temas da banda ("Hesitar", "Menina Estás à Janela", "Nove Anos", etc)
- Patrocínio de digressões nacionais
- Lideranças do Top 25 RFM
- Gravação de concertos e posterior passagem
- Especiais sobre o grupo
- Promoção na gravação do disco ao vivo "Julho, 13"
- "Carimbo" RFM na compilação "Eternamente" de 1999
Mas para além desta história de cumplicidades, outros factores existem:
- 2003 é o ano dos 25º aniversário de carreira da banda de Almada;
- O disco é "só" uma Ópera-Rock autobiográfica de reconhecido mérito;
- "La Pop End Rock" marca o regresso à EMI/VC;
- O duplo CD integra temas ao nível de "Cavalos de Corrida", de "Hesitar" ou de "Menina Estás
à Janela", na visão dos próprios críticos.
Tudo isto potencia uma enorme desilusão em milhares de fãs dos UHF espalhados pelo Continente e Ilhas.
E, mais surpreendentemente, numa cada vez maior multidão de "não fãs" que fica conquistada pela qualidade do disco.
Pessoas que não gostavam de UHF, que não escutavam UHF, que nunca tinha comprado um disco dos UHF...
No jornal Blitz já se notara algum movimento e alguma revolta em alguns admiradores, ou em meros leitores, que tomaram contacto casual com "La Pop End Rock".
Esta questão que agora transpira na telefonia virtual é a ponta de um iceberg que não se pode desvalorizar nem silenciar.
A maioria das mensagens do fórum é claramente favorável a uma passagem de UHF na RFM, apesar de algumas vozes discordantes que apontam razões válidas e pertinentes.
Exceptuando alguns exageros, o tom tem sido muito positivo e é de saudar esta cultura de respeito e de troca de ideias, estando a telefonia virtual e os seus participantes de parabéns.
Sem sequer tocar em assuntos igualmente excitantes e quentes, quero louvar a coragem do director de programas da RFM, António Mendes.
É bom assumir publicamente a questão e explicar aos ouvintes as motivações e as razões da RFM.
Outros no seu lugar não teriam a ousadia de escreverem, preto no branco, a visão da RFM sobre o último trabalho dos UHF.
Provavelmente, jamais o director António Mendes pensara, que, um grupo com 25 anos de carreira mantivesse tão grande ligação com Portugal.
Essa é outra questão que nos levaria a questionar a falta de consciência nacional, que existe em rádios, televisões e jornais neste País.
Refiro-me aos orgãos de âmbito nacional, dado que as rádios locais têm plena consciência dos gostos do povo.
Contudo, as consequências desta polémica não podem ficar por aqui.
Tão assinalável conjunto de mensagens não acontece por acaso.
Existe uma "bolha" que parece ter começado a "estoirar"...
Mas, ao contrário do que seria usual nestes casos, não é uma "bolha" só de fãs dos UHF!
Claro que a maioria o deve ser, mas estão “acompanhados” (e isto é muito significativo) por outras pessoas que nem gostavam de UHF ou nem conheciam bem a banda.
São diversos os comentários em que se percebe isso mesmo!
Aqui, no Blitz, na Sic Radical, no chat do Curto Circuito...
Este indicador é muito positivo para o futuro dos UHF e para o êxito de "La Pop End Rock".
Facto curioso, em matéria de apostas radiofónicas, é que "A Lágrima Caiu" não passa na RFM, mas esteve diversas semanas no primeiro ou segundo lugar do TOP MAX MÚSICA da Sic Radical.
Suponho que esta posição fosse já sintomático do sucesso da música!
E, sendo assim, alguma coisa nos começa a escapar na decisão tomada pela RFM.
Chegado a este ponto resta pouco para concluir.
Julgo essencial uma reflexão da RFM (e das outras rádios), no sentido de ponderar melhor certas posições.
Não pela polémica levantada, nem pela quantidade de mensagens.
A polémica e o volume de mensagens são, realmente, um excelente caso para estudo.
Sobretudo, numa altura em que a maioria das pessoas está de férias no Algarve e sem internet...
Para estudar friamente e sem ideias pré-concebidas.
Por todos os motivos e mais algum seria importante mostrar este disco aos portugueses.
Analisando friamente a situação, pessoalmente, equacionaria uma abordagem racional de consenso.
Sem perder de vista o objectivo do lucro (esse é, de facto, o sustento das empresas!), existem formas de começar a divulgar (e "testar") uma música sem que isso acarrete perda de audiência.
Os profissionais sabem como o podem fazer, apostando em determinados horários que servem como "zona piloto", como "tubo de ensaio" para que o auditório tome contacto com essas músicas novas.
Suponho que "A Lágrima Caiu" já justifica essa "aposta".
Luís Silva do Ó, Telefonia Virtual, 28.08.2003
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