31.5.06

As febras dos Trabalhadores

Um exemplo da força que a internet tem ao nível da divulgação musical pode ser ilustrado neste regresso dos Trabalhadores do Comércio. Após o sucesso das suas 2 recentes passagens pelo programa "Febre de Sábado", a banda disponibiliza, através do seu site, um tema do seu single de regresso, "Febras de sábado à noite".

Para informações detalhadas clique aqui.

Entretanto, Sérgio Castro, vocalista e guitarrista do grupo, encontrou forças para ler os 56 comentários gerados pelo post acerca da nova Lei da Rádio e deixou a sua opinião numa linguagem directa e corrosiva. A não perder na secção de comentários do post abaixo...

22.5.06

Mais música portuguesa?

A conhecida “Lei das quotas na rádio” que pretende dar um novo impulso à música portuguesa entrou em vigor no passado dia 2 de Maio. Porém, a aplicação efectiva da Lei 7/2006 somente irá ocorrer a partir de Agosto de 2007, dado que as estações de rádio possuem um período de 3 semestres para se adaptarem a esta nova realidade.

Considerando a importância desta Lei e a variada (des)informação que temos lido a este respeito deixamos aqui transcrita a Secção III referente à música portuguesa.


«SECÇÃO III
Música portuguesa

Artigo 44.º-A
Difusão de música portuguesa


1 - A programação musical dos serviços de programas de radiodifusão sonora é obrigatoriamente preenchida, em quota mínima variável entre 25% e 40%, com música portuguesa.
2 - Para os efeitos do presente artigo, consideram-se música portuguesa as composições musicais:
a) Que veiculem a língua portuguesa ou reflictam o património cultural português, inspirando-se, nomeadamente, nas suas tradições, ambientes ou sonoridades características, seja qual for a nacionalidade dos seus autores ou intérpretes; ou
b) Que, não veiculando a língua portuguesa por razões associadas à natureza dos géneros musicais praticados, representem uma contribuição para a cultura portuguesa.

Artigo 44.º-B
Serviço público


As quotas de música portuguesa no serviço público de radiodifusão sonora são fixadas no respectivo contrato de concessão, não devendo a percentagem de difusão no seu primeiro serviço de programas ser inferior a 60% da totalidade da música nele difundida.

Artigo 44.º-C
Música em língua portuguesa


A quota de música portuguesa fixada nos termos do n.º 1 do artigo 44.º-A deve ser preenchida, no mínimo, com 60% de música composta ou interpretada em língua portuguesa por cidadãos dos Estados membros da União Europeia.

Artigo 44.º-D
Música recente


A quota de música portuguesa fixada nos termos do n.º 1 do artigo 44.º-A deve ser preenchida, no mínimo, com 35% de música cuja 1.ª edição fonográfica ou comunicação pública tenha sido efectuada nos últimos 12 meses.

Artigo 44.º-E
Excepções


1 - O regime estabelecido na presente secção não é aplicável ao serviço de programas temáticos musicais cujo modelo específico de programação se baseie na difusão de géneros musicais insuficientemente produzidos em Portugal.
2 - O disposto no artigo 44.º-D não se aplica aos serviços de programas dedicados exclusivamente à difusão de fonogramas publicados há mais de um ano.
3 - A determinação dos serviços de programas abrangidos pelo n.º 1 compete à entidade reguladora para a comunicação social, que torna públicos os critérios a seguir para efeitos da respectiva qualificação.

Artigo 44.º-F
Regulamentação


Compete ao Governo, ouvidas as associações representativas dos sectores envolvidos e tendo em conta os indicadores disponíveis em matéria de consumo de música portuguesa no mercado discográfico nacional, estabelecer, através de portaria, por períodos de um ano, as quotas de difusão previstas no n.º 1 do artigo 44.º-A.

Artigo 44.º-G
Cálculo das percentagens


1 - Para efeitos de fiscalização, o cálculo das percentagens previstas na presente secção é efectuado mensalmente e tem como base o número das composições difundidas por cada serviço de programas no mês anterior.
2 - As percentagens referidas na presente secção devem igualmente ser respeitadas na programação emitida entre as 7 e as 20 horas.»




Esta é a Secção III onde é abordada a questão exclusiva da música portuguesa. Todavia, para que uma Lei seja efectivamente cumprida é necessária uma correcta e eficaz fiscalização. No caso concreto dos artigos anteriores, cabe a fiscalização do seu cumprimento à entidade reguladora para a comunicação social.

Hoje não me vou estender em argumentos porque muito do que penso encontra-se espalhado por textos anteriores e na crónica “Rádio Nostalgia” publicada no já longínquo dia 24 de Março de 2004.

Pessoalmente, mesmo sem simpatizar com quotas obrigatórias (sejam elas quais forem), entendo que na verdade é necessário dar a conhecer a música portuguesa aos portugueses. Sobretudo, é essencial mostrar o que de novo se faz por este quintal lusitano.

Como escreveu David Ferreira neste blogue “já pensaram o que seria se os cinemas se recusassem a passar filmes novos, as livrarias a expor livros novos, os jornais a mostrar e a comentar... as notícias do dia?! Ou será que o progresso se faz de olhos postos no futuro e os ouvidos agarrados ao passado...?!”

E você? O que pensa?


Luís Silva do Ó


Algumas opiniões a respeito desta nova Lei:


Depoimento de Zé Pedro recolhido por LSO.



Depoimento de Júlio Isidro recolhido por LSO.



Depoimento de Dina recolhido por LSO.



Depoimento de David Ferreira recolhido por LSO e BGP.



Depoimento de José Cid recolhido por LSO.



Depoimento de Miguel Ângelo recolhido por LSO e BGP.



Depoimento de Luís Represas recolhido por LSO.

12.5.06

Tertúlia Castelense, Room 74! Good to be back!

Desconheço a origem do nome da banda lisboeta, “Room 74” mas no concerto que marcou o Tertúlia Castelense, no passado dia 15 de Abril, Sábado, poder-se-ia dizer que o intimista e acolhedor ambiente seria um excelente pretexto para tal designação, ainda que, o n.º da porta, não seja o tal “74”!
O público não foi suficiente para preencher as mesas mas, a banda conseguiu encher a sala! Sem qualquer sinal de abatimento partilhou, generosa, divertida, com os presentes a música que os move e que lhe dá forma! Uma forma que não me sinto capaz de descrever sem experimentar algum vazio… como se faltasse uma qualquer palavra, que ainda ninguém inventou, e que as outras todas não conseguem traduzir!
A exuberância de um falsete, que se reveza com um timbre mais sólido, sem deambular ou fraquejar… os ritmos ora frenéticos ora ondulantes numa vaga “soul”, o saxofone de som grave, “velho”, recolhido em histórias infindáveis e secretas… as baquetas a fustigarem as bases ciosas de “vida”… a guitarra e o baixo numa dança a dois, denunciadores de diferenças que se completam e criam harmonia… o “groove” de uma voz a abraçar nos coros, a pintar a importância do detalhe!
Foi uma actuação em que o requinte humilde dos protagonistas não destacou senão o propósito da razão do serem… a música!
E eu, que não me lembrava já, do que me conduziu tantas vezes ao seio do público dos palcos portugueses… revivi toda a emoção do que é o “ao vivo”! A música ganha rosto e movimentos que aparelho sonoro nenhum, no carros, em casa, no melhor dos estúdios, consegue reproduzir! É a emoção dos que pisam o palco que se mistura com a dos que assistem… O dar e o receber de partículas tão elementares e tão estimulantes!
É lamentável não ser mais fácil um palco, um público, para bandas assim! Nestes momentos desgosta-me o eterno desconhecimento dos portugueses, da que é a música nacional! Penso que realmente há qualquer coisa que não está bem! Há dinheiro (o público paga fortunas para ver nomes sonantes!), há público (eles estão lá quando acreditam!), há meios (palcos e equipamentos técnicos populam!)… o que falta??? Falta Marketing! Falta o tão aclamado “orgulho nacional”! Falta divulgação! Faltam prioridades! Nós (portugueses e Portugal!)… devíamos ser a NOSSA prioridade!
Por exemplo, os portugueses que passam na rádio, o público desconhece que são portugueses! Porque é que isto acontece?...
Eu sinto-me quase uma privilegiada por ter acesso, por estar atenta ao que se faz cá na música, por conhecer os lugares, por dar oportunidade ao desconhecido, por não me fechar ao que é nosso! As circunstâncias, contribuíram indubitavelmente, mas… é fácil notar que não basta um blogue, não basta um destaque eventual na rádio X, Y ou Z, não basta a cedência de um palco a uma banda nacional num mega evento… Dahhhh! (como dizem os miúdos!) ;) É preciso uma aposta forte no marketing, advertisement & publicity (imprensa!), é preciso destaques em bandas sonoras de filmes nacionais, de novelas! É preciso promoção e visibilidade! Os músicos, as bandas, precisam ser “mais figuras públicas”! Pode ser absurdo, difícil, dispensável, para muitos… mas será útil, giro, natural, para outros! Há que dar espaço à música, aos músicos!
E os Room 74, como tantas outras bandas nacionais (ilustres e desconhecidas!), estão à altura de tanta banda internacional (falta o “glam”no qual as indústrias “lá fora” tanto apostam!) continuam anónimos a tanta gente! E o Tertúlia Castelense, que continua, a ter um destaque deficiente… Um espaço fantástico! Único! Acessível!
A luta tem de ser permanente, tem de ser feroz, tem que ser séria e confiante!
Eu hoje sinto-me mais desiludida… mas acredito sinceramente que esta guerra, só não se venceu ainda, porque existe uma falha na abordagem comercial, porque a qualidade… é óbvia!
O meu mote continua: “Dêem uma oportunidade à nossa música!” Não se arrependerão! Os "Room 74" serão um excelente princípio!
By the way, good to be back! ;)

10.5.06

O rock (nacional) não navega no rio

Já aqui se escreveu tanto sobre a pirataria na internet, mas mesmo assim ficou muito para dizer. Este é daqueles assuntos que poderia durar meses de debate no blog. Eu acho que já foram apresentados vários pontos de vista e de certeza ajudaram a clarificar muitas dúvidas que pairavam no ar.
Eu vou continuar a comprar cd`s e vinyl (seja em lojas ou na internet) e também vou continuar a fazer downloads legais de música da "rede".
Mas sigamos em frente....

Hoje gostaria de falar da época festivaleira que aí vem. Sempre polémica, principalmente quando se fala de música moderna portuguesa.

Recentemente, tive oportunidade de ver 3 bandas excelentes ao vivo (Vicious 5, Wraygunn e Blasted Mechanism).
Pergunto eu: Porque continuam a relegar para palcos secundários a maioria das bandas portuguesas?

Xutos, Rui Veloso, GNR, Da Weasel e D`Zrt são os músicos portugueses do palco principal este ano no Rock In Rio. Se não vou falar dos últimos (são eles que vão abrir o suposto maior festival de música!!!), os dois primeiros são repetentes.
Pergunto eu: Será que existe algum contrato vitalício para determinadas bandas tocarem sempre, mesmo que todos já os tenham visto vezes sem conta em festivais?

Depois temos um Hot Stage onde apenas um cabeça de cartaz em 4 dias é português e onde aparecem uns duvidosos Room 74.
Esta incoerência na programação de um festival que diz ser o maior (??), deixa-nos a pensar. A verdade é que esta é a maior oportunidade de revelar a boa música portuguesa que anda por aí, pois, ao contrário de outros festivais, muita gente desloca-se a este evento não pela música, mas por outras razões que nem vale a pena dissecar.

Felizmente, temos as semanas académicas e outros festivais. Aqui, tenho que destacar o Super Rock Super Bock, pois mesmo com um palco secundário para bandas portuguesas, tem uma vantagem enorme para quem paga bilhete. Intercala as actuações dos dois palcos, permitindo assim aos presentes assistirem a todos os concertos.

Eu continuo com a mesma opinião que tenho há muitos anos: o maior meio de divulgação de novas bandas portuguesas continuam a ser os festivais.
Continuamos com uma rádio pobre, uma televisão distante, uma imprensa bloqueada e até mesmo uma internet minimizada.
Claro que as coisas melhoraram muito nos últimos anos, principalmente na Internet (onde surgiram sites como o MySpace), e na televisão por cabo (Sic Radical e até uma duvidosa MTV Portugal).

Escrevia eu no blog há dois anos atrás que o nosso mercado é pequeno para que todos vivam da música. Continua actual, mas a "máquina" também não ajuda.


Seria possível referir várias bandas que poderiam tocar num palco principal e algumas até serem cabeças de cartaz de um grande festival. E nunca gostei de dar destaque aqui a nenhuma banda em particular, mas a verdade é que ainda esta semana várias pessoas me falaram dos K2o3. Banda punk-rock, oriunda do Alentejo, que apesar de ter tido um enorme sucesso na rádio há alguns anos, nunca conseguiu editora para o seu 2º álbum, acabando por editá-lo à sua própria custa. Durante estes anos todos tenho encontrado muita gente, um pouco por todo o país, que os conhece. Aliás, há pouco tempo, houve um debate na Fnac em Lisboa sobre o punk nacional e as bandas em destaque curiosamente eram os Censurados, os Peste & Sida, os Mata-Ratos e os K2o3.


Orlando Angelino